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          AS BEM-AVENTURANÇAS 
          
          (Mt 5, 
          1-12) 
            
          
			"1 
			Vendo ele as multidões, subiu à montanha. Ao sentar-se, 
			aproximaram-se dele os seus discípulos. 
			2 
			E pôs-se a falar e os 
			ensinava dizendo: 
			3 
			'Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos 
			Céus. 4 
			Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra. 
			5 
			Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados. 
			6 
			Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão 
			saciados. 
			7 
			Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia.
			8 
			Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus. 
			9 
			Bem-aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos 
			de Deus. 
			10 
			Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque 
			deles é o Reino dos Céus. 
			11 
			Bem-aventurados sois, quando vos injuriarem e vos perseguirem e, 
			mentindo, disserem todo o mal contra vós por causa de mim. 
			12 
			Alegrai-vos e regozijai-vos, porque será grande a vossa recompensa 
			nos céus, pois foi assim que perseguiram os profetas, que vieram 
			antes de vós". 
          
            
           
           
            
          
			Em Mt 5, 1-2 diz:
			"Vendo ele as multidões, subiu à montanha. Ao sentar-se, 
			aproximaram-se dele os seus discípulos. E pôs-se a falar e os 
			ensinava dizendo". 
			  
			
			Edições Theologica 
			comenta: 
			"O Sermão da Montanha ocupa integralmente os 
			capítulos 5, 6 e 7 de São Mateus. Trata-se do primeiro dos cinco 
			grandes discursos de Jesus que aparecem neste Evangelho. Compreende 
			uma considerável parte dos ensinamentos do Senhor. Não é fácil de 
			reduzir o discurso a um só tema, mas os diversos ensinamentos podem 
			comodamente agrupar-se à volta destes cinco pontos: 1) O espírito 
			que se deve ter para entrar no Reino dos Céus (as Bem-aventuranças, 
			sal da terra e luz do mundo, Jesus e a Sua doutrina, plenitude da 
			Lei); 2) Retidão de intenção nas práticas de piedade (aqui se inclui 
			a oração do Senhor ou Pai-Nosso); 3) Confiança na Providência 
			paternal de Deus; 4) As relações fraternas dos filhos de Deus (não 
			julgar o próximo, respeito pelas coisas santas, eficácia da oração e 
			a regra de ouro da caridade) e 5) Condições e fundamento para a 
			entrada no reino (a porta estreita, os falsos profetas e edificar 
			sobre a rocha). 
			
			'Pôs-se a 
			ensiná-los'; Refere-se tanto aos discípulos que rodeavam Jesus como 
			às multidões ali presentes, segundo aparece no fim do Sermão da 
			Montanha (Mt 7, 28). 
			
			As 
			Bem-aventuranças (Mt 5, 3-12) constituem como que o pórtico do 
			Sermão da Montanha. Para uma reta compreensão das Bem-aventuranças é 
			conveniente ter em conta que nelas não se promete a salvação a umas 
			determinadas classes de pessoas que aqui se enumerariam, mas a todos 
			aqueles que alcancem as disposições religiosas e o comportamento 
			moral que Jesus Cristo exige. Quer dizer, os pobres de espírito, os 
			mansos, os que choram, os que têm fome e sede de justiça, os 
			misericordiosos, os puros de coração, os pacíficos e os que sofrem 
			perseguição por buscar a santidade, não indicam pessoas distintas 
			entre si, mas são como que diversas exigências de santidade 
			dirigidas a quem quer ser discípulo de Cristo. 
			
			Pela mesma 
			razão, também não prometem a salvação a determinados grupos da 
			sociedade, mas a toda a pessoa que se esforce por viver o espírito e 
			as exigências das Bem-aventuranças. O espírito das Bem-aventuranças 
			produz, já na vida presente, a paz no meio das tribulações. Em todos 
			os tempos as Bem-aventuranças põem muito por cima os bens do 
			espírito sobre os bens materiais. Sãos e doentes, poderosos e 
			débeis, ricos e pobres... são chamados à felicidade profunda 
			daqueles que alcançam as Bem-aventuranças de Jesus". 
			
			Dom Duarte Leopoldo 
			escreve: 
			"A Montanha das Bem-aventuranças está situada ao 
			norte da Galiléia, entre o Tabor e Cafarnaum. No flanco desta 
			montanha está uma grande e bela planície, sempre coberta de relva, 
			onde provavelmente começou a cena descrita. 
			
			O sermão 
			da montanha é chamado o epítome ou resumo do Cristianismo, o símbolo 
			do Evangelho, o texto da Nova Lei. Ele é para a Igreja o que são as 
			tábuas do Sinai para a Sinagoga, - é a lei do amor sucedendo à lei 
			do temor. O Deus feito homem a promulga sobre uma montanha 
			verdejante, cercado dos seus discípulos e de grande multidão de 
			povo. A palavra de Deus escapa-lhe dos lábios fluente e acessível 
			ainda aos mais ignorantes. Ela diz toda a verdade que os homens 
			devem saber, ensina tudo o que é preciso fazer para a salvação, 
			anima, fortifica, dirige e eleva. Ocupa-se dos pequeninos e dos 
			pobres, tem consolações e esperança ainda para os mais abandonados. 
			É profunda e, ao mesmo tempo, simples e suave; é o mais belo e mais 
			tocante ensinamento que já ouviram os homens. Enfim, para assinalar 
			um lugar no reino do céu com a autoridade com que o faz Jesus neste 
			belíssimo discurso, é preciso  ter descido do céu, é preciso ser 
			Deus". 
			
			São Pio X escreve: 
			
			"Jesus Cristo propôs-nos as Bem-aventuranças para nos fazer detestar 
			as máximas do mundo, e para nos convidar a amar e praticar as 
			máximas do seu Evangelho. O mundo chama bem-aventurados aqueles que 
			desfrutam da abundância de riquezas e de honras, que vivem em 
			delícias e que não têm nada que os faça sofrer"
			(Catecismo Maior, 923 e 924), e: 
			
			"Todos certamente queremos viver felizes, e não existe no gênero 
			humano pessoa que não concorde com esta proposição, mesmo antes de 
			ser formulada por inteiro"
			(Santo Agostinho, Mor. Eccl. 1, 3, 4: PL 32, 1312), 
			e também: 
			"Então, como vos hei de procurar, Senhor? Visto que, 
			procurando a vós, meu Deus, eu procuro a vida bem-aventurada, fazei 
			que vos procure para que minha alma viva, pois meu corpo vive de 
			minha alma, e minha alma vive de vós"
			(Idem, Conf. 10, 20, 29: CCL 27, 170 (PL 32, 791), 
			e ainda: 
			"Só Deus satisfaz"
			(Santo Tomás de Aquino, Symb. 1), e:
			"Todo artista, segundo sua profissão, se alegra vendo as 
			oportunidades para trabalhar: um carpinteiro, quando vê uma boa 
			árvore, deseja cortá-la para realizar o seu ofício. Um sacerdote, 
			quando vê uma igreja cheia, se alegra em seu interior e se sente 
			movido a ensinar. Assim o Senhor, vendo a multidão se sentiu movido 
			a pregar. Pois disseram d'Ele: 'Vendo Jesus a multidão, subiu ao 
			monte" (Pseudo-Crisóstomo, 
			Opus Imperfectum super Mattheum, Hom. 9), e também:
			
