CURA DE UM CEGO DE NASCENÇA
(Jo 9,
1-41)
"1
Ao passar, ele viu um homem, cego de nascença.
2 Seus discípulos lhe perguntaram: 'Rabi, quem pecou, ele ou seus
pais, para que nascesse cego?'
3 Jesus respondeu: 'Nem ele nem seus pais pecaram, mas é para que nele
sejam manifestadas as obras de Deus.
4 Enquanto é dia, temos de realizar as obras daquele
que me enviou; vem a noite, quando ninguém pode trabalhar.
5
Enquanto
estou no mundo, sou a luz do mundo'.
6 Tendo dito isso, cuspiu na terra, fez lama com a saliva, aplicou-a
sobre os olhos do cego
7 e lhe disse: 'Vai lavar-te na piscina de Siloé - que quer dizer
'Enviado'. O cego foi, lavou-se e voltou vendo.
8 Os vizinhos, então, e os que estavam acostumados a
vê-lo antes, porque era mendigo, diziam: 'Não é esse que ficava
sentado a mendigar?'
9
Alguns diziam: 'É ele'. Diziam outros: 'Não, mas alguém parecido com
ele'. Ele, porém, dizia: 'Sou eu mesmo'.
10
Perguntaram-lhe, então: 'Como se abriram os teus olhos?'
11 Respondeu: 'o homem chamado Jesus fez lama,
aplicou-a nos meus olhos e me disse: 'Vai a Siloé e lava-te'. Fui,
lavei-me e recobrei a vista'.
12
Disseram-lhe: 'Onde está ele?' Disse: 'Não sei'.
13 Conduziram o que fora cego aos fariseus.
14
Ora, era sábado o dia em que Jesus fizera lama e lhe abrira os olhos.
15 Os fariseus perguntaram-lhe novamente como tinha
recobrado a vista. Respondeu-lhes: 'Ele aplicou-me lama nos olhos,
lavei-me e vejo'.
16
Diziam, então, alguns dos fariseus: 'Esse homem não vem de Deus,
porque não guarda o sábado'. Outros diziam: 'Como pode um homem
pecador realizar tais sinais?' E havia cisão entre eles.
17
De novo disseram ao cego: 'Que dizes de quem te abriu os olhos?'
Respondeu: 'É um profeta'.
18
Os judeus
não creram que ele fora cego enquanto não chamaram os pais do que
recuperara a vista
19
e perguntaram-lhes: 'Este é o vosso filho, que dizeis ter nascido
cego? Como é que agora ele vê?'
20
Seus pais então responderam: 'sabemos que este é nosso filho e que
nasceu cego.
21
Mas como agora ele vê não o sabemos; ou quem lhe abriu os olhos não o
sabemos. Interrogai-o. Ele tem idade. Ele mesmo se explicará'.
22 Seus pais assim disseram por medo dos judeus, pois
os judeus já tinham combinado que, se alguém reconhecesse Jesus como
Cristo, seria expulso da sinagoga.
23 Por isso, seus pais disseram. 'Ele já tem idade;
interrogai-o'.
24 Chamaram, então, uma segunda vez, o homem que fora cego e lhe
disseram: ' Dá glória a Deus! Sabemos que esse homem é pecador'.
25
Respondeu ele: 'Se é pecador, não sei. Uma coisa eu sei: é que eu era
cego e agora vejo'.
26
Disseram-lhe, então: 'Que te fez ele? Como te abriu os olhos?'
27 Respondeu-lhes: 'Já vos disse e não ouvistes. Por
que quereis ouvir novamente? Por acaso quereis também tornar-vos seus
discípulos?'
28
Injuriaram-no e disseram: 'Tu, sim, és seu discípulo; nós somos
discípulos de Moisés.
29
Sabemos que Deus falou a Moisés; mas esse, não sabemos de onde é'.
30 Respondeu-lhes o homem: 'Isso é espantoso: vós não
sabeis de onde ele é e, no entanto, abriu-me os olhos!
31
Sabemos que Deus não ouve os pecadores; mas se alguém é religioso e
faz a sua vontade, a este ele escuta.
32
Jamais se ouviu dizer que alguém tenha aberto os olhos de um cego de
nascença.
33
Se esse homem não viesse de Deus, nada poderia fazer'.
34 Responderam-lhe: 'Tu nasceste todo no pecado e nos ensinas?' E o
expulsaram.
35
Jesus ouvir dizer que o haviam expulsado. Encontrando-o, disse-lhe:
'Crês no filho do Homem?'
36
Respondeu ele: 'Quem é, Senhor, para que eu nele creia?'
37 Jesus lhe disse: 'Tu o estás vendo, é quem fala
contigo'.
38
Exclamou ele: 'Creio, Senhor!' E prostrou-se diante dele.
39 Então disse Jesus: 'Para um discernimento é que
vim a este mundo: para que os que não vêem, vejam, e os que vêem,
tornem-se cegos'.
40
Alguns fariseus, que se achavam com ele, ouviram isso e lhe disseram:
'Acaso também nós somos cegos?'
41
Respondeu-lhes Jesus: 'Se fôsseis cegos, não teríeis pecado; mas
dizeis: 'Nós vemos!' Vosso pecado permanece".
