JESUS ENTRE OS SAMARITANOS
(Jo 4,
1-42)
"1
Quando Jesus soube que os fariseus tinham ouvido dizer que ele fazia
mais discípulos e batizava mais que João -
2
ainda que, de fato, Jesus
mesmo não batizasse, mas os seus discípulos -
3
deixou a Judéia e retornou à
Galiléia. 4
Era preciso passar pela Samaria.
5
Chegou, então, a uma cidade da Samaria, chamada Sicar, perto da região
que Jacó tinha dado a seu filho José.
6 Ali se
achava a fonte de Jacó. Fatigado da caminhada, Jesus sentou-se junto à
fonte. Era por volta da hora sexta.
7
Uma mulher da Samaria chegou para tirar água. Jesus lhe disse: 'Dá-me
de beber!' 8
Seus discípulos tinham ido à cidade comprar alimento.
9
Diz-lhe, então a samaritana: 'Como, sendo judeu, tu me pedes de beber,
a mim que sou samaritana?' (Os judeus, com efeito, não se dão com os
samaritanos) 10
Jesus lhe respondeu: 'Se conhecesses o dom de Deus e quem é que te
diz: 'Dá-me de beber', tu é que lhe pedirias e ele te daria água
viva!' 11
Ela lhe disse: 'Senhor, nem sequer tens uma vasilha e o poço é
profundo; de onde, pois, tiras essa água viva?
12
És, porventura, maior que o nosso pai Jacó, que nos deu este poço, do
qual ele mesmo bebeu, assim como seus filhos e seus animais?'
13
Jesus lhe respondeu: 'Aquele que bebe desta água terá sede novamente;
14
mas quem beber da água que eu
lhe darei, nunca mais terá sede. Pois a água que eu lhe der
tornar-se-á nele uma fonte de água jorrando para a vida eterna'.
15
Disse-lhe a mulher: 'Senhor, dá-me dessa água, para que eu não tenha
mais sede, nem tenha de vir mais aqui para tirá-la!'
16
Jesus disse: 'Vai, chama teu marido e volta aqui'.
17
A mulher lhe respondeu: 'Não tenho marido'. Jesus lhe disse: 'Falaste
bem: 'não tenho marido',
18
pois tiveste cinco maridos e o que agora tens não é teu marido; nisso
falaste a verdade'.
19 Disse-lhe a mulher:
'Senhor, vejo que és um profeta...
20
Nossos pais adoraram sobre esta montanha, mas vós dizeis: é em
Jerusalém que está o lugar onde é preciso adorar'.
21
Jesus lhe disse: 'Crê, mulher, vem a hora em que nem sobre esta
montanha nem em Jerusalém adorareis o Pai.
22
Vós adorais o que não conheceis; nós adoramos o que conhecemos, porque
a salvação vem dos judeus.
23
Mas vem a hora - e é agora - em que os verdadeiros adoradores adorarão
o Pai em espírito e verdade, pois tais são os adoradores que o Pai
procura. 24
Deus é espírito e aqueles que o adoram devem adorá-lo em espírito e
verdade'. 25
A mulher lhe disse: 'Sei que vem um Messias (que se chama Cristo).
Quando ele vier, nos anunciará tudo'.
26
Desse-lhe Jesus: 'Sou eu, que falo contigo'.
27
Naquele instante, chegaram os seus discípulos e admiravam-se de que
falasse com uma mulher; nenhum deles, porém, lhe perguntou: 'Que
procuras?' ou: 'O que falas com ela?'
28
A mulher, então, deixou seu cântaro e correu à cidade, dizendo a
todos: 29
'Vinde ver um homem que me disse tudo o que fiz. Não seria ele o
Cristo?' 30
Eles saíram da cidade e foram ao seu encontro.
31
Enquanto isso, os discípulos
rogavam-lhe: 'Rabi, come!'
32
Ele, porém, lhes disse: 'Tenho para comer um alimento que não
conheceis'. 33
Os discípulos se perguntavam uns aos outros: 'Por acaso alguém lhe
teria trazido algo para comer?'
34
Jesus lhes disse: 'Meu alimento é fazer a vontade daquele que me
enviou e consumar a sua obra.
35
Não dizeis vós: 'Ainda quatro meses e chegará a colheita?' Pois bem,
eu vos digo: Erguei vossos olhos e vede os campos: estão brancos para
a colheita. Já 36
o ceifeiro recebe seu salário e recolhe fruto para a vida eterna, para
que o semeador se alegre juntamente com o ceifeiro.
37
Aqui, pois, se verifica o provérbio: 'um é o que semeia, outro o que
ceifa'. 38
Eu vos enviei a ceifar onde não trabalhastes; outros trabalharam e vós
entrastes no trabalho deles'.
39
Muitos samaritanos daquela cidade creram nele, por causa da palavra da
mulher que dava testemunho: 'Ele me disse tudo o que fiz!'
40
Por isso, os samaritanos vieram até ele, pedindo-lhe que permanecesse
com eles. E ele ficou ali dois dias.
41 Bem mais
numerosos foram os que creram por causa da palavra dele
42
e diziam à mulher: 'Já não é
por causa do que tu falaste que cremos. Nós próprios o ouvimos, e
sabemos que esse é verdadeiramente o salvador do mundo".