			"Aqui parece que quis evitar ficar cercado pela 
			multidão e por isso subiu ao monte para falar a sós com seus 
			discípulos" (Santo Agostinho, De 
			Consensu Evangelistarum, 2, 19), e ainda:
			
			"A atitude de pregar sobre um monte e separado, e não 
			em uma cidade... nos ensinou a não fazer nada por ostentação e a 
			separarmos do tumulto, principalmente quando o diálogo é sobre 
			coisas importantes" (São João 
			Crisóstomo, Homilia in Matthaeum, Hom. 15, 1), e:
			"Deve saber-se que Jesus tinha três lugares para se refugiar: a 
			barca, o monte e o deserto, aos quais se retirava quando se via 
			rodeado pela multidão" (Remígio), 
			e também: 
			
			"Subiu, pois, a um monte, primeiramente para cumprir a profecia de 
			Isaías que disse: 'Sobe tu sobre um  monte" (Is 40, 9); depois para 
			manifestar que o que ensina a Palavra de Deus, o mesmo que a ouve, 
			devem constituir-se auge de virtudes. Ninguém pode estar no vale e 
			falar desde o monte. Se estás sobre a terra falas das coisas da 
			terra, mas se estiveres no céu, falarás das coisas celestiais. Ou de 
			outro modo, subiu ao monte para manifestar que todo o que quiser 
			conhecer os mistérios da verdade deve subir ao monte da Igreja, de 
			quem o profeta disse: 'O monte do Senhor é um monte rico' (Sl 67, 
			16)" (Pseudo-Crisóstomo, Opus 
			Imperfectum super Matthaeum, Hom. 9), e ainda:
			
			"Ele subiu ao monte para significar que eram menores 
			os preceitos divinos que foram dados por Deus por meio de seus 
			profetas ao povo judeu, a quem convinha advertir por meio do temor, 
			e que se dispensaram maiores graças por meio do Filho de Deus, cujo 
			povo era conveniente livrar por meio da caridade"
			(Santo Agostinho, Sermone Domini, 1, 1), e:
			
			"Portanto, não falava de pé, mas sentado, porque não podiam 
			entendê-lo se estivesse estado rodeado de sua imensa majestade"
			(São Jerônimo). 
			  
			
			Em Mt 5, 3 diz:
			"Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o Reino 
			dos Céus". 
			  
			
			Quem são os pobres de 
			espírito que Jesus Cristo chama bem-aventurados? 
			"Os pobres 
			de espírito, segundo o Evangelho, são aqueles que têm o coração 
			desapegado das riquezas; fazem bom uso delas, se as possuem; não as 
			procuram com ânsia, se não as têm; e sofrem com resignação a perda 
			delas, se lhes são tiradas"
			(São Pio X, Catecismo Maior, 925), e: 
			"Os 
			pobres sobre os quais Deus se inclina com amor, e que Jesus proclama 
			felizes, são os que não só aceitam sua condição de deserdados, mas 
			dela fazem um meio de se aproximar de Deus, com humildade e 
			confiança, esperando unicamente dele todo seu bem. A simples pobreza 
			material não constitui aquela disposição interior que Jesus quer ver 
			nos seus discípulos. Quem é pobre, mas vive a lamentar-se, detesta 
			seu estado e alimenta talvez ódio e inveja para com os que possuem 
			mais, não é pobre em espírito... A pobreza material é preciosa aos 
			olhos de Deus enquanto estímulo ao desapego dos bens terrenos, 
			enquanto leva ao conhecimento da própria indigência, não só 
			material, mas ainda espiritual, e por isso desembaraça o coração da 
			presunção, da vaidade e do orgulho. Então, a pobreza converte-se em 
			disponibilidade para Deus, abre ao Senhor o coração do homem e, por 
			sua vez, abre Deus ao homem seu Reino"
			(Pe. Gabriel de Santa Maria Madalena, Intimidade Divina, 326, 
			1), e também: 
			"O Verbo 
			chama 'pobreza de espírito' à humildade voluntária de um espírito 
			humano e sua renúncia; o Apóstolo nos dá como exemplo a pobreza de 
			Deus quando diz: 'Ele se fez pobre por nós' (2 Cor 8, 9)"
			(São Gregório de Nissa, Beat., 1: PG 44, 1200 D.), 
			e ainda: 
			"O orgulhoso procura o poder terreno, ao passo que o 
			pobre em espírito busca o Reino dos Céus"
			(Santo Agostinho, Serm. Dom., 1, 1, 3: PL 34, 1232). 
			
			Muitos pensam erroneamente 
			que os pobres em espírito são os preguiçosos, os sujos, os 
			maltrapilhos, etc. Não, não são esses: 
			"Pobres de espírito não 
			são os tolos, os idiotas, os ignorantes, etc., como erradamente 
			entendem alguns. São os humildes, os que não têm apego aos bens da 
			terra, os que voluntariamente renunciaram a eles para mais de perto 
			seguirem a Jesus Cristo. Assim, pois, um pobre, mal satisfeito com a 
			sua sorte, dominado pela ambição e pelo orgulho, é um rico de 
			espírito; não é para ele o reino do céu. Do mesmo modo, no seio da 
			abundância e na prosperidade, pode um rico ser pobre de espírito por 
			não se apegar à fortuna que possui, pelo espírito de caridade e 
			submissão à vontade de Deus. O santo homem Jó é um dos mais belos 
			exemplos desta verdade" 
			(Dom Duarte Leopoldo), e:
			
			"Os pobres que Jesus louva não são os vadios, os 
			incapazes ou os preguiçosos, mas os que, trabalhando embora para 
			melhorar licitamente a sua condição, não são ávidos de lucro e de 
			riquezas, a ponto de colocar nelas seu tesouro, esquecendo os bens 
			mais altos que os esperam... Jesus pede a todos os seus discípulos - 
			que tenham pouco ou muito - que sejam 'pobres em espírito' de modo 
			que a preocupação pela escassez de meios ou o apego às riquezas 
			jamais se convertam em obstáculo à procura de Deus, não estorvem a 
			amizade com ele, não agravem o coração com o cuidado excessivo pelo 
			bem estar material"
			(Pe. Gabriel de Santa Maria Madalena, Intimidade Divina, 326, 
			1). 
			
