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          AS RECAÍDAS 
          
          (Hb 10, 
          26-27)  
                  
          
          "26 
          Pois, se pecarmos voluntariamente e com pleno conhecimento da verdade, 
          já não há sacrifícios pelos pecados. 
          27 
          Aguarda-nos apenas um julgamento tremendo e o ardor de um fogo que 
          consumirá os adversários". 
            
                   
            
          
          Em Hb 
          10, 26 diz: "Pois, se 
          pecarmos voluntariamente e com pleno conhecimento da verdade, já não 
          há sacrifícios pelos pecados". 
          
          
          Milhões de pessoas possuem bichinhos de estimação, e as mesmas se 
          entretêm todos os dias com tais animaizinhos. Isso é muito bom e ajuda 
          a distrair um pouco, contanto que não haja apego. 
          
          
          Também, milhões de pessoas possuem um terrível monstro de estimação; 
          ele se chama pecado mortal. Essas pessoas "cuidam" com muito 
          "carinho" e "zelo" desse repugnante monstro, comete-o todos 
          os dias e várias vezes, transformando as suas almas num chiqueiro 
          nauseabundo: "Se pecar 
          é próprio do homem, perseverar no pecado é do demônio"
          (São Bernardo de 
          Claraval), e: 
          "Persevera diabolicamente no 
          pecado quem peca sem opor alguma resistência interna. Persevera 
          diabolicamente no pecado quem peca com espontaneidade, com plena 
          satisfação do intelecto e da vontade, sem algum remorso, sem algum 
          pudor, gabando-se ainda como de uma coisa lícita e honesta, 
          burlando-se assim a lei de Deus e rindo-se daqueles que o observam. 
          Para quem a tal ponto chegou, o pecado já se tornou segunda natureza; 
          porque a natureza humana, embora decaída pela culpa original, conserva 
          em si os princípios da lei eterna, e sente repugnância pelo pecado. 
          Esta segunda natureza, que no pecador se forma, e com o pecador se 
          forma, e com o pecado o identifica é uma natureza diabólica, porque 
          não há coisa mais natural ao demônio senão o pecado, e esta natureza 
          diabólica é o habito do pecado"
          (Pe. João Batista Lehmann), e também: "O 
          homem a tudo se habitua. Entre todos os hábitos, porém, que ele 
          contrai, é o hábito de pecar o mais perigoso, o mais funesto, o mais 
          lamentável" (Pe. Alexandrino Monteiro). 
          
          
          Aquele que adquiriu o hábito de pecar, isto é, que confessa hoje e cai 
          logo em seguida, começa então a ter o pecado como uma coisa 
          indispensável à vida. O pecado é a "água" que mata a sua sede, 
          é a "comida" que o sustenta, é a "veste" que cobre o seu 
          corpo, é o "ar" que ele respira, etc. 
          
          A 
          recaída no pecado é realmente horrível: 
          
          1. É sem desculpa: 
          "Não mais pecado de surpresa, de fraqueza e de ignorância. Mas é um 
          pecado de ingratidão para com Jesus Cristo, que deixou furar as mãos e 
          os pés e contar todos os ossos. É um pecado de perfídia: viola-se um 
          juramento feito no tribunal de um Deus terrível, junto ao altar, 
          diante dos Anjos, e subscrito com o sangue do Cordeiro. Em um pecado 
          de desprezo: volta-se aos braços de Satanás depois de beijar a Cristo, 
          prefere-se a guerra das paixões à paz da graça"
          (Pe. João Colombo). 
          
          
          Católico, é desculpável uma pessoa que foi salva de um afogamento, e 
          que depois voltou a pular na correnteza? É desculpável um jovem que 
          foi salvo das garras de um leão, e que depois voltou a entrar na jaula 
          de tal fera? O que dizer de uma pessoa que foi curada de uma 
          intoxicação, mas que depois voltou a beber o veneno? 
          
          O que 
          dizer então daquele católico que confessa, mas que no outro dia comete 
          os mesmos pecados e não se esforça para mudar de vida? Esse se 
          assemelha ao cão que volta ao vômito e a porca que volta a mergulhar 
          na lama: "Assim, 
          melhor lhes fora não terem conhecido o caminho da justiça do que tê-lo 
          conhecido, desviarem-se do santo mandamento que drlhes foi confiado. 
          Cumpriu-se neles a verdade do provérbio: O cão voltou ao seu próprio 
          vômito, e: 'A porca lavada tornou-se a revolver-se na lama" (2 Pd 2, 21-22). 
          
