AS BEM-AVENTURANÇAS
(Mt 5,
1-12)
"1
Vendo ele as multidões, subiu à montanha. Ao sentar-se,
aproximaram-se dele os seus discípulos.
2
E pôs-se a falar e os
ensinava dizendo:
3
'Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos
Céus. 4
Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra.
5
Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados.
6
Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão
saciados.
7
Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia.
8
Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus.
9
Bem-aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos
de Deus.
10
Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque
deles é o Reino dos Céus.
11
Bem-aventurados sois, quando vos injuriarem e vos perseguirem e,
mentindo, disserem todo o mal contra vós por causa de mim.
12
Alegrai-vos e regozijai-vos, porque será grande a vossa recompensa
nos céus, pois foi assim que perseguiram os profetas, que vieram
antes de vós".
Em Mt 5, 1-2 diz:
"Vendo ele as multidões, subiu à montanha. Ao sentar-se,
aproximaram-se dele os seus discípulos. E pôs-se a falar e os
ensinava dizendo".
Edições Theologica
comenta:
"O Sermão da Montanha ocupa integralmente os
capítulos 5, 6 e 7 de São Mateus. Trata-se do primeiro dos cinco
grandes discursos de Jesus que aparecem neste Evangelho. Compreende
uma considerável parte dos ensinamentos do Senhor. Não é fácil de
reduzir o discurso a um só tema, mas os diversos ensinamentos podem
comodamente agrupar-se à volta destes cinco pontos: 1) O espírito
que se deve ter para entrar no Reino dos Céus (as Bem-aventuranças,
sal da terra e luz do mundo, Jesus e a Sua doutrina, plenitude da
Lei); 2) Retidão de intenção nas práticas de piedade (aqui se inclui
a oração do Senhor ou Pai-Nosso); 3) Confiança na Providência
paternal de Deus; 4) As relações fraternas dos filhos de Deus (não
julgar o próximo, respeito pelas coisas santas, eficácia da oração e
a regra de ouro da caridade) e 5) Condições e fundamento para a
entrada no reino (a porta estreita, os falsos profetas e edificar
sobre a rocha).
'Pôs-se a
ensiná-los'; Refere-se tanto aos discípulos que rodeavam Jesus como
às multidões ali presentes, segundo aparece no fim do Sermão da
Montanha (Mt 7, 28).
As
Bem-aventuranças (Mt 5, 3-12) constituem como que o pórtico do
Sermão da Montanha. Para uma reta compreensão das Bem-aventuranças é
conveniente ter em conta que nelas não se promete a salvação a umas
determinadas classes de pessoas que aqui se enumerariam, mas a todos
aqueles que alcancem as disposições religiosas e o comportamento
moral que Jesus Cristo exige. Quer dizer, os pobres de espírito, os
mansos, os que choram, os que têm fome e sede de justiça, os
misericordiosos, os puros de coração, os pacíficos e os que sofrem
perseguição por buscar a santidade, não indicam pessoas distintas
entre si, mas são como que diversas exigências de santidade
dirigidas a quem quer ser discípulo de Cristo.
Pela mesma
razão, também não prometem a salvação a determinados grupos da
sociedade, mas a toda a pessoa que se esforce por viver o espírito e
as exigências das Bem-aventuranças. O espírito das Bem-aventuranças
produz, já na vida presente, a paz no meio das tribulações. Em todos
os tempos as Bem-aventuranças põem muito por cima os bens do
espírito sobre os bens materiais. Sãos e doentes, poderosos e
débeis, ricos e pobres... são chamados à felicidade profunda
daqueles que alcançam as Bem-aventuranças de Jesus".
Dom Duarte Leopoldo
escreve:
"A Montanha das Bem-aventuranças está situada ao
norte da Galiléia, entre o Tabor e Cafarnaum. No flanco desta
montanha está uma grande e bela planície, sempre coberta de relva,
onde provavelmente começou a cena descrita.
O sermão
da montanha é chamado o epítome ou resumo do Cristianismo, o símbolo
do Evangelho, o texto da Nova Lei. Ele é para a Igreja o que são as
tábuas do Sinai para a Sinagoga, - é a lei do amor sucedendo à lei
do temor. O Deus feito homem a promulga sobre uma montanha
verdejante, cercado dos seus discípulos e de grande multidão de
povo. A palavra de Deus escapa-lhe dos lábios fluente e acessível
ainda aos mais ignorantes. Ela diz toda a verdade que os homens
devem saber, ensina tudo o que é preciso fazer para a salvação,
anima, fortifica, dirige e eleva. Ocupa-se dos pequeninos e dos
pobres, tem consolações e esperança ainda para os mais abandonados.
É profunda e, ao mesmo tempo, simples e suave; é o mais belo e mais
tocante ensinamento que já ouviram os homens. Enfim, para assinalar
um lugar no reino do céu com a autoridade com que o faz Jesus neste
belíssimo discurso, é preciso ter descido do céu, é preciso ser
Deus".