Em Jo 9,
1-3 diz:
"Ao passar, ele viu um homem, cego de nascença. Seus discípulos lhe
perguntaram: 'Rabi, quem pecou, ele ou seus pais, para que nascesse
cego? Jesus respondeu: 'Nem ele nem seus pais pecaram, mas é para que
nele sejam manifestadas as obras de Deus".
Nosso
Senhor Jesus Cristo passava por uma rua de Jerusalém e viu um homem
cego de nascença:
"Este homem
devia ser ainda jovem, segundo parece pelo tom do relato, e devia de
se encontrar num lugar frequentado da cidade, talvez numa das portas
exteriores do Templo, e pedia esmola aos transeuntes"
(Pe. Francisco Fernández-Carvajal).
Cristo
Jesus não passa com indiferente diante daqueles que necessitam de seu
apoio:
"... ele
viu um homem, cego de nascença".
São João Crisóstomo escreve:
"Jesus curou o cego ao sair
do Templo, porque os judeus não haviam compreendido a sublimidade de
suas palavras, querendo... aplacar o furor e abrandar a dureza deles
por meio de um milagre. Dava desta maneira testemunho do que se havia
dito d'Ele: 'E ao passar Jesus, viu um homem cego de nascimento', etc.
Devemos notar aqui, que a primeira ação que faz ao sair do Templo é a
obra que devia manifestá-lo ante os homens, porque foi Ele quem viu o
cego, não se aproximou d'Ele o cego. E com cuidado o olhou, que ao
notar, seus discípulos lhe perguntaram: 'Mestre, quem pecou?', etc"
(In Joan. Hom
55).
O olhar
bondoso do Senhor, que talvez se deteve também, motivou a pergunta dos
discípulos:
"Rabi, quem pecou, ele ou seus pais, para que nascesse cego?"
O Pe.
Francisco Fernández-Carvajal escreve:
"Dão como suposto, seguindo o preconceito popular, que a doença
tinha a sua origem no pecado. Por curiosidade, queriam saber se o mal
foi cometido pelos pais ou pelo filho".
Esta
crença estava muito arraigada no povo. E era favorecida por algumas
passagens do Antigo Testamento que falam de prêmios para o justo e de
castigos para os pecadores, e que geralmente eram entendidas num plano
humano e terreno. Alguns rabinos falavam inclusive de uma
responsabilidade pré-natal. No livro de Jó, porém, ensina-se que os
males temporais não são sempre castigo. Isso é o que dirá o Senhor;
inclusive podem ser motivo para que se glorifique a Deus. Assim
acontecerá também com a morte de Lázaro, cuja doença não é de morte,
mas para glória de Deus (Jo 11, 4); muitos dos judeus que tinham vindo
à casa de Maria e viram o que tinha feito, acreditaram nele (Jo 11,
45). Os males entram a fazer parte do plano salvador de Deus. Jesus
venceu a dor, a doença, a privação: não os suprimindo do mundo, mas
transformando-os em instrumento de salvação.
São
Josemaría Escrivá comenta sobre a pergunta que os discípulos fizeram a
Nosso Senhor:
"Jesus
passa e apercebe-se imediatamente da dor. Considerai, em
contrapartida, que diferente eram os pensamentos dos discípulos.
Perguntam-lhe: Rabi, quem pecou, ele ou seus pais, para que nascesse
cego? Não deve causar-nos estranheza que muitos, mesmo pessoas que se
têm por cristãs, se comportem de forma parecida. Antes de mais nada,
pensam o mal. Sem prova alguma, pressupõem-no. E não só o pensam, como
até se atrevem a exprimi-lo num juízo arriscado diante de toda a
gente. A conduta dos discípulos poderia, com um pouco de benevolência,
ser considerada superficial. Naquela sociedade - como hoje: nisto
pouco se mudou - havia outros, os fariseus, que faziam dessa atitude
uma norma"
(Cristo
que passa, n° 67),
e:
"A pergunta dos discípulos faz-se eco das opiniões dos judeus sobre a
causa da doença e das desgraças em geral: consideravam-se castigo dos
pecados pessoais (cfr Jo 4, 7-8; 2 Mc 7, 18), ou das faltas dos pais,
que recaiam sobre os filhos (cfr Tb 3, 3)"
(Edições
Theologica).
Jesus
Cristo disse aos discípulos:
"Nem ele nem seus pais pecaram, mas é para que nele sejam manifestadas
as obras de Deus".
Santo
Agostinho escreve: "A
palavra Rabí quer dizer Mestre. Eles lhe chamam Mestre, porque o que
queriam era aprender, e por isto haviam proposto uma questão ao
Senhor, como a seu mestre" ( In
Joanem Tract. 44), e:
"Eles chegaram a fazer essa
pergunta porque em outra ocasião, depois de haver curado o paralítico,
lhe havia dito (Jo 5, 14): 'Veja que estás curado, não peques mais'.