          2. Afasta de nós a misericórdia de Deus: 
          "Recordai o herói do Antigo 
          Testamento, Sansão. Uma paixão obcecara-o por uma mulher que habitava 
          o vale de Sorec e se chamava Dalila. Sansão, caído uma primeira vez na 
          cilada dessa mulher, é atado com sete cordas feitas de nervos frescos 
          e ainda úmidos. Mas, apenas chega os filisteus, ele põe-se em pé e 
          rebenta as sete cordas como uma criança rebentaria um fio de estopa. 
          Cai na cilada uma segunda vez: enquanto ele dormia, a mulher atou-o 
          com cordas novas, nunca usadas. Mas, apenas chegaram os filisteus, ele 
          acordou e saiu dos laços como através de uma teia de aranha. Caiu uma 
          terceira e uma quarta vez: a mulher nefasta cortou-lhe os cabelos, e 
          depois chamou os filisteus para se apoderarem dele. Num segundo ele 
          foi surpreendido por uma multidão de inimigos. E, despertando, disse 
          consigo: 'Sair-me-ei desta como das outras vezes', mas não sabia que o 
          Senhor se retirara dele, e então não pode fazer senão esforços 
          inúteis. Já agora era prisioneiro e joguete dos seus inimigos" 
          (Pe. João Colombo). 
          
          Eis 
          aí a imagem de uma alma que recai em pecado: 
          "Quando o demônio ou a paixão 
          a atraem, ela, consentindo, diz: 'Depois sairei deste estado como já 
          saí de outras vezes: um esforço sobre mim, uma boa confissão, e serei 
          livre'. Mas não percebe que Deus com a sua misericórdia pouco a pouco 
          se retirou; e, quando ela julgar oportuno converter-se, faltar-lhe-á o 
          tempo ou a dor sincera ou a ocasião boa. 
          
          Se nas 
          vossas transações ou nas vossas relações civis topais com um homem que 
          afirma e nega, que promete e não cumpre, que jura e perjura, vós 
          justamente vos irais, e rompeis toda relação com essa pessoa que não é 
          um homem, porém um palhaço. E não há de Deus irar-se ante esses 
          cristãos que hoje choram as suas culpas e amanhã as cometem de novo, 
          que hoje prometem fidelidade inviolável a Jesus Cristo, e amanhã o 
          atraiçoam barbaramente?" 
          (Idem). 
          Para essa pessoas, cabe 
          muito bem esse trecho da carta de São Judas Tadeu: 
          "Estes são semelhantes a 
          nuvens sem água que o vento dispersa de um ângulo ao outro do céu; são 
          semelhantes a plantas outonais infrutíferas, que o vento verga para a 
          direita e para a esquerda; são semelhantes ao refluxo do mar em fúria, 
          o qual reabsorve a imundície que lançara na praia"
          (12-13). 
          
          3. 
          Conduz-nos à impenitência final: 
          "Esta horrível verdade é 
          anunciada em figura no Antigo Testamento. O leproso que, curado uma 
          vez, recaía na doença, era conduzido perante o sumo sacerdote que o 
          sanara, e este declarava-o anátema e imundo para todo o resto dos seus 
          dias, e afastado de igreja e da casa de seus confrades (Lv 13, 8)
          (Pe. João Colombo). 
          
          Esta 
          terrível verdade também é anunciada por Jesus Cristo no Evangelho:
          "Aquele que, depois de 
          pôr a mão no arado, olha para trás, não é bom para o reino de Deus"
          (Lc 9, 62). Jesus 
          não disse que ele será inexoravelmente excluído, mas disse que se põe 
          no perigo de ser excluído, e para sempre. 
          