			Ser pobre em espírito não 
			significa também andar sujo ou viver na sujeira: 
			"A pobreza 
			não é sujeira; a primeira agrada, a segunda não"
			(São Bernardo de Claraval, citado por Mansi, Il vero 
			eclesiástico, p. 236, ed. 1832). 
			
			Vivamos nesse mundo 
			desapegados de todas as coisas passageiras, somente assim teremos 
			paz na nossa alma imortal; sejamos verdadeiramente pobres de 
			espírito: 
			"Ó Senhor, fazei com que eu compreenda quão grande 
			paz e segurança tem o coração que não deseja coisa alguma deste 
			mundo. Pois se meu coração anseia conseguir os bens terrenos, não 
			pode estar tranquilo nem seguro, porque, ou deseja possuir o que não 
			tem, ou teme perder o que possui! Quando na adversidade está, espera 
			a prosperidade; e na prosperidade, teme a adversidade: é agitado de 
			cá para lá, pelas ondas dos acontecimentos, em contínuas 
			alternativas. Mas se vós, ó Deus, concedeis à minha alma aferrar-se 
			firmemente ao desejo da pátria celestial, será muito menos sacudida 
			pelas perturbações das coisas temporais. Fazei com que, diante de 
			todas as agitações exteriores, ela se refugie neste seu desejo, como 
			num retiro secreto, agarre-se a ele sem afrouxar, transcenda todas 
			as coisas mutáveis e, na tranquilidade de sua paz, encontre-se no 
			mundo e fora do mundo"
			(São Gregório Magno, Moralia XXII, 35), e:
			"Ó Jesus, 
			vossa primeira companhia na terra foi a pobreza voluntária, 
			contínua, perfeita, suprema... Quisestes viver e ser pobre de todas 
			as coisas temporais... Das coisas deste mundo só quisestes a extrema 
			indigência, com penúria, fome e sede, frio e calor, muita fadiga, 
			dureza e austeridade... Quisestes viver pobre de parentes e amigos e 
			de todo afeto deste mundo... Enfim, vos despojastes de vós mesmo, 
			exteriormente despido de vosso poder, sabedoria e glória. Deus 
			incriado e humanado, Deus encarnado e paciente, vos quisestes 
			mostrar e viver neste mundo como homem pobre, sem poderio, limitado 
			e ínfimo, desonrado, carente de toda sabedoria humana. Ó mísera 
			pobreza!... desprezada neste mundo por gente de toda condição! Onde 
			encontrar criatura que se glorie de estar unida a tão perfeita 
			companhia? Feliz a criatura que na sua penitência pode exaltar-se 
			com essa companhia, já que vós, ó Cristo, quisestes recebê-la em 
			vós, como instrumento de doutrina" 
			(Santa Ângela de Foligno, O Livro de 
			Santa Ângela, II, pp. 138-140). 
			  
			
			Em Mt 5, 4 diz:
			"Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra". 
			  
			
			Quem são os mansos? 
			"Os 
			mansos são aqueles que tratam o próximo com brandura, e sofrem com 
			paciência os seus defeitos e as ofensas que dele recebem, sem 
			alteração, ressentimentos ou vingança"
			(São Pio X, Catecismo Maior, 926), e: 
			"Os mansos, isto 
			é, os que não murmuram nem se irritam, os que evitam a discórdia, os 
			que sabem perdoar com generosidade as ofensas alheias, aqueles, 
			enfim, que suportam o peso da vida conformados com a vontade de 
			Deus. - Eles possuirão a terra, isto é, a terra dos vivos, o céu -. 
			Todavia, mesmo neste mundo, a paciência é uma arma poderosa para 
			vencer ainda as maiores resistências" 
			(Dom Duarte Leopoldo), e 
			também: "Os 
			mansos de que fala Jesus se identificam com os pobres e os aflitos, 
			que acabava de proclamar bem-aventurados, porque em suas angústias 
			não se revoltam, nem reagem com violência, mas se submetem com manso 
			e humilde coração. Jesus, ungido pelo Espírito Santo, para 
			desempenhar no mundo missão de perfeita doçura e bondade (Lc 4, 18), 
			apresentou-se aos homens como modelo de mansidão (Mt 11, 29). Todo o 
			direito tem, pois, de pedir aos seus discípulos que aprendam dele, 
			que sigam seu exemplo. Para isto, transmitiu-lhes a unção do 
			Espírito Santo... O manso, formado pelo Espírito Santo à imitação de 
			Cristo, é o homem que aprendeu a dominar todas as manifestações 
			descompostas do seu eu: irritação, desdém, cólera, espírito de 
			inveja e de vingança; é também o homem que renunciou à tentação de 
			impor-se, de valorizar-se e de dominar os outros com prepotência... 
			Quem, nesta vida, preferir ficar atrás, em vez de passar adiante a 
			conquistar, pela violência, elevado posto, terá seu lugar seguro no 
			reino de Deus. Por outro lado, certo é que, ainda neste mundo, a 
			mansidão confere ao homem especial capacidade de domínio e 
			conquista. Antes de tudo, sobre si mesmo, dominando todos os seus 
			movimentos de ira e conservando a calma nas contradições; em 
			seguida, sobre os demais, porque a mansidão atrai e conquista as 
			pessoas. Deste modo, o manso, havendo renunciado a toda forma de 
			violência, e precisamente em virtude dessa renúncia, possuirá 
			particular ascendência sobre os outros. Porque, enquanto a violência 
			afasta e fecha os corações, a mansidão os abre à confiança, os dobre 
			e amansa. Jesus quer que os seus discípulos sejam estes mansos que 
			vão à conquista do mundo, não com meios que exasperam e provocam 
			reações contrárias, senão com a doçura, a paciência e a 
			longanimidade. 'Eis que vos envio como cordeiros entre lobos' (Lc 
			10, 3), diz-lhes, enquanto ele, Cordeiro inocente, os precedeu, 
			ensinando-lhes com o exemplo que, para fazer o bem, longe de se 
			imporem ou defenderem com a força, devem sofrer e pôr-se a serviço 
			de todos" (Pe. Gabriel 
			de Santa Maria Madalena, Intimidade Divina, 329, 1 e 2), 
			e ainda: 
			"Mansos': Quer dizer, os que sofrem com paciência as perseguições 
			injustas; os que nas adversidades mantêm  o ânimo sereno, humilde e 
			firme, e não se deixam levar pela ira ou pelo abatimento. É a 
			virtude da mansidão muito necessária para a vida cristã. Normalmente 
			frequentes manifestações externas de irritabilidade procedem da 
			falta de humildade e de paz interior. 'A terra': Comumente 
			entende-se em sentido transcendente, quer dizer, a pátria celestial"
			(Edições Theologica), 
			e: "Mansos 
			são aqueles que vencem as más ações com as boas ações"
			(Santo Agostinho, Sermone Domini, 1, 2), e 
			também: 
			"Lutam os que não são mansos e disputam pelas coisas 
			passageiras; mas sempre serão bem-aventurados os humildes, porque 
			eles herdarão uma terra onde ninguém os poderá expulsar"
			(Idem, Sermone Domini, 1, 2). 
			