Eles, pois, pensando que aquele paralítico havia perdido as forças de
seus membros, causa de seus pecados, lhe perguntam, agora, se este
havia pecado, o qual não era de crer, posto que era cego de
nascimento. Ou se haviam pecado seus pais, mas nem ainda este, porque
o filho não sofre o castigo que só é devido ao pai. 'Respondeu Jesus:
Nem este pecou, nem seus pais"
(São João Crisóstomo, Ut
supra), e também: "Acaso havia ele nascido isento da culpa original, ou
durante a vida não havia cometido nenhuma? Haviam pecado ele e seus
pais, mas não havia nascido cego por castigo de seus pecados. O mesmo
Salvador diz a causa pelo qual havia nascido cego: 'A fim de que as
obras de Deus se manifestam nele"
(Santo Agostinho, Ut supra), e ainda:
"Não quer dizer com isso que outros nasceram cegos por causa dos
pecados de seus pais, pois não sucede que um homem seja castigado pelo
pecado que outro cometera. As palavras 'para que as obras de Deus se
manifestem' não se referem à glória de seu Pai, senão à sua própria;
pois a glória do Pai se havia manifestado. Mas, acaso este padecia
injustamente sua cegueira? Eu entendo que para ele foi um benefício,
porque ele viu com os olhos da alma. É evidente que Aquele que lhe
havia dado o ser, tirando-o do nada, tinha também poder para deixá-lo
assim sem nenhum gênero de injustiça. Segundo alguns expositores, a
partícula UT não significa aqui a causa, senão o efeito, o mesmo que
naquela outra passagem: Lex subintravit ut abundaret delictum, no
sentido de que o Senhor, abrindo os olhos fechados e curando outras
enfermidades do corpo, fez brilhar sua glória pela manifestação de seu
poder" (São João
Crisóstomo, Ut supra),
e: "Há
um castigo que fere o pecador de tal sorte, que não há possibilidade
de retratação; há outro que o fere para corrigi-lo. Outro há que se
aplica, não para castigo das culpas passadas, senão para prevenir as
vindouras; outro, que nem castiga as culpas passadas nem previnem as
vindouras, senão que se aplica para fazer amar mais ardentemente o
poder formoso do Salvador"
(São Gregório, Moralium
praef. c. 5).
Edições
Theologica comenta:
"Sabemos pela Revelação (cfr Gn 3, 16-19; Rm 5, 12; etc.) que a origem
de todas as desgraças que afligem a humanidade é o pecado: o pecado
original e os sucessivos pecados pessoais. Não obstante, isto não quer
dizer que cada desgraça ou doença tenha a sua causa imediata num
pecado pessoal, como se Deus enviasse ou permitisse os males em
relação direta com cada pecado cometido. A dor, que acompanha tantas
vezes a vida do justo, pode ser um meio que Deus lhe envia para se
purificar das suas imperfeições, para exercitar e robustecer as suas
virtudes e para se unir aos padecimentos de Cristo Redentor que, sendo
inocente, levou sobre Si o castigo que mereciam os nossos pecados (cfr
Is 53, 4; 1 Pd 2, 24; 1 Jo 3, 5). Neste sentido, a Santíssima Virgem,
São José e todos os santos experimentaram intensamente a dor como
participação no sofrimento redentor de Cristo", e:
"Nem sempre os males e enfermidades da vida são castigos do pecado.
Muitas vezes são para nós um motivo de merecimento e de maior glória
para Deus. Tal foi o caso da Santíssima Virgem, de Jó, Tobias e muitos
outros"
(Dom Duarte Leopoldo).
Em Jo 9,
4-5 diz:
"Enquanto é dia, temos de realizar as obras daquele que me enviou; vem
a noite, quando ninguém pode trabalhar. Enquanto estou no mundo, sou a
luz do mundo".
Jesus fez
então uma referência ao pouco tempo que estaria na terra. A morte
avizinha-se:
"Enquanto é dia, temos de realizar as obras daquele que me enviou; vem
a noite, quando ninguém pode trabalhar".
O dia refere-se à vida terrena de Jesus. Daqui a urgência que a
Si mesmo se impõe de realizar acabadamente a vontade do Pai antes que
chegue a morte, que compara com a noite. "Enquanto estou no mundo, sou a luz do mundo".
É também a luz para aquele pobre cego que, sem petição alguma, vai
curar.