Em Jo
4, 1-3 diz: "Quando
Jesus soube que os fariseus tinham ouvido dizer que ele fazia mais
discípulos e batizava mais que João - ainda que, de fato, Jesus mesmo
não batizasse, mas os seus discípulos - deixou a Judéia e retornou à
Galiléia".
Edições Theologica comenta:
"Já começa a aparecer a
hostilidade dos fariseus contra Jesus. O Senhor, como não tinha
chegado ainda o tempo da Sua Paixão, retira-Se para o Norte da
Palestina, para a Galiléia, onde o influxo dos fariseus era menor. Com
isso Jesus Cristo evita que O matem antes do tempo assinalado por Deus
Pai", e:
"Deixando a Judéia, quis
Jesus evitar a animosidade dos fariseus e a inveja dos discípulos de
João. Exemplo de prudência a imitar"
(Dom Duarte
Leopoldo).
Depois de umas semanas em Jerusalém e noutros lugares da Judéia, Jesus
dirigiu-se para a Galiléia acompanhado dos seus discípulos:
"Existem duas rotas
principais. Uma mais longa, bordeava o Jordão. A outra, que tomará
nesta ocasião o Senhor, atravessava a Samaria e seguia o eixo
norte-sul pela linha dos cumes. Esta via secundária existia desde
sempre. Por ela caminharam os patriarcas, segundo o Gênesis, e aparece
expressamente citada na época dos juízes. Tinha a vantagem de
atravessar territórios bastante povoados, com água e alimentos, mas
contava com um sério inconveniente para o peregrino que ia ou voltava
de Jerusalém: passava por aldeias de samaritanos, inimigos
tradicionais dos judeus e sempre dispostos a boicotar as peregrinações
a Jerusalém. Por isso os galileus desistiam normalmente de tomar este
caminho, que em princípio era mais direto"
(Pe. Francisco
Fernández-Carvajal).
Em Jo
4, 4-6 diz: "Era
preciso passar pela Samaria. Chegou, então, a uma cidade da Samaria,
chamada Sicar, perto da região que Jacó tinha dado a seu filho José.
Ali se achava a fonte de Jacó. Fatigado da caminhada, Jesus sentou-se
junto à fonte. Era por volta da hora sexta".
Caminhavam Jesus e os seus discípulos pelo vale limitado pelo monte
Hebal ao norte e ao sul pelo Garizin, e estavam já muito próximos de
Sicar, a atual Ascar. Esta cidade estava próximo do campo que Jacó deu
a seu filho José.
Neste
lugar Jacó edificou um altar a Yahvé (Gn 33, 18-20), e o campo deu-o
como melhora a seu filho José (Gn 48, 21-22). Aqui foi enterrado o
próprio José (Js 24, 32). Também Abraão acampou neste lugar e recebeu
a promessa da bênção, antes de chegar a Betel (Gn 12, 6-8).
O Pe.
Francisco Fernández-Carvajal escreve:
"Chegou a pequena comitiva ao
poço em que, séculos antes, Jacó dessedentava os seus gados. Este poço
era o fim obrigatório de uma etapa do caminho que se tinha iniciado às
primeiras horas do dia. Era à volta da hora sexta, meio-dia, e os
discípulos continuaram até à próxima cidade para comprar alimentos. O
Senhor, fatigado do caminho, sentou-se junto ao poço. Talvez tenha
preferido ficar só",
e: "É comovedor
observar o Mestre esgotado. Além disso, tem fome: os discípulos foram
à povoação vizinha, para procurar algo de comer. E tem sede (...).
Quando nos cansemos - no trabalho, no estudo, na tarefa apostólica -,
quando encontremos oposição no horizonte, então, os olhos para Cristo:
para Jesus bom, para Jesus cansado, para Jesus faminto e sequioso.
Como te fazes entender, Senhor! Como te fazes querer! Mostraste-nos
como nós, em tudo menos no pecado: para que palpemos que contigo
poderemos vencer as nossas más inclinações, as nossas culpas. Porque
não importam nem o cansaço, nem a fome, nem a sede, nem as lágrimas...
Cristo cansou-se, passou fome, teve sede, chorou. O que importa é a
luta - uma contenda amável, porque o Senhor permanece sempre a nosso
lado - para cumprir a vontade do Pai que está nos céus"
(São Josemaría Escrivá, Amigos de Deus, nn. 176 e 201),
e também: "A hora
sexta, isto é, meio-dia. Admiremos a bondade do Salvador, esperando,
apesar da grande fadiga, a esta pobre pecadora, a fim de convertê-la e
fazer dela uma apóstola da cidade. Aprendamos a aproveitar, como ele,
todas as ocasiões para fazer o bem"
(Dom Duarte Leopoldo).
Em Jo 4, 7-8: "Uma
mulher da Samaria chegou para tirar água. Jesus lhe disse: 'Dá-me de
beber!' Seus discípulos tinham ido à cidade comprar alimento".
O
descanso do Salvador foi interrompido pela chegada de uma mulher que
vinha tirar água do poço, uma samaritana.
Nosso Senhor diz à mulher: "Dá-me de beber!"
Ele estava sozinho:
"Seus discípulos
tinham ido à cidade comprar alimento".
O
sacerdote quando vai ouvir os pecados de um penitente deve agir com
prudência e estar em um lugar seguro, para que ninguém ouça a
confissão; é preciso respeitar o penitente.
