ARREPENDEI-VOS!
(Mt 3,
1-12)
“1
Naqueles dias, apareceu João Batista pregando no deserto da Judéia
2
e dizendo: ‘Arrependei-vos, porque o Reino dos Céus está próximo’.
3
Pois foi dele que falou o
profeta Isaías, ao dizer: Voz do que clama no deserto: Preparai o
caminho do Senhor, tornai retas suas veredas.
4
João usava uma roupa de pêlos de camelo e um cinturão de couro em
torno dos rins. Seu alimento consistia em gafanhotos e mel silvestre.
5
Então vieram até ele Jerusalém, toda a Judéia e toda a região vizinha
ao Jordão. 6
E eram batizados por ele no rio Jordão, confessando os seus pecados.
7
Como visse muitos fariseus e saduceus que vinham ao batismo,
disse-lhes: ‘Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da ira que está
para vir? 8
Produzi, então, fruto digno de arrependimento
9
e não penseis que basta dizer: ‘Temos por pai a Abraão’. Pois eu vos
digo que mesmo destas pedras Deus pode suscitar filhos de Abraão.
10
O machado já está posto à raiz das árvores e toda árvore que não
produzir bom fruto será cortada e lançada ao fogo.
11
Eu vos batizo com água para o arrependimento, mas aquele que vem
depois de mim é mais forte do que eu. De fato, eu não sou digno nem ao
menos de tirar-lhe as sandálias. Ele vos batizará com o Espírito Santo
e com o fogo. 12
A pá está na mão: vai limpar sua eira e recolher seu trigo no celeiro:
mas, quanto à palha, vai queimá-la num fogo inextinguível”.
Em Mt
3, 1-3 diz: “Naqueles
dias, apareceu João Batista pregando no deserto da Judéia e dizendo:
‘Arrependei-vos, porque o Reino dos Céus está próximo’. Pois foi dele
que falou o profeta Isaías, ao dizer: Voz do que clama no deserto:
Preparai o caminho do Senhor, tornai retas suas veredas”.
João
Batista, santificado no seio materno, quando da visita de Maria
Santíssima a Santa Isabel, tornou-se um grande penitente. Vivia no
deserto; alimentava-se de gafanhotos e mel silvestre, e talvez de
resinas; vestia-se com uma pele de camelo. Praticava austeridades
espantosas; evitava tudo que pudesse dar conforto material ou mesmo
moral. Foi perfeito imitador de Jesus, e deve ser nosso modelo na
prática desta virtude.
Desde
o seio de sua mãe, João foi inundado do Espírito Santo para preparar a
manifestação de Jesus ao seu povo. E enquanto chegava este momento,
crescia e robustecia-se no espírito, e esteve no deserto (Lc).
O Pe.
Francisco Fernández-Carvajal escreve:
“Preparava-se para a sua
missão na solidão e na oração. Mateus menciona o deserto da Judéia, ou
seja, a parte mais árida do país. Esta região montanhosa estende-se a
oriente de Jerusalém e desce para a planície de Jericó e para a grande
depressão do Jordão, que desemboca no Mar Morto, a quatrocentos metros
abaixo do nível do Mediterrâneo. Não é um deserto em sentido estrito,
mas uma região seca e pedregosa de difícil cultivo e, por isso,
praticamente despovoada. Quando João iniciou a sua pregação vestia de
um modo austero: andava vestido de pêlo de camelo, com um cinto de
couro à volta dos rins e alimentava-se de gafanhotos e mel silvestre (Mc).
Esta roupagem era a vestimenta habitual dos moradores do deserto. O
mel silvestre e os gafanhotos, uma espécie de saltões, eram o pobre
alimento que podem oferecer aquelas terras. Os gafanhotos coziam-se em
água salgada ou assavam-se sobre carvão. E o mel era de abelhas
silvestres. Assim, em poucas linhas, descreve o evangelho a
austeridade de João”,
e: “São João era filho
único; bem podemos imaginar que grande amor lhe dedicavam seus pais,
com que amor cuidavam dele! Ele, entretanto, abandona tudo e a todos,
vai ao deserto, veste-se com uma pele de camelo, alimenta-se de
gafanhotos e mel silvestre, isto é, contenta-se com o estritamente
necessário. Desta forma, prepara-se e torna-se apto a assumir sua
futura missão... Vós também, para vos preparardes convenientemente ao
apostolado, deveis adquirir o espírito de penitência, interna e
externa, como tantas vezes vos falei. Isto é, deveis praticar as
pequenas mortificações... e regular-vos na comida. Quando o indivíduo
sabe controlar-se, até o corpo lucra com isso... São João Batista, com
sua vida sacrificada e inflamada de zelo, tornou-se grande santo;
hoje, depois de muitos séculos, ainda é honrado na terra; ao invés,
ninguém mais fala de tantos outros que passaram pela vida fazendo
barulho, mas não tiveram uma vocação tão bela, ou não corresponderam”
(Bem-aventurado José Allamano, A Vida espiritual, Capítulo
34).