Dom Duarte Leopoldo escreve:
"Enquanto é
dia... isto é, enquanto estou no mundo, de modo visível", e:
"O 'dia' refere-se à vida terrena de Jesus. Daqui a
urgência que a Si mesmo se impõe de realizar a Vontade do Pai antes
que chegue a Sua morte, que compara com a noite. Também se pode
entender que a noite se refere ao fim deste mundo; neste sentido o
passo significa que a Redenção dos homens realizada por Cristo deve
ser continuada pela Igreja ao longo dos tempos, e que também os
cristãos devem esforçar-se por estender o Reino de Deus... Jesus
proclama-Se a Luz do mundo porque a Sua vida entre os homens nos deu o
sentido último do mundo, da vida de cada homem e da humanidade
inteira. Sem Jesus toda a criatura está às escuras, não encontra o
sentido do seu ser, nem sabe aonde vai"
(Edições Theologica), e também:
"Sois luz eterna, luz de sabedoria que, falando
através da nuvem da carne, dizeis aos homens: 'Eu sou a luz do mundo,
quem me segue não anda em trevas, mas terá a luz da vida"
(Santo Agostinho, Em Jo 34),
e ainda:
"E como Ele havia dito,
falando de si mesmo: 'Para que as obras de Deus se manifestem', e: 'É
necessário que eu realize as obras d'Aquele que me enviou'; é dizer, é
necessário que eu me manifeste a mim mesmo... fazendo as mesmas obras
que meu Pai" (São
João Crisóstomo, Ut supra),
e: "O Filho, afirmando
que faz as obras de seu Pai, manifesta assim que suas obras são as
mesmas que as de seu Pai, e como curar aos enfermos, fortalecer aos
débeis e iluminar aos homens"
(São Beda), e também:
"Pelas palavras: 'Aquele que me enviou', dá toda a glória Àquele de
quem procede, porque o Pai tem um Filho que é seu, enquanto que Ele
mesmo não procede de alguém"
(Santo Agostinho, Ut supra),
e ainda: "Prossegue o texto sagrado: 'enquanto é de dia',
é dizer, enquanto é permitido aos homens crer em mim, ou enquanto dure
esta vida, ' convém que eu realize'. E isto mesmo dá a entender nas
seguintes palavras: 'Virá a noite quando ninguém poderá realizar'.
Disse noite, segunda as palavras de São Mateus 22, 13: 'Lançai-o nas
trevas exteriores'. Ali será noite em que ninguém poderá realizar,
senão receber a recompensa de suas obras. Se há de fazer alguma coisa,
faça enquanto dura a vida, pois concluída esta, não haverá já nem fé,
nem trabalhos, nem arrependimento"
(São João Crisóstomo, Ut
supra), e:
"Se nós trabalhamos durante esta vida, este é o dia, este é Cristo.
Por isso diz: 'Enquanto estou no mundo'. Eis que Ele é o dia mesmo.
Este dia, que acaba com uma volta do sol, tem poucas horas. O dia da
presença de Cristo dura até a consumação dos séculos; porque Ele mesmo
o disse (Mt 28, 20): 'Eis que estarei com vocês até a consumação dos
séculos" (Santo
Agostinho, Ut supra).
Em Jo 9,
6-7 diz:
"Tendo dito isso, cuspiu na terra, fez lama com a saliva, aplicou-a
sobre os olhos do cego e lhe disse: 'Vai lavar-te na piscina de Siloé
- que quer dizer 'Enviado'. O cego foi, lavou-se e voltou vendo".
A piscina
de Siloé era um tanque construído pelo rei Ezequias no século VII a.
C. para o abastecimento de água de Jerusalém (cfr. 2 Rs 20, 20; 2 Cr
32, 30). Uma tradição constante assinala de maneira certa o lugar da
sua colocação.
O tanque
é um recipiente quadrangular; mede uns vinte e quatro metros de
cumprimento por cinco de largura e cinco de profundidade. A água chega
por um canal subterrâneo, talhado na rocha, de uns 530 metros de
longitude. Este túnel foi descoberto em 1886. As águas da piscina
tinham noutro tempo fama de ser doces e curativas.
O nome de
Siloé, Shiloah, propriamente é ativo, o que envia, e chamou-se
assim primeiramente ao canal subterrâneo que construiu Ezequias
(721-693 a. C.). Através dele ia a água desde a fonte Gihon,
hoje fonte da Virgem. Mais tarde deu-se o nome também à
piscina.
Depois do
cativeiro de Babilônia, talvez nos dias de Herodes, foi construído
sobre a piscina um templete, cujo teto era formado por largas lousas.
No século V da nossa era, erigiu-se no mesmo sitio uma basílica
dedicada a Cristo Luz do mundo, em memória deste milagre. Foi
descoberto nas escavações realizadas em 1886. Achou-se uma igreja de
três naves, que foi restaurada pelo imperador Justiniano. Foi
destruída pelos persas e não voltou a ser reconstruída.
Dom
Duarte Leopoldo comenta:
"A piscina
de Siloé é um símbolo do Sacramento da Penitência, onde os pecadores
se lavam das suas culpas nas lágrimas do arrependimento. Fonte de luz
e de vida, Jesus, o Enviado, é a verdadeira fonte de Siloé. -
Evidentemente nem este pouco de barro, nem as águas de Siloé podiam
curar um cego de nascimento. Era, pois, criminosa cegueira a
obstinação dos que não queriam reconhecer o milagre e, portanto, a
divindade de Jesus. É, de fato, extraordinário, este novo remédio
contra a cegueira. Simples e fácil, nós o recomendamos aos médicos
materialistas".
Edições Theologica comenta:
"A cura
realiza-se em duas etapas: a ação de Jesus sobre os olhos do cego e o
mandato de se lavar na piscina de Siloé. Nosso Senhor tinha utilizado
também a saliva para curar o surdo-mudo (cfr. Mc 7, 33) e um cego (cfr.