Edições Theologica comenta:
"Jesus veio salvar o que
estava perdido. Não poupará nenhum esforço para o conseguir. Eram
proverbiais os ódios entre Judeus e Samaritanos; contudo, Jesus Cristo
não exclui ninguém, mas o Seu amor estende-se a todas as almas, e por
todas e cada uma vai derramar o Seu sangue. Inicia o diálogo com esta
mulher mediante um pedido, que indica a grande delicadeza de Deus com
os homens: Deus Onipotente pede um favor à pobre criatura humana.
'Dá-Me de beber': Jesus pede de beber não só pela sede física, mas
porque tinha sede da salvação dos homens, por amor a eles. Estando
cravado na Cruz voltou a dizer: 'Tenho sede' (Jo 19, 28)",
e: "Uma mulher da
Samaria. Esta mulher chama-se Potina... Tendo chegado ao poço para
tirar água, não reparou, a princípio, no Salvador que ali estava
sentado. Mas Jesus lhe fala e pede-lhe de beber, ele que tinha sede
daquela alma. Assim os pecadores passam por Jesus, entram nas igrejas,
mas indiferentes e descuidados da sua alma. Jesus, porém, lhes fala:-
Dá-me de beber, dá-me o teu coração. Ai de quem fechar os ouvidos à
doçura da voz de um amigo tão dedicado!" (Dom Duarte
Leopoldo), e também:
"E veio uma mulher'.
Esta mulher é figura da Igreja, ainda não justificada, mas já em vias
de justificação; é disso que trata a narrativa. Veio sem conhecer o
Senhor, encontrou-o e ele lhe falou. Vejamos o fato e a razão por que
'veio uma mulher da Samaria tirar água'. Os samaritanos não pertenciam
ao povo judeu; eram estrangeiros. Faz parte do simbolismo da narração
o fato de vir de um povo estrangeiro essa mulher que representava a
Igreja, pois a Igreja viria dos gentios, dos que não pertenciam à raça
judaica. Ouçamos, portanto, a nós mesmos na pessoa dessa mulher:
reconheçamo-nos nela e nela demos graças a Deus por nós. Era uma
figura, não uma realidade; mas como ela mesma começou por ser figura,
tornou-se realidade. Pois acreditou naquele que queria torná-la uma
figura nossa. 'Veio tirar água'. Viera simplesmente tirar água, como
costumam fazer os homens e as mulheres" (Dos Tratados de
Santo Agostinho sobre o Evangelho de São João), e ainda:
"Ó Senhor, para oferecer-nos o mistério de vossa humildade vos
sentastes, cansado junto ao poço e pedistes de beber à samaritana. Vós
que nela fizestes nascer o dom da fé, vos dignastes ter sede de sua
fé; pediste-lhe água e nela acendestes o fogo do amor de Deus. Por
isso, supliquemos à vossa imensa misericórdia, abandonarmos as
profundas trevas do vício, deixar a água das más paixões, a fim de
experimentar, incessantemente, sede de vós que sois fonte de vida,
torrente de bondade"
(Prefácio ambrosiano, das orações dos primeiros cristãos, 326).
Em Jo
4, 9-12 diz: "Diz-lhe,
então a samaritana: 'Como, sendo judeu, tu me pedes de beber, a mim
que sou samaritana?' (Os judeus, com efeito, não se dão com os
samaritanos) Jesus lhe respondeu: 'Se conhecesses o dom de Deus e quem
é que te diz: 'Dá-me de beber', tu é que lhe pedirias e ele te daria
água viva! Ela lhe disse: 'Senhor, nem sequer tens uma vasilha e o
poço é profundo; de onde, pois, tiras essa água viva? És, porventura,
maior que o nosso pai Jacó, que nos deu este poço, do qual ele mesmo
bebeu, assim como seus filhos e seus animais?"
Santo
Agostinho comenta:
"Estais vendo que são estrangeiros: aos judeus não se serviam
absolutamente de seus cântaros. E como a mulher trazia consigo um
cântaro para tirar água, admirou-se de que um judeu lhe pedisse de
beber, pois os judeus não costumavam fazer isso. Mas aquele que pedia
de beber tinha sede da fé daquela mulher. Escuta então a quem pede de
beber; Jesus lhe respondeu: 'Se conhecesses o dom de Deus e quem é que
te diz: 'Dá-me de beber, tu é que lhe pedirias e ele dar-te-ia uma
água viva'. Pede de beber e promete uma bebida. Está necessitado e
precisa receber e possui em abundância para saciar os outros. 'Se
conhecesses, diz ele, 'o dom de Deus'. O dom de Deus é o Espírito
Santo. Jesus ainda fala veladamente à mulher, mas penetra aos poucos
em seu coração. Já está a ensinar. Que exortação haverá mais suave que
esta? 'Se conhecesses o dom de Deus e quem é que te diz: 'Dá-me de
beber', tu é que lhe pedirias e ele dar-te-ia uma água viva'. Que água
lhe daria, senão aquela da qual se disse: 'Em ti está a fonte da
vida?' 'Pois como podem ter sede os que se inebriam da opulência de
tua casa?"
(Dos Tratados sobre o Evangelho de São João),
e: "Desde a separação
das dez tribos e a ereção do bezerro de ouro em Samaria, capital do
reino de Israel, os samaritanos eram desprezados pelos judeus, e até
os seus sacrifícios eram recusados, no Templo. Um judeu nunca falava
com um samaritano, e não lhe podia pedir nem mesmo um pedaço de pão ou
um copo de água. Este ódio perseverou depois do cativeiro das dez
tribos, quando a Samaria foi povoada pelos pagãos. A resposta da
Samaritana ao Divino Mestre se encontra também nos lábios de muitos
pecadores! Eles não querem relações com Jesus e seus ministros.
