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          O JOVEM RICO 
          
          (Mt 19, 
          16- 22) 
            
          
          "16
          Aí alguém se aproximou dele e disse: 'Mestre, que farei de bom para 
          ter a vida eterna?' 
          17 Respondeu: 'Por que 
          me perguntas sobre o que é bom? O Bom é um só. Mas se queres entrar 
          para a Vida, guarda os mandamentos'. 
          18 
          Ele perguntou-lhe: 'Quais?' Jesus respondeu: 'Estes: Não matarás, não 
          adulterarás, não roubarás, não levantarás falso testemunho; 
          19 
          honra pai e mãe, e amarás o teu próximo como a ti mesmo'. 
          20 
          Disse-lhe então o moço. 'Tudo 
          isso tenho guardado. Que me falta ainda?' 
          21 
          Jesus lhe respondeu: 'Se queres ser perfeito, vai, vende os teus bens 
          e dá aos pobres, e terás um tesouro nos céus. Depois, vem e segue-me'. 
          22 O moço, ouvindo essa palavra, saiu pesaroso, pois era 
          possuidor de muitos bens". 
            
          
            
            
          
          Em Mt 
          19, 16 diz: "Aí alguém 
          se aproximou dele e disse: 'Mestre, que farei de bom para ter a vida 
          eterna?" 
          
          São 
          Mateus especifica que era um jovem, e os três sinóticos afirmam que 
          era rico. 
          
          Ele 
          aproximou-se de Nosso Senhor e se ajoelhou: 
          "... alguém correu e ajoelhou-se diante dele"
          (Mc 10, 17). 
          
          O Pe. 
          Francisco Fernández-Carvajal comenta: 
          "Pelo modo de comportar-se 
          parece uma pessoa sincera e espontânea e, ao mesmo tempo, um tanto 
          inexperiente. Parece um homem com grandes inquietações espirituais e, 
          também, pouco iniciado no conhecimento do mistério de Jesus. 
          
          Este jovem 
          dá a Jesus o título singular de Bom Mestre. A sua estima é comovedora, 
          o seu modo de falar denota uma boa educação, e não teme reconhecer, 
          diante de toda a gente, uma pessoa mais importante que ele: 'Mestre, 
          que farei de bom para ter a vida eterna?' É um judeu piedoso que 
          sentiu a fascinação da pessoa de Jesus, em que vê a resposta às 
          inquietações do seu coração". 
          
          Por 
          mais rica, famosa e formosa que seja uma pessoa, a mesma precisa 
          reconhecer a sua pequenez diante de Cristo Jesus, Deus Onipotente. 
          
          Não 
          nos esqueçamos de que a verdadeira riqueza consiste em possuir a Nosso 
          Senhor: "Quem só quer 
          Deus, é rico de todos os bens"
          (Santo Afonso Maria de Ligório). 
          
          Como 
          seria bom se os jovens de hoje se aproximassem de Jesus Sacramentado, 
          e Lhe perguntassem com frequência e sinceridade: 
          "Mestre, que farei de bom para ter a vida eterna?" 
          
          
          Melhor ainda, se os mesmos passassem logo à prática, isto é, se 
          esforçassem para salvar as suas almas imortais, principal dever de 
          cada católico: "A obra 
          de minha salvação é, por conseguinte, o meu primeiro dever, enquanto 
          tudo o mais não passa de bagatela e loucura" 
          (São Pedro Julião Eymard, A 
          Divina Eucaristia, Vol. 3), e: "O negócio da 
          eterna salvação é, sem dúvida, o mais importante, e, contudo, é aquele 
          de que os cristãos mais se esquecem"
          (Santo Afonso Maria de Ligório, Preparação para a Morte, 
          Consideração XII, Ponto I). 
          
          Em Mt 
          19, 17 diz: 
          "Respondeu: 'Por que me perguntas "sobre o que é bom? O Bom é um só. 
          Mas se queres entrar para a Vida, guarda os mandamentos". 
          
           "Por 
          que me perguntas sobre o que é bom?" 
          