			Peçamos a Nosso Senhor que 
			nos ajude a possuirmos um coração manso: 
			"Ó Deus-Homem doloroso, 
			ensinai-me a considerar e imitar o exemplo de vossa vida e a 
			aprender de vós, ó modelo de toda perfeição! Fazei-me correr atrás 
			de vós com todo o afeto de minha alma, para chegar, com vossa guia, 
			felizmente, à cruz. A nós vos oferecestes como exemplo e nos 
			convidais a olhar-vos com o afeto do espírito, dizendo-nos: 
			'Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração e achareis 
			descanso para vossas almas'... Colocastes a humildade de coração e a 
			mansidão por fundamento e firme raiz de todas as virtudes... Por 
			isso, Senhor, quisestes que, de vós, principalmente, as 
			aprendêssemos... Dai-me a graça de estabelecer-me em tal alicerce! 
			Fundada nesta base, esforce-me por crescer. Se for a humildade meu 
			alicerce, será minha conversação toda angelical, pura, benigna e 
			pacífica. Serei benévolo e agradável a todos, e com todos 
			mostrar-me-ei amável... Ó humildade, quantos bens trazes, tu que 
			fazes pacíficos e serenos os que te possuem!" 
			(Santa Ângela de Foligno, O Livro de 
			Santa Ângela II, pp. 175-176. 179-180). 
			  
			
			Em Mt 5, 5 diz:
			"Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados". 
			  
			
			Quem são os que choram?
			
			"Os que choram, e, todavia, são chamados 
			bem-aventurados, são aqueles que sofrem com resignação as 
			tribulações, e que se afligem pelos pecados cometidos, pelos males e 
			pelos escândalos que se vêem no mundo, pela ausência do Céu e pelo 
			perigo de o perder"
			(São Pio X, Catecismo Maior, 927), e: 
			
			"Bem-aventurados os que choram os seus pecados e os dos seus irmãos. 
			Santas lágrimas que tanta consolação nos merece no céu. Também as 
			lágrimas que, todos os dias e com tanta abundância, caem dos olhos 
			dos pobres, dos aflitos, dos doentes... têm bem-aventurança..."
			(Dom Duarte Leopoldo), e também: 
			
			"Eis o sinal inconfundível da salvação prometida por Deus ao seu 
			povo e predita pelos profetas: o Messias se inclina sobre todas as 
			misérias humanas para aliviá-las, vem dar alegria e conforto aos 
			aflitos e consolar os que choram. Todavia, os aflitos e os pobres 
			jamais faltarão no mundo. As curas milagrosas operadas pelo Senhor – 
			'os cegos recuperam a visão, os coxos andam, os leprosos são limpos, 
			os surdos ouvem' (Lc 7, 22) – não passam de símbolo de uma salvação 
			mais profunda e essencial. A missão de Jesus não se restringe aos 
			corpos, vai muito além: toca os corações e cura-os do maior dos 
			males, o pecado. As aflições físicas e morais – doenças, lutos, 
			opressões, angústias da vida – convertem-se em veículo pelo qual o 
			homem atinge mais facilmente a obra da eterna salvação... Quem vive 
			no gozo, quem tem tudo o que quer e nada lhe falta, corre tremendo 
			risco! Satisfeito consigo e com a vida terrena, não adverte a 
			precariedade da própria situação, não sente necessidade de ser 
			salvo, não abre o coração à esperança das coisas celestes. Pelo 
			contrário, o aflito impotente para livrar-se de suas tribulações, 
			dá-se conta de que unicamente Deus pode ajudá-lo, só Deus pode 
			salvá-lo no tempo e para a eternidade. Os aflitos que, como os 
			pobres, aceitam das mãos de Deus tal sorte, a ele se submetem com 
			humildade, e, embora sofrendo, não cessam de crer no seu amor de Pai 
			e em sua Providência Infinita, são chamados por Jesus de 
			bem-aventurados 'porque serão consolados' (Mt 5, 5). E se a 
			consolação total gozá-la-ão só na vida eterna, já aqui na terra, no 
			meio de suas angústias, terão o conforto de sentir-se mais próximos 
			de Cristo que, com eles e para eles, leva a cruz. Quando males 
			físicos ou morais atormentam o homem e parecem cravá-lo em situações 
			irremediáveis, não é fácil crer na bem-aventurança proclamada pelo 
			Senhor. Contudo, escondem sempre as dores um mistério de vida e de 
			salvação. 'Os que em lágrimas semeiam, cantando hão de ceifar – diz 
			o salmo. Na ida vão chorando, os que levam a semente a esparzir. Ao 
			voltar, virão radiantes de alegria, trazendo seus feixes' (Sl 126, 
			5-6). Assim como o grão de trigo deve apodrecer na terra, para dar 
			vida a novas espigas, assim precisa ser o homem esmagado pelo 
			sofrimento, para dar frutos de eterna alegria. Mas é necessário 
			aguardar e esperar consolo só de Deus, contar com ele só, o Único 
			que salva e muda o pranto em verdadeira alegria. Requer-se coragem 
			para abraçar a cruz não só com resignação, mas com amor, com vontade 
			resoluta de seguir Jesus sofredor até o Calvário, até o sepulcro, 
			porque somente da morte pode florescer a ressurreição. E assim fazer 
			com o coração dilatado pela caridade que aceita padecer e morrer 
			também pela ressurreição dos irmãos. Então, compreendemos porque São 
			Paulo pôde dizer: 'Estou cheio de consolação, transbordo de alegria 
			em todas as nossas tribulações' (2 Cor 7, 4). É a bem-aventurança do 
			sofrimento que começa verificar-se já na terra, para quem sabe 
			padecer com Cristo pela salvação do mundo. Mas, para os que amam a 
			Deus, há outros motivos de pranto. São as lágrimas ardentes de Santo 
			Agostinho que não cessa de clamar: 'Tarde te amei, ó Beleza sempre 
			antiga e sempre nova, tarde te amei!' (Conf. X, 27, 38). São as 
			lágrimas de Madalena penitente e de São Pedro a chorar sua queda. 
			São as lágrimas de quem, embora amando sinceramente a Deus, tem de 
			lamentar, todos os dias, alguma fraqueza ou infidelidade; lágrimas 
			santas de compunção, dom do Espírito Santo, que purificam do pecado 
			e unem a Deus. Lágrimas ainda por todo o mal que, invadindo o mundo, 
			faz tantas vítimas, perverte tantos inocentes, desvia muitos da fé, 
			aflige a Igreja e ofende a Deus. Também estas lágrimas, participação 
			do pranto de Cristo sobre Jerusalém e da sua agonia no horto do 
			Getsêmani, serão consoladas, porque quem sofre com Cristo será com 
			Cristo glorificado (Rm 8, 17)"
			(Pe. Gabriel de Santa Maria Madalena, Intimidade Divina, 327, 
			1 e 2), e ainda: 
			"Vós, 
			Senhor, me consolais na tristeza. Só busca consolação quem se 
			encontra na tristeza... É certamente este mundo a região dos 
			escândalos, das tentações e de todos os males! Mas se aqui gememos, 
			mereceremos gozar no céu... É, nossa terra, a região dos  mortos. 
			Desaparecerá a morada dos mortos, chegará a dos vivos. Na região dos 
			mortos há trabalhos, dor, temor, tribulação, tentação, gemido e 
			pranto. Aqui vivem os falsos felizes, os verdadeiros infelizes, 
			porque a falsa felicidade é verdadeira miséria. Quem reconhece estar 
			na verdadeira miséria, achar-se-á na verdadeira felicidade. 
			Portanto, agora, como és infeliz, ouve o Senhor que diz: 'Felizes os 
			que choram!' Sim, verdadeiramente felizes os que choram! Nada está 
			tão unido à miséria como o pranto, e nada há tão distante da miséria 
			e tão oposto a ela, como a felicidade. No entanto, ó Senhor, chamais 
			de felizes os que choram... Mas por que são felizes? Porque esperam. 
			Por que choram? Pelo que são atualmente. Efetivamente choram nesta 
			morte, nestas tribulações, nesta peregrinação, e, porque reconhecem 
			que estão na miséria e gemem, são bem-aventurados"
			(Santo Agostinho, No Salmo 85, 24), e: 
			"Os 
			que choram': Chama aqui bem-aventurados Nosso Senhor todos os que 
			estão aflitos por alguma causa e, de modo particular, aqueles que 
			estão verdadeiramente arrependidos dos seus pecados ou aflitos pelas 
			ofensas que outros fazem a Deus, e que levam o seu sofrimento com 
			amor e desejos de reparação"
			(Edições Theologica), e também:
			