Em Mt
3, 1 diz: “Naqueles
dias, apareceu João Batista pregando no deserto da Judéia”.
A
frase “naqueles dias” é uma forma de exprimir-se que não pretende
precisar o momento exato do que se narra:
“Usa-se às vezes simplesmente
para marcar o começo de um novo episódio. De fato, neste caso pode
calcular-se que tinham passado à volta de vinte e cinco anos, desde o
regresso da Sagrada Família do Egito. Esta data é aproximada porque a
história não pôde fixar o ano desse regresso. O termo “deserto” está
tomado num sentido mais amplo que na atualidade. Não se trata do
deserto arenoso ou pétreo , mas de zonas áridas nas quais se dá uma
vegetação muito pobre”
(Edições Theologica), e: “Quando o sol
nasce, envia antes de aparecer sobre o horizonte seus raios que
embelezam o oriente, dando à aurora como precursora do dia. Assim o
Senhor, ao nascer no mundo, antes que apareça com os resplendores de
sua doutrina, ilumina a João e lhe transmite a glória de seu espírito
a fim de que, precedendo-lhe, anuncie sua vinda. Por isso o
evangelista, depois do nascimento de Jesus Cristo e antes de expor sua
doutrina, refere ao batismo de Cristo, que foi acompanhado do
testemunho de São João seu precursor, expressando-se desta maneira:
“Naqueles dias, apareceu João Batista pregando no deserto da Judéia”
(Pseudo- Crisóstomo,
Opus Imperfectum super Matthaeum, hom. 3),
e também: “Por estas palavras São Mateus designa, não só o tempo e o
lugar da pregação de João, e o relativo à sua pessoa, mas também sua
missão e o zelo em cumpri-la. Designa o tempo em termos gerais
dizendo: ‘Naqueles dias”
(Remígio), e
ainda: “O tempo que determina São Lucas de uma maneira mais precisa
referindo-se aos poderes humanos, quando escreve: ‘naqueles dias’,
quis expressar o espaço mais longo de tempo, porque depois de haver
referido ao regresso do Salvador do Egito – feito que teve lugar
durante sua infância, para que pudesse combinar-se com o que refere
São Lucas de Jesus Cristo quanto tinha doze anos – acrescentando
imediatamente: ‘E naqueles dias’, querendo designar assim, não somente
os dias da infância do Salvador, mas todos os que transcorreram desde
seu nascimento até a pregação de São João”
(Santo Agostinho, De Consensu Evangelistarum, 2, 6),
e: “O evangelista
designa a pessoa de quem se trata por estas palavras: ‘Apareceu João’,
é dizer, se descobriu o que por tão longo tempo havia estado oculto”
(Remígio).
Em Mt
3, 2 diz: “e dizendo:
‘Arrependei-vos, porque o Reino dos Céus está próximo”.
Edições Theologica comenta: “Fazei penitência’: A etapa nova do Reino de Deus que traz consigo a
obra redentora de Cristo, constitui tal mudança na história salvífica,
que exige conseqüentemente uma mudança radical no comportamento do
homem em relação a Deus. A chegada do Reino implica, com efeito, uma
intervenção salvadora especial de Deus em favor dos homens, mas também
uma exigência de que estes se abram à graça divina e retifiquem o seu
comportamento. A vida de Jesus Cristo na terra obriga os homens a
tomar posição: ou com Deus, ou contra Deus (‘o que não está comigo,
está contra mim; e o que não recolhe comigo, dispersa’ (Lc 11, 23).
Dada a condição pecadora da humanidade depois do pecado original, a
chegada do reino exige que todos os homens necessitem de fazer
penitência da sua vida anterior, isto é, de converter-se do seu
caminhar afastando-se de Deus para um caminhar aproximando-se d’Ele.