          
          Responde-lhe Jesus, que trata de levá-lo pela mão, passo a passo, à 
          verdade plena. Ninguém é bom senão um, Deus: 
          "O Senhor explica a causa 
          profunda das suas palavras e não rejeita o louvor. Ele é bom, não como 
          o é um homem virtuoso, mas por ser Deus, que é a própria bondade"
          (Pe. Francisco Fernández-Carvajal), e:  
          "Jesus diz: 'Por que me 
          interrogas sobre o que é bom? Um só é bom. Mas se queres entrar na 
          vida eterna, cumpre os mandamentos' (Mt 19, 17). Na versão dos 
          evangelistas Marcos e Lucas, a pergunta aparece assim formulada: 'Por 
          que Me chamas bom? Ninguém é bom, senão só Deus' (Mc 10, 18; cf. Lc
          18, 19). A afirmação de que 'um só é bom' reconduz-nos assim à 
          'primeira tábua' dos mandamentos, que convida a reconhecer Deus como 
          Senhor único e absoluto e só a Ele prestar culto, por causa da Sua 
          santidade infinita (cf. Ex 20, 2-11). O bem consiste em 
          pertencer a Deus, obedecer-Lhe, caminhar humildemente com Ele, 
          praticando a justiça e amando a piedade (cf. Mq 6, 8). 
          Reconhecer o Senhor como Deus é o núcleo fundamental, o coração da 
          Lei, do qual derivam e para o qual se ordenam os preceitos 
          particulares. É através da moral dos mandamentos que se manifesta a 
          pertença do povo de Israel ao Senhor, porque só Deus é Aquele que é 
          bom. Este é o testemunho da Sagrada Escritura, permeada, em cada uma 
          das suas páginas, pela viva percepção da absoluta santidade de Deus: 
          'Santo, Santo, Santo é o Senhor dos exércitos' (Is 6, 3). Mas, 
          se só Deus é o Bem, nenhum esforço humano, nem sequer a observância 
          mais rigorosa dos mandamentos, consegue 'cumprir' a Lei, isto é, 
          reconhecer o Senhor como Deus e prestar-Lhe a adoração que só a Ele é 
          devida (cf. Mt 4, 10). O 'cumprimento' pode vir apenas de um 
          dom de Deus: é a oferta de uma participação na Bondade divina que 
          se revela e comunica em Jesus, Aquele a quem o jovem rico designa com 
          os termos 'bom Mestre' (Mc 10, 17; Lc 18, 18). Aquilo que por 
          agora o jovem talvez consegue somente intuir, ser-lhe-á no fim 
          plenamente revelado pelo próprio Jesus no convite: 'Vem e segue-Me' (Mt
          19, 21)" 
          (João Paulo II, Encíclica "Veritatis splendor", 9 e 11),
          e: 
          "Por que me chamas bom?' O 
          que explica melhor o sentido das palavras de Jesus. - Se reconheces em 
          mim uma qualidade que só pertence a Deus, por essência e natureza, 
          confessa claramente a minha divindade. Só Deus é verdadeiramente bom; 
          só ele pode comunicar aos homens esta qualidade" 
          (Dom Duarte Leopoldo).
           
          
          "Mas se 
          queres entrar para a Vida, guarda os mandamentos". 
          
          Dom 
          Duarte Leopoldo comenta: 
          "A fé, sem as obras é inútil 
          para a salvação. Para entrar na vida, disse Jesus, é preciso observar 
          os Mandamentos, isto é, evitar o mal e praticar as boas obras que eles 
          nos prescrevem", e:
          "Por isso, depois do 
          importante esclarecimento 'Um só é bom', Jesus responde ao jovem: 'Se 
          queres entrar na vida eterna, guarda os mandamentos" (Mt 19, 17). 
          Deste modo, enuncia-se uma estreita relação entre a vida eterna e a 
          obediência aos mandamentos de Deus: são estes que indicam ao homem 
          o caminho da vida e a ela conduzem. Pela boca de Jesus, novo Moisés, 
          são entregues novamente aos homens os mandamentos do Decálogo; Ele 
          mesmo os confirma definitivamente e no-los propõe como caminho e 
          condição de salvação. O mandamento está unido a uma promessa: o 
          objeto da promessa, na Antiga Aliança, era a posse de uma terra onde o 
          povo pudesse viver uma existência em liberdade e conforme à justiça 
          (cf. Dt 6, 20-25); na Nova Aliança, o objeto da promessa é o 
          'reino dos céus', como Jesus afirma ao início do 'Discurso da 
          Montanha' - discurso que contém a formulação mais ampla e completa da 
          Nova Lei (cf. Mt 5-7) -, em conexão evidente com o Decálogo confiado 
          por Deus a Moisés no monte Sinai. À realidade mesma do Reino se refere 
          a expressão 'vida eterna', que é participação na própria vida de Deus: 
          só depois da morte se realizará em toda a sua perfeição, mas, pela fé, 
          ela já é agora luz de verdade, fonte de sentido para a vida, 
          participação inicial da sua plenitude no seguimento de Cristo. De 
          fato, Jesus diz aos discípulos, depois do encontro com o jovem rico: 
          'Todo aquele que tiver deixado casas, irmãos, irmãs, pai, mãe, mulher, 
          filhos ou terras por causa do Meu nome, receberá cem vezes mais e terá 
          por herança a vida eterna' (Mt 19, 29)" 
          (João Paulo II, Encíclica "Veritatis splendor", 12). 
          
