O ANJO DA GUARDA
(Tb 5, 22)
"Um bom
anjo o acompanhará, lhe dará uma viagem tranquila e o devolverá são e
salvo".
Em
1890, 31 crianças da escola de uma aldeia, na Boêmia, foram um dia a
passeio pelos campos vizinhos.
Estando ali, desencadeou-se uma furiosa tempestade que as obrigou a se
refugiarem debaixo de uma grande árvore até que cessassem a chuva e os
raios.
De
repente uma das meninas se sentiu impelida a sair daquele abrigo,
gritando:
-
Vamo-nos embora! E pôs-se a correr.
Seguiram-na instintivamente todas as crianças.
Apenas se haviam afastado um pouco, caiu um raio naquela árvore,
causando enorme estrago.
Os
pais das crianças, gratos aos Santos Anjos, ergueram ali um grande
cruzeiro para perpetuar a lembrança do acontecimento.
O
Anjo da Guarda existe. Em vão trabalha o ateu para negar a sua
existência: "Desde o
início até a morte, a vida humana é cercada por sua proteção e por sua
intercessão. Cada fiel é ladeado por um anjo como protetor e pastor
para conduzi-lo à vida. Ainda aqui na terra, a vida cristã participa
na fé da sociedade bem-aventurada dos anjos e dos homens, unidos a
Deus" (Catecismo da
Igreja Católica, 336).
Para
nos amparar, proteger e acompanhar, Deus concedeu, a cada um de nós,
um anjo da guarda:
"Mandou a seus Anjos guardarem-te em todos os caminhos! Quanto
respeito devem infundir-te os Anjos! Quanta devoção devem inspirar-te!
Quanta confiança devem comunicar-te! Que tenhas pois, respeito pela
sua presença; devoção por sua benevolência; confiança pela sua
proteção. Anda pois sempre com toda a circunspeção, como quem tem
presentes os Anjos em todos os teus caminhos. Como te atreverias a
fazer em sua presença o que não falarias se eu estivesse presente?
Sejamos pois, devotos; sejamos agradecidos a guardiões tão dignos de
apreço, correspondamos ao seu amor; honremo-los o máximo que pudermos,
pelo quanto lhes devemos"
(São Bernardo de Claraval, Serm. 12, In Sl 91),
e: "Grande é a
dignidade das almas humanas, pois cada uma tem um Anjo destinado à sua
guarda desde o instante de seu nascimento"
(São Jerônimo),
e também: "Deus não
deixou nossa franqueza sem ajuda; mas, destinou-nos um Anjo para
auxiliar a vida de cada um de nós, e esse Anjo é de natureza
totalmente incorpórea"
(São Gregório Nazianzeno, no "De vita Moysis"),
e ainda: "Que cada
fiel seja assistido por um Anjo, como mestre e protetor, que lhe reja
a vida, ninguém, o poderá negar, se si lembrar das palavras do Senhor
quando disse: Não desprezeis ao menor desses pequeninos; seus Anjos
contemplam a face de meu Pai que está nos Céus"
(São Basílio Magno,
"Contra Eunon, 1. III, n. 1" ),
e: "Os Anjos dos
pequeninos vêem sempre a Deus. Esses espíritos, entretanto, foram
mandados para a salvação do gênero humano, já que nossa fraqueza não
poderia resistir à insídia infernal sem que fosse protegida pela
guarda e defesa dos Anjos. Era mister a ajuda de uma natureza mais
poderosa que a nossa"
(Santo Hilário, "Sl 154, n. 147" ), e também: "Junto
a cada homem existe sempre um Anjo do Senhor que o ilumina, o guarda e
o protege de todo o mal"
(Orígenes), e
ainda: "Formamos com os Anjos uma única cidade de Deus... da qual uma
parte somos nós, peregrinos por este mundo, e a outra, que são os
Anjos, está sempre pronta a socorrer-nos" (Santo
Agostinho, "De Civitate Dei" 1. X c. 7), e: "Como podem os
Anjos estar longe, quando nos foram dados por Deus para ajudar-nos?