Visto que por meio está o pecado, não há possibilidade de voltar para
Deus, de converter-se, sem fazer atos de penitência. A conversão não
se reduz a um bom propósito de emenda, mas é necessário cumpri-lo,
ainda que nos custe. O terreno em que cresce a penitência é a
humildade: todo o homem deve reconhecer sinceramente que é pecador (cfr
1 Jo 1, 8-10); e acompanhante da penitência é a obediência: todo o
homem deve obedecer a Deus e cumprir os Seus mandamentos (cfr Jo 2,
3-6).
O texto
grego traduzido literalmente diria: ‘convertei-vos’; mas precisamente
porque o ato essencial da conversão é, pelo que dissemos, fazer
penitência, a Neo-vulgata traduz paenitentiam agite (‘fazei
penitência’), que é a tradução mais profunda do sentido do texto.
Na
realidade, toda a vida do homem é uma incessante retificação do seu
comportamento, e, portanto implica um contínuo fazer penitência. Já no
Antigo Testamento, a conversão tinha sido pregação constante dos
Profetas; mas agora, com a vinda de Jesus Cristo, essa conversão e
penitência tornam-se absolutamente indispensável. Que Cristo tenha
carregado com os nossos pecados e padecido por nós não exime, mas
exige de cada um uma conversão verdadeira (cfr Cl 1, 24).
‘Reino
dos Céus’: Esta expressão é equivalente ao Reino de Deus. A primeira é
a mais usada por São Mateus e está mais em consonância com o modo de
falar dos Judeus que, por reverência para com o nome de Deus, evitavam
pronunciá-lo e o substituíam por outras palavras, como neste caso.
Reino de Deus ou dos Céus é um conceito utilizado já no Antigo
Testamento e no ambiente religioso dos judeus da época de Jesus
Cristo. Mas é particularmente freqüente na pregação de Jesus.
A fórmula
‘Reino de Deus’ pode exprimir de modo genérico o domínio de Deus sobre
as criaturas. Mas normalmente, como acontece no nosso texto, refere-se
à intervenção soberana e misericordiosa de Deus na vida do Seu povo. O
plano primitivo da criação foi violado pela rebelião do pecado do
homem. Para o seu restabelecimento foi necessária uma nova intervenção
de Deus que se realiza pela obra redentora de Jesus Cristo, Messias e
Filho de Deus. Esta intervenção foi precedida por uma série de etapas
preliminares que constituem a história salvífica do Antigo Testamento.
Assim,
pois, Jesus Cristo realiza o reino de Deus cuja iminência é anunciada
por João Batista. Mas Jesus instaura um reino de Deus inteiramente
espiritual, sem as cores nacionalistas que os judeus do Seu tempo
tinham concebido. Jesus vem para salvar o Seu povo e toda a humanidade
da escravidão do pecado, do demônio e da morte, e abrir assim o
caminho da salvação.
Durante o
tempo que transcorre entre a primeira e a segunda vinda de Cristo, o
reino de Deus ou dos Céus corresponde à Igreja enquanto comunidade
salvífica, que torna presente Cristo – e, portanto, Deus – entre os
homens e os chama à salvação eterna. O Reino de Deus só será consumado
no fim deste mundo; isto é, quando Jesus Cristo vier para julgar os
vivos e os mortos no fim dos tempos. Então, de modo perfeito, Deus
reinará nos bem-aventurados.
No nosso
passo, João Batista, como último profeta do Antigo Testamento, está a
pregar a iminência do reino de Deus com a chegada do Messias”.
Em Mt 3, 3 diz:
“Pois foi dele que falou o profeta Isaías, ao dizer: Voz do que clama
no deserto: Preparai o caminho do Senhor, tornai retas suas veredas”.
São
João Batista é a voz que clama no deserto:
“... preparai o caminho do
Senhor”.
Também a nós, que nos preparamos para o santo natal, São João clama:
“... preparai o caminho do Senhor”.
Jesus
Menino está para vir, e o caminho pelo qual Ele virá é o nosso
coração: é preciso prepará-lo. Para preparar o caminho ao ingresso de
um rei, antes nivela-se o caminho, depois limpa-se de todo lixo, e
finalmente adorna-se.
Nivelar o caminho do coração significa, pois, suprimir toda ocasião de
queda em pecado.
