O BOM PASTOR
(Jo
10, 1-21)
"1
Em verdade, em verdade, vos digo: quem não entra pela porta no redil
das ovelhas, mas sobe por outro lugar, é ladrão e assaltante;
2
o que entra pela porta é o pastor das ovelhas.
3
A este o porteiro abre: as ovelhas ouvem a sua voz e ele chama as
suas ovelhas uma por uma e as conduz para fora.
4
Tendo feito sair todas as que são suas, caminha à frente delas e as
ovelhas o seguem, pois conhecem a sua voz.
5 Elas não
seguirão um estranho, mas fugirão dele, porque não conhecem a voz
dos estranhos. 6
Jesus lhes apresentou essa parábola. Eles, porém, não entenderam o
sentido do que lhes dizia.
7
Disse-lhes novamente Jesus: 'Em verdade, em verdade, vos digo: eu
sou a porta das ovelhas.
8 Todos os que
vieram antes de mim são ladrões e assaltantes; mas as ovelhas não os
ouviram. 9
Eu sou a porta. Se alguém entrar por mim, será salvo; entrará e
sairá e encontrará pastagem.
10
O ladrão vem só para roubar e destruir. Eu vim para que tenham a
vida e a tenham em abundância.
11
Eu sou o bom pastor: o bom pastor dá sua vida pelas suas ovelhas.
12
O mercenário, que não é pastor, a quem não pertencem as ovelhas, vê
o lobo aproximar-se, abandona as ovelhas e foge, e o lobo as ataca e
dispersa, 13
porque ele é mercenário e não se importa com as ovelhas.
14
Eu sou o bom pastor; conheço as minhas ovelhas e as minhas ovelhas
me conhecem, 15 como o Pai me
conhece e eu conheço o Pai. Eu dou minha vida pelas minhas ovelhas.
16
Mas tenho outras ovelhas que não são deste redil: devo conduzi-las
também; elas ouvirão a minha voz; então haverá um só rebanho, um só
pastor. 17
Por isso o Pai me ama, porque dou minha vida para retomá-la.
18
Ninguém a tira de mim, mas eu a dou livremente. Tenho poder de
entregá-la; esse é o mandamento que recebi do meu Pai'.
19
Houve novamente uma cisão entre os judeus, por causa dessas
palavras. 20
Muitos diziam: 'Ele tem um demônio! Está delirando! Por que o
escutais?' 21
Outros diziam: 'Não são de um endemoninhado essas palavras;
porventura um demônio pode abrir olhos de cegos?"
Em Jo 10, 1-2: "Em
verdade, em verdade, vos digo: quem não entra pela porta no redil
das ovelhas, mas sobe por outro lugar, é ladrão e assaltante; o que
entra pela porta é o pastor das ovelhas".
No
tempo de Nosso Senhor, se criava muitas ovelhas na Palestina. Esses
animais pastavam soltos durante o dia, os mesmos andavam muito pelas
planícies e montes, mas à noite, eram fechados em recintos:
"Um só guarda guardava
muitos rebanhos reunidos, até que pela manhã vinham os pastores, e
cada um chamava as suas ovelhas e conduzia-as a pastar consigo" (Pe. João Colombo).
Certas noites, o lobo faminto entrava no recinto para devorar
alguma ovelha. Se podia, o guarda defendia os pobres animais; mas,
se tinha de arriscar a própria vida, fugia para bem longe, buscando
refúgio num lugar seguro. E as ovelhas? Eram abandonadas!
Está claro que esse guarda não ama as ovelhas, ele não se preocupa
com a vida das mesmas; a sua única preocupação é com as suas lãs e
carnes, para vendê-las e fazer um bom dinheiro.
O bom pastor jamais age dessa maneira! Ele está pronto a dar a vida
por suas ovelhas:
"Quem é o bom pastor? O que entra pela porta da fidelidade à
doutrina da Igreja; o que não se comporta como um mercenário, que,
ao ver vir o lobo, deixa as ovelhas e foge; e o lobo arrebata-as e
faz dispersar o rebanho"
(São Josemaría
Escrivá, Cristo que passa, n° 34).