          Em Mt 
          19, 18-19 diz: Ele 
          perguntou-lhe: 'Quais?' Jesus respondeu: 'Estes: Não matarás, não 
          adulterarás, não roubarás, não levantarás falso testemunho; honra pai 
          e mãe, e amarás o teu próximo como a ti mesmo". 
          
          Jesus 
          dirige agora a atenção do jovem para a Lei, mostrando a sua validade 
          como norma de conduta que leva a Deus: 
          "Antes de pregar-lhe a 
          perfeição, Jesus ensina a este moço os elementos da virtude, 
          enumerando os Mandamentos" 
          (Dom Duarte Leopoldo), 
          e: "A resposta de 
          Jesus não basta ao jovem, que insiste interrogando o Mestre sobre os 
          mandamentos a observar: 'Quais? - perguntou ele' (Mt 19, 18). Pede o 
          que deve fazer na vida para pôr em evidência o reconhecimento da 
          santidade de Deus. Depois de ter orientado o olhar do jovem para Deus, 
          Jesus lembra-lhe os mandamentos do Decálogo que se referem ao próximo: 
          'Replicou Jesus: 'Não matarás; não cometerás adultério; não roubarás; 
          não levantarás falso testemunho; honra teu pai e tua mãe; e ainda, 
          amarás o teu próximo como a ti mesmo' (Mt 19, 18-19). Pelo contexto do 
          diálogo e especialmente pela comparação do texto de Mateus com as 
          passagens paralelas de Marcos e de Lucas, vê-se que Jesus não pretende 
          enumerar todos e cada um dos mandamentos necessários para 'entrar na 
          vida', mas sobretudo, remeter o jovem para a 'centralidade' do 
          Decálogo relativamente a qualquer outro preceito, como 
          interpretação daquilo que significa para o homem 'Eu sou o Senhor, teu 
          Deus'. De qualquer modo, não podem escapar à nossa atenção os 
          mandamentos da Lei que o Senhor Jesus lembra ao jovem: são alguns que 
          pertencem à designada 'segunda Tábua' do Decálogo, cujo resumo (cf. Rm 
          13, 8-10) e fundamento é o mandamento do amor ao próximo: 'Ama 
          o teu próximo como a ti mesmo' (Mt 19, 19; cf. Mc 12, 31). Neste 
          mandamento, exprime-se precisamente a singular dignidade da pessoa 
          humana, que é 'a única criatura na terra a ser querida por Deus 
          por si mesma'. De fato, os diversos mandamentos do Decálogo não são 
          mais do que a refração do único mandamento referente ao bem da pessoa, 
          ao nível dos múltiplos bens que revelam a sua identidade de ser 
          espiritual e corpóreo, em relação com Deus, com o próximo e com o 
          mundo das coisas. Como lemos no Catecismo da Igreja Católica, 
          'os Dez Mandamentos fazem parte da revelação de Deus. Mas, ao mesmo 
          tempo, ensinam-nos a verdadeira humanidade do homem. Põem em relevo os 
          deveres essenciais e, por conseguinte, indiretamente, os direitos 
          fundamentais inerentes à natureza da pessoa humana'. Os mandamentos, 
          lembrados por Jesus ao jovem interlocutor, destinam-se a tutelar o 
          bem da pessoa, imagem de Deus, mediante a proteção dos seus 
          bens. 'Não matarás, não cometerás adultério, não roubarás, não 
          levantarás falso testemunho' são normas morais formuladas em termos de 
          proibição. Os preceitos negativos exprimem, com uma força particular, 
          a exigência irreprimível de proteger a vida humana, a comunhão das 
          pessoas no matrimônio, a propriedade privada, a veracidade e a boa 
          fama. Os mandamentos representam, portanto, a condição básica para o 
          amor ao próximo; e são, ao mesmo tempo, a sua confirmação. Constitui a
          primeira etapa necessária no caminho para a liberdade, o seu 
          início: 'A primeira liberdade - escreve S. Agostinho - consiste em 
          estar isento de crimes (...) como são o homicídio, o adultério, a 
          fornicação, o furto, a fraude, o sacrilégio e assim por diante. Quando 
          alguém principia a não ter estes crimes (e nenhum cristão os deve 
          ter), começa a levantar a cabeça para a liberdade, mas isto é apenas o 
          início da liberdade, não a liberdade perfeita..." 
          (João Paulo II, Encíclica "Veritatis splendor", 13).
           