São Pio X escreve:
"Jesus Cristo propôs-nos as Bem-aventuranças para nos fazer detestar
as máximas do mundo, e para nos convidar a amar e praticar as
máximas do seu Evangelho. O mundo chama bem-aventurados aqueles que
desfrutam da abundância de riquezas e de honras, que vivem em
delícias e que não têm nada que os faça sofrer"
(Catecismo Maior, 923 e 924), e:
"Todos certamente queremos viver felizes, e não existe no gênero
humano pessoa que não concorde com esta proposição, mesmo antes de
ser formulada por inteiro"
(Santo Agostinho, Mor. Eccl. 1, 3, 4: PL 32, 1312),
e também:
"Então, como vos hei de procurar, Senhor? Visto que,
procurando a vós, meu Deus, eu procuro a vida bem-aventurada, fazei
que vos procure para que minha alma viva, pois meu corpo vive de
minha alma, e minha alma vive de vós"
(Idem, Conf. 10, 20, 29: CCL 27, 170 (PL 32, 791),
e ainda:
"Só Deus satisfaz"
(Santo Tomás de Aquino, Symb. 1), e:
"Todo artista, segundo sua profissão, se alegra vendo as
oportunidades para trabalhar: um carpinteiro, quando vê uma boa
árvore, deseja cortá-la para realizar o seu ofício. Um sacerdote,
quando vê uma igreja cheia, se alegra em seu interior e se sente
movido a ensinar. Assim o Senhor, vendo a multidão se sentiu movido
a pregar. Pois disseram d'Ele: 'Vendo Jesus a multidão, subiu ao
monte" (Pseudo-Crisóstomo,
Opus Imperfectum super Mattheum, Hom. 9), e também:
"Aqui parece que quis evitar ficar cercado pela
multidão e por isso subiu ao monte para falar a sós com seus
discípulos" (Santo Agostinho, De
Consensu Evangelistarum, 2, 19), e ainda:
"A atitude de pregar sobre um monte e separado, e não
em uma cidade... nos ensinou a não fazer nada por ostentação e a
separarmos do tumulto, principalmente quando o diálogo é sobre
coisas importantes" (São João
Crisóstomo, Homilia in Matthaeum, Hom. 15, 1), e:
"Deve saber-se que Jesus tinha três lugares para se refugiar: a
barca, o monte e o deserto, aos quais se retirava quando se via
rodeado pela multidão" (Remígio),
e também:
"Subiu, pois, a um monte, primeiramente para cumprir a profecia de
Isaías que disse: 'Sobe tu sobre um monte" (Is 40, 9); depois para
manifestar que o que ensina a Palavra de Deus, o mesmo que a ouve,
devem constituir-se auge de virtudes. Ninguém pode estar no vale e
falar desde o monte. Se estás sobre a terra falas das coisas da
terra, mas se estiveres no céu, falarás das coisas celestiais. Ou de
outro modo, subiu ao monte para manifestar que todo o que quiser
conhecer os mistérios da verdade deve subir ao monte da Igreja, de
quem o profeta disse: 'O monte do Senhor é um monte rico' (Sl 67,
16)" (Pseudo-Crisóstomo, Opus
Imperfectum super Matthaeum, Hom. 9), e ainda:
"Ele subiu ao monte para significar que eram menores
os preceitos divinos que foram dados por Deus por meio de seus
profetas ao povo judeu, a quem convinha advertir por meio do temor,
e que se dispensaram maiores graças por meio do Filho de Deus, cujo
povo era conveniente livrar por meio da caridade"
(Santo Agostinho, Sermone Domini, 1, 1), e:
"Portanto, não falava de pé, mas sentado, porque não podiam
entendê-lo se estivesse estado rodeado de sua imensa majestade"
(São Jerônimo).
Em Mt 5, 3 diz:
"Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o Reino
dos Céus".
Quem são os pobres de
espírito que Jesus Cristo chama bem-aventurados?
"Os pobres
de espírito, segundo o Evangelho, são aqueles que têm o coração
desapegado das riquezas; fazem bom uso delas, se as possuem; não as
procuram com ânsia, se não as têm; e sofrem com resignação a perda
delas, se lhes são tiradas"
(São Pio X, Catecismo Maior, 925), e:
"Os
pobres sobre os quais Deus se inclina com amor, e que Jesus proclama
felizes, são os que não só aceitam sua condição de deserdados, mas
dela fazem um meio de se aproximar de Deus, com humildade e
confiança, esperando unicamente dele todo seu bem. A simples pobreza
material não constitui aquela disposição interior que Jesus quer ver
nos seus discípulos. Quem é pobre, mas vive a lamentar-se, detesta
seu estado e alimenta talvez ódio e inveja para com os que possuem
mais, não é pobre em espírito... A pobreza material é preciosa aos
olhos de Deus enquanto estímulo ao desapego dos bens terrenos,
enquanto leva ao conhecimento da própria indigência, não só
material, mas ainda espiritual, e por isso desembaraça o coração da
presunção, da vaidade e do orgulho. Então, a pobreza converte-se em
disponibilidade para Deus, abre ao Senhor o coração do homem e, por
sua vez, abre Deus ao homem seu Reino"
(Pe. Gabriel de Santa Maria Madalena, Intimidade Divina, 326,
1), e também:
"O Verbo
chama 'pobreza de espírito' à humildade voluntária de um espírito
humano e sua renúncia; o Apóstolo nos dá como exemplo a pobreza de
Deus quando diz: 'Ele se fez pobre por nós' (2 Cor 8, 9)"
(São Gregório de Nissa, Beat., 1: PG 44, 1200 D.),
e ainda:
"O orgulhoso procura o poder terreno, ao passo que o
pobre em espírito busca o Reino dos Céus"
(Santo Agostinho, Serm. Dom., 1, 1, 3: PL 34, 1232).
Muitos pensam erroneamente
que os pobres em espírito são os preguiçosos, os sujos, os
maltrapilhos, etc. Não, não são esses:
"Pobres de espírito não
são os tolos, os idiotas, os ignorantes, etc., como erradamente
entendem alguns. São os humildes, os que não têm apego aos bens da
terra, os que voluntariamente renunciaram a eles para mais de perto
seguirem a Jesus Cristo. Assim, pois, um pobre, mal satisfeito com a
sua sorte, dominado pela ambição e pelo orgulho, é um rico de
espírito; não é para ele o reino do céu. Do mesmo modo, no seio da
abundância e na prosperidade, pode um rico ser pobre de espírito por
não se apegar à fortuna que possui, pelo espírito de caridade e
submissão à vontade de Deus. O santo homem Jó é um dos mais belos
exemplos desta verdade"
(Dom Duarte Leopoldo), e:
"Os pobres que Jesus louva não são os vadios, os
incapazes ou os preguiçosos, mas os que, trabalhando embora para
melhorar licitamente a sua condição, não são ávidos de lucro e de
riquezas, a ponto de colocar nelas seu tesouro, esquecendo os bens
mais altos que os esperam... Jesus pede a todos os seus discípulos -
que tenham pouco ou muito - que sejam 'pobres em espírito' de modo
que a preocupação pela escassez de meios ou o apego às riquezas
jamais se convertam em obstáculo à procura de Deus, não estorvem a
amizade com ele, não agravem o coração com o cuidado excessivo pelo
bem estar material"
(Pe. Gabriel de Santa Maria Madalena, Intimidade Divina, 326,
1).
Ser pobre em espírito não
significa também andar sujo ou viver na sujeira:
"A pobreza
não é sujeira; a primeira agrada, a segunda não"
(São Bernardo de Claraval, citado por Mansi, Il vero
eclesiástico, p. 236, ed. 1832).
