(Hb 11, 6)

 

"Ora, sem a fé é impossível ser-lhe agradável".

 

 

Certo dia estavam à mesa de Frederico, o Grande, numerosos convidados. A conversa versava sobre Jesus Cristo. O rei, cada vez que pronunciava esse nome, acrescentava uma blasfêmia. O príncipe Carlos de Hesse, neto de Jorge II da Inglaterra, que estava presente, baixou os olhos e permaneceu silencioso. Quando o rei o percebeu, interpelou-o com vivacidade:

- Diga-me, caro príncipe, você acredita nessas coisas?

- Majestade, replicou o príncipe, estou certo de que Jesus Cristo morreu na cruz como Salvador meu, como estou certo de falar neste momento com Vossa Majestade.

O rei ficou algum tempo absorto em seus pensamentos; depois, abraçando a Carlos disse:

- Muito bem, caro príncipe, você é o primeiro homem inteligente que encontrei nessa ilusão.

- Majestade, respondeu o príncipe, mesmo que seja eu o último, morrerei feliz nesta minha crença inabalável.

O resto da refeição decorreu em silêncio.

À noite, quando Carlos de Hesse passava por um corredor do castelo, o general Tanenzien, o homem mais corpulento e musculoso de seu tempo, põe-lhe as mãos sobre os ombros e, cobrindo-o de lágrimas, exclama:

- Bendito seja Deus que me deu vida bastante para ver um homem  confessar, de coração, o Cristo perante o rei.

Carlos de Hesse, que narra essa passagem, acrescenta: As lágrimas e as felicitações daquele nobre ancião recordam-me um dos mais belos instantes de minha vida.

Oh! Se todos tivessem a fé e a intrepidez desse príncipe!

 

O que é a fé?

São Pio X a define: "A Fé é uma virtude sobrenatural, infundida por Deus em nossa alma, pela qual nós, apoiados na autoridade do mesmo Deus, acreditamos que é verdade tudo o que Ele revelou e por meio da Santa Igreja nos propõe para crer" (Catecismo Maior, 860).

A fé é chamada virtude por ser, com efeito, uma inclinação, um hábito da alma, que leva ao bem; sobrenatural porque não se pode adquirir nem praticar com as únicas forças humanas, senão que é formada em nós pela graça e tende para um bem não terrestre e natural, e sim espiritual e eterno.

Esta disposição, - como a da Esperança e da caridade, - se nos comunica no batismo. Pela fé, cremos firmemente, isto é, sem dúvida alguma, todas as verdades reveladas por Deus e ensinadas pela Igreja, e se as cremos, é pela autoridade da palavra de Deus, isto é, nós nos firmamos na verdade de Deus que não pode iludir-se nem enganar-nos. O testemunho que dá o homem pode falhar, o de Deus porém é infalível, e nisto funda-se a certidão absoluta da fé dos cristãos.

A fé é absolutamente necessária à salvação: "Ora, sem a fé é impossível ser-lhe agradável". Sem fé é impossível alcançarmos o céu. Segundo reza o Concílio de Trento, ela é o fundamento e a raiz da justificação. Sem a fé, não se pode obter o perdão e chegar à glória.

 

Católico, sigamos a luz da fé.

São Severino, apóstolo da Noruega, pregava a fé cristã entre aqueles povos idólatras. Poucos se convertiam.

Um dia, então, para confirmar a uns e converter a outros, convidou a todos (cristãos e idólatras) para uma assembléia na igreja. Cada um devia trazer uma vela. Quando os viu reunidos, com suas velas apagadas nas mãos, o santo Bispo ajoelhou-se diante do altar e rezou em voz alta: Ó Senhor e Deus verdadeiro, dignai-vos manifestar a estes fiéis a luz do vosso conhecimento e fazei-lhes conhecer os que não vos conhecem.

Ao terminar a oração, no mesmo instante, acenderam-se por si mesmas as velas dos cristãos, continuando apagadas as dos idólatras.

Esse prodígio converteu à fé cristã aquele povo.

E o prodígio renova-se diariamente. Os incrédulos, os hereges, os inimigos da Igreja passam por este mundo com suas velas apagadas. Demos graças a Deus pela Luz da fé e sigamos o caminho que ela nos mostra.