			"Se chamam chorosos não aos que se entristecem 
			chorando a orfandade ou as afrontas e outros danos, mas sim, os que 
			choram seus pecados" (Santo 
			Hilário, in Matthaeumm 4), e ainda: 
			"Os que 
			choram seus pecados podem chamar-se realmente bem-aventurados... Mas 
			bem-aventurados são aqueles que choram os pecados alheios..."
			(Pseudo-Crisóstomo, Opus Imperfectum in Matthaeum, Hom. 9), 
			e: 
			"O luto que se trata aqui não é pelos mortos segundo a lei comum da 
			natureza, mas pelos que morreram por causa do pecado e dos vícios" 
			(São Jerônimo), e também: 
			"O consolo dos que choram será o luto, e os que 
			choram seus pecados se consolam quando obtém o perdão" 
			(Pseudo-Crisóstomo, Opus Imperfectum in Matthaeum, Hom. 9). 
			  
			
			Em Mt 5, 6 diz:
			"Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão 
			saciados". 
			  
			
			Quem são os que têm fome e 
			sede de justiça? 
			"Os que 
			têm fome e sede de justiça são aqueles que desejam ardentemente 
			crescer cada vez mais na graça de Deus e na prática das obras boas e 
			virtuosas"
			(São Pio X, Catecismo Maior, 928), e:
			"Fome e sede de justiça é a necessidade que sente toda alma boa e 
			reta, todo coração bem formado, de fazer a vontade de Deus, essa 
			vontade de que Jesus fazia o seu alimento..." 
			(Dom Duarte Leopoldo), e 
			também: 
			"Fazei, Senhor, com que eu deseje a justiça com a mesma ansiedade 
			com que desejo comer e beber quando me atormentam a fome e a sede! 
			Porque, então, serei saciado! De que serei saciado senão de justiça? 
			Serei saciado nesta vida, porque o justo se fará mais justo e o 
			santo, mais santo... Mas a perfeita saciedade tê-la-ei no céu, onde 
			a justiça eterna ser-nos-á dada com a plenitude do vosso amor. 
			'Saciar-me-ei... quando a vossa glória aparecer à minha vista'. (Mas 
			nesta vida) terei sempre sede, porque não cessarei de desejar-vos, ó 
			meu sumo Bem, e desejarei possuir-vos cada vez mais... Terei sempre 
			sede, mas sempre dessedentar-me-ei porque terei em mim a fonte que 
			jorra para a vida eterna... Viverei sempre sedento de justiça, mas 
			com os lábios continuamente colados à fonte que tenho em mim mesmo. 
			A sede não me será penosa nem me abaterá... É a fonte superior à 
			minha sede, sua riqueza maior que minha necessidade"
			(J. B. Bossuet, Meditações sobre o Evangelho I, 5 v. 1, pp. 
			24-25), e ainda: 
			"Repetidas 
			vezes, preocupou-se Jesus com a fome e a sede dos homens, e de 
			maneira tão concreta que, para satisfazê-las, fez muitos milagres: a 
			multiplicação dos pães e a transformação da água em vinho. Mas a 
			fome e a sede de que fala nas bem-aventuranças não são as do corpo, 
			e, sim, as do espírito. 'Bem-aventurados os que têm fome e sede de 
			justiça, porque serão saciados' (Mt 5, 6), disse Jesus, referindo-se 
			não aos famintos e sedentos de comida e bebida materiais, mas de 
			justiça, ou seja, de perfeição, de santidade. Deus justifica o homem 
			com a sua graça, base indispensável e ponto de partida da perfeição 
			cristã. Esta, por outro lado, não tem limite aqui na terra, porque é 
			o cristão chamado a ser perfeito 'como é perfeito o Pai celestial' 
			(Mt 5, 48). Quem tem consciência do ideal e das exigências da 
			perfeição evangélica, nunca se sente satisfeito com a própria 
			justiça, com suas virtudes e boas obras. Antes, à medida em que 
			avança no caminho e se aproxima de Deus, percebe cada vez mais a 
			distância que o separa do ideal e, por isso, sente-se cada vez mais 
			faminto e sedento. Sua primeira fome é da vontade de Deus, alimento 
			substancioso que deve nutrir o cristão como alimentou a Cristo: 'Meu 
			alimento é fazer a vontade daquele que me enviou' (Jo 4, 34). Fora 
			da vontade de Deus não pode haver vida cristã, nem santidade. A 
			primeira sede do cristão é a da 'água viva' da graça. E quem dela 
			beber, 'converter-se-á em fonte de água que jorra para a vida 
			eterna' (Jo 4, 14). Só a graça faz o homem filho de Deus e irmão de 
			Cristo, capaz de emular com a santidade do Pai celestial. Crescer na 
			graça é crescer no amor, é entrar em comunhão mais íntima 'com o Pai 
			e com seu Filho Jesus Cristo' (1 Jo 1, 3), e nesta comunhão abraçar 
			os irmãos. Só Deus pode dar o alimento da vontade divina e a água da 
			graça! Portanto, quem, tem fome e sede de justiça não cesse de 
			pedi-las, estendendo a mão, como mendigo, a quem o pode socorrer, 
			que é Deus só. E Deus saciá-lo-á na proporção de sua fome e de sua 
			sede" 
			(Pe. Gabriel de Santa  Maria Madalena, Intimidade Divina, 330, 1), 
			e: "Depois 
			de chorar meus pecados, começo a ter fome e sede de justiça. Um 
			enfermo quando padece muito não tem fome. Por isso se diz: 
			'Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça"
			(Santo Ambrósio, in Lucam, 5, 56), e também:
			"Não nos é 
			suficiente o querer a justiça, se não temos fome de justiça"
			(São Jerônimo). 
			  
