SOFRER COM CRISTO

(1 Pd 4, 12-19)

 

 

"12 Amados, não vos alarmeis com o incêndio que lavra entre vós, para a vossa provação, como se algo de estranho vos estivesse acontecendo; 13 antes, na medida em que participais dos sofrimentos de Cristo, alegrai-vos, para que também na revelação da sua glória possais ter uma alegria transbordante. 14 Bem-aventurados sois, se sofreis injúrias por causa do nome de Cristo, porque o Espírito de glória, o Espírito de Deus repousa sobre vós. 15 Mas ninguém dentre vós queira sofrer como assassino ou ladrão, ou malfeitor ou como delator, 16 mas, se sofre como cristão, não se envergonhe, antes glorifique a Deus por esse nome. 17 Com efeito, é tempo de começar o julgamento pela casa de Deus. Ora, se ele começa por nós, qual será o fim dos que se recusam a obedecer ao evangelho de Deus? 18 Se o justo com dificuldade consegue salvar-se, em que situação ficará o ímpio e pecador? 19 Assim, aqueles que sofrem segundo a vontade de Deus confiam as suas almas ao fiel Criador, dedicando-se à prática do bem".

 

 

 

Esse trecho da Palavra de Deus mostra os sofrimentos que os cristãos padecem por seguir a Nosso Senhor Jesus Cristo. Esses sofrimentos não devem ser motivo de estranheza nem de vergonha, mas de alegria e glorificação a Deus: porque se participam dos sofrimentos de Nosso Senhor, também participarão da Sua glória.

 

Em 1 Pd 4, 12 diz: "Amados, não vos alarmeis com o incêndio que lavra entre vós, para a vossa provação, como se algo de estranho vos estivesse acontecendo".      

São João de Ávila escreve: "Deus quer abrir os nossos olhos, para considerar quantas mercês nos faz no que o mundo pensa que são desfavores, e quão honrados somos em sermos desonrados por buscar a honra de Deus, e quão alta honra nos está guardada pelo abatimento presente, e quão brandos, amorosos e doces braços nos tem Deus abertos para receber os feridos na guerra por Ele, que sem dúvida excedem sem comparação em prazer a todo o fel que os trabalhos aqui podem dar" (Carta 58).

 

Em 1 Pd 4, 13 diz: "... antes, na medida em que participais dos sofrimentos de Cristo, alegrai-vos, para que também na revelação da sua glória possais ter uma alegria transbordante".

 

João Paulo II escreve: "À perspectiva do Reino de Deus vai unida à esperança daquela glória, cujo começo está na Cruz de Cristo. A ressurreição revelou esta glória - a glória escatológica - que na Cruz de Cristo estava completamente ofuscada pela imensidade do sofrimento. Aqueles que participam nos sofrimentos de Cristo estão também chamados, mediante os seus próprios sofrimentos, a tomar parte na glória" (Salvifici doloris, n° 22). Aqueles que o batismo tornou participante dos sofrimentos de Cristo (2 Cor 1, 5.7; Fl 3, 10) têm assegurada também a participação em sua glória (Rm 8, 17; 2 Cor 4, 17; Fl 3, 11) (BJ).

Assim como Cristo Jesus sofreu, o católico não pode viver na mordomia e no aburguesamento, mas, para se salvar, o mesmo deve carregar a cruz com alegria e paciência, a exemplo do Mestre: "Eis a obrigação de todos os seus fiéis: tomar a própria cruz e seguir a Cristo até morrer com ele e, portanto, com ele e nele ressuscitar... A cruz, as tribulações que sempre acompanham a vida do homem, recordam ao cristão o único itinerário da salvação e, portanto, da verdadeira vida. Quem se revolta contra a cruz, recusa a mortificação, alimenta as paixões e quer, a todo custo, garantir para si uma vida cômoda e feliz... este vai ao encontro do pecado e, portanto, da morte do espírito. Quem, ao contrário, está disposto a renegar a si mesmo até sacrificar a própria vida, entregando-se com generosidade ao serviço de Deus e dos irmãos, mesmo se houvesse, por isso, de perdê-la no tempo, salva-la-á para a eternidade" (Pe. Gabriel de Santa Maria Madalena).