Adivinha-se o pensamento do Salvador. Sob a imagem de uma água viva,
ele quer falar dos bens espirituais, do seu Evangelho, dos
sacramentos. Há grande diferença entre a água de um poço e a água
viva. A água do poço tira-se, com dificuldade, do fundo onde dorme. A
água viva jorra por si mesma à flor da terra, tem movimento, tem vida.
O dom de Deus é a graça concedida a esta mulher e, na sua pessoa, a
todos os homens, de poder conversar com o Salvador"
(Dom Duarte Leopoldo), e também: "A
resposta da samaritana torna possível o diálogo e mostra o acolhimento
que na sua alma vai tendo a ação da graça: a própria aceitação de
falar com Cristo, que era judeu, não deixa de ser o primeiro passo na
transformação que começa a operar-se. Depois (v. 11), ao não tomar por
banais as palavras de Jesus, dá outro passo na sua abertura à
intervenção divina. Afloram os seus sentimentos religiosos, que agora
se reavivam ('o nosso pai Jacó', v. 12)" (Edições
Theologica).
Em Jo 4, 13-14 diz:
"Jesus lhe respondeu: 'Aquele
que bebe desta água terá sede novamente; mas quem beber da água que eu
lhe darei, nunca mais terá sede. Pois a água que eu lhe der
tornar-se-á nele uma fonte de água jorrando para a vida eterna".
Santa
Teresa d' Ávila escreve:
"Falando à samaritana,
dissestes: 'Quem beber da água que eu der, jamais terá sede'. Oh! Como
são reais e verdadeiras estas palavras pronunciadas por vós. Verdade
eterna! Sim, quem bebe daquela água, já não terá sede de coisa alguma
terrena, mas ficará muito mais sequioso das coisas do céu. É um
tormento de que mal se pode fazer idéia pela sede natural, neste
mundo. Com que ansiedade, Senhor, desejo esta sede, pois seu alto
valor me fazeis compreender!"
(Caminho 19, 2),
e: "Quem receber dessa
água, terá em si princípio permanente de vida eterna, a graça
santificante que comunica Jesus aos que nele crêem. É ele a fonte
inexaurível: quem se aproxima, recebe! Recebe primeiramente por meio
do batismo que, no sinal sacramental, repete o simbolismo da água. Mas
para beber desta água viva e vivificante, é preciso crer"
(Pe. Gabriel de
Santa Maria madalena, Intimidade Divina, 69),
e também: "A resposta do Senhor é surpreendente e de grande interesse
para aquela mulher. Tem diante alguém maior que Jacó; oferece-lhe uma
água capaz de saciar a sede de uma vez para sempre. Cristo está a
referir-Se à transformação que realiza em cada homem a participação da
vida divina, a graça santificante, a presença do espírito Santo, o dom
mais excelente que haveriam de receber todos os que cressem n'Ele. São
muitas as ansiedades que se agitam no nosso interior, intensos os
desejos de felicidade e de paz; quem recebe o Senhor e se une a Ele
como os sarmentos à videira (cfr Jo 15, 4-5), não só sacia a sua sede,
mas, além disso, transforma-se em fonte de água viva (cfr Jo 7,
37-39)" (Edições
Theologica),e ainda:
"Quem uma vez gozou
dos bens celestes, não tem mais gosto para os da terra. A água que
Jesus nos dá tem propriedades maravilhosas: aplaca a sede, extingue as
dores da carne, purifica, faz germinar as virtudes, reflete a luz do
céu, levanta-nos a alma e a inunda de pensamentos celestes. Jorra com
tanta força que nos transporta consigo à eternidade"
(Dom Duarte
Leopoldo).
Em Jo
4, 15 diz: "Disse-lhe
a mulher: 'Senhor, dá-me dessa água, para que eu não tenha mais sede,
nem tenha de vir mais aqui para tirá-la!"
A
samaritana, com bastante ingenuidade, pensa que se refere à água
corrente, à que ela necessita cada dia.
Santo
Agostinho comenta: "O
Senhor prometia à mulher um alimento forte, prometia saciá-la com o
Espírito Santo, mas ela não compreendia, e como não compreendesse, que
respondeu? Disse-lhe então a mulher: 'Senhor, dá-me dessa água, para
que não sinta mais sede nem tenha de vir aqui tirá-la'. A necessidade
a obrigava a fatigar-se, mas sua fraqueza recusava a fadiga. Pudesse
ela escutar as palavras do Senhor: 'Vinde a mim, todos os que estais
cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei!' Jesus dizia-lhe tudo aquilo
para que não mais se fatigasse, mas ela ainda não compreendia"
(Dos Tratados sobre o Evangelho de São João),
e: "A samaritana não
conhece ainda o mistério de que lhe fala Jesus, mas começa a desejar
conhecê-lo. Sob o encanto das palavras do Salvador, a pobre pecadora
começa a sentir sede dessa água viva que ele promete. - Senhor, lhe
diz ela, dá-me dessa água para que eu não tenha mais sede"
(Dom Duarte
Leopoldo).