Eles não se apartam de nós, embora aquele que é assaltado pelas
tentações, pense que estão longe..."(Santo
Ambrósio "In Sl 37, 12" ),
e também: "Todos os
dias ofendemos de muitas maneiras os Anjos de nossa Guarda, e às
ofensas ajuntamos a negligência em arrependermo-nos, mas, eles, se bem
que ultrajados pelas nossas injúrias, nos toleram e de nós se
compadecem em nossas quedas"
(São Pedro Damião, "Serm. XLIII de Exalt. Crucis").
O Pe.
Francisco Fernández-Carvajal escreve:
"É doutrina comum que todos e
cada um dos homens, batizados ou não, têm o seu Anjo da Guarda. A sua
missão começa no instante da concepção de cada homem e prolonga-se até
o momento da morte".
Os
Atos dos Apóstolos registram numerosos episódios em que se manifesta a
intervenção destes santos anjos, como também a confiança com que os
primeiros cristãos os tratavam:
"O Anjo do Senhor, porém,
durante a noite, abriu as portas do cárcere, e, depois de havê-los
conduzido para fora, disse: 'Ide e, apresentando-vos no Templo,
anunciai ao povo tudo o que se refere àquela Vida!"
(At 5, 19-20),
e: "O Anjo do Senhor
disse a Filipe: 'Levanta-te e vai, por volta do meio-dia, pela estrada
que desce de Jerusalém a Gaza. A estrada está deserta"
(At 8, 26), e
também: "Ele viu claramente, em visão, cerca da nona hora do dia, o
Anjo do Senhor entrando em sua casa e chamando-o: 'Cornélio' Fixando
os olhos nele e cheio de temor, perguntou-lhe: 'Que há, Senhor?' E o
Anjo lhe disse: 'Tuas orações e tuas esmolas subiram até a presença de
Deus e ele se lembrou de ti. Agora, pois, envie alguns homens a Jope e
manda chamar Simão, cognominado Pedro. Ele está hospedado em casa de
certo Simão, curtidor, que se encontra junto ao mar"
(At 10, 3-6). Vemo-lo especialmente no episódio da libertação de São
Pedro da prisão: "De
repente, apresentou-se um anjo do senhor e uma luz brilhou no recinto.
Tocando no ombro de Pedro, o anjo despertou-o: 'Levanta-te depressa',
disse-lhe. Caíram-lhe as cadeias das mãos e o anjo ordenou: 'Cinge-te
e calça as tuas sandálias'. Ele assim o fez. O anjo acrescentou:
'Cobre-te com a tua capa e segue-me" (At 12, 7-11).
Uma
noite de inverno, em que nevava e soprava um vento geladíssimo, São
Valério, após vários dias de caminhada, chegou a Amiens.
Estava todo molhado, cansado, com frio e com fome. Por sorte, achou
aberta uma estalagem, e ali pediu hospitalidade por aquela noite. Mas,
quando se pôs perto do fogo para se enxugar e reanimar-se, percebeu
que as pessoas que ali se achavam mantinham conversas obscenas. E
disse:
"Se
Deus pedirá conta mesmo de uma só palavra inútil, que não fará por
estas que vós dizeis?"
Mas
eles não cederam, antes diabolicamente redobraram as obscenidades, e
começaram a maltratar o santo. Este, quando os viu irredutíveis,
disse: "Melhor o frio do que o fétido das vossas palavras". E saiu.
Era
noite escura e nevava: todas as casas estavam fechadas, nem uma luz
transluzia mais através das janelas. E o santo achou-se na estrada,
molhado e faminto, sob o açoite de um vento gélido, com tanto caminho
ainda por fazer. Avante, avante, São Valério! Os Anjos invisíveis
estão ao teu lado e caminham passo a passo contigo!
João
Paulo II escreve:
"Estamos bem ajudados pelos anjos bons, mensageiros do amor de Deus, e
a eles dirigimos a nossa oração, ensinados pela tradição da Igreja:
'Santo Anjo do Senhor, meu zeloso guardador, pois que a ti me confiou
a piedade divina, sempre em rege, guarda e ilumina. Amém"
(Audiência geral, 20-08-1986).
