A PESCA MILAGROSA

 (Lc 5, 1-11)

 

"1 Certa vez em que a multidão se comprimia ao redor para ouvir a palavra de Deus, à margem do lago de Genesaré, 2 viu dois pequenos barcos parados à margem do lago; os pescadores haviam desembarcado e lavavam as redes. 3 Subindo num dos barcos, o de Simão, pediu-lhe que se afastasse um pouco da terra; depois, sentando-se ensinava dos barcos às multidões. 4 Quando acabou de falar, disse a Simão: 'Faze-te ao largo; lançai vossas redes para a pesca'. 5 Simão respondeu: 'Mestre, trabalhamos a noite inteira sem nada apanhar; mas, porque mandas, lançarei as redes'. 6 Fizeram isso e apanharam tamanha quantidade de peixes que suas redes se rompiam. 7 Fizeram então sinais aos sócios do outro barco para virem em seu auxílio. Eles vieram e encheram os dois barcos, a ponto de quase afundarem. 8 À vista disso, Simão Pedro atirou-se aos pés de Jesus, dizendo: 'Afasta-te de mim, Senhor, porque sou um pecador!' 9 O espanto, com efeito, se apoderara dele e de todos os que estavam em sua companhia, por causa da pesca que haviam acabado de fazer; 10 e também de Tiago e João, filhos de Zebedeu, que eram companheiros de Simão. Jesus, porém, disse a Simão: 'Não tenhas medo! Doravante serás pescador de homens'. 11 Então, reconduzindo os barcos à terra e deixando tudo, eles o seguiram".

 

 

 

Em Lc 5, 1-2 diz: "Certa vez em que a multidão se comprimia ao redor para ouvir a palavra de Deus, à margem do lago de Genesaré, viu dois pequenos barcos parados à margem do lago; os pescadores haviam desembarcado e lavavam as redes".

O Pe. Francisco Fernández-Carvajal escreve: "Os discípulos, de Cafarnaum, acompanharam Jesus pelas diversas cidades e povoações nas margens do lago de Genesaré. Seguiram-no de modo permanente, mas, ocasionalmente, voltaram à sua tarefa de pesca. Um dia, estes pescadores acabavam de deixar as suas barcas e estavam a lavar as redes".

A multidão se aglomerava em volta de Nosso Senhor para ouvir as Suas palavras. Todos O ouviam com satisfação porque falava com autoridade: "E a numerosa multidão o escutava com prazer!" (Mc 12, 37).

Hoje, infelizmente, em milhares de paróquias os fiéis estão se afastando, porque os sacerdotes falam somente de política e de outros assuntos vazios.

O sacerdote tem o dever de pregar a Palavra de Deus para os féis; o mesmo sabe muito bem que as coisas da terra não satisfazem uma alma imortal: "Tal como hoje! Não estais a ver? Estão desejando ouvir a mensagem de Deus, embora o dissimulem exteriormente. Talvez alguns se tenham esquecido da doutrina de Cristo; talvez outros, sem culpa sua, nunca a tenham aprendido e olham para a religião como coisa estranha... Mas convencei-vos de uma realidade sempre atual: chega sempre um momento em que a alma não pode mais; em que não lhe bastam as explicações dos falsos profetas. E, mesmo que nem então o admitam, essas pessoas sentem fome, desejam saciar a sua inquietação com os ensinamentos do Senhor" (São Josemaría Escrivá, Amigos de Deus, n° 260).

 "... os pescadores haviam desembarcado e lavavam as redes".

Dom Duarte Leopoldo comenta: "As redes que vão servir para o milagre de Jesus deviam estar limpas de toda impureza".

Esforcemo-nos também para sermos instrumentos limpos nas mãos de Nosso Senhor; redes limpas e de linha forte. Tiremos do nosso coração os "gravetos" do apego às coisas da terra, as "folhas" podres do pecado, o "lodo" do comodismo, etc: "Atrevo-me a assegurar que o Senhor também fará de nós instrumentos capazes de realizar milagres, e até, se for preciso, dos mais extraordinários, se lutarmos diariamente por alcançar a santidade, cada um no seu próprio estado, dentro do mundo e no exercício da sua profissão, na vida normal e corrente"  (São Josemaría Escrivá, Amigos de Deus, 262).

Em Lc 5, 3 diz: "Subindo num dos barcos, o de Simão, pediu-lhe que se afastasse um pouco da terra; depois, sentando-se ensinava dos barcos às multidões".