Mc 8, 33).O mandato que o Senhor dá ao cego evoca o milagre de Naaman,
general sírio que foi curado da sua lepra quando, por indicação do
próprio Eliseu, se lavou sete vezes nas águas do Jordão (cfr. 2 Rs 5,
1ss.). Aquele tinha titubeado antes de obedecer; o cego, pelo
contrário, obedece com prontidão e sem replicar",
e:
"Que belo exemplo de firmeza na fé nos dá este cego! Uma fé viva,
operativa. É assim que te comportas com os mandatos de Deus, quando
muitas vezes estás cego, quando nas preocupações da tua alma se oculta
a luz? Que poder continha a água, para que os olhos ficassem curados
ao serem umedecidos? Teria sido mais adequado um colírio desconhecido,
um medicamento precioso preparado no laboratório dum sábio alquimista.
Mas aquele homem crê, põe em prática o que Deus lhe ordena e volta com
os olhos cheiros de claridade"
(São Josemaría Escrivá, Amigos de Deus, n° 193),
e também:"Alguns
opinam que esta lama não caiu, senão que se converteu em olhos"
(Teofilacto),
e ainda:
"O gênero humano está representado neste cego, e esta vem pelo pecado
do primeiro homem, de quem todos descendemos. É, pois, um cego de
nascimento. O Senhor cuspiu na terra e com a saliva fez lama, 'porque
o Verbo se fez carne' (Jo 1, 14). Colocou a lama nos olhos do cego de
nascimento. Teria posto a lama e ainda não enxergava, porque quando a
colocou, possivelmente o fez catecúmeno. O enviou à piscina que se
chama Siloé, porque foi batizado em Cristo, e foi então quando o
iluminou. Tocava ao Evangelista o dar-nos a conhecer o nome desta
piscina, e por isso disse: 'Que quer dizer Enviado', porque se Aquele
não houvesse sido enviado, ninguém de nós haveria sido absolvido do
pecado" (Santo
Agostinho, Ut supra),
e:
"A saliva significa o sabor da contemplação íntima, a qual baixa
desde a cabeça à boca, porque desde a altura da glória é de onde vem
Deus a nós pelas doçuras da revelação, enquanto estamos nesta vida. O
Senhor misturou sua saliva com a terra e devolveu assim a vista ao
cego de nascença; porque misturando a contemplação de sua verdade com
nosso pensamento, é como a graça sobrenatural que irradia em nós. E
curando o homem de sua natural cegueira, ilumina sua inteligência"
(São Gergório,
Moralium 8, 21).
Em Jo 9,
8-34 diz:
"Os vizinhos, então, e os que estavam acostumados a vê-lo antes,
porque era mendigo, diziam: 'Não é esse que ficava sentado a
mendigar?' Alguns diziam: 'É ele'. Diziam outros: 'Não, mas alguém
parecido com ele'. Ele, porém, dizia: 'Sou eu mesmo'. Perguntaram-lhe,
então: 'Como se abriram os teus olhos?' Respondeu: 'o homem chamado
Jesus fez lama, aplicou-a nos meus olhos e me disse: 'Vai a Siloé e
lava-te'. Fui, lavei-me e recobrei a vista'. Disseram-lhe: 'Onde está
ele?' Disse: 'Não sei'. Conduziram o que fora cego aos fariseus. Ora,
era sábado o dia em que Jesus fizera lama e lhe abrira os olhos. Os
fariseus perguntaram-lhe novamente como tinha recobrado a vista.
Respondeu-lhes: 'Ele aplicou-me lama nos olhos, lavei-me e vejo'.
Diziam, então, alguns dos fariseus: 'Esse homem não vem de Deus,
porque não guarda o sábado'. Outros diziam: 'Como pode um homem
pecador realizar tais sinais?' E havia cisão entre eles. De novo
disseram ao cego: 'Que dizes de quem te abriu os olhos?' Respondeu: 'É
um profeta'. Os judeus não creram que ele fora cego enquanto não
chamaram os pais do que recuperara a vista e perguntaram-lhes: 'Este é
o vosso filho, que dizeis ter nascido cego? Como é que agora ele vê?'
Seus pais então responderam: 'sabemos que este é nosso filho e que
nasceu cego. Mas como agora ele vê não o sabemos; ou quem lhe abriu os
olhos não o sabemos. Interrogai-o. Ele tem idade. Ele mesmo se
explicará'. Seus pais assim disseram por medo dos judeus, pois os
judeus já tinham combinado que, se alguém reconhecesse Jesus como
Cristo, seria expulso da sinagoga. Por isso, seus pais disseram. 'Ele
já tem idade; interrogai-o'. Chamaram, então, uma segunda vez, o homem
que fora cego e lhe disseram: ' Dá glória a Deus! Sabemos que esse
homem é pecador'. Respondeu ele: 'Se é pecador, não sei. Uma coisa eu
sei: é que eu era cego e agora vejo'. Disseram-lhe, então: 'Que te fez
ele? Como te abriu os olhos?' Respondeu-lhes: 'Já vos disse e não
ouvistes. Por que quereis ouvir novamente? Por acaso quereis também
tornar-vos seus discípulos?' Injuriaram-no e disseram: 'Tu, sim, és
seu discípulo; nós somos discípulos de Moisés. Sabemos que Deus falou
a Moisés; mas esse, não sabemos de onde é'. Respondeu-lhes o homem:
'Isso é espantoso: vós não sabeis de onde ele é e, no entanto,
abriu-me os olhos! Sabemos que Deus não ouve os pecadores; mas se
alguém é religioso e faz a sua vontade, a este ele escuta. Jamais se
ouviu dizer que alguém tenha aberto os olhos de um cego de nascença.