          
          Em Mt 
          19, 20 diz: "Disse-lhe 
          então o moço. 'Tudo isso tenho guardado. Que me falta ainda?" 
          
          O 
          jovem não está satisfeito nem contente com o que tem nem com o bem que 
          já pratica. Diante da pessoa de Jesus dá-se conta de que ainda lhe 
          falta muito. 
          
          Como 
          seria bom se cada católico não contentasse com o bem praticado, mas se 
          esforçasse para praticá-lo sempre mais: 
          "... que o santo continue a santificar-se"
          (Ap 22, 11). 
          
          Nunca 
          devemos dizer basta, mas precisamos progredir continuamente no caminho 
          da perfeição, isto é, precisamos estar sempre com o coração aberto 
          para Deus. 
          
          Em Mt 
          19, 21 diz: "Jesus lhe 
          respondeu: 'Se queres ser perfeito, vai, vende os teus bens e dá aos 
          pobres, e terás um tesouro nos céus. Depois, vem e segue-me".
           
          
          Deus 
          quer que sejamos perfeitos. Os que insistem na mediocridade, covardia 
          e preguiça, não servem para seguir a Cristo Jesus: 
          "É Deus que te fala. É por 
          este caminho que Ele tenciona levar-te ao céu. É a este estado de vida 
          que Ele tem vinculado as muitas graças, com que te quer auxiliar e 
          facilitar a tua salvação. Não fujas ao teu chamamento, dizendo que 
          também no mundo te podes salvar" 
          (Pe. Alexandrino Monteiro), 
          e: "A resposta sobre 
          os mandamentos não satisfaz o jovem, que pergunta a Jesus: 'Tenho 
          cumprido tudo isto; que me falta ainda?' (Mt 19, 20). Não é 
          fácil dizer em sã consciência: 'tenho cumprido tudo isto', quando se 
          começa a compreender o alcance efetivo das exigências contidas na Lei 
          de Deus. E, contudo, mesmo sendo-lhe possível dar semelhante resposta, 
          mesmo tendo seguido o ideal moral com seriedade e generosidade desde a 
          sua infância, o jovem rico sabe que está ainda longe da meta: diante 
          da pessoa de Jesus, percebe que ainda lhe falta alguma coisa. É à 
          consciência desta insuficiência que se dirige Jesus, na Sua última 
          resposta: aproveitando a nostalgia de uma plenitude que supere a 
          interpretação legalista dos mandamentos, o bom Mestre convida o 
          jovem a tomar a estrada da perfeição: 'Se queres ser perfeito, 
          vai, vende tudo o que possuíres, dá o dinheiro aos pobres, e terás um 
          tesouro nos céus; depois, vem e segue-Me' (Mt 19, 21). Tal como já 
          sucedeu na passagem precedente da resposta de Jesus, também esta deve 
          ser lida e interpretada no contexto de toda a mensagem moral do 
          Evangelho e, especialmente, no contexto do Discurso da Montanha, das 
          bem-aventuranças (cf. Mt 5, 3-12), a primeira das quais é precisamente 
          a bem-aventurança dos pobres, dos 'pobres em espírito', como esclarece 
          São Mateus (Mt 5, 3), ou seja, dos humildes. Neste sentido, pode-se 
          dizer que também as bem-aventuranças entram no espaço aberto pela 
          resposta de Jesus à pergunta do jovem: 'Que devo fazer de bom para 
          alcançar a vida eterna?'. De fato, cada bem-aventurança promete, desde 
          uma particular perspectiva, precisamente aquele 'bem' que abre o homem 
          à vida eterna, mais, que é a própria vida eterna. As 
          bem-aventuranças não têm propriamente por objeto normas 
          particulares de comportamento, mas falam de atitudes e disposições de 
          fundo da existência e, portanto, não coincidem exatamente com os 
          mandamentos. Por outro lado, não há separação ou oposição 
          entre as bem-aventuranças e os mandamentos: ambos se referem ao bem, à 
          vida eterna. O Discurso da Montanha começa pelo anúncio das 
          bem-aventuranças, mas contém também a referência aos mandamentos (cf. 
          Mt 5, 20-48). Ao mesmo tempo, esse Discurso mostra a abertura e a 
          orientação dos mandamentos para a perspectiva da perfeição, própria 
          das bem-aventuranças. Estas são, antes de tudo, promessas, das 
          quais de modo indireto derivam também indicações normativas 
          para a vida moral. Na sua profundidade original, são uma espécie de 
          auto-retrato de Cristo e, precisamente por isso, constituem 
          convites ao Seu seguimento e à comunhão de vida com Ele. Não 
          sabemos até que ponto o jovem do Evangelho tenha compreendido o 
          conteúdo profundo e exigente da primeira resposta dada por Jesus: 'Se 
          queres entrar na vida eterna, cumpre os mandamentos'; certo é, porém, 
          que o compromisso professado pelo jovem a respeito de todas as 
          exigências morais dos mandamentos, constitui o terreno indispensável 
          onde poderá germinar e amadurecer o desejo da perfeição, ou seja, da 
          realização do seu sentido mais amplo no seguimento de Cristo. O 