Nosso Senhor, o Grande Missionário, prega a Palavra de Deus em qualquer lugar, n'Ele não existe preguiça nem ociosidade: "... o próprio Jesus... foi o primeiro e o maior dos evangelizadores. Ele foi isso mesmo até o fim, até a perfeição, até o sacrifício da sua vida terrena" (Paulo VI, Exortação Apostólica, "Evangelii Nuntiandi", 7).

Prega nas montanhas, na planície, nas casas, nas sinagogas, etc., e agora prega de dentro de um barco, o barco de Pedro: "Admiremos como o Salvador se aproveita de toda oportunidade para pregar a Palavra de Deus. Esta barca, que era a de Pedro, o príncipe dos Apóstolos, simboliza a Igreja Católica" (Dom Duarte Leopoldo).

Os Santos Padres viram nesta barca de Pedro, a que o Senhor sobe, uma imagem da Igreja peregrina nesta terra: "Esta é aquela barca que segundo São Mateus ainda se afunda, e segundo São Lucas se enche de peixes. Reconhecei assim os princípios dificultosos da Igreja e a sua posterior fecundidade" (Santo Ambrósio, Expositio Evangelii sec. Lucam, ad loc.), e: "Cristo sobe para a barca para ensinar dali as multidões. De igual modo continua a ensinar da Igreja - a barca de Pedro - todas as gentes. Cada um de nós pode ver-se representado nesta barca a que Cristo sobe" (Edições Theologica), e também: "Que mudança há então? Há mudança na alma, porque nela entrou Cristo, tal como entrou na barca de Pedro. Abrem-se amplos horizontes, maior ambição de servir e um desejo irreprimível de anunciar a todas as criaturas as magnalia Dei (At 2, 11), as coisas maravilhosas que o Senhor faz, se lho permitimos" (São Josemaría Escrivá, Amigos de Deus, n° 265).

Que bem fariam às almas imortais, se os mais de 400.000 sacerdotes da Santa Igreja imitassem o exemplo de Nosso Senhor; se cada um pregasse ardorosamente a Palavra de Deus como a Mãe Igreja ordena: "Para ser autêntica, a palavra deve ser transmitida 'sem duplicidade e sem nenhuma falsificação, mas manifestando com franqueza a verdade diante de Deus' (2 Cor 4, 2). O presbítero, com uma maturidade responsável, evitará disfarçar, reduzir, distorcer ou diluir o conteúdo da mensagem divina. Com efeito, a sua missão 'não é de ensinar uma sabedoria própria, mas sim, de ensinar a palavra de Deus e de convidar insistentemente a todos à conversão e à santidade" (Diretório para o ministério e a vida do presbítero, 45).

Como seria proveitoso para as almas se os sacerdotes deixassem de promover forrós nos salões paroquiais, quadrilhas ridículas ao lado da matriz, certos encontros vazios de "rebolamento", etc., e se preocupassem em pregar a Palavra de Deus para as almas imortais. É importante lembrá-los de que remelexos não satisfazem uma alma imortal.

Cristo Jesus ensinava o povo, não o ludibriava: "... sentando-se ensinava dos barcos às multidões".

 "... pediu-lhe que se afastasse um pouco da terra".

Cristo Jesus pediu que afastasse um pouco o barco da margem, só depois então começou a ensinar.

O sacerdote não deve se misturar com o povo, como ensina a maligna Teologia da Libertação, ou melhor, do cão; mas o mesmo deve manter-se prudentemente afastado, para iluminar a todos com o seu exemplo: "Que verdade isto não é! Como é profundamente verdadeiro! Sim, queridos Irmãos, deveis ser santos, não deveis ser uns padres quaisquer, padres vulgares. De outro modo, para bem pouco serve o vosso zelo e os vossos sofrimentos. As ovelhas fugirão de vós e perder-se-ão em grande número. Faz mais um santo só com uma palavra, que um homem vulgar com uma série de discursos. As palavras de um sacerdote santo ferem, abalam o sentimento, transfiguram as almas e renovam-nas de um modo extraordinário, porque nascem da graça, da oração e da penitência, vêm cheias da graças de Deus" (Servo de Deus Eduardo Poppe, Carta aos sacerdotes).

O que o povo pode esperar do sacerdote "betoneira", que está sempre a girar de esquina em esquina e a tagarelar de porta em porta? Pobres paroquianos! Como sofrem para suportarem tal purgante de pernas.

Em Lc 5, 4 diz: "Quando acabou de falar, disse a Simão: 'Faze-te ao largo; lançai vossas redes para a pesca".