Em Jo
4, 16-19 diz: "Jesus
disse: 'Vai, chama teu marido e volta aqui'. A mulher lhe respondeu:
'Não tenho marido'. Jesus lhe disse: 'Falaste bem: 'não tenho marido',
pois tiveste cinco maridos e o que agora tens não é teu marido; nisso
falaste a verdade'. Disse-lhe a mulher: 'Senhor, vejo que és um
profeta..."
Jesus
falava da graça santificante; por isso enfrenta-se com o obstáculo
principal que se opõe a ela: o pecado.
"Vai, chama teu marido e volta aqui".
A samaritana responde com toda a simplicidade:
"Não tenho marido".
A
sinceridade da samaritana abre-lhe as portas para a graça. Cristo
Jesus conhecia muito bem a sua situação moral:
"Falaste bem: 'não tenho marido', pois tiveste cinco maridos e o que
agora tens não é teu marido; nisso falaste a verdade".
Feliz
do católico que é sincero na confissão. Quem é sincero recebe o perdão
dos pecados; aquele que mente comete sacrilégio.
Edições Theologica comenta:
"Ainda que a mulher não
pudesse ainda captar o sentido profundo daquelas palavras, Jesus
aproveita o interesse crescente da samaritana para lhe ir manifestando
a Sua condição divina: conhece a sua vida, os segredos do seu
coração, lê na sua consciência. Presta-lhe assim o motivo imediato
para a sua confissão inicial de fé: 'Vejo que és profeta'. Aqui está
já o começo da sua conversão",
e: "Notai a doçura e a
habilidade com que Nosso Senhor encaminha esta alma à confissão da sua
falta, ao arrependimento e ao perdão. Começa por lhe pedir água, e vai
depois, aos poucos, insensivelmente insinuando-se no espírito da
pecadora, até desvendar-lhe os grandes mistérios da religião e
rendê-la, por fim, ao seu amor. Como um caçador infatigável, Jesus
persegue a sua presa, lança-a no caminho da confissão, ajudando-a,
animando-a com a sua bondade. Por duas vezes, durante a confissão,
acha ele o meio de louvar a samaritana, para melhor vencer a sua
repugnância:- Disseste bem: não tenho marido. Nisto falaste a verdade.
- Jesus é um médico hábil, um salvador compassivo, um confessor
discreto. Que cegueira a do pecador que fecha o coração às influências
da sua graça!" (Dom Duarte Leopoldo).
Começou a mulher a chamar-lhe "Senhor..." Agora está convencida
de que é um profeta: aquele peregrino conhece a sua vida e os segredos
do seu coração, lê na sua alma!
Em Jo
4, 20 diz: "Nossos
pais adoraram sobre esta montanha, mas vós dizeis: é em Jerusalém que
está o lugar onde é preciso adorar".
Esta
mulher que, apesar da sua má vida anterior, tem um sentido religioso
profundo, pergunta em que lugar se pode encontrar e adorar a Deus:
"Nossos pais adoraram sobre esta montanha, mas vós dizeis: é em
Jerusalém que está o lugar onde é preciso adorar".
O Pe.
Francisco Fernández-Carvajal escreve:
"Era a velha questão, que
afetava a essência da vida religiosa daqueles dois povos: a
legitimidade do lugar onde devia dar-se culto a Deus. Os judeus
consideravam o Templo de Jerusalém como o único em que se devia louvar
a Yahvé. O seu Templo era único, e era o centro de tudo. Pelo
contrário, os samaritanos reclamavam também a legitimidade para o
santuário do monte Garizin, que estava destruído. Se os judeus
tivessem ouvido Jesus, ter-se-iam escandalizado: chegou o tempo -
disse - em que a adoração a Deus não estará ligada a um lugar
concreto, nem a este monte onde se tinha edificado o templo
samaritano, nem tão pouco a Jerusalém. A salvação, desde logo, vem dos
judeus, mas não é só para eles: é para todos quantos adorem a Deus. O
lugar do culto verdadeiro é o coração de cada homem e de cada mulher,
em qualquer lugar onde se encontrem. Deus é espírito, e os que o
adoram hão de adorá-lo em espírito e verdade",
e: "A origem do povo
samaritano remonta à época da conquista da Samaria por parte da
Assíria, século VIII a. C. (cfr 2 Rs 13, 24-31). Estava constituído
por estrangeiros que muito depressa chegaram a fundir-se com os
israelitas da região. No fim do exílio de Babilônia procuraram
associar-se aos Judeus por raízes de caráter político, e contribuir
para a restauração do Templo de Jerusalém, mas não foram aceitos.
Desde então a hostilidade entre Judeus e Samaritanos foi permanente (cfr
Esd 4, 1 ss.; Jo 4, 9). Nesta ocasião, a samaritana, convencida de
estar diante de quem tem autoridade, propõe ao Senhor uma das questões
mais vitais que afetavam a vida religiosa de ambos os povos: a
legitimidade do lugar onde devia dar-se culto a Deus; os Judeus
defendiam que só o Templo de Jerusalém devia considerar-se legítimo;
pelo contrário, os Samaritanos reclamavam esta legitimidade também
para o santuário levantado no monte Garizin, apoiando-se na
interpretação de alguns passos do Pentateuco (cfr Gn 12, 7; 33, 20;
22, 2)" (Edições
Theologica).