          diálogo de Jesus com o jovem ajuda-nos a identificar as condições 
          necessárias para o crescimento moral do homem chamado à perfeição: 
          o jovem, que observou todos os mandamentos, mostra-se incapaz de, 
          unicamente com as suas forças, dar o passo seguinte. Para o conseguir, 
          são precisos uma liberdade humana amadurecida: 'Se queres', e o dom 
          divino da graça: 'Vem, e segue-Me'. A perfeição exige aquela 
          maturidade no dom de si, a que é chamada a liberdade do homem. 
          Jesus indica ao jovem os mandamentos como a primeira condição 
          imprescindível para obter a vida eterna; o abandono de tudo quanto o 
          jovem possui e o seguimento do Senhor assume, pelo contrário, o 
          caráter de uma proposta: 'Se queres...'. A palavra de Jesus 
          revela a dinâmica particular do crescimento da liberdade em direção à 
          sua maturidade e, ao mesmo tempo, comprova a relação fundamental da 
          liberdade com a lei divina. A liberdade do homem e a lei de Deus 
          não se opõem, pelo contrário, reclamam-se mutuamente. O discípulo de 
          Cristo sabe que a sua é uma vocação para a liberdade. 'Vós, irmãos, 
          fostes chamados à liberdade' (Gl 5, 13), proclama com alegria e 
          orgulho o apóstolo Paulo. Mas logo precisa: 'Não tomeis, porém, a 
          liberdade como pretexto para servir a carne. Pelo contrário, fazei-vos 
          servos uns dos outros pela caridade' (idem.). A firmeza com que 
          o Apóstolo se opõe a quem confia a própria justificação à Lei, nada 
          tem a ver com a 'libertação' do homem dos preceitos, os quais, pelo 
          contrário, estão ao serviço da prática do amor: 'Pois quem ama o 
          próximo cumpre a Lei. Com efeito, o preceito: Não cometerás 
          adultério, não matarás, não furtarás, não cobiçarás e qualquer um 
          dos outros mandamentos resumem-se nestas palavras: Amarás o próximo 
          como a ti mesmo' (Rm 13, 8-9). O mesmo Santo Agostinho, depois de 
          ter falado da observância dos mandamentos como sendo a primeira e 
          imperfeita liberdade, assim continua: 'Não é ainda perfeita, por quê? 
          - perguntará alguém. Porque 'sinto nos meus membros uma outra lei em 
          conflito com a lei da minha razão' (...) Liberdade parcial, parcial 
          escravidão: a liberdade ainda não é completa, não é ainda pura, não é 
          ainda plena, porque ainda não estamos na eternidade. Conservamos, em 
          parte, a fraqueza, e, em parte, alcançamos já a liberdade. Todos os 
          nossos pecados foram destruídos no batismo, mas porventura desapareceu 
          a fraqueza, depois de ter sido destruída a iniquidade? Se aquela 
          tivesse desaparecido, viver-se-ia na terra sem pecado. Quem ousará 
          afirmar isto a não ser o soberbo ou quem é indigno da misericórdia do 
          libertador? (...) Ora, uma vez que ficou em nós alguma fraqueza, ouso 
          dizer que, na medida em que servimos a Deus somos livres, mas somos 
          escravos na medida em que seguimos a lei do pecado'.  Quem vive 
          'segundo a carne' sente a lei de Deus como um peso, mais, como uma 
          negação ou, pelo menos, uma restrição da própria liberdade. Ao 
          contrário, quem é animado pelo amor e 'caminha segundo o Espírito' (Gl 
          5, 16) e deseja servir os outros, encontra na lei de Deus o caminho 
          fundamental e necessário para praticar o amor, livremente escolhido e 
          vivido. Mais ainda, ele percebe a urgência interior - uma verdadeira e 
          própria 'necessidade', e não já uma imposição - de não se deter nas 
          exigências mínimas da lei, mas de vivê-las em toda a sua 'plenitude'. 
          É um caminho ainda incerto e frágil, enquanto estivermos na terra, mas 
          tornado possível pela graça que nos outorga a posse da plena liberdade 
          dos filhos de Deus (cf. Rm 8, 21) e, portanto, de responder na vida 
          moral à sublime vocação de ser 'filhos no Filho'. Esta vocação ao amor 
          perfeito não está reservada só para um círculo de pessoas. O 
          convite 'vai, vende tudo o que possuíres, dá o dinheiro aos 
          pobres' com a promessa 'terás um tesouro no céu', dirige-se a 
          todos, porque é uma radicalização do mandamento do amor ao 
          próximo, assim como o convite posterior 'vem e segue-Me' é a nova 
          forma concreta do mandamento do amor de Deus. Os mandamentos e o 
          convite de Jesus ao jovem rico estão ao serviço de uma única e 
          indivisível caridade, que espontaneamente tende à perfeição, cuja 
          medida é só Deus: 'Sede, pois, perfeitos, como é perfeito o vosso Pai 
          celeste' (Mt 5, 48). No Evangelho de São Lucas, Jesus precisa ainda 
          mais o sentido desta perfeição: 'Sede misericordiosos, como também o 
          vosso Pai é misericordioso' (Lc 6, 36)" 
          (João Paulo II, Encíclica "Veritatis splendor", 16 a 18).
           