O Pe. Francisco Fernández-Carvajal comenta: "Qualquer um teria podido comentar que não era o momento mais oportuno; certamente tinha passado já a melhor hora. Além disso, estavam com sono e cansados depois de uma noite de trabalho, mais ainda quando tinha sido um trabalho sem frutos", e: "Jesus diz a Simão, no singular - Avança para o alto, e aos outros, no plural - e lançai, sob as ordens daquele que há de ser o chefe da Igreja. Vê-se aqui a supremacia de São Pedro. Ele é o patrão da barca donde Jesus ensina" (Dom Duarte Leopoldo), e também: "Quando acabou a Sua catequese, ordenou a Simão: Faz-te mais ao largo e lançai as vossas redes para pescar; é Cristo o dono da barca; é Ele quem prepara para a faina. Para isso é que veio ao mundo: para tratar de que os seus irmãos descubram o caminho da glória e do amor do Pai" (São Josemaría Escrivá, Amigos de Deus, n° 260), e ainda: "Para levar a cabo esta tarefa, o Senhor ordena a todos que lancem as redes, mas somente a Pedro ordena que dirija a barca mar adentro" (Edições Theologica).  

Todo este passo faz referência, em certo modo, à vida da Igreja. Nela o Romano Pontífice, sucessor de Pedro, "é vigário de Jesus Cristo porque O representa na terra e faz as Suas vezes no governo da Igreja" (São Pio X, Catecismo Maior, n° 194).

Cristo dirige-se também a cada um de nós para que nos sintamos urgidos a um trabalho apostólico audaz: "Ao largo! - Repele o pessimismo que te torna covarde, e lança as redes para pescar..." (São Josemaría Escrivá, Caminho, n° 792), e: "O pedido de Cristo dirige-se a todos e a cada um dos cristãos. Ninguém está dispensado: nem por razões de idade, nem de saúde, nem de ocupação. Não há desculpas de nenhum gênero. Ou produzimos frutos de apostolado ou a nossa fé será estéril" (Idem).

Católico, lembre-se de que você é chamado a lançar as redes, isto é, a trabalhar pelo bem das almas imortais. O que você dirá a Deus na hora do terrível julgamento, se jogou o tempo fora e morreu com as mãos vazias?

Não perca o tempo com novelas, reuniões mundanas, etc., mas ocupe-o para fazer o bem.

Lance as redes! Traga para perto de Nosso Senhor todos aqueles que estão se afogando nas águas turvas do mundo.

Em Lc 5, 5 diz: "Simão respondeu: 'Mestre, trabalhamos a noite inteira sem nada apanhar; mas, porque mandas, lançarei as redes".

O apóstolo Pedro fala ao Senhor que haviam pescado a noite inteira sem  apanhar, sequer, um peixe. Ele é um homem de fé, por isso, diz ao Mestre: "... mas, porque mandas, lançarei as redes". Pedro lançou as redes confiando em Cristo Jesus.

Se a situação nos parecer difícil e se acharmos que não dá mais para continuar o trabalho, não nos desesperemos nem desanimemos; pelo contrário, confiemos em Cristo Jesus e Ele que sabe da nossa intenção nos ajudará: "Tudo posso naquele que me fortalece" (Fl 4, 13).

Quantos são aqueles que diante de uma dificuldade ou falta de sucesso no trabalho joga tudo fora. É preciso confiar no Senhor: "Só em vós eu coloquei minha esperança!" (Sl 39, 8).

 "... porque mandas".

Se Cristo manda, por que duvidar? Lance as redes!

Se Nosso Senhor manda, por que esperar o amanhã? Trabalhe agora!

Se Jesus manda, por que esperar nas criaturas? Avante! Mãos à obra!

Se Nosso Senhor manda, não fique parado; pelo contrário, lute corajosamente e vencerá.

Em Lc 5, 6 diz: "Fizeram isso e apanharam tamanha quantidade de peixes que suas redes se rompiam".

Está claro que aquele que confia em Nosso Senhor jamais se decepcionará.

Dom Duarte Leopoldo escreve: "Que grande exemplo para todos os que trabalham no serviço de Deus! Se trabalham só, sob as inspirações do seu capricho e da sua própria vontade, o trabalho será sempre inútil. Se, porém, obedecem à vocação divina, com intenção reta e espírito de oração, fazem maravilhas".

Obedeçamos ao Senhor e façamos sempre a Sua santa vontade, e Ele que vê a nossa fidelidade nos recompensará: "Quanto mais, ó Senhor, vedes que manifestamos o dom da nossa vontade, não com palavras de cumprimento, mas com o fervor das obras, tanto mais nos atraís a vós..." (Santa Teresa de Jesus, Caminho de Perfeição).

