TUDO É VAIDADE

 (Ecl 1, 2)

 

  "Vaidade das vaidades – diz Coélet - vaidade das vaidades, tudo é vaidade".

 

 

Vaidades das vaidades: "Assim chamou Salomão aos bens do mundo, depois de ter experimentado, como ele mesmo confessou, todos os prazeres da terra" (Santo Afonso Maria de Ligório), e Irmã Margarida de Sant' Ana, carmelita descalça, filha do imperador Rodolfo II dizia: "Para que servem os tronos na hora da morte?"

Santo Efrém, muitas vezes, ao pôr do sol, andava por entre as sepulturas a meditar. Triste e pensativo ia de túmulo em túmulo, lendo as inscrições e os títulos dos defuntos: príncipes da cidade, magistrados da província, ricos fidalgos, sábios admirados pelo mundo... Às vezes o santo os chamava pelo nome em voz alta: nenhum respondia. Onde estão aquelas soberbas figuras de homens, de mulheres, a quem todos se sujeitavam? Aquela língua que não falava senão dos seus próprios méritos, senão dos defeitos alheios, onde está ela? Onde estão aqueles ouvidos que não queriam ouvir senão o próprio louvor? Tudo virou cinza. Lembra-te, homem soberbo, de que és cinza!

Católico, um dia você será uma caveira muda e surda, e residirá na escuridão de um túmulo. Para que tanta vaidade?

Por que foi que São Luis Gonzaga depôs as vestes de cetim e de veludo, para envergar a batina dos jesuítas? Por que foi que recusou a glória do marquesado, a honra de palácios soberbos, a obediência de muitas populações, para se esconder em austeros conventos e se aplicar aos misteres dos servos? Deste fato nunca saberíeis dar uma explicação satisfatória se não observásseis aquela caveira que os pintores costumam representar junto a ele. São Luis Gonzaga lembrou-se, e como, de que era cinza!

Católico, acorda enquanto é tempo e abandone radicalmente as vaidades oferecidas pelo mundo inimigo de Deus e das almas imortais.

São milhões aqueles que correm desesperadamente atrás das vaidades e se esquecem da salvação da própria alma.

Os santos temiam a Deus e pisavam as vaidades do mundo: "Coisa admirável! Tremem os Santos ao pensar em sua salvação eterna. Tremia o Pe. Ségneri, que, todo assustado, perguntava a seu confessor: 'Que me dizeis, Padre, salvar-me-ei?' Tremia Santo André Avelino quando, gemendo, exclamava: 'Quem sabe se me salvarei!' Esse mesmo pensamento afligia a São Luis Beltrão, e o fez levantar-se muitas noites do leito, exclamando: 'Quem sabe se me condenarei?" (Santo Afonso Maria de Ligório).

Os Santos tremiam pensando na salvação eterna, enquanto que milhões de católicos vivem mergulhados na lama da vaidade, vivendo como se Deus não existisse e como se não fossem morrer um dia: "E, contudo, os pecadores vivem em estado de condenação, e dormem, e riem e se divertem!" (Idem).

Milhões são aqueles que desprezam a Deus, Sabedoria Infinita, para buscarem as vaidades oferecidas pelo mundo inimigo da salvação: "É vaidade, pois, buscar riquezas perecedouras, e pôr nelas esperanças. É vaidade também desejar honras e desvanecer-se com elas. Vaidade é seguir os apetites da carne e desejar aquilo por onde depois hás de ser gravemente castigado. Vaidade é desejar vida longa, sem cuidar de que seja boa. Vaidade é também olhar somente a esta presente vida e não prever o que virá depois. Vaidade é amar o que tão depressa passa e não buscar com fervor a felicidade que sempre dura" (Tomás de Kempis, Imitação de Cristo, Livro I, capítulo I).

Muitos são aqueles que vivem mergulhados nas riquezas passageiras e desprezam os pobres. Será que esses levarão para a eternidade toda essa riqueza? Para que lhes servirão tudo isso quando os seus corpos forem lançados à sepultura? Tudo é vaidade!

A São Clemente de Ancira ofereceram uma bandeja cheia de ouro e de pedras preciosas, com a única condição de que ele renunciasse a Jesus. Mas o santo sacudiu lentamente a cabeça, e levantando os olhos ao céu, disse: "Senhor, será possível que meu coração se sacie com um prato de metais e de pedras?"