É
preciso tomar muito cuidado com os inimigos do rebanho. Esses
introduzem no redil para fazer mal a partir de dentro, ou fazem-no
de fora, aberta e violentamente. Diante do ataque desses lobos, o
bom pastor não pode ficar com a boca fechada ou indiferente:
"Quando o pastor tem medo
de enfrentar falando, não é o mesmo que dar as costas,
calando-se?... A palavra divina censura aqueles que vêem falsidades
porque, por medo de corrigir as faltas, lisonjeiam os culpados com
vãs promessas de segurança; não revelam de modo nenhum a inquidade
dos pecadores porque calam a palavra de censura"
(Da Regra Pastoral de São
Gregório Magno, papa).
Dom
Duarte Leopoldo escreve:
"Entrar pela porta é ser
enviado por Deus, é procurar sinceramente os interesses de Deus e a
salvação das almas, por ordem e autoridade do próprio Deus. Os
ministros heréticos, por exemplo, não entram pela porta, que é o
Cristo, não recebem nenhuma missão. O aprisco é a Igreja, as ovelhas
são os fiéis"
(Concordância dos Santos Evangelhos).
Hoje,
infelizmente, muitos "pastores" estão em paróquias, não porque amam
as ovelhas, e sim, para buscar seus próprios interesses: arrancam as
lãs, devoram as carnes e bebem o leite das ovelhas, isto é, estão
atrás somente do dinheiro e do bem estar, mas não as protegem dos
inimigos: "Vejamos,
portanto, o que aos pastores que se apascentam a si mesmo, não às
ovelhas, diz a palavra divina que não adula a ninguém: 'Eis que
bebeis o leite e vos cobris com a lã; matais as mais gordas e não
apascentais minhas ovelhas"
(Do Sermão sobre os
pastores, de Santo Agostinho, bispo).
Em Jo 10, 3-5 diz:
"A este o porteiro abre: as ovelhas ouvem a sua voz e ele chama as
suas ovelhas uma por uma e as conduz para fora. Tendo feito sair
todas as que são suas, caminha à frente delas e as ovelhas o seguem,
pois conhecem a sua voz. Elas não seguirão um estranho, mas fugirão
dele, porque não conhecem a voz dos estranhos".
Dom
Duarte Leopoldo explica:
"Esta admirável e perfeita
descrição dos costumes pastoris é não somente poética, mas ainda de
uma realidade encantadora. Imagine essas longas campinas, a perder
de vista, com seus rebanhos, com seus pastores, e homens do campo.
Surpreende-se desde logo, entre o pastor, o legítimo pastor, e as
suas ovelhas, certa relação de intimidade. O pastor conhece a cada
uma pelo nome, sabe a sua história, a sua filiação, idade, etc. Ele
vos dirá, por exemplo,
que em tal dia, na volta do caminho, ao
entardecer, tal ovelha se feriu gravemente, e desde então ficou
defeituosa, apesar dos seus cuidados. Ele conhece todas as
circunstâncias, todas as minudências da vida de suas ovelhinhas.
Nada lhe escapa. Ao amanhecer sobem todos, pastor e ovelhas, para as
verdes campinas. Se acaso sobrevêm um perigo, o pastor dá um grito
característico, e, imediatamente, todas as ovelhas erguem a cabeça,
ouvido alerta, prestes a fugir ao primeiro sinal. Imitai, porém,
esse mesmo grito; nenhuma se moverá, nenhuma sequer vos dará ouvido.
É que não sois o pastor, mas um estranho"
(Concordância dos Santos Evangelhos).
Nosso Senhor faz uso desta imagem, tão familiar aos Seus ouvintes,
para lhes mostrar um ensinamento divino: diante de vozes estranhas,
é necessário reconhecer a voz de Cristo:
"Cristo deu à Sua Igreja a
segurança da doutrina, a corrente de graça dos sacramentos; e
providenciou para que haja pessoas que nos orientem, que nos
conduzam, que nos recordem constantemente o caminho. Dispomos de um
tesouro infinito de ciência: a Palavra de Deus, guardada pela
Igreja; a graça de Cristo, que se administra nos Sacramentos; o
testemunho e o exemplo dos que vivem com retidão ao nosso lado e
sabem fazer das suas vidas um caminho de fidelidade a Deus"
(São Josemaría Escrivá, Cristo que passa, n° 34).