Vivamos nesse mundo
desapegados de todas as coisas passageiras, somente assim teremos
paz na nossa alma imortal; sejamos verdadeiramente pobres de
espírito:
"Ó Senhor, fazei com que eu compreenda quão grande
paz e segurança tem o coração que não deseja coisa alguma deste
mundo. Pois se meu coração anseia conseguir os bens terrenos, não
pode estar tranquilo nem seguro, porque, ou deseja possuir o que não
tem, ou teme perder o que possui! Quando na adversidade está, espera
a prosperidade; e na prosperidade, teme a adversidade: é agitado de
cá para lá, pelas ondas dos acontecimentos, em contínuas
alternativas. Mas se vós, ó Deus, concedeis à minha alma aferrar-se
firmemente ao desejo da pátria celestial, será muito menos sacudida
pelas perturbações das coisas temporais. Fazei com que, diante de
todas as agitações exteriores, ela se refugie neste seu desejo, como
num retiro secreto, agarre-se a ele sem afrouxar, transcenda todas
as coisas mutáveis e, na tranquilidade de sua paz, encontre-se no
mundo e fora do mundo"
(São Gregório Magno, Moralia XXII, 35), e:
"Ó Jesus,
vossa primeira companhia na terra foi a pobreza voluntária,
contínua, perfeita, suprema... Quisestes viver e ser pobre de todas
as coisas temporais... Das coisas deste mundo só quisestes a extrema
indigência, com penúria, fome e sede, frio e calor, muita fadiga,
dureza e austeridade... Quisestes viver pobre de parentes e amigos e
de todo afeto deste mundo... Enfim, vos despojastes de vós mesmo,
exteriormente despido de vosso poder, sabedoria e glória. Deus
incriado e humanado, Deus encarnado e paciente, vos quisestes
mostrar e viver neste mundo como homem pobre, sem poderio, limitado
e ínfimo, desonrado, carente de toda sabedoria humana. Ó mísera
pobreza!... desprezada neste mundo por gente de toda condição! Onde
encontrar criatura que se glorie de estar unida a tão perfeita
companhia? Feliz a criatura que na sua penitência pode exaltar-se
com essa companhia, já que vós, ó Cristo, quisestes recebê-la em
vós, como instrumento de doutrina"
(Santa Ângela de Foligno, O Livro de
Santa Ângela, II, pp. 138-140).
Em Mt 5, 4 diz:
"Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra".
Quem são os mansos?
"Os
mansos são aqueles que tratam o próximo com brandura, e sofrem com
paciência os seus defeitos e as ofensas que dele recebem, sem
alteração, ressentimentos ou vingança"
(São Pio X, Catecismo Maior, 926), e:
"Os mansos, isto
é, os que não murmuram nem se irritam, os que evitam a discórdia, os
que sabem perdoar com generosidade as ofensas alheias, aqueles,
enfim, que suportam o peso da vida conformados com a vontade de
Deus. - Eles possuirão a terra, isto é, a terra dos vivos, o céu -.
Todavia, mesmo neste mundo, a paciência é uma arma poderosa para
vencer ainda as maiores resistências"
(Dom Duarte Leopoldo), e
também: "Os
mansos de que fala Jesus se identificam com os pobres e os aflitos,
que acabava de proclamar bem-aventurados, porque em suas angústias
não se revoltam, nem reagem com violência, mas se submetem com manso
e humilde coração. Jesus, ungido pelo Espírito Santo, para
desempenhar no mundo missão de perfeita doçura e bondade (Lc 4, 18),
apresentou-se aos homens como modelo de mansidão (Mt 11, 29). Todo o
direito tem, pois, de pedir aos seus discípulos que aprendam dele,
que sigam seu exemplo. Para isto, transmitiu-lhes a unção do
Espírito Santo... O manso, formado pelo Espírito Santo à imitação de
Cristo, é o homem que aprendeu a dominar todas as manifestações
descompostas do seu eu: irritação, desdém, cólera, espírito de
inveja e de vingança; é também o homem que renunciou à tentação de
impor-se, de valorizar-se e de dominar os outros com prepotência...
Quem, nesta vida, preferir ficar atrás, em vez de passar adiante a
conquistar, pela violência, elevado posto, terá seu lugar seguro no
reino de Deus. Por outro lado, certo é que, ainda neste mundo, a
mansidão confere ao homem especial capacidade de domínio e
conquista. Antes de tudo, sobre si mesmo, dominando todos os seus
movimentos de ira e conservando a calma nas contradições; em
seguida, sobre os demais, porque a mansidão atrai e conquista as
pessoas. Deste modo, o manso, havendo renunciado a toda forma de
violência, e precisamente em virtude dessa renúncia, possuirá
particular ascendência sobre os outros. Porque, enquanto a violência
afasta e fecha os corações, a mansidão os abre à confiança, os dobre
e amansa. Jesus quer que os seus discípulos sejam estes mansos que
vão à conquista do mundo, não com meios que exasperam e provocam
reações contrárias, senão com a doçura, a paciência e a
longanimidade. 'Eis que vos envio como cordeiros entre lobos' (Lc
10, 3), diz-lhes, enquanto ele, Cordeiro inocente, os precedeu,
ensinando-lhes com o exemplo que, para fazer o bem, longe de se
imporem ou defenderem com a força, devem sofrer e pôr-se a serviço
de todos" (Pe. Gabriel
de Santa Maria Madalena, Intimidade Divina, 329, 1 e 2),
e ainda:
"Mansos': Quer dizer, os que sofrem com paciência as perseguições
injustas; os que nas adversidades mantêm o ânimo sereno, humilde e
firme, e não se deixam levar pela ira ou pelo abatimento. É a
virtude da mansidão muito necessária para a vida cristã. Normalmente
frequentes manifestações externas de irritabilidade procedem da
falta de humildade e de paz interior. 'A terra': Comumente
entende-se em sentido transcendente, quer dizer, a pátria celestial"
(Edições Theologica),
e: "Mansos
são aqueles que vencem as más ações com as boas ações"
(Santo Agostinho, Sermone Domini, 1, 2), e
também:
"Lutam os que não são mansos e disputam pelas coisas
passageiras; mas sempre serão bem-aventurados os humildes, porque
eles herdarão uma terra onde ninguém os poderá expulsar"
(Idem, Sermone Domini, 1, 2).