          Esta 
          terrível verdade experimentaram-na com a própria vida não poucos 
          pecadores. Saul, que, comovido um momento pela inocência de Davi, lhe 
          diz: "Vós sois mais justo do que eu", 
          e noutro momento procura matá-lo; Saul, que um dia prometia fidelidade 
          ao Senhor, e outro dia trucidava os Sacerdotes, não fará penitência 
          antes de morrer. Mas, na batalha, depois de ver seus filhos morrerem, 
          depois de perder o seu reino e a sua honra, matar-se-á lançando-se 
          sobre a ponta de sua espada, desesperadamente.  
          
          Acab, 
          o rei iníquo e volúvel, que, advertido por Elias, cobre a cabeça de 
          cinzas e usa o cilício, mas depois adora Baal; Acab que uma vez 
          consultava o profeta de Deus e outra vez consultava os falsos deuses, 
          não fará penitência antes de morrer. Ferido por uma flecha no olho, 
          morreu exangue antes da noite, e os cães acorreram para lhe lamber o 
          sangue que escorria sob as rodas do carro. 
          
          
          Sedecias, que, exprobrado pelo profeta Jeremias, muitas vezes se 
          converte e muitas vezes torna a cair em pecado; Sedecias que manda o 
          profeta consultar o Senhor, e depois deixa que ele seja lançado numa 
          cisterna, não fez penitência antes de morrer. Mas, ao cabo de onze 
          anos de reinado, foi feito prisioneiro, mataram-lhe os filhos ante 
          seus olhos, e depois cegaram-no e, carregado de grilhões, levaram-no 
          escravo para Babilônia. Assim foi verdadeira a palavra do profeta que 
          lhe anunciou que ele iria a Babilônia sem a ver. 
          
          
          Católico, existem os remédios que previnem as recaídas no pecado: 
          
          1. Não 
          fazer cálculo sobre a vida por vir: 
          Os israelitas tinham esperado por algumas semanas que Moisés descesse 
          do monte, sem nunca darem qualquer indício de coração rebelde ou de 
          espírito irreligioso. E, pensando que Moisés se houvesse esquecido 
          deles, ou não devesse voltar mais, construíram para si um bezerro de 
          ouro, e em torno dele abandonaram-se aos prazeres, às danças, às 
          orgias dos idólatras. E eis que de repente chega Moisés, quebra o 
          ídolo, e, com as armas da tribo de Levi, lança impetuosamente na morte 
          vinte e três mil pessoas. 
          
           "Também 
          muitos cristãos repetem o erro dos Israelitas. O pensamento de deverem 
          continuar por toda a vida sem nada conceder às paixões ilícitas 
          entedia-os, e eles voltam ao pecado esperando converter-se mais tarde. 
          E a morte já começa a descer da montanha, como o impetuoso Moisés; 
          talvez já chegue; talvez já os precipite na eternidade: 'Óh! Ai 
          daqueles que perderam a paciência e deixaram a estrada direita pela 
          torta! (Eclo 2, 14)"
          (Pe. João Colombo). 
          
          2. Não 
          se iludir sobre a misericórdia de Deus:
          "Pequemos alegremente, 
          - pensam alguns, - uma fácil confissão porá tudo no lugar. Mas Deus 
          fez tudo com peso, número e medida. E até mesmo o número dos nossos 
          pecados está contado; e, quando este número for atingido, a sua 
          justiça explodirá... Que seria, pois, de nós se o novo pecado que 
          pensamos cometer fosse o da medida já cheia?" (Idem). 
          
          3. 
          Imitar os Apóstolos:
          "Eles estavam no 
          cenáculo de portas fechadas... Fechemos também a nossa mente aos 
          pensamentos maus, os nossos olhos ante as vaidades e leviandades 
          mundanas, a nossa boca à blasfêmia e à murmuração, os nossos ouvidos 
          aos maus discursos. 
          
          Os 
          Apóstolos estavam reunidos, ao abrigo dos seus inimigos... E não é 
          nossa inimiga aquela pessoa que ateia em nós o fogo da paixão, que nos 
          ensina o caminho do delito? Não é nossa inimiga aquela reunião, aquele 
          divertimento de que nunca saímos inocente? Longe deles, portanto. 
          
          Os 
          Apóstolos estavam na presença de Jesus... Lembremo-nos de que Jesus 
          está no meio da nossa alma, e nos vê, e nos ouve"
          (Idem). 
          