          
           "Depois, 
          vem e segue-me". 
          
          O 
          Papa João Paulo II comenta: 
          "O caminho e, simultaneamente, o conteúdo desta perfeição consiste na
          sequela Christi, no seguir Jesus, depois de ter renunciado aos 
          próprios bens e a si mesmo. Esta é precisamente a conclusão do diálogo 
          de Jesus com o jovem: 'Depois, vem e segue-Me' (Mt 19, 21). É um 
          convite, cuja maravilhosa profundidade será plenamente compreendida 
          pelos discípulos só depois da ressurreição de Cristo, quando o 
          Espírito Santo os guiar para a verdade total (cf. Jo 16, 13). 
          
          É o 
          próprio Jesus que toma a iniciativa, chamando para O seguir. O apelo é 
          feito, antes de mais, àqueles a quem Ele confia uma missão particular, 
          a começar pelos Doze; mas vê-se claramente também que ser discípulo de 
          Cristo é a condição de todo o crente (cf. At 6, 1). Por isso, 
          seguir Cristo é o fundamento essencial e original da moral cristã: 
          como o povo de Israel seguia Deus que o conduzia no deserto rumo à 
          Terra Prometida (cf. Ex 13, 21), assim o discípulo deve seguir Jesus, 
          para o Qual é atraído pelo próprio Pai (cf. Jo 6, 44). 
          