Peçamos a Nosso Senhor que
nos ajude a possuirmos um coração manso:
"Ó Deus-Homem doloroso,
ensinai-me a considerar e imitar o exemplo de vossa vida e a
aprender de vós, ó modelo de toda perfeição! Fazei-me correr atrás
de vós com todo o afeto de minha alma, para chegar, com vossa guia,
felizmente, à cruz. A nós vos oferecestes como exemplo e nos
convidais a olhar-vos com o afeto do espírito, dizendo-nos:
'Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração e achareis
descanso para vossas almas'... Colocastes a humildade de coração e a
mansidão por fundamento e firme raiz de todas as virtudes... Por
isso, Senhor, quisestes que, de vós, principalmente, as
aprendêssemos... Dai-me a graça de estabelecer-me em tal alicerce!
Fundada nesta base, esforce-me por crescer. Se for a humildade meu
alicerce, será minha conversação toda angelical, pura, benigna e
pacífica. Serei benévolo e agradável a todos, e com todos
mostrar-me-ei amável... Ó humildade, quantos bens trazes, tu que
fazes pacíficos e serenos os que te possuem!"
(Santa Ângela de Foligno, O Livro de
Santa Ângela II, pp. 175-176. 179-180).
Em Mt 5, 5 diz:
"Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados".
Quem são os que choram?
"Os que choram, e, todavia, são chamados
bem-aventurados, são aqueles que sofrem com resignação as
tribulações, e que se afligem pelos pecados cometidos, pelos males e
pelos escândalos que se vêem no mundo, pela ausência do Céu e pelo
perigo de o perder"
(São Pio X, Catecismo Maior, 927), e:
"Bem-aventurados os que choram os seus pecados e os dos seus irmãos.
Santas lágrimas que tanta consolação nos merece no céu. Também as
lágrimas que, todos os dias e com tanta abundância, caem dos olhos
dos pobres, dos aflitos, dos doentes... têm bem-aventurança..."
(Dom Duarte Leopoldo), e também:
"Eis o sinal inconfundível da salvação prometida por Deus ao seu
povo e predita pelos profetas: o Messias se inclina sobre todas as
misérias humanas para aliviá-las, vem dar alegria e conforto aos
aflitos e consolar os que choram. Todavia, os aflitos e os pobres
jamais faltarão no mundo. As curas milagrosas operadas pelo Senhor –
'os cegos recuperam a visão, os coxos andam, os leprosos são limpos,
os surdos ouvem' (Lc 7, 22) – não passam de símbolo de uma salvação
mais profunda e essencial. A missão de Jesus não se restringe aos
corpos, vai muito além: toca os corações e cura-os do maior dos
males, o pecado. As aflições físicas e morais – doenças, lutos,
opressões, angústias da vida – convertem-se em veículo pelo qual o
homem atinge mais facilmente a obra da eterna salvação... Quem vive
no gozo, quem tem tudo o que quer e nada lhe falta, corre tremendo
risco! Satisfeito consigo e com a vida terrena, não adverte a
precariedade da própria situação, não sente necessidade de ser
salvo, não abre o coração à esperança das coisas celestes. Pelo
contrário, o aflito impotente para livrar-se de suas tribulações,
dá-se conta de que unicamente Deus pode ajudá-lo, só Deus pode
salvá-lo no tempo e para a eternidade. Os aflitos que, como os
pobres, aceitam das mãos de Deus tal sorte, a ele se submetem com
humildade, e, embora sofrendo, não cessam de crer no seu amor de Pai
e em sua Providência Infinita, são chamados por Jesus de
bem-aventurados 'porque serão consolados' (Mt 5, 5). E se a
consolação total gozá-la-ão só na vida eterna, já aqui na terra, no
meio de suas angústias, terão o conforto de sentir-se mais próximos
de Cristo que, com eles e para eles, leva a cruz. Quando males
físicos ou morais atormentam o homem e parecem cravá-lo em situações
irremediáveis, não é fácil crer na bem-aventurança proclamada pelo
Senhor. Contudo, escondem sempre as dores um mistério de vida e de
salvação. 'Os que em lágrimas semeiam, cantando hão de ceifar – diz
o salmo. Na ida vão chorando, os que levam a semente a esparzir. Ao
voltar, virão radiantes de alegria, trazendo seus feixes' (Sl 126,
5-6). Assim como o grão de trigo deve apodrecer na terra, para dar
vida a novas espigas, assim precisa ser o homem esmagado pelo
sofrimento, para dar frutos de eterna alegria. Mas é necessário
aguardar e esperar consolo só de Deus, contar com ele só, o Único
que salva e muda o pranto em verdadeira alegria. Requer-se coragem
para abraçar a cruz não só com resignação, mas com amor, com vontade
resoluta de seguir Jesus sofredor até o Calvário, até o sepulcro,
porque somente da morte pode florescer a ressurreição. E assim fazer
com o coração dilatado pela caridade que aceita padecer e morrer
também pela ressurreição dos irmãos. Então, compreendemos porque São
Paulo pôde dizer: 'Estou cheio de consolação, transbordo de alegria
em todas as nossas tribulações' (2 Cor 7, 4). É a bem-aventurança do
sofrimento que começa verificar-se já na terra, para quem sabe
padecer com Cristo pela salvação do mundo. Mas, para os que amam a
Deus, há outros motivos de pranto. São as lágrimas ardentes de Santo
Agostinho que não cessa de clamar: 'Tarde te amei, ó Beleza sempre
antiga e sempre nova, tarde te amei!' (Conf. X, 27, 38). São as
lágrimas de Madalena penitente e de São Pedro a chorar sua queda.