No entanto, quantos corações de homens, criados para a bem-aventurança de Deus, se têm contentado até com muito menos! O demônio fechou esses corações a toda verdadeira riqueza, a toda verdadeira beleza e a todo verdadeiro amor.

São milhões aqueles que passam horas e horas preocupados com a beleza física. Esses pintam o cabelo para não deixar aparecer os cabelos brancos, fazem plástica para eliminarem as rugas, se maquiam diariamente para taparem as manchas da pele, etc., mas não se preocupam com a salvação da alma. Tudo é vaidade!

Santa Rosália, em seus verdes anos, passava diariamente muito tempo, horas a fio, diante do espelho a enfeitar-se. Um dia, vendo refletir-se no espelho um crucifixo que estava suspenso à parede oposta, pôs-se a pensar no contraste entre as suas vaidades e as humilhações do Salvador, entre o seu corpo amimado e o de Jesus dilacerado pelos açoites e espinhos... Movido pela graça, deixou Rosália as vaidades e vãos adornos e daí em diante levou uma vida de abnegação e sacrifício, chegando a grande santidade.

Muitos são os estudiosos diplomados, que estão mais preocupados em mostrarem os seus diplomas ou em se aparecerem do que em servirem ao próximo. Se isso aconteceu com pessoas santas, imagina o que pode acontecer com os mundanos. Tudo é vaidade!

São Vicente Ferrer percorria nas asas de seu ardente apostolado cidades e vilas. Quando sua voz cheia de santa unção ameaçava castigos ou prometia prêmios eternos, os ouvintes rompiam em soluços e de seus olhos brotavam lágrimas de arrependimento. Ninguém resistia à sua palavra de fogo. Uma vez teve de pregar diante de um grande senhor numa festa solene e aparatosa. Vicente esqueceu-se naquele dia de beber em suas fontes costumeiras e consultou autores, folheou livros eruditos e preparou períodos eloquentes. O sermão saiu de seus lábios perfeito, magnífico.

Aquele grande senhor quis ouvi-lo de novo no dia seguinte. O Santo, arrependido de sua vaidade da véspera, foi prostrar-se, como era seu costume, aos pés do Crucifixo, e preparou-se na meditação e na presença de Deus. Subiu ao púlpito e pregou. Sua palavra foi como sempre cheia de calor e de unção

Terminado o sermão, disse-lhe o grande senhor:

- Hoje gostei mais do seu sermão; o senhor falou com outra convicção e com outro ardor...

- Senhor - replicou humildemente o Santo - ontem pregou Vicente, hoje pregou Jesus Cristo!

Milhões são aqueles que para conseguirem fama e o aplauso das pessoas se vendem ou atropelam o próximo com a sua língua caluniadora e semeadora de discórdia. Tudo é vaidade!

São milhares as moças que gastam dinheiro e passam até fome para manterem o corpo estético; outras até morrem por causa desse rigor. Tudo é vaidade!

Na cidade de Florença vivia uma jovem. Que vaidosa que era! Só pensava em pentear a sua formosa cabeleira, acariciar e aformosear a sua carne. Diante do espelho, diariamente passava longas horas contemplando-se e estudando o grave problema de encontrar um meio de fazer sobressair ainda mais a sua graça e formosura...

Mas, por detrás do espelho, a enfermidade a espreitava... Meteu-lhe as garras e prostrou-a no leito de dores. A febre consumia todos os seus ossos e, dentro de poucos dias, de toda a sua beleza não restava mais que um rosto lívido e um punhado de ossos descarnados.

E por detrás da enfermidade apresentou-se, com sua terrível caveira e com seus ossos esqueléticos, a morte. Aquela jovem não contava mais que vinte anos e, no entanto, tinha de despedir-se da vida e de todas as coisas mundanas que tanto amava.

Disseram-lhe com delicadas palavras que o seu estado era muito grave e que, por isso, devia preparar-se para comparecer diante de Deus... A vaidosa jovem lançou um grito de dor. Olhou para trás e viu que perdera tristemente a vida esquecendo-se de Deus... Olhou para frente e compreendeu que estava a dois passos do Juiz dos céus e da terra, a quem terá de dar contas de todas as suas vaidades... Estava às portas do céu ou do inferno!

A consciência dizia-lhe aos gritos que muito tinha que temer por sua salvação eterna...