Em Jo
4, 21-24 diz: "Jesus
lhe disse: 'Crê, mulher, vem a hora em que nem sobre esta montanha nem
em Jerusalém adorareis o Pai. Vós adorais o que não conheceis; nós
adoramos o que conhecemos, porque a salvação vem dos judeus. Mas vem a
hora - e é agora - em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em
espírito e verdade, pois tais são os adoradores que o Pai procura.
Deus é espírito e aqueles que o adoram devem adorá-lo em espírito e
verdade".
Jesus
não Se limita a responder a pergunta, mas aproveita a ocasião para
confirmar o valor dos ensinamentos ministrados pelos profetas e
reafirmar assim a verdade revelada:
"Os Samaritanos ignoram
grande parte dos desígnios divinos porque prescindem de toda a
revelação que não se acha nos cinco primeiros livros das Sagradas
Escrituras, na Lei de Moisés; os Judeus, pelo contrário, estão mais
próximos da verdade ao aceitarem todo o Antigo Testamento. Mas uns e
outros devem abrir-se à nova Revelação de Jesus Cristo. Com a chegada
do Messias, que ambos os povos esperavam, e que é a verdadeira morada
de Deus no meio dos homens (cfr Jo 2, 19), inicia-se a Nova Aliança,
que é definitiva, e em que Garizin ou Jerusalém ficam superados; o que
agrada ao Pai é que todos aceitem o Messias, Seu Filho, o novo Templo
de Deus, com um culto que brota do coração do homem (cfr Jo 12, 1; 2
Tm 2, 22) e que o próprio Espírito de Deus suscita (cfr Rm 8, 15)" (Edições
Theologica), e:
"Isto é, o Messias,
que deve nascer entre os judeus. O conhecimento de Deus se achava
quase de todo obscurecido entre os samaritanos, principalmente depois
que se misturaram com os pagãos. Os judeus, pelo contrário,
conservaram melhor as suas tradições de fé"
(Dom Duarte Leopoldo).
"Mas vem a
hora - e é agora - em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em
espírito e verdade, pois tais são os adoradores que o Pai procura.
Deus é espírito e aqueles que o adoram devem adorá-lo em espírito e
verdade".
Dom
Duarte Leopoldo comenta:
"Os cristãos, espalhados por
todo o mundo, renderão a Deus um culto mais conforme à sua natureza,
isto é, um culto que consiste sobretudo em atos de fé, esperança e
caridade. Eles não oferecerão mais, como os judeus, sacrifícios
grosseiros, mas a vitima verdadeiramente santa, Jesus Cristo no
Sacramento da Eucaristia. Verdadeiros adoradores quer dizer sinceros,
dignos do nome de adoradores do verdadeiro Deus. Os cristãos adoram a
Deus em espírito porque não restringem o culto que lhe é devido a um
lugar determinado, como os samaritanos ao Garizin, e os judeus ao
templo de Jerusalém. Deus pode e deve ser honrado em toda parte,
porque está em toda parte, ainda que deva ser particularmente adorado
nos lugares que, para esse fim, lhe foram reservados. Os cristãos
adoram em verdade, porque não fazem consistir o culto nas cerimônias
legais que eram apenas sombras da realidade que hoje temos. Adoram em
verdade ou com verdade, porque substituem a circuncisão, as
purificações mosaicas, os sacrifícios de animais, pelas purificações
e, sobretudo, pelo sacrifício do coração, oferecendo a Deus, como diz
São Paulo, todo o seu corpo com uma hóstia viva, santa e digna da
Majestade divina".
Em Jo
4, 25-26: "A mulher
lhe disse: 'Sei que vem um Messias (que se chama Cristo). Quando ele
vier, nos anunciará tudo'. Desse-lhe Jesus: 'Sou eu, que falo contigo".
Flávio Josefo diz-nos que os samaritanos aguardavam a chegada do
Messias, que designavam com o nome de Ta'eb, o que há de vir
(Antiguidades, XVIII, 4, 1).
A
mulher intuiu que o peregrino judeu era um profeta. Suspeitou que
tinha diante de si o Messias. De qualquer modo, Jesus revelou-lhe o
que tinha ocultado às turbas:
"Sou eu, que falo contigo".
Declara que Ele é
o Messias, o Cristo, e fá-lo dizendo:
"Sou eu",
como Yahvé se tinha revelado a Moisés. Estas palavras na boca de Jesus
dirigem-se a uma revelação não só do seu messianismo, mas também da
sua divindade.
Edições Theologica comenta:
"A samaritana chegou à última
etapa da sua conversão: do reconhecimento dos seus pecados passou a
aceitar a doutrina verdadeira: adorar o Pai em espírito e em verdade.
Mas ainda lhe falta reconhecer Jesus como o Messias; ela confessa com
simplicidade a sua ignorância neste ponto. Diante desta disposição
favorável, Jesus revela-Se com clareza como o Messias: 'Sou Eu que
estou a falar contigo'. As palavras do Senhor são particularmente
significativas: declara que é o Messias, e fá-lo dizendo 'Eu sou',
expressão que evoca a que Yahvé tinha empregado para Se revelar a
Moisés (cfr Ex 3, 14), e que na boca de Jesus aponta para uma
revelação não só do Seu messianismo mas também da Sua divindade (cfr
Jo 8, 24. 28. 58; 18, 6)".
Em Jo
4, 27 diz: "Naquele
instante, chegaram os seus discípulos e admiravam-se de que falasse
com uma mulher; nenhum deles, porém, lhe perguntou: 'Que procuras?'
ou: 'O que falas com ela?"