Se esse homem não viesse de Deus, nada poderia fazer'.
Responderam-lhe: 'Tu nasceste todo no pecado e nos ensinas?' E o
expulsaram".
Depois de
narrar o milagre, o Evangelho refere às dúvidas dos vizinhos e
conhecidos do cego (vv. 8-12) e a investigação que fazem os fariseus:
interrogatório ao cego curado (vv. 13-17), aos seus pais (vv. 18-23) e
de novo ao cego, a quem terminam condenando e expulsando-o da sua
presença (vv. 24-34). O passo contém tal precisão de pormenores que
manifesta claramente a espontaneidade de uma testemunha que presenciou
e viveu o acontecimento.
Os Santos
Padres e Doutores da Igreja viram simbolizado neste milagre o
sacramento do batismo, no qual, por meio da água, a alma fica limpa e
recebe a luz da fé:
"Envia-o à
piscina, que se chama de Siloé, para que se lave e para que seja
iluminado, isto é, para que seja batizado e receba no batismo a
iluminação plena"
(Santo Tomás de Aquino, Comentário sobre São João, ad loc.).
Edições
Theologica comenta:
"O episódio
reflete, por outro lado, as diversas posições diante do Senhor e dos
Seus milagres. O cego, de coração simples, crê em Jesus como enviado,
profeta (vv. 17. 33) e Filho de Deus (vv. 17. 33. 38). Os fariseus,
pelo contrário, obstinam-se em não querer ver nem crer, inclusivamente
perante a evidência dos fatos (vv. 24-34). Neste milagre, Jesus
revela-Se de novo como luz do mundo. Comprova-se a afirmação do
Prólogo: 'Era a luz verdadeira que ilumina todo o homem, que vem a
este mundo' (1, 9). Não só dá a luz aos olhos do cego, mas ilumina-o
interiormente levando-o a um ato de fé na Sua divindade (v. 38). Ao
mesmo tempo fica patente o drama profundo daqueles que se obcecam na
sua cegueira, tal como o tinha anunciado no diálogo com Nicodemos:
'Veio a luz ao mundo e os homens amaram mais as trevas que a luz, já
que as suas obras eram más' (Jo 3, 19)".
Era
sábado o dia em que Nosso Senhor Jesus Cristo abrira os olhos do cego:
"Ora, era sábado o dia em que Jesus fizera lama e lhe abrira os olhos.
Os fariseus perguntaram-lhe novamente como tinha recobrado a vista.
Respondeu-lhes: 'Ele aplicou-me lama nos olhos, lavei-me e vejo'.
Diziam, então, alguns dos fariseus: 'Esse homem não vem de Deus,
porque não guarda o sábado'. Outros diziam: 'Como pode um homem
pecador realizar tais sinais?' E havia cisão entre eles".
Dom
Duarte Leopoldo escreve:
"Os
fariseus reconhecem o milagre, não podem contestar o fato. Mas,
desviando a questão, insultam a quem o tinha praticado - processo,
aliás, muito do gosto de certos inimigos da Igreja", e:
"Os fariseus aduzem a mesma acusação que na cura do paralítico da
piscina (Jo 5, 10) e que noutras ocasiões: Jesus é um transgressor da
Lei porque não guarda o sábado ao curar os doentes (cfr. Lc 13, 16;
14, 5). Cristo tinha ensinado muitas vezes que a observância do
descanso sabático (cfr Ex 20, 8. 11; 21, 13; Dt 5, 14) não se opõe à
obrigação de fazer o bem (cfr. Mt 12, 3-8; Mc 2, 28; Lc 6, 5). Por
cima de todos os preceitos está a caridade, o bem dos homens. Pelo
contrário, quando a norma se antepõe de maneira cega às obrigações
evidentes de justiça e de caridade, cai-se no fanatismo, que sempre se
opõe ao Evangelho, e mesmo à reta razão. É o que acontece com os
fariseus neste caso: fecham-se nas suas idéias até ao ponto de não
quererem ver a mão de Deus num fato que mostra de modo razoável que só
pode ser realizado pelo poder divino. O dilema que se lhes põe sobre
Jesus - se é um homem de Deus pelos milagres que faz, ou um pecador
por não observar o sábado (cfr Mc 3, 23-30) - só é possível dentro de
uma mentalidade completamente dominada pelo fanatismo religioso. A
interpretação errada do cumprimento de alguns preceitos tinha-os
levado a não compreender o essencial da Lei: o amor a Deus e o amor ao
próximo. Os fariseus, para não aceitarem a divindade de Jesus,
rejeitam a única interpretação correta do milagre. O cego, pelo
contrário - como as almas abertas sem preconceito à verdade -,
encontra no milagre um apoio firme para confessar que Cristo opera com
poder divino (Jo 9, 33)"
(Edições Theologica).