Limpar o coração de todo lixo significa purificá-lo de toda culpa.
Enfim, adorná-lo outra coisa não é senão embelezá-lo com boas obras.
Edições Theologica comenta:
“São Mateus esclarece neste
versículo com a citação de Isaías 40, 3 a missão profética de São João
Batista. Esta tem dois aspectos: o primeiro, preparar o povo para
receber o Reino de Deus; o segundo, dar testemunho diante do povo de
que Jesus é o Messias que traz tal Reino”.
Em Mt
3, 4 diz: “João usava
uma roupa de pêlos de camelo e um cinturão de couro em torno dos rins.
Seu alimento consistia em gafanhotos e mel silvestre”.
O
Pseudo-Crisóstomo escreve:
“Depois que ele manifestou
que era a voz que clama no deserto, o mesmo evangelista acrescentou
com prudência: ‘O mesmo João’, é nele que se manifesta como era sua
vida, porque ele se põe como testemunha de Cristo. Sua vida, pois, é
d’Ele, porque ninguém pode ser testemunha idônea de outro, se não
fosse sua própria”
(Opus Imperfectum super Matthaeum, hom. 3),
e: “Havia tido São
João, o pregador, assim como o lugar mais propício, a roupa mais
oportuna e a comida mais adequada”
(Santo Hilário, In
Matthaeum, 2), e
também: “Tinha a roupa
de pêlo de camelo, não de lã, porque o primeiro é sinal de penitência
austera, enquanto que o segundo é sinal de moleza” (São Jerônimo),
e ainda: “É certo o
que se segue: ‘Seu alimento era gafanhotos e mel silvestre’. Isto era
muito oportuno para ele que habitava na solidão, para que não
experimentasse as delícias da comida, senão o necessário para a vida
humana” (idem),
e: “A humilde forma de
se vestir e esta classe de alimento, manifestam que lamenta os pecados
de todo o gênero humano”
(Remígio), e também:
“Sua roupa e sua comida expressam seu sentimento. Usava roupas
austeras, porque repreendia a vida dos pecadores”
(Rábano), e
ainda: “A correia de pele com que se cingia (como Elias), é o sinal
da mortificação”
(São Jerônimo).
O
Evangelho descreve com brevidade a vida extremamente austera de São
João Batista. O gênero de vida de João está na linha de alguns
profetas do AT e, de modo especial, recorda o profeta Elias (cfr 2 Rs
1, 8; 2, 8-13 s).
Edições Thelogica comenta:
“O gafanhoto do campo era uma
espécie de saltão. O mel silvestre parece referir-se, mais que a mel
de abelhas, às substâncias segregadas por alguns arbustos daquelas
estepes. João, perante a chegada do Messias, acentua com o seu exemplo
as disposições penitenciais que precedem as grandes festas religiosas.
Do mesmo modo, na liturgia cristã do Advento, a Igreja convida à
mortificação e à penitência e propõe João como modelo. Neste sentido
se completa a idéia do versículo anterior acerca do modo como João
entendia a sua missão de Precursor do Messias. Toda a vida do cristão
é uma preparação para o encontro com Cristo. Por isso na vida cristã
ocupam um lugar principal a penitência e a mortificação”.
Em Mt
3, 5-6 diz: “Então
vieram até ele Jerusalém, toda a Judéia e toda a região vizinha ao
Jordão. E eram batizados por ele no rio Jordão, confessando os seus
pecados”.
O
batismo de João não tinha o poder de limpar a alma dos pecados como
faz o Batismo cristão, sacramento que produz a graça que significa.
O
Pseudo- Crisóstomo escreve:
“Havendo descoberto a
pregação de São João, acrescenta oportunamente: ‘Então saiu Jerusalém
a buscar-lhe, etc”
(Opus Imperfectum super Matthaeum, hom. 3),
e: “Era admirável ver
tanta paciência em um ser humano; e isto é o que mais atraia os
judeus, que viam nele o grande Elias. Também contribuiu para a
admiração deles, o ter aparecido um profeta depois de tanto tempo. O
modo singular de pregar contribuía para isso. Não ouviam de João nada
do que acostumavam ouvir de outros profetas, como eram as batalhas e
as vitórias aqui da terra, sobre Babilônia e Pérsia, mas ele falava
dos céus, do que conduz a ele e dos castigos do inferno...”