Dom
Duarte Leopoldo escreve:
"A admiração dos apóstolos
mostra quanto Jesus era reservado em seus hábitos",
e: "Jesus Cristo,
Nosso Senhor, foi, ao longo da Sua vida sobre a terra, coberto de
impropérios e maltratado de todas as maneiras possíveis. Lembrais-vos?
Diziam que Se comportava como um revoltoso e afirmaram que estava
endemoninhado (cfr Mt 11, 18). Noutra altura, interpretaram mal as
manifestações do Seu Amor infinito e classificaram-No como amigo de
pecadores (cfr Mt 9, 11). Mais tarde, a Ele, que é a própria
penitência e a própria temperança, lançam-Lhe à cara que frequentava a
mesa dos ricos (cfr Lc 19, 7). Também Lhe chamam depreciativamente
fabri filius (Mt 13, 55), filho do trabalhador, do carpinteiro, como
se isso fosse uma injúria. Permite que O rotulem de bebedor e
comilão... Deixa que O acusem de tudo, exceto de que não é casto. Não
o deixou dizer isso, porque quer que nós conservemos com toda nitidez
esse exemplo: um modelo maravilhoso de pureza, de limpeza, de luz, de
amor que sabe queimar todo o mundo para o purificar. Gosto de me
referir à santa pureza, contemplando sempre a conduta de Nosso Senhor,
porque Ele a viveu com grande delicadeza. Reparai no que relata São
João quando, Jesus, fatigatus ex itinere, sedebat sic supra fontem (Jo
4, 6), cansado do caminho Se sentou à borda do poço (...). Mas, mais
do que a fadiga do corpo, consome-O a sede de almas. Por isso, ao
chegar a samaritana, aquela mulher pecadora, o coração sacerdotal de
Cristo derrama-se, diligente, para recuperar a ovelha perdida,
esquecendo o cansaço, a fome e a sede. Ocupava-Se o Senhor com aquela
grande obra de caridade, quando os apóstolos voltaram na cidade e
mirabantur quia cum muliere loquebatur (Jo 4, 27), ficaram
surpreendidos por estar a falar a sós com uma mulher. Como era
cuidadoso! Que amor à virtude encantadora da santa pureza, que nos
ajuda a ser mais fortes, mais rijos, mais fecundos, mais capazes de
trabalhar por Deus, mais capazes de tudo o que é grande!"
(São Josemaría
Escrivá, Amigos de Deus, 176).
Em Jo
4, 28-30 diz: "A
mulher, então, deixou seu cântaro e correu à cidade, dizendo a todos:
'Vinde ver um homem que me disse tudo o que fiz. Não seria ele o
Cristo?' Eles saíram da cidade e foram ao seu encontro".
A
atenção desta mulher centra-se exclusivamente em Jesus. Ele enche
tudo. Esquece-se do motivo pelo qual foi ao poço e corre à povoação a
comunicar a sua grande descoberta:
"Os Apóstolos, quando foram
chamados, deixaram as redes; esta deixa o seu cântaro e anuncia o
Evangelho, e não chama somente um, mas remove toda a cidade"
(São João Crisóstomo, Hom. sobre São João, 33).
Católico, se você possui verdadeiramente a Nosso Senhor, deixe o
comodismo e o apego às coisas da terra e seja um fervoroso
missionário; dize a todos que Jesus Cristo é Deus, e que somente n'Ele
é possível encontrar a verdadeira felicidade e segurança.
Hoje,
são milhões aqueles que já ouviram falar de Cristo Jesus; fizeram a
primeira Comunhão e a Crisma, mas vivem adormecidos na "poltronice". O
que esses infelizes dirão a Deus na hora do terrível Julgamento?
Edições Theologica comenta:
"A transformação que a graça
opera nessa mulher é maravilhosa. O pensamento da samaritana centra-se
agora somente em Jesus e, esquecendo-se do motivo que a tinha levado
ao poço, deixa o seu cântaro e dirige-se à aldeia, desejando comunicar
a sua descoberta... Toda a conversão autêntica projeta-se
necessariamente para os outros, num desejo de os tornar participantes
da alegria de se ter encontrado com Jesus",
e: "Não somente a
samaritana se converte, mas torna-se ainda uma apóstola. Estas almas
ardentes são sempre extremadas: ou fazem grande bem, ou causam males
incalculáveis; provocam incêndios violentos ou iluminam docemente. A
samaritana deixa aos pés de Jesus o cântaro e... o pecado. Ali viera
criminosa e volta purificada, viera buscar água e volta cheia de
graça" (Dom Duarte Leopoldo).
Em Jo 4, 31-38 diz:
"Enquanto isso, os discípulos
rogavam-lhe: 'Rabi, come!' Ele, porém, lhes disse: 'Tenho para comer
um alimento que não conheceis'. Os discípulos se perguntavam uns aos
outros: 'Por acaso alguém lhe teria trazido algo para comer?' Jesus
lhes disse: 'Meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou e
consumar a sua obra. Não dizeis vós: 'Ainda quatro meses e chegará a
colheita?' Pois bem, eu vos digo: Erguei vossos olhos e vede os
campos: estão brancos para a colheita. Já o ceifeiro recebe seu
salário e recolhe fruto para a vida eterna, para que o semeador se
alegre juntamente com o ceifeiro. Aqui, pois, se verifica o provérbio:
'um é o que semeia, outro o que ceifa'. Eu vos enviei a ceifar onde
não trabalhastes; outros trabalharam e vós entrastes no trabalho
deles".