Em Jo 10, 6 diz:
"Jesus lhes apresentou essa parábola. Eles, porém, não entenderam o
sentido do que lhes dizia".
Edições Theologica comenta:
"Cristo, com pedagogia
divina, desenvolve e interpreta a imagem do pastor e do rebanho,
para que todos os homens, se têm boas disposições, possam chegar a
entender. Mas os judeus não entenderam o alcance das palavras do
Senhor, como aconteceu quando lhes prometeu a Eucaristia (Jo 6,
41-43) ou lhes falou da 'água viva' (Jo 7, 40-43), ou por ocasião da
ressurreição de Lázaro (Jo 11, 45-46)".
Em
Jo 10, 7 diz:
"Disse-lhes novamente Jesus: 'Em verdade, em verdade, vos digo: eu
sou a porta das ovelhas".
"Jesus
é a porta das ovelhas, isto é, a porta por onde entram as ovelhas, a
porta do aprisco, a porta da Igreja. É por esse motivo que se coloca
o batistério à entrada dos templos. Ninguém entra na Igreja, ninguém
pode ter parte nos seus bens espirituais, sem o Batismo em nome de
Jesus Cristo" (Dom Duarte
Leopoldo, Concordância dos Santos Evangelhos).
Jesus chama-se a Si mesmo de porta das ovelhas. Pastores e ovelhas
entram no redil; entram pela porta que é Cristo Jesus:
"Eu querendo chegar até
vós, isto é, ao vosso coração, prego-vos Cristo: se pregasse outra
coisa, quereria entrar por outro lado. Cristo é para mim a porta
para entrar em vós: por Cristo entro não nas vossas casas, mas nos
vossos corações. Por Cristo entro gozosamente e escutais-me ao falar
d'Ele. Por quê? Porque sois ovelhas de Cristo e fostes compradas com
o Seu Sangue"
(Santo Agostinho, In Ioann. Evang., 47, 2.3).
Cristo Jesus é a porta,
"a porta das ovelhas"!
Não entremos
pelas janelas, frestas nem telhados, mas sim, entremos alegremente
pela porta, porque essa porta é Cristo Jesus.
Quanta segurança e quão grande paz sentimos em entrar pela porta.
Aquele que passa por esta porta será bem recebido por Nosso Senhor e
está no caminho da salvação.
Recusemos todas as outras portas, por mais coloridas e atrativas que
sejam. Cristo é a porta, entremos então por ela:
"Ó Jesus, dissestes: 'Sou a
porta. Se alguém passar por mim, será salvo'... Não quero
contentar-me com ler vossas palavras, meditá-las, a vivê-las, a
transportá-las para minha vida... Ajudai-me a viver de fé, a
desprezar a razão humana que é loucura diante de vós, regulando
minha vida conforme as palavras de vossa sabedoria divina que é
loucura diante dos homens.
Que eu
'passe por vós', amando-vos de todo o coração... 'Passe por vós',
imitando-vos... 'Passe por vós', obedecendo-vos... As ovelhas estão
unidas ao seu pastor porque o olham, seguem-no, obedecem-lhe. A
exemplo delas, que eu vos siga, e vos ame, ó meu divino Pastor! Que
eu vos olhe pela contemplação, siga-vos pela imitação, e vos
obedeça"
(Bem-aventurado Charles de Foucauld, Meditações sobre o Evangelho,
Obr. Esp., pp. 148-149).
Em
Jo 10, 8 diz: "Todos
os que vieram antes de mim são ladrões e assaltantes; mas as ovelhas
não os ouviram".
Aqui, Nosso Senhor não fala de Moisés, dos profetas nem de São João
Batista, o Precursor; porque esses anunciaram o futuro Messias e
prepararam-Lhe o caminho:
"Jesus se refere aos
fariseus e aos falsos profetas. Os verdadeiros profetas, pelo
contrário, predizendo o Messias, tinham entrado pela porta, pela fé
no Redentor que anunciavam"
(Dom Duarte Leopoldo, Concordância dos Santos Evangelhos).