(São João Crisóstomo,
Homiliae in Matthaeum, hom. 10),
e também: “Oferecia o batismo, porém não o perdão dos pecados”
(A Glosa), e
ainda: “O batismo de São João prefigurava aos catecúmenos, porque
assim como são catequizados os meninos para que sejam dignos do
sacramento do batismo, assim batizava São João, para que batizados por
ele, depois, vivendo piedosamente, se fizessem dignos de receber o
batismo de Cristo. Batizava no Jordão, para que ali se abrisse a porta
do reino dos céus, donde os filhos de Israel entraram para a terra
prometida. Segue: ‘Confessando seus pecados”
(Remígio), e:
“Comparando-se com a santidade do Batista, quem pode considerar-se
justo? Assim como um vestido branco, se é colocado junto à neve,
parece sujo e escuro; assim todo homem comparado a São João parece
imundo, e por isso confessava seus pecados. A confissão dos pecados é
o testemunho da consciência que teme a Deus. O temor perfeito faz
desaparecer toda vergonha. Se encontra a deformidade da confissão,
onde não se dá crédito aos rigores do Juízo. E por ser uma grande pena
envergonhar-se a si mesmo, Deus nos manda confessar nossos pecados
para que se sofra a vergonha em vez da pena, e isto já se considera
como parte do juízo” (Pseudo-
Crisóstomo, Opus Imperfectum super Matthaeum, hom. 3).
Em Mt 3, 7-10 diz:
“Como visse muitos fariseus e saduceus que vinham ao batismo,
disse-lhes: ‘Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da ira que está
para vir? Produzi, então, fruto digno de arrependimento e não penseis
que basta dizer: ‘Temos por pai a Abraão’. Pois eu vos digo que mesmo
destas pedras Deus pode suscitar filhos de Abraão. O machado já está
posto à raiz das árvores e toda árvore que não produzir bom fruto será
cortada e lançada ao fogo”.
São
Gregório Magno escreve:
“Deve conformar-se à pregação
dos sábios com a classe do auditório, para que assim cada um tome o
que lhe convém e nunca se separem da edificação do demais”
(Regula Pastorais, 3), e: “Os fariseus e
os saduceus são contrários entre si, porque a palavra fariseus
traduzida do hebraico ao latim quer dizer separados, já que preferem a
tradição à observância da justiça, donde se chamam separados pelo
povo, como pela justiça. Os saduceus se interpretam como justos; se
atribuem ao nome o que não são. Negam a ressurreição dos corpos e
ensinam que a alma morre ao mesmo tempo que o corpo” (Santo
Isidoro de Sevilha, Etymologiarum sive originum libri, 8, 4).
São
João Batista lança à cara aos fariseus e aos saduceus as disposições
com que acorrem a ele:
“Não se trata apenas de um
rito de purificação. Pois a pregação e o batismo de João exigem uma
verdadeira conversão interior da alma, disposição necessária para
alcançar a graça da fé em Jesus. À luz destas considerações entende-se
a dureza das palavras proféticas do Batista, porque, na verdade,
grande parte deles rejeitaram Jesus como Messias.
‘Fariseus’: Constituíam o setor religioso mais importante do judaísmo
no tempo de Jesus. Eram cumpridores rigorosos da Lei de Moisés e, além
disso, das tradições orais que iam se formando à volta da Lei, às
quais davam tanta importância como à própria Lei. Opuseram-se
tenazmente ao influxo do paganismo grego e rejeitaram absolutamente o
culto ao Imperador Romano. Entre eles houve homens de grande qualidade
espiritual e sincera piedade; mas muitos outros exageraram a
religiosidade farisaica até ao fanatismo, ao orgulho e à hipocrisia.
Foi esta perversão da verdadeira religiosidade israelita que João
Batista e depois Nosso Senhor fustigaram.
‘Saduceus’: Setor religioso mais reduzido que o dos fariseus, mas que
contava com muitas pessoas influentes na época de Jesus, sobretudo
entre as grandes famílias sacerdotais. Aceitaram a Lei escrita, mas,
em contraposição aos fariseus, rejeitaram as tradições orais, e também
não aceitavam algumas verdades importantes como a ressurreição dos
mortos.
Em matéria
política, aceitaram facilmente as condições dos invasores e permitiam
a introdução no país de costumes pagãos. A sua oposição a Cristo ainda
foi mais radical que a dos fariseus”
(Edições Theologica).