          Aqui não 
          se trata apenas de dispor-se a ouvir um ensinamento e de acolher na 
          obediência um mandamento. Trata-se, mais radicalmente, de aderir à 
          própria pessoa de Cristo, de compartilhar a sua vida e o seu 
          destino, de participar da sua obediência livre e amorosa à vontade do 
          Pai. Seguindo, mediante a resposta da fé, Aquele que é a Sabedoria 
          encarnada, o discípulo de Jesus torna-se verdadeiramente discípulo 
          de Deus (cf. Jo 6, 45). De fato, Jesus é a luz do mundo, a luz da 
          vida (cf. Jo 8, 12); é o pastor que guia e alimenta as ovelhas (cf. Jo 
          10, 11-16), é o caminho, a verdade e a vida (cf. Jo 14, 6), é Aquele 
          que conduz ao Pai, ao ponto que vê-Lo a Ele, o Filho, é ver o Pai (cf. 
          Jo 14, 6-10). Portanto, imitar o Filho, 'a imagem do Deus invisível' (Cl 
          1, 15), significa imitar o Pai. Jesus pede para O seguir e imitar 
          pelo caminho do amor, de um amor que se dá totalmente aos irmãos por 
          amor de Deus: 'O meu mandamento é este: que vos ameis uns aos 
          outros, como eu vos amei' (Jo 15, 12). Este 'como' exige a 
          imitação de Jesus, do seu amor, de que o lava-pés é sinal: 'Se eu 
          vos lavei os pés, sendo Senhor e Mestre, também vós deveis lavar os 
          pés uns aos outros. Dei-vos o exemplo, para que, como eu vos 
          fiz, façais vós também' (Jo 13, 14-15). O comportamento de Jesus e a 
          Sua palavra, as Suas ações e os Seus preceitos constituem a regra 
          moral da vida cristã. De fato, estas suas ações e, particularmente, a 
          sua paixão e morte na cruz são a revelação viva do Seu amor pelo Pai e 
          pelos homens. É precisamente este amor que Jesus pede seja imitado por 
          quantos O seguem. Este é o mandamento 'novo': 'Um novo 
          mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros; assim como eu vos 
          amei, vós também vos deveis amar uns aos outros. É por isto que todos 
          saberão que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros' (Jo 
          13, 34-35). Este 'como' indica também a medida com que Jesus 
          amou, e com a qual os seus discípulos se devem amar entre si. Depois 
          de ter dito: 'O meu mandamento é este: que vos ameis uns aos outros,
          como eu vos amei' (Jo 15, 12), Jesus prossegue com as palavras 
          que indicam o dom sacrifical da sua vida na cruz, como testemunho de 
          um amor 'até ao fim' (Jo 13, 1): 'Ninguém tem maior amor do que aquele 
          que dá a vida pelos seus amigos' (Jo 15, 13). Ao chamar o jovem para O 
          seguir pelo caminho da perfeição, Jesus pede-lhe para ser perfeito no 
          mandamento do amor, no 'Seu' mandamento: para inserir-se no movimento 
          da Sua doação total, para imitar e reviver o próprio amor do Mestre 
          'bom', d'Aquele que amou 'até ao fim'. É o que Jesus pede a cada homem 
          que quer segui-lO: 'Se alguém quiser vir após Mim, renegue-se a si 
          mesmo, tome a sua cruz e siga-Me' (Mt 16, 24). Seguir Cristo 
          não é uma imitação exterior, já que atinge o homem na sua profunda 
          interioridade. Ser discípulo de Jesus significa tornar-se conforme 
          a Ele, que Se fez servo até ao dom de Si sobre a cruz (cf. Fl 2, 
          5-8). Pela fé, Cristo habita no coração do crente (cf. Ef 3, 17), e 
          assim o discípulo é assimilado ao seu Senhor e configurado com Ele. 
          Isto é fruto da graça, da presença operante do Espírito Santo 
          em nós. Inserido em Cristo, o cristão torna-se membro do Seu Corpo, 
          que é a Igreja (cf. 1 Cor 12, 13.27). Sob o influxo do Espírito, o
          Batismo configura radicalmente o fiel a Cristo no mistério 
          pascal da morte e ressurreição, 'reveste-o' de Cristo (cf. Gl 3, 27): 
          'Alegremo-nos e agradeçamos - exclama Santo Agostinho dirigindo-se aos 
          batizados - tornamo-nos não apenas cristãos, mas Cristo (...). 
          Maravilhai-vos e regozijai: tornamo-nos Cristo!'. Morto para o pecado, 
          o batizado recebe a vida nova (cf. Rm 6, 3-11): vivendo para Deus em 
          Jesus Cristo, é chamado a caminhar segundo o Espírito e a manifestar 
          na vida os seus frutos (cf. Gl 5, 16-25). Depois a participação na 
          Eucaristia, sacramento da Nova Aliança (cf. 1 Cor 11, 23-29), é o 
          ápice da assimilação a Cristo, fonte de 'vida eterna' (cf. Jo 6, 
          51-58), princípio e força do dom total de si mesmo, que Jesus - 
          segundo o testemunho transmitido por São Paulo - manda rememorar na 
          celebração e na vida: 'Sempre que comerdes este pão e beberdes este 
          cálice, anunciais a morte do Senhor até que Ele venha' (1 Cor 11, 26)"
          (Encíclica 
          "Veritatis splendor", 19 a 21).
           