Em
Jo 10, 9-10 diz: "Eu
sou a porta. Se alguém entrar por mim, será salvo; entrará e sairá e
encontrará pastagem. O ladrão vem só para roubar e destruir. Eu vim
para que tenham a vida e a tenham em abundância".
Nosso Senhor mostra o contraste que há entre Ele e os falsos
pastores. Ele, o Senhor, é a porta:
"Eu sou a porta. Se alguém
entrar por mim, será salvo; entrará e sairá e encontrará pastagem",
enquanto que os falsos pastores introduzem no rebanho para fazer-lhe
mal: "O ladrão vem
só para roubar e destruir".
Os falsos pastores levam o rebanho para o espinheiro da mentira;
enquanto que
Nosso Senhor orienta as
ovelhas para as pastagens verdes da verdade:
"Entrará, efetivamente,
abrindo-se à fé; sairá passando da fé à visão e à contemplação, e
encontrará pastagem no banquete eterno.
Suas
ovelhas encontram pastagens, pois todo aquele que o segue na
simplicidade de coração é nutrido por pastagens sempre verdes. Quais
são afinal as pastagens dessas ovelhas, senão as profundas alegrias
de um paraíso sempre verdejante? Sim, o alimento dos eleitos é o
rosto de Deus, sempre presente. Ao contemplá-lo sem cessar, a alma
sacia-se eternamente com o alimento da vida.
Procuremos, portanto, irmãos caríssimos, alcançar essas pastagens,
onde nos alegremos na companhia dos cidadãos do céu. Que a própria
alegria dos bem-aventurados nos estimule. Corações ao alto, meus
irmãos! Que a nossa fé se afervore nas verdades em que acreditamos;
inflame-se o nosso desejo pelas coisas do céu. Amar assim já é
pôr-se a caminho"
(Das Homilias
sobre os Evangelhos, de São Gregório Magno, papa),
e: "Entrar por Jesus
Cristo é ter fé em Jesus Cristo. As pastagens são os bens
espirituais que constituem a herança dos cristãos; os exemplos, as
virtudes de Jesus e de seus santos, a palavra divina, os
sacramentos, o ensino tradicional da Igreja - campos imensos onde o
fiel pode estar em segurança, porque há um Pastor que vela por ele"
(Dom Duarte
Leopoldo, Concordância dos Santos Evangelhos).
"O
ladrão vem só para roubar e destruir. Eu vim para que tenham a vida
e a tenham em abundância"
(Jo 10, 10).
Dom
Duarte Leopoldo comenta:
"Estas palavras atingem a
todos aqueles que, de algum modo pretendem dirigir as almas sem
missão divina. Verdadeiros inimigos das almas, como o salteador o é
da nossa tranquilidade, é possível que nem sempre tenham eles
intenções homicidas, mas de fato causam às almas um mal irreparável,
a sua perdição eterna.
O
verdadeiro pastor morre, se é preciso, para que as suas ovelhas
tenham a vida, a vida da graça, a vida cujo alimento é o Pão
Eucarístico, cujo termo é o céu por toda a eternidade"
(Concordância dos Santos Evangelhos).
Em Jo
10, 11 diz: "Eu sou
o bom pastor: o bom pastor dá sua vida pelas suas ovelhas".
Jesus Cristo é o bom pastor! De todos os pastores, Ele é o único que
não mata nem ofende as ovelhas, mas dá a própria vida por elas.
Eis
o verdadeiro pastor, o bom pastor, aquele que dá a vida pelas
ovelhas: "O Bom Pastor dá a vida pelas ovelhas. Fala aqui Jesus da Sua
Paixão, e mostra que ia acontecer para salvação do mundo, e que a
sofreria voluntária e livremente"
(São João Crisóstomo,
Hom. sobre S. João, 59, 3).