          A 
          Palavra de Deus diz: 
          "Pois, se pecarmos voluntariamente e com pleno conhecimento da 
          verdade, já não há sacrifícios pelos pecados" 
          (Hb 10, 26), e o Catecismo da Igreja Católica ensina: 
          "O pecado mortal requer pleno 
          conhecimento e pleno consentimento. Pressupõe o conhecimento do 
          caráter pecaminoso do ato, de sua oposição à lei de Deus. Envolve 
          também um consentimento suficientemente deliberado para ser uma 
          escolha pessoal. A ignorância afetada e o endurecimento do coração não 
          diminuem, antes aumentam, o caráter voluntário do pecado" (1859). 
          
          O 
          Papa São Gelásio I explicava a este respeito: 
          "Nenhum pecado há, com 
          efeito, por cujo perdão não ore a Igreja, ou do qual, pelo poder que 
          lhe foi divinamente concedido, não possa absolver aqueles que dele se 
          afastem, ou perdoá-lo aos penitentes, pois foi a ela que se disse: 
          'Quanto perdoardes sobre a terra...' (cfr Jo 20, 23); quanto 
          desatardes sobre a terra, será desatado no Céu (Mt 18, 18). Na palavra 
          'quanto' entra tudo, por grandes que sejam e quaisquer que sejam os 
          pecados. E, não obstante, é verdadeira a sentença que proclama que 
          nunca há de ser perdoado aquele que persiste em continuar a cometer os 
          pecados, mas não aquele que depois se arrepende deles"
          (Ne forte, n. 5). 
          
          
          Edições Theologica comenta: 
          "A carta fala dos pecados 
          'voluntários', os pecados feitos não só com advertência e 
          consentimento, mas malícia. Isto é, os pecados plenamente deliberados, 
          que correspondem aos que o Antigo Testamento diz cometidos... 'com 
          insolência' (cfr Dt 17, 12; 18, 22). Estes pecados, por serem 
          pertinazes, não deixam praticamente esperança de arrependimento. São 
          parecidos ao que no Evangelho se chama blasfêmia contra o Espírito 
          Santo (cfr Mt 12, 33)". 
          
          João 
          Paulo II escreve: "A 
          'blasfêmia' não consiste no fato de ofender com palavras o Espírito 
          Santo; consiste, pelo contrário, na rejeição da salvação que Deus 
          oferece ao homem por meio do Espírito Santo, que atua em virtude do 
          sacrifício da Cruz. Se o homem rejeita aquela convicção de que é um 
          pecador, convicção que provém do Espírito Santo e tem um caráter 
          salvífico, rejeita ao mesmo tempo a 'vinda' do Paráclito: aquela 
          'vinda' que se realizou no mistério pascal, na unidade mediante a 
          força redentora do Sangue de Cristo. O Sangue que 'purifica das obras 
          mortas a nossa consciência" 
          (Dominum et Vivificantem, 
          n° 46). 
          
          Em Hb 
          10, 27 diz: 
          "Aguarda-nos apenas um julgamento tremendo e o ardor de um fogo que 
          consumirá os adversários". 
          
          
          Edições Theologica comenta: 
          "Não fica, pois, senão a 
          perspectiva da condenação no juízo divino e o castigo do fogo, como já 
          se tinha manifestado contra os rebeldes Coré, Datã e Abiram (cfr Nm 
          16, 16-35). Por outro lado, o castigo do fogo é anunciado muitas vezes 
          nos profetas como um elemento da justiça divina no dia do Senhor (cfr 
          Is 66, 24; 26, 11, Sf 1, 19, 3, 8; Dt 4, 23-24). O fogo aqui não 
          indica somente o furor da ira divina, mas faz referência aos tormentos 
          eternos (cfr Mc 9, 47-49; Ap 11, 5)". 
          
          
          Católico, não se iluda! Católico, não brinque com a graça de Deus! O 
          inferno existe! Para lá irão os rebeldes, aqueles que morrerem no 
          pecado, longe de Nosso Senhor: 
          "... as almas dos que morrem 
          em pecado mortal, imediatamente depois da morte, caem no inferno, onde 
          são atormentadas com suplícios infernais"
          (Bento XII, 
          "Benedictus Deus"). 
            
          
          Pe. 
          Divino Antônio Lopes FP. 
          
          
          Anápolis, 18 de maio de 2007. 
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