          
          Em Mt 
          19, 22 diz: "O moço, 
          ouvindo essa palavra, saiu pesaroso, pois era possuidor de muitos 
          bens". 
          
          O 
          moço foi obediente à sua vocação? Não: 
          "Antes se retirou triste e 
          pesaroso, porque tinha apego à sua grande fortuna. Pensam muitos 
          intérpretes que, não obstante as suas boas disposições, este moço não 
          pôde salvar-se, por não ter obedecido à voz do Divino Mestre. Se é um 
          perigo, e dos mais funestos, ordenar-se alguém sem vocação ou por 
          motivos inteiramente humanos, é também comprometer a vida eterna não 
          seguir a vocação que recebemos de Deus. Todos podemos salvar-nos, é 
          certo; mas cada um no estado a que fomos chamados - o padre como padre 
          e só sendo padre, o soldado sendo soldado, cada um, enfim, obedecendo 
          à sua vocação" (Dom Duarte 
          Leopoldo). 
          
          
          Infeliz daquele que tapa os ouvidos à voz de Nosso Senhor; esse, com o 
          coração cheio de tristeza perambula de um lado a outro: 
          "Foi-se cheio de tristeza, 
          porque a alegria só é possível quando há generosidade e 
          desprendimento, quando há essa disponibilidade absoluta diante do 
          querer de Deus que se manifesta em momentos bem precisos da nossa vida 
          e, depois, na fidelidade ao longo dos dias e dos anos. Digamos hoje ao 
          senhor que nos ajude com a sua graça para que, a cada momento, possa 
          contar efetivamente conosco para o que queira: livres de objeções e de 
          laços que nos prendam: 'Senhor, não tenho outro fim na vida a não ser 
          buscar-vos, amar-vos e servir-vos... Todos os outros objetivos da 
          minha vida se orientam para isso. Não quero nada que me separe de Vós"
          (Pe. Francisco 
          Fernández-Carvajal), 
          e: "A tristeza deste 
          jovem leva-nos a refletir. Podemos ser tentados a pensar que possuir 
          muitas coisas, muitos bens deste mundo, pode fazer-nos felizes. Vemos, 
          no entanto, no caso do jovem do Evangelho, que as riquezas se tornaram 
          um obstáculo para aceitar a chamada de Jesus que o convidava a 
          segui-lo. Não estava disposto a dizer 'sim' a Jesus e 'não' a si 
          mesmo, a dizer 'sim' ao amor e 'não' à fuga! O amor verdadeiro é 
          exigente (...). Porque foi Jesus - o próprio Jesus - quem disse: Vós 
          sereis meus amigos se fizerdes o que eu vos mando (Jo 15, 14). O amor 
          exige esforço e compromisso pessoal para cumprir a vontade de Deus. 
          Significa sacrifício e disciplina, mas significa também alegria e 
          realização humana (...). Com a ajuda de Cristo e através da oração, 
          podereis corresponder à sua chamada (...). Abri os vossos corações a 
          este Cristo do Evangelho, ao seu amor, à sua verdade, à sua alegria. 
          Não vos vades embora tristes!" (João 
          Paulo II, Homilia no Boston Common, 1-10-1979). 
          
          O 
          Jovem do Evangelho se afastou tristemente de Cristo Jesus, Fonte da 
          verdadeira Alegria, para buscar a felicidade nos bens passageiros 
          desta vida. Quanta ilusão! 
          
          
          Infeliz daquele que diz não ao Senhor do universo, que tapa os ouvidos 
          ao seu convite, que franze a testa perante a Sua lei e que olha com 
          indiferença para Aquele único Senhor que lhes pode dar a verdadeira 
          alegria; esses viverão em contínua frustração: 
          "Seguir Cristo de perto é o 
          nosso ideal supremo; não queremos retirar-nos da sua presença como 
          aquele jovem, com a alma impregnada de profunda tristeza por não 
          termos sabido desprender-nos de uns bens de pouco valor, em comparação 
          com a imensa riqueza de Jesus" 
          (Pe. Francisco Fernández-Carvajal). 
          
          Em 
          Cristo Jesus encontramos a verdadeira alegria; então, com o coração 
          cheio de generosidade sigamos os Seus passos sem olharmos para trás e 
          para os lados. 
            
          
          Pe. 
          Divino Antônio Lopes FP. 
          
          
          Anápolis, 20 de julho de 2007 
            
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