Cristo Jesus é o incansável e generoso pastor. Antes falou de
pastos abundantes, agora,
fala em dar a Sua própria vida:
"Ó Cristo, bom Pastor, que
destes a vida por vosso rebanho, andastes à procura da ovelha
perdida através de montes e colinas... e a reencontrastes. Depois de
a terdes achado, eis que a carregastes naqueles ombros que levariam
o lenho da cruz. Tomando convosco a ovelhinha, assim a reconduzistes
à vida do céu... Tivemos necessidade de que vós, ó Deus, tomásseis
nossa carne e morrêsseis para nos dar a vida. Morremos convosco para
ser justificados; convosco ressuscitamos, porque convosco fomos
crucificados. E porque convosco ressuscitamos, fomos convosco
glorificados"
(São Gregório Nazianzeno, Orações 45, 26. 28),
e: "Fez o que tinha
dito, deu a Sua vida pelas Suas ovelhas, e entregou o Seu Corpo e
Sangue no Sacramento para alimentar com a Sua carne as ovelhas que
tinha redimido"
(São Gregório Magno, In Evangelia homiliae, 14, ad loc.).
Em
Jo 10,12-15 diz: "O
mercenário, que não é pastor, a quem não pertencem as ovelhas, vê o
lobo aproximar-se, abandona as ovelhas e foge, e o lobo as ataca e
dispersa, porque ele é mercenário e não se importa com as ovelhas.
Eu sou o bom pastor; conheço as minhas ovelhas e as minhas ovelhas
me conhecem, como o Pai me conhece e eu conheço o Pai. Eu dou minha
vida pelas minhas ovelhas".
Os
assalariados não se preocupam com as ovelhas, pelo contrário, fogem
diante do perigo, e deixam que o rebanho se perca:
"Quem é o mercenário? O que
vê o lobo e foge. O que busca a sua glória, não a glória de Cristo;
o que não se atreve a reprovar com liberdade de espírito os
pecadores (...) porque te calaste; e calaste-te, porque tiveste
medo" (Santo
Agostinho, In Ioann. Evang., 46, 8).
O
mercenário não se preocupa com a vida das ovelhas, por isso, não as
protege. A sua preocupação está em tirar as lãs, beber o leite e
devorar as carnes das ovelhas.
Como é triste ver sacerdotes negligentes e mercenários, preocupados
somente com o dízimo e com o seu bem estar. Estes estão a serviço do
próprio bucho e não a serviço de Deus e das almas:
"Recordem-se estes de que o
seu ministério sacerdotal (...) está - de modo particular - ordenado
para a grande solicitude do Bom Pastor, que é a solicitude pela
salvação de todos os homens. E todos devemos recordar bem isto: que
não é lícito a nenhum de nós merecer-se o nome de 'mercenário', ou
seja, de alguém 'a quem as ovelhas não pertencem', de alguém que 'ao
ver chegar o lobo, abandona as ovelhas e foge; e assim o lobo as
arrebata e dispersa; porque é mercenário, não se preocupa em nada
com as ovelhas'. A solicitude de todo o bom Pastor é para que os
homens 'tenham a vida, e a tenham em abundância', a fim de que
nenhum deles se perca, mas tenham a vida eterna. Façamos com que uma
tal solicitude penetre profundamente nas nossas almas: procuremos
vivê-las. Que ela caracterize a nossa personalidade e esteja sempre
na base da nossa identidade sacerdotal"
(João Paulo II, Carta a
todos os sacerdotes da Igreja, 8-IV-1979).
"Eu sou
o bom pastor; conheço as minhas ovelhas e as minhas ovelhas me
conhecem".
Há
uma força misteriosa que faz voltar-se para a estrela polar a agulha
imantada, como há um instinto secreto que guia as crianças a
distinguirem sua mãe entre todas as mulheres; assim a fé põe no
coração do cristão sincero uma doce atração para Jesus Cristo, e uma
capacidade especial de reconhecê-lO quando Ele está oculto.
Reconhece-O oculto na hierarquia da Igreja:
"No Papa, no Bispo, no
Pároco, no Sacerdote. Por isto os ama, venera-os, defende-os, reza
por eles. Se eles sofrem, Ele também sofre com eles; se se alegram,
Ele também se alegra com eles. Vive e sente com a Igreja, porque
vive e sente com Jesus"
(Pe. João Colombo).