			
			Em Mt 5, 7 diz:
			"Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão 
			misericórdia". 
			  
			
			Quem são os que usam de 
			misericórdia? 
			"Os que 
			usam de misericórdia são aqueles que amam, em Deus e por amor de 
			Deus, o seu próximo, se compadecem das suas misérias, assim 
			corporais como espirituais, e procuram socorrê-lo segundo as suas 
			forças e o seu estado"
			(São Pio X, Catecismo Maior, 929), e: 
			"A 
			misericórdia não consiste apenas em dar esmola aos pobres, mas 
			também em compreender os defeitos que possam ter os outros, 
			desculpá-los, ajudá-los, superá-los e amá-los mesmo com os defeitos 
			que tenham. Também faz parte da misericórdia alegrar-se e sofrer com 
			as alegrias e dores alheias"
			(Edições Theologica), e também: 
			"Os 
			misericordiosos, isto é, os que perdoam, os que se compadecem das 
			misérias do próximo, os que choram com os que choram, os que curam 
			as feridas do corpo e da alma daqueles que sofrem; enfim, os justos, 
			bons e dedicados. No último dia, Nosso Senhor será também 
			misericordioso para com eles"
			(Dom Duarte Leopoldo), e ainda: 
			"Recorro a 
			vós, Senhor Jesus, movido pela vossa bondade, porque sei que não 
			desprezais os pobres nem tendes horror dos pecadores. Não rejeitais 
			o ladrão que confessava seu pecado, nem a pecadora em lágrimas, nem 
			a Cananéia suplicante, nem a mulher surpreendida em adultério, nem 
			também o coletor sentado à sua banca. Não rejeitais o publicano que 
			implorava misericórdia, nem o apóstolo que vos negava, nem o 
			perseguidor dos vossos discípulos, nem sequer os vossos algozes. O 
			perfume de vossas graças me atrai... Fazei, ó Senhor, com que eu 
			tenha o coração cheio de compaixão pelos miseráveis, inclinado a 
			compadecer-se e pronto a socorrer. Que eu me tenha por mais ditoso 
			em dar que em receber. Fazei com que eu seja fácil em perdoar e 
			saiba resistir à cólera, jamais ceda à vingança, e em todas as 
			coisas considere as necessidades dos outros como minhas. Embebei 
			minha alma com o orvalho de vossa misericórdia! Transborde de 
			piedade meu coração, de modo que saiba fazer-me tudo para todos... e 
			esteja tão morto a mim mesmo que não viva senão para o bem dos 
			demais"
			(São Bernardo de Claraval, In Cantica Cant., 22, 8; 11, 8; 
			12, 1), e: 
			"O grande 
			prêmio prometido aos misericordiosos é alcançarem misericórdia, isto 
			é, assegurarem sua salvação eterna. Em troca de um pouco de 
			misericórdia para com os irmãos por suas dívidas e ofensas que, por 
			maiores que sejam, são sempre limitadas e passageiras, gozará o 
			cristão das misericórdias do Senhor e as cantará eternamente. 
			Todavia não é raro sentir o homem dificuldade na prática da 
			misericórdia, e isto, por quase não perceber a própria indigência 
			pessoal e, portanto, a grande necessidade que tem da divina 
			misericórdia. Na presença de Deus, todos, até os santos, são sempre 
			grandes devedores, pobres indigentes. Ninguém, exceto a Santíssima 
			Virgem, pode dizer que foi sempre fiel à graça e ao amor. Ninguém 
			pode dizer que nunca ofendeu a Deus, ao menos levemente. Com esta 
			convicção, experimentaram os santos imensa necessidade da 
			misericórdia de Deus e, em consequência, julgaram sempre bem pouca 
			coisa usar de misericórdia com seu próximo, ainda ao perdoar-lhes as 
			mais graves ofensas. O reconhecimento da miséria pessoal faz-nos 
			compreensivos e indulgentes para com as debilidades dos outros. 
			Sentirmo-nos profundamente necessitados da misericórdia de Deus 
			faz-nos espontaneamente misericordiosos para com os irmãos. Então, 
			em vez de dificuldade no perdão, experimentamos a alegria de saber 
			perdoar, vamos em busca dos que, havendo-nos ofendido, têm maior 
			direito à nossa misericórdia e nos dão ocasião de imitarmos a 
			misericórdia do Pai celeste"
			(Pe. Gabriel de Santa Maria Madalena, Intimidade Divina, 331, 
			2), e também:
			
			"A justiça e a misericórdia estão tão unidas que uma 
			sustenta a outra. A justiça sem misericórdia é crueldade e a 
			misericórdia sem justiça é dissipação. Por isso, Ele depois da 
			justiça fala de misericórdia: 'Bem-aventurados os misericordiosos"
			(Glosa), e ainda: 
			"Se chama misericordioso o 
			que tem seu coração ocupado pela misericórdia,
			porque considera a 
			desgraça do outro como própria e sente pena da desgraça do próximo 
			como se fosse sua" 
			(Remígio), e:
			"Por misericórdia 
			se entende aqui, não só a que se pratica por meio de esmolas, mas a 
			produzida pelo pecado do irmão, ajudando uns aos outros a levar a 
			carga" (São Jerônimo). 
			  
			
			Em Mt 5, 8 diz:
			"Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus". 
			  