São as lágrimas de quem, embora amando sinceramente a Deus, tem de
lamentar, todos os dias, alguma fraqueza ou infidelidade; lágrimas
santas de compunção, dom do Espírito Santo, que purificam do pecado
e unem a Deus. Lágrimas ainda por todo o mal que, invadindo o mundo,
faz tantas vítimas, perverte tantos inocentes, desvia muitos da fé,
aflige a Igreja e ofende a Deus. Também estas lágrimas, participação
do pranto de Cristo sobre Jerusalém e da sua agonia no horto do
Getsêmani, serão consoladas, porque quem sofre com Cristo será com
Cristo glorificado (Rm 8, 17)"
(Pe. Gabriel de Santa Maria Madalena, Intimidade Divina, 327,
1 e 2), e ainda:
"Vós,
Senhor, me consolais na tristeza. Só busca consolação quem se
encontra na tristeza... É certamente este mundo a região dos
escândalos, das tentações e de todos os males! Mas se aqui gememos,
mereceremos gozar no céu... É, nossa terra, a região dos mortos.
Desaparecerá a morada dos mortos, chegará a dos vivos. Na região dos
mortos há trabalhos, dor, temor, tribulação, tentação, gemido e
pranto. Aqui vivem os falsos felizes, os verdadeiros infelizes,
porque a falsa felicidade é verdadeira miséria. Quem reconhece estar
na verdadeira miséria, achar-se-á na verdadeira felicidade.
Portanto, agora, como és infeliz, ouve o Senhor que diz: 'Felizes os
que choram!' Sim, verdadeiramente felizes os que choram! Nada está
tão unido à miséria como o pranto, e nada há tão distante da miséria
e tão oposto a ela, como a felicidade. No entanto, ó Senhor, chamais
de felizes os que choram... Mas por que são felizes? Porque esperam.
Por que choram? Pelo que são atualmente. Efetivamente choram nesta
morte, nestas tribulações, nesta peregrinação, e, porque reconhecem
que estão na miséria e gemem, são bem-aventurados"
(Santo Agostinho, No Salmo 85, 24), e:
"Os
que choram': Chama aqui bem-aventurados Nosso Senhor todos os que
estão aflitos por alguma causa e, de modo particular, aqueles que
estão verdadeiramente arrependidos dos seus pecados ou aflitos pelas
ofensas que outros fazem a Deus, e que levam o seu sofrimento com
amor e desejos de reparação"
(Edições Theologica), e também:
"Se chamam chorosos não aos que se entristecem
chorando a orfandade ou as afrontas e outros danos, mas sim, os que
choram seus pecados" (Santo
Hilário, in Matthaeumm 4), e ainda:
"Os que
choram seus pecados podem chamar-se realmente bem-aventurados... Mas
bem-aventurados são aqueles que choram os pecados alheios..."
(Pseudo-Crisóstomo, Opus Imperfectum in Matthaeum, Hom. 9),
e:
"O luto que se trata aqui não é pelos mortos segundo a lei comum da
natureza, mas pelos que morreram por causa do pecado e dos vícios"
(São Jerônimo), e também:
"O consolo dos que choram será o luto, e os que
choram seus pecados se consolam quando obtém o perdão"
(Pseudo-Crisóstomo, Opus Imperfectum in Matthaeum, Hom. 9).
Em Mt 5, 6 diz:
"Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão
saciados".
Quem são os que têm fome e
sede de justiça?
"Os que
têm fome e sede de justiça são aqueles que desejam ardentemente
crescer cada vez mais na graça de Deus e na prática das obras boas e
virtuosas"
(São Pio X, Catecismo Maior, 928), e:
"Fome e sede de justiça é a necessidade que sente toda alma boa e
reta, todo coração bem formado, de fazer a vontade de Deus, essa
vontade de que Jesus fazia o seu alimento..."
(Dom Duarte Leopoldo), e
também:
"Fazei, Senhor, com que eu deseje a justiça com a mesma ansiedade
com que desejo comer e beber quando me atormentam a fome e a sede!
Porque, então, serei saciado! De que serei saciado senão de justiça?
Serei saciado nesta vida, porque o justo se fará mais justo e o
santo, mais santo... Mas a perfeita saciedade tê-la-ei no céu, onde
a justiça eterna ser-nos-á dada com a plenitude do vosso amor.
'Saciar-me-ei... quando a vossa glória aparecer à minha vista'. (Mas
nesta vida) terei sempre sede, porque não cessarei de desejar-vos, ó
meu sumo Bem, e desejarei possuir-vos cada vez mais... Terei sempre
sede, mas sempre dessedentar-me-ei porque terei em mim a fonte que
jorra para a vida eterna... Viverei sempre sedento de justiça, mas
com os lábios continuamente colados à fonte que tenho em mim mesmo.
A sede não me será penosa nem me abaterá... É a fonte superior à
minha sede, sua riqueza maior que minha necessidade"
(J. B. Bossuet, Meditações sobre o Evangelho I, 5 v. 1, pp.
24-25), e ainda:
"Repetidas
vezes, preocupou-se Jesus com a fome e a sede dos homens, e de
maneira tão concreta que, para satisfazê-las, fez muitos milagres: a
multiplicação dos pães e a transformação da água em vinho. Mas a
fome e a sede de que fala nas bem-aventuranças não são as do corpo,
e, sim, as do espírito. 'Bem-aventurados os que têm fome e sede de
justiça, porque serão saciados' (Mt 5, 6), disse Jesus, referindo-se
não aos famintos e sedentos de comida e bebida materiais, mas de
justiça, ou seja, de perfeição, de santidade. Deus justifica o homem
com a sua graça, base indispensável e ponto de partida da perfeição
cristã. Esta, por outro lado, não tem limite aqui na terra, porque é
o cristão chamado a ser perfeito 'como é perfeito o Pai celestial'
(Mt 5, 48). Quem tem consciência do ideal e das exigências da
perfeição evangélica, nunca se sente satisfeito com a própria
justiça, com suas virtudes e boas obras. Antes, à medida em que
avança no caminho e se aproxima de Deus, percebe cada vez mais a
distância que o separa do ideal e, por isso, sente-se cada vez mais
faminto e sedento. Sua primeira fome é da vontade de Deus, alimento
substancioso que deve nutrir o cristão como alimentou a Cristo: 'Meu
alimento é fazer a vontade daquele que me enviou' (Jo 4, 34). Fora
da vontade de Deus não pode haver vida cristã, nem santidade. A
primeira sede do cristão é a da 'água viva' da graça. E quem dela
beber, 'converter-se-á em fonte de água que jorra para a vida
eterna' (Jo 4, 14). Só a graça faz o homem filho de Deus e irmão de
Cristo, capaz de emular com a santidade do Pai celestial. Crescer na
graça é crescer no amor, é entrar em comunhão mais íntima 'com o Pai
e com seu Filho Jesus Cristo' (1 Jo 1, 3), e nesta comunhão abraçar
os irmãos. Só Deus pode dar o alimento da vontade divina e a água da
graça! Portanto, quem, tem fome e sede de justiça não cesse de
pedi-las, estendendo a mão, como mendigo, a quem o pode socorrer,
que é Deus só. E Deus saciá-lo-á na proporção de sua fome e de sua
sede"
(Pe. Gabriel de Santa Maria Madalena, Intimidade Divina, 330, 1),
e: "Depois
de chorar meus pecados, começo a ter fome e sede de justiça. Um
enfermo quando padece muito não tem fome. Por isso se diz:
'Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça"
(Santo Ambrósio, in Lucam, 5, 56), e também:
"Não nos é
suficiente o querer a justiça, se não temos fome de justiça"
(São Jerônimo).