Os
Anjos da Guarda têm a missão de ajudar cada homem a alcançar o seu fim
sobrenatural:
"Enviarei um anjo adiante de ti para que te proteja no caminho e te
conduza ao lugar que te preparei"
(Ex 23, 20). E o
Catecismo Romano comenta:
"Porque assim como os pais,
quando os filhos necessitam de viajar por caminhos maus e perigosos,
procuram alguém que os possa acompanhar para defendê-los dos perigos e
cuidar deles, de igual modo o nosso Pai dos Céus, nesta viagem que
empreendemos para a pátria celeste, nos dá anjos a cada um de nós para
que, fortificados pelo seu poder e auxílio, nos livremos das ciladas
furtivamente preparadas pelos nossos inimigos e afastemos os terríveis
ataques que eles nos dirigem; e para que, com tais guias, sigamos
pelo caminho reto, sem que erro algum interposto pelo inimigo seja
capaz de separar-nos da senda que conduz ao Céu"
(IX, n. 4).
O Pe.
Francisco Fernández-Carvajal escreve:
"É missão dos Anjos da Guarda
auxiliar o homem contra todas as tentações e perigos e suscitar no seu
coração boas inspirações. Eles são nossos intercessores, nossos
protetores, e prestam-nos a sua ajuda quando os invocamos... O Anjo da
Guarda pode prestar-nos também ajudas materiais, se forem convenientes
para o nosso fim sobrenatural ou para o dos outros. Não tenhamos
receio de pedir-lhes o seu favor nas pequenas coisas materiais de que
necessitamos diariamente: encontrar uma vaga para estacionar o carro,
não perder o ônibus, sair bem de uma prova para qual estudamos, etc.
Podem ainda colaborar conosco no apostolado, e especialmente na oração
e na luta contra as tentações e contra o demônio".
G.
Huber escreve: "Os
Santos intercedem pelos homens, ao passo que os Anjos da Guarda não só
pedem pelos homens, mas também atuam à sua volta. Se os
bem-aventurados intercedem, os anjos intercedem e intervêm
diretamente: são ao mesmo tempo advogados dos homens junto de Deus e
ministros de Deus junto dos homens"
(Mi ángel marchará
delante de ti, 6ª ed., Palabra, Madrid, 1980, pág. 43),
e: "Os anjos, além de levarem a Deus notícias nossas, trazem o auxílio
de Deus às nossas almas e as apascentam como bons pastores, com doces
comunicações e inspirações divinas. Os anjos defendem-nos dos lobos,
que são os demônios, e nos amparam"
(São João da Cruz, Cântico
Espiritual, 2, 3).
Católico, tenha confiança em seu Anjo da Guarda, ele é um amigo fiel e
lhe ajudará: "Tem confiança com o seu Anjo da Guarda. Trata-o como amigo
íntimo - porque de fato o é -, e ele saberá prestar-te mil e um
serviços nos assuntos correntes de cada dia"
(São Josemaría Escrivá, Caminho, n. 562)
e: "Para que o Anjo da
Guarda nos preste a sua ajuda, é necessário que lhe manifestemos de
algum modo as nossas intenções e os nossos desejos. Apesar da grande
perfeição da sua natureza, os anjos não têm o poder de Deus nem a sua
sabedoria infinita, de maneira que não podem conhecer o interior das
consciências. Basta, porém, que lhes falemos mentalmente para que nos
entendam e até para que cheguem a deduzir do que lhes dizemos mais do
que aquilo que nós mesmos somos capazes de expressar. Por isso é tão
importante manter um trato de amizade com o Anjo da Guarda. E além de
lhe manifestarmos amizade, devemos venerá-lo, pois é alguém que está
sempre na presença de Deus, contemplando-o diretamente" (Pe.
Francisco Fernández-Carvajal).
Pe.
Divino Antônio Lopes FP.
Anápolis, 18 de junho de 2007
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