Reconhece-O oculto no próximo,
"especialmente nos pobres,
nos doentes e nos que sofrem. Porventura o Senhor não disse que quem
dá um copo de água a um sedento o dá a Ele? Que quem socorre o
necessitado socorre a Ele? Que quem assiste a um doente a Ele
assiste? Que quem consola um coração dolorido consola o seu
Coração?" (Pe.
João Colombo).
Reconhece-O oculto na Sagrada Eucaristia:
"O sacrário é como a gruta
de Belém, onde o Eterno Pastor nasceu. Lá Ele estava envolto em
poucos paninhos: aqui no sacrário está enfaixado pelas brancas
aparências do pão. Os sinos que chamam para a Missa e para as
funções paroquiais são a voz dos Anjos ainda em hosanas e ainda
convidando a adorar o Senhor. A lâmpada do altar é imagem da estrela
que indicou aos Magos o lugar onde se achava Jesus. Acesa e
palpitante, ela indica a todo o que entra na igreja que ali há
Alguém, há o Bom Pastor"
(Pe. João Colombo).
Nosso Senhor disse:
"...minhas ovelhas me conhecem".
Se
Cristo Jesus é o nosso Bom Pastor, jamais busquemos apoio longe d'Ele.
Se conhecemos o amor que Ele tem por nós, não saiamos correndo pelas
planícies perigosas do mundo, buscando consolo naquilo que passa e
não satisfaz uma alma imortal.
Conhecer a Cristo, consiste em tê-lO como único amigo e segui-lO na
alegria e na tristeza:
"A boa ovelha deve também
conhecer o seu pastor. Conhecer a Jesus Cristo é compreender os
tesouros ocultos em seu coração, e deste conhecimento nascerá o
amor, a confiança e a imitação"
(Dom Duarte Leopoldo, Concordância dos Santos Evangelhos).
Em
Jo 10, 16 diz: "Mas
tenho outras ovelhas que não são deste redil: devo conduzi-las
também; elas ouvirão a minha voz; então haverá um só rebanho, um só
pastor".
A missão
de Cristo é universal ainda que a Sua pregação se dirigisse de fato,
numa primeira etapa, às ovelhas da casa de Israel,
"como Ele mesmo manifestou
à mulher cananéia (cfr Mt 15, 24), e enviasse os Apóstolos, na sua
primeira missão (cfr Mt 10, 6), a pregar aos israelitas. Agora,
porém, pensando nos frutos da Sua morte redentora (v. 15), revela
que estes se aplicarão a 'outras ovelhas que não são deste aprisco',
isto é, de Israel. Na verdade, os Apóstolos, depois da Ressurreição,
serão enviados por Cristo a todas as gentes (cfr Mt 28, 19) para
pregar o Evangelho a todas as criaturas (cfr Mc 16, 15), começando
por Jerusalém e continuando pela Judéia, Samaria e até aos confins
da terra (cfr At 1, 8). Deste modo se cumprirão as antigas promessas
sobre o reinado universal do Messias (cfr Sl 2, 7; Is 2, 2-6; 66,
17-19)"
(Edições Theologica).
Dom
Duarte Leopoldo comenta:
"Essas outras ovelhas, que
Jesus ama ternamente e quer trazer ao aprisco, são os gentios, os
hereges, etc., resgatados com seu sangue divino, mas separados da
Igreja. A maior alegria que um cristão pode dar ao Salvador é a
conversão dos pecadores, dos que se acham fora da Igreja.
Há uma
só Igreja sobre a terra, como há um só Pastor. Este Pastor único é
Jesus Cristo assentado no céu, à direita do eterno Pai, e assentado
na terra, na pessoa de seu Vigário, sobre a Sé de São Pedro, donde
instrui e governa, por uma multidão de pastores subordinados, o
rebanho inteiro das suas ovelhas. Quem não entrar pela porta neste
aprisco único, está tresmalhado e em perigo de ser devorado pelos
lobos"
(Concordância dos Santos Evangelhos).