Em Lc 5, 7-8 diz: "Fizeram então sinais aos sócios do outro barco para virem em seu auxílio. Eles vieram e encheram os dois barcos, a ponto de quase afundarem. À vista disso, Simão Pedro atirou-se aos pés de Jesus, dizendo: 'Afasta-te de mim, Senhor, porque sou um pecador!"

Enquanto Jesus contemplava naquelas redes uma pesca mais abundante através dos séculos, Pedro prostrou-se a seus pés e confessou com humildade: "Afasta-te de mim, Senhor, porque sou um pecador!"

O Pe. Francisco Fernández-Carvajal comenta: "Estava assombrado. Parece como se num momento o tivesse visto claro: a santidade de Cristo e a sua condição de homem pecador: Afasta-te de mim, Senhor. Encontrava-se diante da divindade de Cristo manifestada no milagre. E enquanto os seus lábios diziam que se sentia indigno de estar junto d'Ele, os olhos e toda a sua atitude rogavam ao seu mestre que o tomasse com Ele para sempre. De nenhuma maneira queria separar-se do seu lado", e: "O desejo de Pedro não é que Cristo se afaste dele, mas, por causa dos seus pecados, declara-se indigno de estar próximo do Senhor. O que disse Pedro recorda a atitude do Centurião que se confessa indigno de que Jesus entre na sua casa (Mt 8, 8). A Igreja manda os seus filhos repetir estas mesmas palavras do Centurião antes de receberem a Santíssima Eucaristia. Como também indica a conveniência de manifestar externamente a reverência devida ao Sacramento no ato de comungar: Pedro ensina-nos com o seu gesto, ao prostrar-se diante do Senhor, que também os sentimentos internos de adoração a Deus se devem manifestar exteriormente", e também: "São Pedro, que era pescador de profissão, compreendeu perfeitamente o milagre. O primeiro fruto do milagre de Jesus é inspirar a Simão uma humildade profunda: Senhor, retirai-vos de mim, porque sou um pecador. Antes de lhe confiar a suprema direção da Igreja, Jesus quer formar o seu coração, purificar este vaso de eleição para receber a graça do Apostolado".

O Apóstolo Pedro prostrou-se diante de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Façamos o mesmo todos os dias passando em uma igreja e visitando a Jesus Sacramentado: "Jesus está lá, então vamos todos a Ele" (São Pedro Julião Eymard).

São milhares os católicos que desprezam a Jesus Sacramentado. Os mesmos entram na igreja com roupas escandalosas, conversam o tempo todo, olham para os lados, etc., e não adoram a Cristo Jesus: "Jesus é abandonado pelos cristãos levianos e mundanos... Os mesmos demônios admiram-se e espantam-se ante a ingratidão dos homens para com o Deus da Eucaristia" (Idem).

Quando nos ajoelharmos diante de Jesus Sacramentado, humilhemo-nos diante de tão Grande Deus e digamos de coração: "... sou um pecador".

Em Lc 5, 9-11 diz: "O espanto, com efeito, se apoderara dele e de todos os que estavam em sua companhia, por causa da pesca que haviam acabado de fazer; e também de Tiago e João, filhos de Zebedeu, que eram companheiros de Simão. Jesus, porém, disse a Simão: 'Não tenhas medo! Doravante serás pescador de homens'. Então, reconduzindo os barcos à terra e deixando tudo, eles o seguiram".

Jesus tirou o temor a Simão e descobriu-lhe com toda a clareza o novo sentido da sua vida: não temas; desde agora serás pescador de homens. Recolhe a imagem do pescador para lhe indicar a sua missão na tarefa redentora: "Aqueles pescadores puxaram as barcas para terra e, deixadas todas as coisas, seguiram-no. As suas vidas teriam especialmente desde este dia um formidável objetivo: seguir a Cristo e ser pescador de homens. Tudo o resto na sua existência seria meio e instrumento para esse fim" (Pe. Francisco Fernández-Carvajal).

Edições Theologica comenta: "A perfeição não consiste em deixar simplesmente todas as coisas, mas em deixá-las para seguir a Cristo. Isto é o que fizeram os Apóstolos: abandonaram tudo para estarem disponíveis perante as exigências da vocação divina", e: "O demônio nada tem de seu neste mundo, e acode nu à contenda. Se vais, vestido, lutar contra ele, em breve cairás por terra. Porque terá por onde apanhar-te" (São Gregório Magno).

 

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP.

Anápolis, 06 de julho de 2007

 

 

 

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Pe. Divino Antônio Lopes FP. "A pesca Milagrosa"

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