A febre converteu-lhe a cabeça numa fornalha de fogo. Saltou da cama, abriu seus cofres e seus armários, tirou os vestidos mais preciosos e as jóias mais ricas e começou a vestir-se e a enfeitar-se como naquelas noites em que se preparava para ir aos bailes e teatros... Como louca, e sustentada pela mesma febre, penteou-se e arranjou-se com toda a elegância... Contemplou-se ao espelho e pôs-se a exclamar: "Como sou formosa! Como sou formosa!... E queriam enterrar-me a mim, a mulher mais formosa do mundo! Não, não... quero viver, quero viver... Venham minhas jóias, minhas pérolas, meus vestidos, meu anéis, minhas pulseiras, meus colares..."

E fora de si, arrojava-se a todos os seus cofres, armários e baús, e tirava os seus  tesouros e apertava-os contra o coração e beijava-os com loucura...

Sim, estava louca! E louca continuou por alguns dias, e louca morreu... E metida num caixão, e vestida com uma pobre mortalha, levaram-na à sepultura.

Eis aí a verdade: A vaidade humana tem que deixar todos os seus tesouros nas garras frias e cruéis da morte.

Que vaidosa que era.

Católico, lembre-se continuamente de que tudo aquilo que o mundo oferece é vaidade. Seja sábio! Não perca o tempo com as vaidades que ele te oferece: "É mister pesar os bens na balança de Deus e não na do mundo, que é falsa e enganadora... Os bens do mundo são desprezíveis, não satisfazem e acabam depressa... Passam e fogem velozes os breves dias desta vida; e que resta por fim dos prazeres terrenos? Passaram como navios. O navio não deixa vestígio de sua passagem. Perguntamos a todos esses ricos, sábios, príncipes, imperadores, que estão na eternidade, o que acham ali de suas grandezas, pompas e delícias deste mundo. Todos responderão: Nada, nada" (Santo Afonso Maria de Ligório).

Católico, viva santamente! Lembre-se de que tudo é vaidade! Não se esqueça de que a vida é breve e que a morte não avisa! De que te servirá na hora da morte todas as vaidades?

Santo Afonso Maria de Ligório escreve: "A hora da morte faz esquecer todas as grandezas, honras e vaidades do mundo. Casimiro, rei da Polônia, morreu de repente, quando, achando-se à mesa com grandes do reino, levava aos lábios a taça para beber. Rapidamente acabou para ele a cena do mundo... O imperador Celso foi assassinado oito dias depois de ter sido elevado ao trono, e assim acabou para Celso e peça da vida. Ladislau, rei da Boêmia, jovem de dezoito anos, esperava a sua esposa, filha do réu da França, e lhe preparava grandes festejos, quando certa manhã o acometeu dor veementíssima da qual caiu fulminado. Expediram-se imediatamente correios, advertindo a esposa que voltasse para a França, porque para Ladislau o drama do mundo já tinha acabado... Este pensamento da vaidade do mundo fez santo a Francisco de Borja, que ao ver o cadáver da imperatriz Isabel, falecida no meio das grandezas e na flor da idade, resolveu entregar-se inteiramente a Deus, dizendo: 'Assim acabam as grandezas e coroas do mundo?... Não quero servir a Senhor que me possa ser roubado pela morte" (Idem).

Católico, de que adianta uma pessoa ter conhecido a sabedoria dos livros, se não conheceu a Sabedoria Infinita? Ter sido aplaudida por milhares em um estádio de futebol, se não conheceu o único Senhor que a criou? Ser manchetes em jornais e revistas no mundo inteiro, se passou a vida em pecado mortal? Ter entesourado ouro e dinheiro, se não conquistou durante a vida a Riqueza Eterna, que é Deus? Ser possuidora de mansões e inúmeras fazendas, se não lutou para conquistar a Pátria Eterna que não se acaba? Que lutou e sofreu para manter o corpo em forma, mas que não se preocupou com a salvação de sua alma?

Tudo foi vaidade na vida de tal pessoa: "Quem possui todas as riquezas, mas não possui a Deus, é o mais pobre do mundo" (Santo Agostinho).

Aquele católico que mergulha nas vaidades do mundo e não se preocupa com a salvação de sua alma é um louco: "Quem não se preocupa com a salvação da alma é louco" (São Filipe Neri).

Católico, fuja do mundo, ele é um grande hospício

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP.

Anápolis, 04 de julho de 2007

 

 

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Pe. Divino Antônio Lopes FP. "Tudo é vaidade"

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