Os
fariseus chamam o homem que fora curado por Cristo Jesus:
"Chamaram, então, uma segunda vez, o homem que fora
cego e lhe disseram: 'Dá glória a Deus! Sabemos que esse homem é
pecador".
Dom
Duarte Leopoldo escreve:
"Dá
glória a Deus... É uma locução hebraica que significa - confessa a
verdade, para glória de Deus", e:
"Dá glória a Deus': Solene declaração, a modo de juramento, com que
se exortava a dizer a verdade. Não obstante, os fariseus não buscavam
a verdade, mas intimidar o cego para que se desdissesse do confessado.
Agora forçam a sua consciência advertindo-o: 'Nós sabemos que esse
homem é pecador"(Edições
Theologica),
e também:
"Que
pretendem ao dizer: Dá glória a Deus? Que negue o benefício recebido.
Isto não é certamente dar glória a Deus, mas antes blasfemar contra
Deus"
(Santo Agostinho, In Ioann. Evang. 44, 11).
Todo o
interrogatório mostra que o milagre foi tão patente que nem sequer os
adversários puderam negá-lo:
"Respondeu
ele: 'Se é pecador, não sei. Uma coisa eu sei: é que eu era cego e
agora vejo'. Disseram-lhe, então: 'Que te fez ele? Como te abriu os
olhos?' Respondeu-lhes: 'Já vos disse e não ouvistes. Por que quereis
ouvir novamente? Por acaso quereis também tornar-vos seus discípulos?'
Injuriaram-no e disseram: 'Tu, sim, és seu discípulo; nós somos
discípulos de Moisés. Sabemos que Deus falou a Moisés; mas esse, não
sabemos de onde é'. Respondeu-lhes o homem: 'Isso é espantoso: vós não
sabeis de onde ele é e, no entanto, abriu-me os olhos! Sabemos que
Deus não ouve os pecadores; mas. Se alguém é religioso e faz a sua
vontade, a este ele escuta. Jamais se ouviu dizer que alguém tenha
aberto os olhos de um cego de nascença. Se esse homem não viesse de
Deus, nada poderia fazer'. Responderam-lhe: 'Tu nasceste todo no
pecado e nos ensinas?' E o expulsaram".
"Sabemos
que Deus não ouve os pecadores..."
Dom
Duarte Leopoldo comenta:
"Pouco
instruído, ainda que inteligente, não dizia este homem uma verdade,
porque o pecador arrependido é sempre ouvido, quando pede o perdão das
suas culpas. Entretanto, as suas palavras são verdadeiras no sentido
de que Deus não pode confirmar com um milagre a mentira e a
hipocrisia. Se Jesus fosse um pecador, um homem mau, não lhe teria
aberto os olhos de modo tão prodigioso. Que esta era a sua intenção,
ao proferir aquelas palavras, prova-o a continuação do texto".
Nosso
Senhor durante o Seu ministério público fez muitos milagres,
manifestando assim a Sua onipotência sobre todas as coisas ou, o que é
o mesmo, a Sua divindade. Perante a atitude racionalista que não
aceita, por um falso princípio filosófico, a intervenção sobrenatural
de Deus neste mundo e, portanto, a possibilidade do milagre, o
Magistério da Igreja ensinou sempre a existência e o valor dos
milagres:
"Quis Deus
que aos auxílios internos do Espírito Santo se juntassem argumentos
externos da Sua Revelação, a saber, fatos divinos e, antes de mais, os
milagres e as profecias que, mostrando luminosamente a onipotência e a
ciência infinita de Deus, são sinais certíssimos da Revelação divina e
acomodados à inteligência de todos... Se alguém disser que não se pode
dar nenhum milagre e que portanto todas as narrações sobre eles, mesmo
as contidas na Sagrada Escritura, há que relegá-las entre as fábulas
ou os mitos, ou que os milagres não podem nunca ser conhecidos com
certeza e que com eles não se prova legitimamente a origem divina da
religião cristã, seja anátema"
(Dei Filius, cap. 3 e can. 4).
"Sabemos
que Deus falou a Moisés; mas esse, não sabemos de onde é".
São
Josemaría Escrivá escreve:
"O pecado
dos fariseus não consistia em não verem Deus em Cristo, mas em
encerrarem-se voluntariamente em si mesmos, em não tolerarem que
Jesus, que é luz, lhes abrisse os olhos"
(Cristo que passa, n° 71), e:
"O fato miraculoso é igualmente válido para todos,
mas a contumácia daqueles fariseus não se rende diante da significação
do fato, nem sequer depois das averiguações realizadas com os pais e o
próprio cego... Em todo este episódio, assim como há um processo de
aprofundamento na fé por parte do cego, que começa a reconhecer Jesus
como Profeta (v. 17) e culmina na confissão da Sua divindade (v. 35),
há também um processo contrário de obstinação naqueles judeus: desde a
dúvida (v. 16), passando pela afirmação blasfema de que Jesus é um
pecador (v. 24), até terminar por expulsarem o mendigo (v. 34). É
preciso que os homens estejam atentos a esse grande inimigo, a
soberba, que cega os olhos e impede de ver até o mais evidente"
(Edições Theologica).