“... e não
penseis que basta dizer: ‘Temos por pai a Abraão’. Pois eu vos digo
que mesmo destas pedras Deus pode suscitar filhos de Abraão. O machado
já está posto à raiz das árvores e toda árvore que não produzir bom
fruto será cortada e lançada ao fogo”
(Mt 3, 9-10).
São
João Crisóstomo escreve:
“Tirar homens das pedras, é o
mesmo que fazer nascer Isaac de Sara” (Homiliae in
Matthaeum, hom. 11, 2),
e: “Ou, de outro modo,
com o nome de pedras significa os povos que adoram as pedras”
(Rábano), e
também: “Ademais, a pedra dura é útil para construção, e quando esta é
feita com ela, a construção não deixa de existir. Assim, os povos que
acreditaram com dificuldade, permanecem sempre firmes na fé”
(Pseudo-Crisóstomo,
Opus Imperfectum super Matthaeum, hom. 3),
e ainda: “Tirarei de
vocês o coração endurecido, e os darei um coração de carne. Na pedra
significa dureza, na carne a brandura” (São Jerônimo),
e: “Das pedras sairam
os filhos de Abraão, porque enquanto os gentios acreditaram na
descendência de Abraão, isto é, em Jesus Cristo, foram feitos seus
filhos, e unidos à sua descendência. Se segue: ‘Já está posto o
machado à raiz da árvore”
(Rábano), e
também: “O machado é a pregação do Evangelho, segundo Jeremias, que
compara a Palavra do Senhor com o machado que corta a pedra”
(São Jerônimo), e
ainda: “Quatro são as espécies de árvores: uma é toda seca, a quem se
assemelham os pagãos; outra verde, porém sem fruto, a quem se comparam
os hipócritas; a terceira verde e dando fruto, porém envenenado, a
quem se comparam os hereges; a quarta também verde e dando bons
frutos, a quem se comparam os católicos verdadeiros” (Rábano),
e: “Logo, toda árvore
que não der bom fruto, será cortada e jogada ao fogo, porque sempre
tem preparado o fogo do inferno ao que não produz bons frutos”
(São Gregório Magno, Homiliae in Evangelia, 20, 9).
Edições Theologica comenta:
“Os ouvintes do Batista
julgam ter assegurado a sua salvação pelo fato de serem descendentes
de Abraão segundo a carne. Mas São João adverte-os de que para o juízo
de Deus não é suficiente pertencer ao povo eleito, mas é preciso dar o
bom fruto de uma vida santa. Caso contrário, irão para o fogo, quer
dizer, para o inferno, para o castigo eterno, por não fazerem
penitência dos seus pecados”.
Em Mt 3,11-12
diz: “Eu vos batizo com água para o
arrependimento, mas aquele que vem depois de mim é mais forte do que
eu. De fato, eu não sou digno nem ao menos de tirar-lhe as sandálias.
Ele vos batizará com o Espírito Santo e com o fogo. A pá está na mão:
vai limpar sua eira e recolher seu trigo no celeiro: mas, quanto à
palha, vai queimá-la num fogo inextinguível”.
São
Gregório Magno escreve:
“São João não batiza em
espírito, mas em água, porque não podia perdoar os pecados. Lava os
corpos pela água, porém não lava as almas com o perdão” (
Homiliae in Evangelia, 7, 3),
e: “Como não havia sido oferecida ainda a hóstia, nem havia perdoado o
pecado, nem o Espírito Santo havia descido sobre a água, qual deveria
ser o perdão dos pecados? Porém, como os judeus não conheciam seus
próprios pecados e isto era para eles a causa de todos os seus males,
vem São João convidando-os ao conhecimento de seus próprios pecados, e
recordando-lhes a necessidade de fazer penitência”
(São João Crisóstomo,
Homiliae in Matthaeum, hom. 10, 1),
e também: “Por que
batiza quem não pode perdoar pecados? Para que, observando a missão do
cargo de precursor, prepare-se os caminhos Àquele a quem, como havia
sido seu precursor no nascimento, o prefigurasse também batizando
também ao que depois devia batizar”
(São Gregório Magno,
Homiliae in Evangelia, 7, 3),
e ainda: “Batizava, porque convinha que Jesus Cristo fosse batizado.