Em Mt 5, 7 diz:
"Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão
misericórdia".
Quem são os que usam de
misericórdia?
"Os que
usam de misericórdia são aqueles que amam, em Deus e por amor de
Deus, o seu próximo, se compadecem das suas misérias, assim
corporais como espirituais, e procuram socorrê-lo segundo as suas
forças e o seu estado"
(São Pio X, Catecismo Maior, 929), e:
"A
misericórdia não consiste apenas em dar esmola aos pobres, mas
também em compreender os defeitos que possam ter os outros,
desculpá-los, ajudá-los, superá-los e amá-los mesmo com os defeitos
que tenham. Também faz parte da misericórdia alegrar-se e sofrer com
as alegrias e dores alheias"
(Edições Theologica), e também:
"Os
misericordiosos, isto é, os que perdoam, os que se compadecem das
misérias do próximo, os que choram com os que choram, os que curam
as feridas do corpo e da alma daqueles que sofrem; enfim, os justos,
bons e dedicados. No último dia, Nosso Senhor será também
misericordioso para com eles"
(Dom Duarte Leopoldo), e ainda:
"Recorro a
vós, Senhor Jesus, movido pela vossa bondade, porque sei que não
desprezais os pobres nem tendes horror dos pecadores. Não rejeitais
o ladrão que confessava seu pecado, nem a pecadora em lágrimas, nem
a Cananéia suplicante, nem a mulher surpreendida em adultério, nem
também o coletor sentado à sua banca. Não rejeitais o publicano que
implorava misericórdia, nem o apóstolo que vos negava, nem o
perseguidor dos vossos discípulos, nem sequer os vossos algozes. O
perfume de vossas graças me atrai... Fazei, ó Senhor, com que eu
tenha o coração cheio de compaixão pelos miseráveis, inclinado a
compadecer-se e pronto a socorrer. Que eu me tenha por mais ditoso
em dar que em receber. Fazei com que eu seja fácil em perdoar e
saiba resistir à cólera, jamais ceda à vingança, e em todas as
coisas considere as necessidades dos outros como minhas. Embebei
minha alma com o orvalho de vossa misericórdia! Transborde de
piedade meu coração, de modo que saiba fazer-me tudo para todos... e
esteja tão morto a mim mesmo que não viva senão para o bem dos
demais"
(São Bernardo de Claraval, In Cantica Cant., 22, 8; 11, 8;
12, 1), e:
"O grande
prêmio prometido aos misericordiosos é alcançarem misericórdia, isto
é, assegurarem sua salvação eterna. Em troca de um pouco de
misericórdia para com os irmãos por suas dívidas e ofensas que, por
maiores que sejam, são sempre limitadas e passageiras, gozará o
cristão das misericórdias do Senhor e as cantará eternamente.
Todavia não é raro sentir o homem dificuldade na prática da
misericórdia, e isto, por quase não perceber a própria indigência
pessoal e, portanto, a grande necessidade que tem da divina
misericórdia. Na presença de Deus, todos, até os santos, são sempre
grandes devedores, pobres indigentes. Ninguém, exceto a Santíssima
Virgem, pode dizer que foi sempre fiel à graça e ao amor. Ninguém
pode dizer que nunca ofendeu a Deus, ao menos levemente. Com esta
convicção, experimentaram os santos imensa necessidade da
misericórdia de Deus e, em consequência, julgaram sempre bem pouca
coisa usar de misericórdia com seu próximo, ainda ao perdoar-lhes as
mais graves ofensas. O reconhecimento da miséria pessoal faz-nos
compreensivos e indulgentes para com as debilidades dos outros.
Sentirmo-nos profundamente necessitados da misericórdia de Deus
faz-nos espontaneamente misericordiosos para com os irmãos. Então,
em vez de dificuldade no perdão, experimentamos a alegria de saber
perdoar, vamos em busca dos que, havendo-nos ofendido, têm maior
direito à nossa misericórdia e nos dão ocasião de imitarmos a
misericórdia do Pai celeste"
(Pe. Gabriel de Santa Maria Madalena, Intimidade Divina, 331,
2), e também:
"A justiça e a misericórdia estão tão unidas que uma
sustenta a outra. A justiça sem misericórdia é crueldade e a
misericórdia sem justiça é dissipação. Por isso, Ele depois da
justiça fala de misericórdia: 'Bem-aventurados os misericordiosos"
(Glosa), e ainda:
"Se chama misericordioso o
que tem seu coração ocupado pela misericórdia,
porque considera a
desgraça do outro como própria e sente pena da desgraça do próximo
como se fosse sua"
(Remígio), e:
"Por misericórdia
se entende aqui, não só a que se pratica por meio de esmolas, mas a
produzida pelo pecado do irmão, ajudando uns aos outros a levar a
carga" (São Jerônimo).
Em Mt 5, 8 diz:
"Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus".
Quem são os puros de
coração?