"Responderam-lhe: 'Tu nasceste todo no pecado e nos ensinas?' E o
expulsaram".
Depois do
exílio de Babilônia (século VI a. C.) existia entre os judeus o
costume de expulsar da sinagoga aqueles que cometiam certos delitos:
"Fazia-se de duas formas: a exclusão
temporária durante 30 dias como medida disciplinar, e a exclusão
definitiva, que se poria em prática com frequência contra os judeus
que se convertessem ao cristianismo. Aqui parece que se refere a esta
expulsão definitiva, tal como o tinham combinado (v. 22), e pode
comprovar-se por outros dados do Evangelho (cfr. 12, 42; 16, 2; Lc 6,
22)"
(Edições Theologica), e:
"Na verdade, expulsá-lo era mais fácil do que
responder aos seus argumentos. - Diz a Tradição que este cego foi mais
tarde o bispo Sidônio, coadjutor de São Maximino, na Provença, para
onde veio em companhia de Lázaro, Marta e Maria"
(Dom Duarte Leopoldo).
Nosso
Senhor Jesus Cristo encontra o homem que Ele havia curado:
"Jesus ouviu dizer que o haviam expulsado.
Encontrando-o, disse-lhe: 'Crês no filho do Homem?' Respondeu ele:
'Quem é, Senhor, para que eu nele creia?' Jesus lhe disse: 'Tu o estás
vendo, é quem fala contigo'. Exclamou ele: 'Creio, Senhor!' E
prostrou-se diante dele".
Edições
Theologica comenta:
"Não parece
casual este encontro com Jesus. Os fariseus expulsaram da sinagoga o
cego curado; mas o Senhor, além de o acolher, ajuda-o a fazer um ato
de fé na Sua divindade", e:
"Lavada finalmente a face do coração e purificada a consciência,
reconhece-o não só filho de homem, mas Filho de Deus"
(Santo Agostinho, In Ioann. Evang., 44, 15).
"Então
disse Jesus: 'Para um discernimento é que vim a este mundo: para que
os que não vêem, vejam, e os que vêem, tornem-se cegos".
Dom
Duarte Leopoldo escreve:
"Justo juiz
de Deus, pelo qual os humildes e ignorantes recebem a luz da fé, ao
passo que os orgulhosos, os que julgam possuir a luz, inchados da sua
ciência, caem na mais completa cegueira", e:
"Perante o contraste entre a fé do cego e a obstinação dos fariseus,
o Senhor pronuncia esta sentença. Ele não foi enviado para condenar o
mundo, mas para o salvar (cfr. Jo 3, 17); mas a Sua presença entre nós
comporta já um juízo, porque cada homem há de tomar diante d'Ele uma
destas duas atitudes: de aceitação ou de rejeição. Cristo foi posto
para ruína de uns e salvação de outros (cfr. Lc 2, 34). Deste modo,
estabelece-se uma diferenciação entre os homens (cfr. Jo 3, 18-21; 12,
47-48). Por um lado, os humildes de coração (cfr. Mt 11, 25) que,
reconhecendo as suas misérias, acorrem a Jesus em busca do perdão:
estes gozarão daquela luz. Por outro lado, os que, satisfeitos de si
mesmos, pensam que não necessitam de Cristo nem da Sua palavra; estes
que dizem ver são na realidade cegos. Desta maneira somos nós os
homens que com a fé ou a rejeição de Jesus preparamos a nossa sorte
última"
(Edições Theologica).
"Alguns
fariseus, que se achavam com ele, ouviram isso e lhe disseram: 'Acaso
também nós somos cegos:' Respondeu-lhes Jesus: 'Se fôsseis cegos, não
teríeis pecado; mas dizeis: 'Nós vemos!' Vosso pecado permanece".
Edições
Theologica comenta:
"As
palavras de Jesus produziram uma forte impressão entre os fariseus,
desejosos de encontrar nos Seus ensinamentos algum motivo de
condenação. Dando-se conta de que Se referia a eles, voltam a
interrogá-Lo. A resposta do Senhor é clara: eles podem ver mas não
querem; daí a sua culpabilidade",
e:
"Se conhecêsseis a vossa cegueira e vos considerásseis cegos e
recorrêsseis ao médico, não teríeis pecado, porque Eu vim tirar o
pecado; mas porque dizeis enxergamos, por isso permanece o vosso
pecado. Por quê? Porque dizendo enxergamos não recorreis ao médico e
assim ficareis na vossa cegueira"
(Santo Agostinho, In Ioann. Evang., 45, 17).
O
Pe. Francisco Fernández-Carvajal escreve:
"Os
piores cegos são os que não querem ver. E isto acontecia com aqueles
homens que dispunham de toda a ciência da escritura e do testemunho
dos milagres para ter visto o Messias, que estava às suas portas. Em
vez de olhar para Cristo que passava tão perto, ficaram a discutir
sobre o barro que tinha feito em dia de sábado. Realmente estavam
cegos".
Pe.
Divino Antônio Lopes FP.
Anápolis, 18 de outubro de 2007
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