 

Católico, sem a fé é impossível agradar a Nosso Senhor: "Ora, sem a fé é impossível ser-lhe agradável".

A fé é virtude necessária para a salvação, ainda que a fé por si só não seja suficiente, porque a fé "atua por meio da caridade" (Gl 5, 6). Não obstante, a fé tem uma importância decisiva como "começo da salvação do homem" (São Fulgêncio de Ruspe, De Fide ad Petrum, 1) e como "fundamento e raiz de toda a justificação" (Concílio de Trento, De iustificatione, cap. 8). Mas não só a fé enquanto ato pessoal - ato de fé -, "mas também enquanto conjunto de verdades que se têm como certas. Por isso, a teologia fala da necessidade da fé com que se crê (atitude do crente) e das verdades de fé que devem ser cridas (artigo da fé). O versículo fala das duas, mas detém-se sobretudo no segundo aspecto - o conteúdo ou objetivo da fé - enquanto mais acima (11, 1) tinha considerado sobretudo o valor e a natureza do ato de fé. Ninguém pode agradar a Deus se não se acerca d'Ele; mas não é possível acercar-se de Deus sem a fé; logo, ninguém pode agradar a Deus se não tem fé. O próprio Deus move-nos e ajuda-nos para que nos aproximemos d'Ele, mas o homem deve corresponder livremente. E isto é precisamente o ato de fé" (Edições Theologica).

O ato de fé tem um conteúdo; a fé é a disposição da alma "por cuja força assentimos firmemente o que Deus nos comunicou (...). Com efeito, visto que o fim que foi fixado para a bem-aventurança do homem é muito mais elevado que o que pode alcançar a força do seu entendimento, era necessário que o conhecesse por obra de Deus. Este conhecimento é a fé, que torna possível que tenhamos por certo o que a autoridade da Igreja, nossa Santíssima Mãe, declarou que foi comunicado por Deus" (São Pio V, Catecismo Romano, I, 1, 1).

Edições Theologica comenta: "Por isto distinguimos nas verdades da fé aquelas que são acessíveis à razão humana e aquelas que não teriam podido ser alcançadas pelo homem: são os chamados mistérios. As primeiras costumam reduzir-se a três: a existência de Deus, a imortalidade da alma e a existência de uma ordem moral estabelecida por Deus".

É evidente que se não se crê na existência de Deus e na ordem moral por Ele estabelecida, não há possibilidade de salvação. Em que sentido, pois, diz aqui o passo que "o que se aproxima de Deus deve crer que existe e que premia aqueles que O buscam?" Podemos responder com Santo Tomás de Aquino, que, depois do pecado original, ninguém pode salvar-se se não tem fé no mediador prometido (Gn 3, 15). Para os pagãos, que não receberam nenhuma revelação, foi e é suficiente crer que Deus é remunerador (cfr. Comentário sobre Hb, ad loc.).

As palavras do autor sagrado levantam outro problema: como podem salvar-se aqueles que não conhecem a Cristo? Há que ter em conta, em primeiro lugar, a necessidade absoluta da fé reta e verdadeira. O homem tem obrigação de buscar a verdade, sobretudo a verdade religiosa, e não pode contentar-se com uma religião qualquer, como se todas as religiões fossem equivalentes (cfr. Syllabus, nn. 15 e 16). Por isto os pagãos adultos que pedem para serem batizados em perigo de morte ou em situação de urgente necessidade, devem receber antes do Batismo uma breve instrução, adaptada às circunstâncias e à sua capacidade intelectual, acerca dos mistérios centrais da fé: a Trindade e a Encarnação (cfr. Resposta do Santo Ofício de 26-01-1703).

Diz Santo Agostinho: "O homem sem fé é como o viandante sem meta, o lutador sem esperança de vitória, alguém que morre sem Deus", e Thiamer Toth acrescenta: "A religião é para os homens que possuem razão normal, a superstição para os que têm a razão enferma, a incredulidade para os que não têm razão alguma".

 

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP.

Anápolis, 03 de novembro de 2007

 

 

 

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Pe. Divino Antônio Lopes FP. "Fé"

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