"Os puros de coração são aqueles que não têm nenhum afeto ao pecado,
sempre se afastam dele, e evitam, sobretudo, toda e qualquer espécie
de impureza" (São Pio
X, Catecismo Maior, 930), e:
"A pureza
de coração é um dom de Deus, que se manifesta na capacidade de amar,
no olhar reto e puro para tudo o que é nobre. Como diz o Apóstolo:
'Tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo,
tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama,
tudo o que é virtuoso e louvável, é o que deveis ter em mente' (Fl
4, 8). O cristão, ajudado pela graça de Deus, deve lutar
continuamente para purificar o seu coração e adquirir essa pureza,
em virtude da qual se promete a visão de Deus"
(Edições Theologica), e também:
"Os corações puros,
desprendidos dos sentimentos carnais e sensuais que mancham o corpo
e a alma; os corações abertos e tudo o que é nobre, santo, justo,
amável e virtuoso, a tudo o que é louvável nos bons costumes, como
diz São Paulo. Esses corações verão a Deus, neste mundo, através das
sombras da fé, e no céu o contemplarão face a face. Pelo contrário;
a impureza do coração é o maior obstáculo, e quase sempre o único,
que encontram as verdades da Religião"
(Dom Duarte Leopoldo), e
ainda:
"Senhor, aprenda eu a desejar-vos! Aprenda a preparar-me para poder
ver-vos. Felizes os puros de coração, porque vos hão de ver... e vos
hão de ver não porque são pobres em espírito, nem porque são mansos
ou porque choram, ou têm fome e sede de justiça, ou são
misericordiosos, mas porque são puros de coração... Boa é a
humildade para alcançar o reino dos céus; boa, a mansidão para
possuir a terra; bom, o pranto para sermos consolados; boa, a fome e
a sede de justiça para sermos saciados; boa, a misericórdia para
alcançarmos misericórdia, mas é a pureza de coração que nos faz
ver-vos, ó Senhor! Eu vos quero ver: é bom, é grandioso o que
quero... Ajudai-me a purificar meu coração... porque puríssimo é
quem desejo ver, e impuro é o meio com que o quero ver...
Purificai-me, Senhor, com a vossa graça, purificai meu coração com o
vosso auxílio e conforto. Ajudai-me a produzir, por vós e em união
convosco, frutos abundantes de boas obras, de misericórdia, de
benignidade, de bondade"
(Santo Agostinho, Sr 53, 7.9; 261, 4.9),
e:
"Quem poderia dizer a beleza de um coração puro?...
Oh! Quão atraente e encantador esse manancial incorruptível que é o
coração puro! Vós, ó Deus, vos comprazeis em contemplar-vos nele
como em perfeito espelho, e nele imprimis vossa imagem com toda a
sua beleza... A vossa pureza, ó Deus, une-se à nossa, que vós mesmo
colocastes em nós. Nossos olhares purificados vos hão de ver
resplandecer em nós com eterna luz... Bem-aventurado o coração puro!
Ele vos verá, ó Deus... Contemplar-vos-á, verá toda beleza, toda
bondade, toda perfeição. Verá o bem, a fonte de todo bem... verá e
amará. E se amar, será amado. Cantará os vossos louvores, ver-vos-á
e amará sem fim. Será saciado com a abundância da vossa casa e
inebriado nas torrentes das vossas delícias... Bem-aventurado, pois,
quem é puro de coração... Fazei, Senhor, que me purifique cada vez
mais"
(J. B. Bossuet, Meditações sobre o Evangelho I, 7, v., pp. 26-27).
Em Mt 5, 9 diz:
"Bem-aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados
filhos de Deus".
Quem são os pacíficos?
"Pacíficos são aqueles que vivem em paz com o próximo
e consigo mesmos, e procuram estabelecer a paz entre aqueles que
estão em discórdia"
(São Pio X, Catecismo Maior, 931), e:
"Os
pacíficos, são os que odeiam as discussões e demandas injustas; os
que buscam, de preferência, tudo o que une e aproxima os corações;
os que têm, por assim dizer, o culto dos direitos alheios. Filhos da
paz, eles preferem ceder o seu direito, para não defendê-lo com
quebra da caridade"
(Dom Duarte Leopoldo), e também:
"A palavra
'pacíficos' é a usual nas traduções e, além disso, etimologicamente
é fiel ao texto. No livro sagrado tem claramente um sentido ativo:
'os que promovem a paz' em si mesmos, nos outros e, sobretudo, como
fundamento do anterior, procuram reconciliar-se e reconciliar os
outros com Deus. A paz com Deus é a causa e o cume de toda a paz.
Será vã e enganadora qualquer paz no mundo que não se baseia nessa
paz divina. 'Serão chamados filhos de Deus': É um hebraísmo muito
frequente na Sagrada Escritura; é o mesmo que dizer 'serão filhos de
Deus'. A primeira Epístola de São João (1 Jo 3, 1) dá-nos a exegese
autêntica desta bem-aventurança: 'Vede que amor nos mostrou o Pai:
que sejamos chamados filhos de Deus e que realmente o sejamos"
(Edições Theologica),
e ainda: "Ó
Deus, concedei que sejamos brandos e benignos uns com os outros,
segundo vossas entranhas de bondade e de doçura, ó Criador nosso!