Em
Jo 10, 17-18 diz:
"Por isso o Pai me ama, porque dou minha vida para retomá-la.
Ninguém a tira de mim, mas eu a dou livremente. Tenho poder de
entregá-la; esse é o mandamento que recebi do meu Pai".
Jesus explica agora a vontade livre com que Se entrega à morte para
bem do Seu rebanho. Cristo, por ter recebido pleno poder, tem
liberdade para Se oferecer em sacrifício expiatório, e submete-Se
voluntariamente ao mandato do Pai num ato de perfeita obediência:
"Nunca poderemos
entender perfeitamente a liberdade de Jesus Cristo, imensa,
infinita, como o Seu amor. Mas o tesouro preciosíssimo do Seu
generoso holocausto deve levar-nos a pensar: porque me deste,
Senhor, este privilégio com que sou capaz de seguir os Teus passos,
mas também de Te ofender? E assim acabamos por avaliar o reto uso da
liberdade, quando se decide em função do bem; e a sua errada
orientação, quando, com essas faculdades, o homem se esquece e se
afasta do Amor dos amores"
(São Josemaría
Escrivá, Amigos de Deus, n° 26),
e: "A Paixão de
Jesus é efeito da sua infinita bondade. Ele veio expressamente ao
mundo para nos salvar da escravidão do pecado, morrendo na cruz por
nós" (Dom Duarte
Leopoldo, Concordância dos Santos Evangelhos).
Em
Jo 10, 19-21 diz:
"Houve novamente uma cisão entre os judeus, por causa dessas
palavras. Muitos diziam: 'Ele tem um demônio! Está delirando! Por
que o escutais?' Outros diziam: 'Não são de um endemoninhado essas
palavras; porventura um demônio pode abrir olhos de cegos?"
Santo Agostinho diz:
"A verdade gera o ódio",
e: "A verdade possui
poucos amigos".
Houve uma cisão entre os judeus, por causa das palavras de Nosso
Senhor. Uns preferiram rejeitar o Seu ensinamento, dizendo:
"Ele tem um demônio",
enquanto que outros iam se abrindo à luz.
São
Josemaría escrivá escreve:
"Jesus: por onde quer que
tenha passado, não ficou um coração indiferente. - Ou Te amam ou Te
odeiam"
(Caminho, n° 687).
Nem
por isso Nosso Senhor calou a boca; pelo contrário, continuou
fervorosamente a Sua missão.
Não
tenhamos medo das perseguições e críticas daqueles que são amigos
das trevas e seguidores da mentira; mas realizemos o nosso trabalho
unidos a Cristo Jesus, porque onde as trevas estão reinando é que a
luz deve brilhar mais forte:
"Cristo comigo, a quem
temerei? Mesmo que as ondas se agitem contra mim, mesmo os mares,
mesmo o furor dos príncipes: tudo isto me é mais desprezível que um
aranha" (Das
Homilias de São João Crisóstomo, bispo).
Peçamos com confiança a Cristo, Bom Pastor, para que envie santos
pastores para a Santa Igreja: homens de vida interior, zelosos e que
busquem continuamente a santidade de vida:
"O padre, que não faz caso
da santidade de vida, também não poderá ser, de maneira alguma, o
sal da terra. É impossível que o que está corrompido e contaminado
seja fator de conservação. Onde falta a santidade, inevitavelmente
se introduz a corrupção"
(Pio X, Encíclica "Haerent Animo", 5),
e: "Sim,
queridos Irmãos, deveis ser santos, não deveis ser uns padres
quaisquer, padres vulgares. De outro modo, para bem pouco serve o
vosso zelo e os vossos sofrimentos. As ovelhas fugirão de vós e
perder-se-ão em grande número. Faz mais um santo só com uma palavra,
que um homem vulgar com uma série de discursos.
(Servo de Deus Eduardo Poppe).
Que
Deus afaste dos seminários todos aqueles que estão com a intenção de
usarem da Santa Igreja como trampolim para a vida política ou do
próprio bem-estar.
Pe.
Divino Antônio Lopes FP.
Anápolis, 19 de abril de 2007
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