			
			Quem são os puros de 
			coração? 
			"Os puros de coração são aqueles que não têm nenhum afeto ao pecado, 
			sempre se afastam dele, e evitam, sobretudo, toda e qualquer espécie 
			de impureza" (São Pio 
			X, Catecismo Maior, 930), e: 
			"A pureza 
			de coração é um dom de Deus, que se manifesta na capacidade de amar, 
			no olhar reto e puro para tudo o que é nobre. Como diz o Apóstolo: 
			'Tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, 
			tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, 
			tudo o que é virtuoso e louvável, é o que deveis ter em mente' (Fl 
			4, 8). O cristão, ajudado pela graça de Deus, deve lutar 
			continuamente para purificar o seu coração e adquirir essa pureza, 
			em virtude da qual se promete a visão de Deus"
			(Edições Theologica), e também: 
			"Os corações puros, 
			desprendidos dos sentimentos carnais e sensuais que mancham o corpo 
			e a alma; os corações abertos e tudo o que é nobre, santo, justo, 
			amável e virtuoso, a tudo o que é louvável nos bons costumes, como 
			diz São Paulo. Esses corações verão a Deus, neste mundo, através das 
			sombras da fé, e no céu o contemplarão face a face. Pelo contrário; 
			a impureza do coração é o maior obstáculo, e quase sempre o único, 
			que encontram as verdades da Religião" 
			(Dom Duarte Leopoldo), e 
			ainda: 
			"Senhor, aprenda eu a desejar-vos! Aprenda a preparar-me para poder 
			ver-vos. Felizes os puros de coração, porque vos hão de ver... e vos 
			hão de ver não porque são pobres em espírito, nem porque são mansos 
			ou porque choram, ou têm fome e sede de justiça, ou são 
			misericordiosos, mas porque são puros de coração... Boa é a 
			humildade para alcançar o reino dos céus; boa, a mansidão para 
			possuir a terra; bom, o pranto para sermos consolados; boa, a fome e 
			a sede de justiça para sermos saciados; boa, a misericórdia para 
			alcançarmos misericórdia, mas é a pureza de coração que nos faz 
			ver-vos, ó Senhor! Eu vos quero ver: é bom, é grandioso o que 
			quero... Ajudai-me a purificar meu coração... porque puríssimo é 
			quem desejo ver, e impuro é o meio com que o quero ver... 
			Purificai-me, Senhor, com a vossa graça, purificai meu coração com o 
			vosso auxílio e conforto. Ajudai-me a produzir, por vós e em união 
			convosco, frutos abundantes de boas obras, de misericórdia, de 
			benignidade, de bondade" 
			(Santo Agostinho, Sr 53, 7.9; 261, 4.9), 
			e: 
			"Quem poderia dizer a beleza de um coração puro?... 
			Oh! Quão atraente e encantador esse manancial incorruptível que é o 
			coração puro! Vós, ó Deus, vos comprazeis em contemplar-vos nele 
			como em perfeito espelho, e nele imprimis vossa imagem com toda a 
			sua beleza... A vossa pureza, ó Deus, une-se à nossa, que vós mesmo 
			colocastes em nós. Nossos olhares purificados vos hão de ver 
			resplandecer em nós com eterna luz... Bem-aventurado o coração puro! 
			Ele vos verá, ó Deus... Contemplar-vos-á, verá toda beleza, toda 
			bondade, toda perfeição. Verá o bem, a fonte de todo bem... verá e 
			amará. E se amar, será amado. Cantará os vossos louvores, ver-vos-á 
			e amará sem fim. Será saciado com a abundância da vossa casa e 
			inebriado nas torrentes das vossas delícias... Bem-aventurado, pois, 
			quem é puro de coração... Fazei, Senhor, que me purifique cada vez 
			mais" 
			(J. B. Bossuet, Meditações sobre o Evangelho I, 7, v., pp. 26-27). 
			  
			
			Em Mt 5, 9 diz:
			"Bem-aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados 
			filhos de Deus". 
			  
			
			Quem são os pacíficos?
			
			"Pacíficos são aqueles que vivem em paz com o próximo 
			e consigo mesmos, e procuram estabelecer a paz entre aqueles que 
			estão em discórdia"
			(São Pio X, Catecismo Maior, 931), e: 
			"Os 
			pacíficos, são os que odeiam as discussões e demandas injustas; os 
			que buscam, de preferência, tudo o que une e aproxima os corações; 
			os que têm, por assim dizer, o culto dos direitos alheios. Filhos da 
			paz, eles preferem ceder o seu direito, para não defendê-lo com 
			quebra da caridade"
			(Dom Duarte Leopoldo), e também: 
			"A palavra 
			'pacíficos' é a usual nas traduções e, além disso, etimologicamente 
			é fiel ao texto. No livro sagrado tem claramente um sentido ativo: 
			'os que promovem a paz' em si mesmos, nos outros e, sobretudo, como 
			fundamento do anterior, procuram reconciliar-se e reconciliar os 
			outros com Deus. A paz com Deus é a causa e o cume de toda a paz. 
			Será vã e enganadora qualquer paz no mundo que não se baseia nessa 
			paz divina. 'Serão chamados filhos de Deus': É um hebraísmo muito 
			frequente na Sagrada Escritura; é o mesmo que dizer 'serão filhos de 
			Deus'. A primeira Epístola de São João (1 Jo 3, 1) dá-nos a exegese 
			autêntica desta bem-aventurança: 'Vede que amor nos mostrou o Pai: 
			que sejamos chamados filhos de Deus e que realmente o sejamos"
			(Edições Theologica), 
			e ainda: "Ó 
			Deus, concedei que sejamos brandos e benignos uns com os outros, 
			segundo vossas entranhas de bondade e de doçura, ó Criador nosso! 
			Dai-nos unir-nos ao que piedosamente mantêm a paz, não aos que a 
			querem hipocritamente... Em vós fixemos o olhar, ó Pai e Criador do 
			universo, aceitando os magníficos e superabundantes dons e 
			benefícios da vossa paz. Fixemos na mente e contemplemos com os 
			olhos da alma a magnanimidade de vossos desígnios. Consideremos quão 
			brando vos mostrais com toda a vossa criação... Todas as coisas 
			ordenastes, ó grande Artífice e soberano de todo o universo, a fim 
			de que se mantenham em paz e concórdia. Derramastes sobre todas elas 
			os vossos benefícios, e mais copiosamente sobre nós, que nos 
			refugiamos em vossas misericórdias, por meio de Nosso Senhor Jesus 
			Cristo. A ele seja a glória e a majestade pelos séculos dos séculos"
			(São Clemente Romano, 
			Primeira Carta aos Coríntios, 14-15. 19-20), e:
			
			"Ó Senhor, como é bom amar a paz! Amar a paz é o 
			mesmo que possuí-la. E quem não quer ver crescer o objeto de seu 
			amor? Se desejo que poucos estejam em paz comigo, pouca será a paz 
			que terei. Para que esta minha posse aumente, tem de aumentar o 
			número de possuidores... Se distribuo pão, quanto maior for o número 
			daqueles a quem o repartir, tanto menor será a quantidade de pão 
			para cada um. Mas a paz é como aquele pão que nas mãos dos vossos 
			discípulos se multiplicava à medida em que era repartido e 
			distribuído. Dai-me, pois, a paz, Senhor! Para poder dá-la aos 
			outros, primeiro a tenha eu; que a possua eu, primeiro! Arda em mim 
			o fogo, para que o possa acender nos outros... Amante da paz, seja 
			eu, por primeiro, totalmente possuído por tua beleza e me abrase no 
			desejo de atraí-la aos demais. Vejam também eles o que vejo eu, amem 
			o que amo, possuam o que possuo"
			(Santo Agostinho, Sermão 357, 2-3), e também:
			