Jesus
Cristo amou ardentemente e cumpriu com toda a perfeição a vontade do
Pai. Ele pôde dizer ao entrar no mundo:
"Eis que venho, ó Deus, para
fazer a tua vontade"
(Hb 10, 7; Sl 40, 7).
E só Ele pode afirmar:
"Eu faço sempre o que agrada
a ele", ao Pai.
Na oração da sua agonia, acolherá com plenitude esta vontade:
"Não se faça a minha vontade, mas a tua, e entregar-se-á a si
mesmo pelos nossos pecados segundo a vontade de Deus"
(Gl 1, 4). E em
virtude desta vontade somos santificados (Hb 10, 10).
Se o discípulo deseja imitar o seu Senhor, esta há de ser a sua
atitude profunda, ainda que alguma vez não entenda de todo as coisas
que sucedem à sua volta e que Deus permite para um maior bem. Não
serão poucas as vezes em que deverá realizar atos de identificação com
o querer divino. E virá então a paz e a serenidade à sua alma. O seu
'alimento', o que lhe dá fortaleza, é também a segurança de estar a
fazer na vida a vontade do Pai
(V. J).
"Ainda
quatro meses e chegará a colheita..."
Alguns só dão a esta frase
um sentido proverbial (cfr J. COLLANTES, La más antigua interpretación
de Jo 4, 35, em Estúdios eclesiásticos 27 (1953), pp. 339-345). A
ceifa tinha lugar a princípios de junho. Se os campos estão já a ponto
para a colheita, devemos encontrar-nos no mês de Maio. A Páscoa teve
lugar em Abril. Jesus deve ter estado só umas semanas em Jerusalém e
em lugares próximos da cidade antes de empreender este regresso à
Galiléia (V. J).
Edições Theologica comenta:
"O Senhor aproveita a ocasião
para falar de um alimento espiritual: cumprir a vontade de Deus. Acaba
de realizar a conversão de uma mulher pecadora, e isto sacia as ânsias
do Seu espírito. A conversão das almas há de servir de alimento aos
Apóstolos e também a todos os que pela ordenação sacerdotal são
associados sacramentalmente ao ministério de Cristo (cfr 1 Cor 4,
9-15. 2Cor 4, 7-12; 11, 27-29). A missão apostólica umas vezes é
sementeira, sem frutos iminentes, e outras vezes, colheitas do que
outros semearam. Os Apóstolos colherão o que Patriarcas e Profetas e
sobretudo Cristo semearam com generosidade. E, por sua vez, terão de
preparar o terreno, com a mesma entrega, para que outros possam
colher".
Em Jo
4, 39-42 diz: "Muitos
samaritanos daquela cidade creram nele, por causa da palavra da mulher
que dava testemunho: 'Ele me disse tudo o que fiz!' Por isso, os
samaritanos vieram até ele, pedindo-lhe que permanecesse com eles. E
ele ficou ali dois dias. Bem mais numerosos foram os que creram por
causa da palavra dele e diziam à mulher: 'Já não é por causa do que tu
falaste que cremos. Nós próprios o ouvimos, e sabemos que esse é
verdadeiramente o salvador do mundo".
O Pe.
Francisco Fernández-Carvajal escreve:
"E foram ao poço onde estava
Jesus. Passaram a tarde com Ele. E pediram-lhe que se detivesse mais
tempo com eles. E Jesus ficou ali nada menos de dois dias. As
conversões foram abundantes. Todos se esqueceram de que aquele
peregrino era judeu e eles samaritanos. Diante de Jesus desapareceram
ódios e preconceitos de séculos. Uns dias antes deste encontro
ter-lhes-ia parecido impossível. São João diz-nos: 'Bem mais numerosos
foram os que creram por causa da palavra dele e diziam à mulher: 'Já
não é por causa do que tu falaste que cremos. Nós próprios o ouvimos,
e sabemos que esse é verdadeiramente o salvador do mundo'. São João
não nos fala do que aconteceu naqueles dois dias na povoação
samaritana, mas devemos supor que as conversões foram duradouras.
Pouco depois da Ascensão, dois dos discípulos, Pedro e João, voltarão
à Samaria para confirmar os convertidos que tinham sido catequizados
com mais pormenor pelo diácono Filipe e outros (At 8, 5-8). Alguns,
sem dúvida, recordariam os dias em que o Senhor permaneceu com eles".
O
episódio apresenta todo um processo de evangelização que se inicia com
o entusiasmo da samaritana.
Santo
Agostinho comenta:
"Tal como acontece hoje aos que estão fora e não são cristãos: começam
os seus amigos cristãos por dar-lhes notícias de Cristo, como fez
aquela mulher, tal como faz a Igreja; depois vêm a Cristo, isto é,
crêem em Cristo por esta notícia e, finalmente, Jesus fica com eles
dois dias, e com isto crêem muito mais e com mais firmeza que Ele é na
verdade Salvador do mundo"
(In Ioann. Evang., 15, 33).
Católico, imite o exemplo da samaritana. Quanto bem pode fazer às
almas um católico fervoroso; vale mais um católico santo do que mil
católicos medíocres.
Pe.
Divino Antônio Lopes FP.
Anápolis, 30 de agosto de 2007
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