Dai-nos unir-nos ao que piedosamente mantêm a paz, não aos que a
querem hipocritamente... Em vós fixemos o olhar, ó Pai e Criador do
universo, aceitando os magníficos e superabundantes dons e
benefícios da vossa paz. Fixemos na mente e contemplemos com os
olhos da alma a magnanimidade de vossos desígnios. Consideremos quão
brando vos mostrais com toda a vossa criação... Todas as coisas
ordenastes, ó grande Artífice e soberano de todo o universo, a fim
de que se mantenham em paz e concórdia. Derramastes sobre todas elas
os vossos benefícios, e mais copiosamente sobre nós, que nos
refugiamos em vossas misericórdias, por meio de Nosso Senhor Jesus
Cristo. A ele seja a glória e a majestade pelos séculos dos séculos"
(São Clemente Romano,
Primeira Carta aos Coríntios, 14-15. 19-20), e:
"Ó Senhor, como é bom amar a paz! Amar a paz é o
mesmo que possuí-la. E quem não quer ver crescer o objeto de seu
amor? Se desejo que poucos estejam em paz comigo, pouca será a paz
que terei. Para que esta minha posse aumente, tem de aumentar o
número de possuidores... Se distribuo pão, quanto maior for o número
daqueles a quem o repartir, tanto menor será a quantidade de pão
para cada um. Mas a paz é como aquele pão que nas mãos dos vossos
discípulos se multiplicava à medida em que era repartido e
distribuído. Dai-me, pois, a paz, Senhor! Para poder dá-la aos
outros, primeiro a tenha eu; que a possua eu, primeiro! Arda em mim
o fogo, para que o possa acender nos outros... Amante da paz, seja
eu, por primeiro, totalmente possuído por tua beleza e me abrase no
desejo de atraí-la aos demais. Vejam também eles o que vejo eu, amem
o que amo, possuam o que possuo"
(Santo Agostinho, Sermão 357, 2-3), e também:
"Foi o reino do céu prometido aos misericordiosos
como misericórdia, aos puros de coração como visão e aos pacíficos
como filiação divina. O homem pacífico, construtor da paz, merecerá,
de modo especial, ser reconhecido como filho daquele que é 'o Deus
do amor e da paz' (2 Cor 13, 11)... O cristão é verdadeiro filho de
Deus na medida em que prolonga no mundo a missão pacificadora do
Unigênito do Pai, o Bom Jesus, constituído, ele mesmo, 'nossa paz' (Ef
2, 14). Mas para ser portador da paz, precisa, antes de tudo,
possuí-la em si. Paz perfeita com Deus, vivendo com amor filial os
seus mandamentos, pacificando o coração e os desejos pessoais na
adesão amorosa à vontade do cristão e a de Deus. Paz perfeita com os
irmãos, cumprindo o preceito de Cristo: 'Tende paz uns com os
outros' (Lc 9, 50), 'Amai-vos uns aos outros, como eu vos amei' (Jo
15, 12). A paz que Cristo dá aos fiéis no batismo e continua dando
mediante os outros sacramentos, de modo especial por meio da
penitência, devem eles conservar intacta não só para sua própria
salvação, mas para que, transmitindo-a aos outros, se converta em
salvação de todos os homens e pacifique todo o mundo"
(Pe. Gabriel de Santa Maria Madalena, Intimidade Divina, 333,
1).
Em Mt 5, 10-12 diz:
"Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça,
porque deles é o Reino dos Céus.
Bem-aventurados sois, quando vos injuriarem e vos perseguirem e,
mentindo, disserem todo o mal contra vós por causa de mim.
Alegrai-vos e regozijai-vos, porque será grande a vossa recompensa
nos céus, pois foi assim que perseguiram os profetas, que vieram
antes de vós".
Quem são os que sofrem
perseguição por amor da justiça?
"Os que
sofrem perseguição por amor da justiça são aqueles que suportam com
paciência os escárnios, as censuras e as perseguições por causa da
Fé e da Lei de Jesus Cristo"
(São Pio X, Catecismo Maior, 932), e:
"Acerca do significado de 'justiça' veja-se o dito em Mt 1, 19; 5,
6. Assim, pois, o sentido desta bem-aventurança é o seguinte:
bem-aventurados os que sofrem perseguição por ser santos ou pelo seu
empenho em ser santos, porque deles é o Reino dos Céus. Portanto, é
bem-aventurado o que sofre perseguição por ser fiel a Jesus Cristo e
a suporta não só com paciência mas com alegria. Na vida do cristão
apresentam-se circunstâncias heróicas, nas quais não têm lugar meios
termos; ou se é fiel a Jesus Cristo jogando-se a honra, a vida e os
bens, ou O renegamos"
(Edições Theologica), e também:
"Esta
oitava bem-aventurança era como que a prerrogativa dos santos
mártires. O cristão que é fiel à doutrina de Jesus Cristo é de fato
também um 'mártir' (testemunha) que reflete ou cumpre esta
bem-aventurança, mesmo sem chegar à morte corporal"
(São Bernardo de Claraval, Sermão da Festa de Todos os
Santos), e ainda:
"A justiça é a causa de
Deus. Os perseguidos combatem por ele, e ele se encarrega de os
recompensar como merecem, e ainda mais do que merecem"
(Dom Duarte Leopoldo),
e:
"Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça,
porque deles é o reino dos céus' (Mt 5, 10). Muitas vezes predisse
Jesus aos discípulos que deveriam compartilhar de sua sorte: 'Se o
mundo vos odeia, sabei que, antes de vós, a mim me odiou. Não é
maior o servo que seu Senhor. Se a mim perseguiram, hão de vos
perseguir também a vós. E virá o tempo em que todo o que vos matar,
julgará prestar culto a Deus' (Jo 15, 18. 20; 16, 2). Cristo não
enganou seus discípulos, nem lhes prometeu êxitos e triunfos!
Mostrou-lhes com clareza o mesmo caminho percorrido por ele:
contradições, ódios, perseguições e morte de cruz. Quem segue a
Cristo, se o quiser seguir deveras, não pode esperar outra coisa. O
que, no entanto, não quer dizer ser pessimista, nem desanimar, ou
viver na tristeza, pois ao mesmo tempo em que anuncia Jesus as
perseguições, aos discípulos, chama-os bem-aventurados.
'Bem-aventurados sereis quando vos injuriarem, vos perseguirem ou,
mentindo, disserem todo o mal contra vós' (Mt 5, 11). É a única
bem-aventurança reassumida e desenvolvida em vários versículos, como
para persuadir os discípulos de que aos olhos humanos é verdadeiro
contra-senso: considerem-se ditosos no sofrimento. Certamente, não
consiste a bem-aventurança diretamente na perseguição, que é sempre
real sofrimento físico e moral, mas no fato de ser, este sofrimento,
penhor de felicidade eterna. 'Alegrai-vos e regozijai-vos, disse
Jesus, porque grande será vossa recompensa no céu' (Idem. 12). Não
pede o Senhor ao cristão que chame gozo ao que é dor, nem exige que
seja indiferente à perseguição, a ponto de não sofrer com ela, mas
lhe pede que creia na sua palavra infalível: tudo o que padecer pela
causa de Deus, será, com certeza, transformado em gozo de vida
eterna. É a firmeza desta fé que permite aos santos gozar nas
perseguições padecidas por amor de Cristo, à imitação dos Apóstolos
que saiam dos tribunais 'alegres por terem sido julgados dignos de
sofrer ultrajes pelo nome de Jesus' (At 5, 41)"
(Pe. Gabriel de Santa Maria Madalena, Intimidade Divina, 334,
1).
Pe. Divino Antônio Lopes
FP.
Anápolis, 21 de agosto de
2007
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