			"Foi o reino do céu prometido aos misericordiosos 
			como misericórdia, aos puros de coração como visão e aos pacíficos 
			como filiação divina. O homem pacífico, construtor da paz, merecerá, 
			de modo especial, ser reconhecido como filho daquele que é 'o Deus 
			do amor e da paz' (2 Cor 13, 11)... O cristão é verdadeiro filho de 
			Deus na medida em que prolonga no mundo a missão pacificadora do 
			Unigênito do Pai, o Bom Jesus, constituído, ele mesmo, 'nossa paz' (Ef 
			2, 14). Mas para ser portador da paz, precisa, antes de tudo, 
			possuí-la em si. Paz perfeita com Deus, vivendo com amor filial os 
			seus mandamentos, pacificando o coração e os desejos pessoais na 
			adesão amorosa à vontade do cristão e a de Deus. Paz perfeita com os 
			irmãos, cumprindo o preceito de Cristo: 'Tende paz uns com os 
			outros' (Lc 9, 50), 'Amai-vos uns aos outros, como eu vos amei' (Jo 
			15, 12). A paz que Cristo dá aos fiéis no batismo e continua dando 
			mediante os outros sacramentos, de modo especial por meio da 
			penitência, devem eles conservar intacta não só para sua própria 
			salvação, mas para que, transmitindo-a aos outros, se converta em 
			salvação de todos os homens e pacifique todo o mundo"
			(Pe. Gabriel de Santa Maria Madalena, Intimidade Divina, 333, 
			1). 
			  
			
			Em Mt 5, 10-12 diz:
			"Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, 
			porque deles é o Reino dos Céus.
			
			Bem-aventurados sois, quando vos injuriarem e vos perseguirem e, 
			mentindo, disserem todo o mal contra vós por causa de mim. 
			Alegrai-vos e regozijai-vos, porque será grande a vossa recompensa 
			nos céus, pois foi assim que perseguiram os profetas, que vieram 
			antes de vós". 
			  
			
			Quem são os que sofrem 
			perseguição por amor da justiça? 
			"Os que 
			sofrem perseguição por amor da justiça são aqueles que suportam com 
			paciência os escárnios, as censuras e as perseguições por causa da 
			Fé e da Lei de Jesus Cristo"
			(São Pio X, Catecismo Maior, 932), e: 
			
			"Acerca do significado de 'justiça' veja-se o dito em Mt 1, 19; 5, 
			6. Assim, pois, o sentido desta bem-aventurança é o seguinte: 
			bem-aventurados os que sofrem perseguição por ser santos ou pelo seu 
			empenho em ser santos, porque deles é o Reino dos Céus. Portanto, é 
			bem-aventurado o que sofre perseguição por ser fiel a Jesus Cristo e 
			a suporta não só com paciência mas com alegria. Na vida do cristão 
			apresentam-se circunstâncias heróicas, nas quais não têm lugar meios 
			termos; ou se é fiel a Jesus Cristo jogando-se a honra, a vida e os 
			bens, ou O renegamos"
			(Edições Theologica), e também: 
			"Esta 
			oitava bem-aventurança era como que a prerrogativa dos santos 
			mártires. O cristão que é fiel à doutrina de Jesus Cristo é de fato 
			também um 'mártir' (testemunha) que reflete ou cumpre esta 
			bem-aventurança, mesmo sem chegar à morte corporal"
			(São Bernardo de Claraval, Sermão da Festa de Todos os 
			Santos), e ainda: 
			"A justiça é a causa de 
			Deus. Os perseguidos combatem por ele, e ele se encarrega de os 
			recompensar como merecem, e ainda mais do que merecem" 
			(Dom Duarte Leopoldo), 
			e: 
			"Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça, 
			porque deles é o reino dos céus' (Mt 5, 10). Muitas vezes predisse 
			Jesus aos discípulos que deveriam compartilhar de sua sorte: 'Se o 
			mundo vos odeia, sabei que, antes de vós, a mim me odiou. Não é 
			maior o servo que seu Senhor. Se a mim perseguiram, hão de vos 
			perseguir também a vós. E virá o tempo em que todo o que vos matar, 
			julgará prestar culto a Deus' (Jo 15, 18. 20; 16, 2). Cristo não 
			enganou seus discípulos, nem lhes prometeu êxitos e triunfos! 
			Mostrou-lhes com clareza o mesmo caminho percorrido por ele: 
			contradições, ódios, perseguições e morte de cruz. Quem segue a 
			Cristo, se o quiser seguir deveras, não pode esperar outra coisa. O 
			que, no entanto, não quer dizer ser pessimista, nem desanimar, ou 
			viver na tristeza, pois ao mesmo tempo em que anuncia Jesus as 
			perseguições, aos discípulos, chama-os bem-aventurados. 
			'Bem-aventurados sereis quando vos injuriarem, vos perseguirem ou, 
			mentindo, disserem todo o mal contra vós' (Mt 5, 11). É a única 
			bem-aventurança reassumida e desenvolvida em vários versículos, como 
			para persuadir os discípulos de que aos olhos humanos é verdadeiro 
			contra-senso: considerem-se ditosos no sofrimento. Certamente, não 
			consiste a bem-aventurança diretamente na perseguição, que é sempre 
			real sofrimento físico e moral, mas no fato de ser, este sofrimento, 
			penhor de felicidade eterna. 'Alegrai-vos e regozijai-vos, disse 
			Jesus, porque grande será vossa recompensa no céu' (Idem. 12). Não 
			pede o Senhor ao cristão que chame gozo ao que é dor, nem exige que 
			seja indiferente à perseguição, a ponto de não sofrer com ela, mas 
			lhe pede que creia na sua palavra infalível: tudo o que padecer pela 
			causa de Deus, será, com certeza, transformado em gozo de vida 
			eterna. É a firmeza desta fé que permite aos santos gozar nas 
			perseguições padecidas por amor de Cristo, à imitação dos Apóstolos 
			que saiam dos tribunais 'alegres por terem sido julgados dignos de 
			sofrer ultrajes pelo nome de Jesus' (At 5, 41)"
			(Pe. Gabriel de Santa Maria Madalena, Intimidade Divina, 334, 
			1). 
			  
			
			Pe. Divino Antônio Lopes 
			FP. 
			
			Anápolis, 21 de agosto de 
			2007 
            
			  
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