Porém, por que não foi batizado só Jesus Cristo pelo Batista, já que
este havia sido enviado para isto? Porque se só Jesus Cristo houvesse
sido batizado por João Batista, não faltariam quem crescem que o
batismo de São João era mais meritório que o de Jesus Cristo, já que
só Jesus Cristo era digno de ser batizado por ele”
(Santo Agostinho, In
Ioannem, 5, 5), e:
“Batiza, portanto,
para que, distinguindo os verdadeiros penitentes dos que não o são,
com este sinal pudessem os primeiros fazer-se dignos do batismo de
Jesus Cristo”
(Rábano), e também:
“Deve saber-se que Cristo veio depois de São João de cinco modos:
nascendo, pregando, batizando, morrendo e descendo aos infernos. E com
muita razão se diz que Cristo é mais forte que o Batista, porque este
é um simples homem, enquanto que Cristo é Deus e homem”
(Remígio), e ainda:
“Sua eira é a Igreja, seu celeiro é o reino dos céus, o campo é este
mundo. Enviando, pois, o Senhor aos apóstolos e aos demais mestres
como segadores, cortou toda classe de gente do mundo e os reuniu em
sua eira, quer dizer, em sua Igreja. Aqui devemos ser batidos e
peneirados” (Pseudo-Crisóstomo,
Opus Imperfectum super Matthaeum, hom. 3),
e: “Deus limpa esta
eira, quer dizer sua Igreja, ainda nesta vida, seja quando os maus são
tirados da Igreja pelo juízo dos sacerdotes, seja quando são tirados
da vida por meio da morte”
(Remígio), e também:
“A limpeza absoluta e geral da Igreja não terá lugar até o último dia,
quando o Filho do homem enviar os seus anjos para expulsar de seu
reino todos os escandalosos” (Rábano).
Edições Theologica comenta:
“São João Batista não só
pregou a penitência e a conversão, mas exortava a submeter-se ao rito
do seu batismo. Era um modo de preparar interiormente os que se
aproximavam dele, e de os fazer compreender a iminente chegada de
Cristo. Mas as palavras de exortação que pronunciava João Batista e o
reconhecimento humilde dos pecados por parte dos que acorriam a ele
dispunham para receber a graça de Cristo pelo Batismo no Espírito e no
fogo. Por outras, o batismo de João não produzia a justificação,
enquanto o Batismo cristão é o sacramento de iniciação que perdoa os
pecados e dá a graça santificante. A eficácia do sacramento do batismo
cristão exprime-se na doutrina católica dizendo que infunde a graça ex
opere operato: quer dizer, não pelos méritos do ministro que confere o
sacramento, nem pelos méritos do que o recebe, mas pela virtude de
Cristo que atua no sacramento: ‘Quando Pedro batiza, é Cristo quem
batiza (...), quando Judas batiza, é Cristo quem batiza’ (Santo
Agostinho, In Ioann. Evang., 6).
A palavra
‘fogo’ indica, de modo metafórico, a eficácia da ação do Espírito
Santo para apagar totalmente os pecados e o poder vivificante da graça
no batizado.
No que diz
respeito à pessoa de São João Batista, sobressai também o seu
admirável exemplo de humildade: rejeita resolutamente a tentação de
aceitar a dignidade de Messias, que as multidões judaicas pareciam
dispostas a reconhecer-lhe. Levar as sandálias do seu senhor era um
dos ofícios do último dos criados’.
Os
versículos 10 e 12 referem-se ao julgamento messiânico. Este, no
fundo, tem duas partes. A primeira verifica-se ao longo da vida de
cada homem e termina no juízo particular; a segunda realizar-se-á no
juízo final. Em ambas Cristo será o Juiz. Recordemos as palavras de
São Pedro em At 10, 42: ‘E mandou-nos que pregássemos ao povo, e que
déssemos testemunho de que Ele (Jesus) foi constituído por Deus juiz
de vivos e mortos’. O juízo dará a cada um o prêmio ou castigo
correspondente às suas boas ou más ações.
É de notar
que a palha não significa primariamente ações más, mas ocas e vazias,
isto é, uma vida carecida de serviços a Deus e aos homens. Deus
julgará, pois, as omissões e oportunidades não aproveitadas”.
Pe.
Divino Antônio Lopes FP.
Anápolis, 4 de dezembro de 2007
|