Para viver com Cristo na Glória Eterna, é preciso suportar todas as tribulações por amor a Ele. Vive na ilusão aquele que pensa se salvar sem carregar a cruz por amor a Nosso Senhor: "O sinal mais certo para saber se uma pessoa ama a Jesus Cristo é, não tanto o sofrer, mas o querer sofrer por amor dele" (Santo Afonso Maria de Ligório, A Prática do amor a Jesus Cristo, cap. V), e: "Dizia São José Calazans: 'Para ganhar o céu, todo sofrimento é pouco'. E São Paulo: 'Os sofrimentos do tempo presente não têm proporção com a glória que deverá se revelar em nós'. Seria uma grande vantagem sofrer a vida inteira todos os tormentos sofridos pelos mártires, só para gozarmos um momento do céu. Com maior razão devemos então abraçar as nossas cruzes, sabendo que os sofrimentos desta vida curta nos farão conquistar uma felicidade eterna. 'As nossas tribulações do momento são leves e nos preparam um peso de glória eterna'. Santo Agapito, mocinho de poucos anos, quando foi ameaçado de morte, respondeu: 'Que maior felicidade posso eu ter do que a de perder a minha cabeça para vê-la depois coroada no céu?' São Francisco costumava sempre dizer: 'O bem que espero é tão grande que todo sofrimento é prazer para mim'. Para obter o paraíso é preciso lutar e sofrer. 'Se sofremos com Cristo, com Ele reinaremos'. Não pode haver prêmio sem merecimento, nem merecimento sem paciência. 'Não recebe a coroa, senão aquele que lutou segundo as regras do jogo'. Terá maior coroa quem combate com maior paciência. Coisa admirável! Quando se trata dos bens temporais desta terra, os mundanos procuram conquistar o máximo de coisas possíveis. Quando se trata dos bens eternos, dizem que basta um cantinho no paraíso. Esse não foi o comportamento dos santos. Nesta vida contentaram-se com qualquer coisa e desapegaram-se dos bens terrenos. Tratando-se dos bens eternos, Eles procuraram ganhar o mais possível. Agora eu lhes pergunto: quem age com mais sabedoria e prudência? Falando desta vida, é certo que quem padece com mais paciência vive com mais paz. Dizia São Felipe Néri que neste mundo não há purgatório: ou é paraíso ou é um inferno. Os que suportam com paciência os sofrimentos desta vida gozam do paraíso. Quem assim não o faz, sofre o inferno! Sim, como escreve Santa Teresa, quem abraça as cruzes que Deus lhe manda não as sente. São Francisco de Sales, achando-se uma vez cercado de sofrimentos, disse: 'De algum tempo para cá as grandes tribulações e oposições que sinto me trazem uma paz tão grande e me predizem a união próxima e estável de minha alma com Deus; sinceramente falando, é a única ambição e o único desejo de meu coração'. Na verdade, não há paz para aqueles que levam uma vida errada, mas só para quem vive unido com Deus e com sua santa vontade. Um missionário religioso, nas Índias, assistia uma vez à execução de um condenado. Este, antes de morrer, chamou-o e lhe disse: 'Sabe, padre, eu fui de sua Congregação Religiosa. Enquanto observava o regulamento de vida, eu era muito feliz. Mas desde que comecei a relaxar, achei tudo difícil e passei a me aborrecer com tudo. Abandonei a vida religiosa para me entregar aos vícios; Eles finalmente me trouxeram a este fim desgraçado que agora o senhor está vendo. Digo-lhe isto para que o meu exemplo possa servir a outros'. Dizia o Padre Luís da Ponte: 'Considere como amargas as coisas doces desta vida e como doces as amargas; assim terá sempre paz'. Isso é verdade, porque os prazeres ainda que agradáveis à natureza, deixam sempre o amargor do remorso da consciência devido ao apego desordenado que, na maioria das vezes, colocamos neles. Mas as amarguras desta vida, aceitas das mãos de Deus com resignação, tornam-se suaves e queridas às pessoas que amam o Senhor" (Idem).

Nosso Senhor Jesus Cristo, Cordeiro Imaculado e abandonado na cruz disse: "Sou Caminho, Verdade e Vida", e ninguém pode ir ao Pai a não ser por Mim. Engana-se totalmente o católico que vive no relaxamento e na boa vida aqui na terra, e pensa entrar na Glória depois da morte. Para reinar com Cristo no céu, é preciso carregar a cruz aqui na terra: "Vossa doutrina é esta: pobreza voluntária, paciência nas injúrias, pagar o mal com o bem, ser pequenino, humilde, pisado e abandonado pelo mundo... em tribulações do mundo e do demônio, visíveis e invisíveis, e perseguições da própria carne, a qual, como rebelde, sempre quer revoltar-se contra seu Criador e repelir o Espírito Santo. Ora, esta é vossa doutrina: suportar com paciência, resistir com as armas do amor, e também do ódio contra o mal. Ó doce e suave doutrina! És aquele tesouro que Cristo escolheu para si e deixou aos discípulos. Isto deixou como maior riqueza que podia deixar... Que eu me revista de vós, ó Cristo Homem, isto é, das vossas penas e opróbrios, e só assim me alegrarei" (Santa Catarina de Sena, Epistolário 226).

 

Em 1 Pd 4, 14-15 diz:  "Bem-aventurados sois, se sofreis injúrias por causa do nome de Cristo, porque o Espírito de glória, o Espírito de Deus repousa sobre vós. Mas ninguém dentre vós queira sofrer como assassino ou ladrão, ou malfeitor ou como delator".

 

O católico praticante, aquele que é fiel a Cristo Jesus e ao Santo Evangelho, que luta fervorosamente para crescer na perfeição e que faz o bem às almas imortais por amor a Nosso Senhor, não deve se entristecer diante dos obstáculos e dificuldades que surgirem em seu caminho, porque o próprio Cristo disse: "Bem-aventurados sois, quando vos injuriarem e vos perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por causa de mim" (Mt 5, 11).

Nos Atos dos Apóstolos diz que os Apóstolos se alegraram depois de flagelados: "Quanto a eles, saíram do recinto do Sinédrio regozijando-se, por terem sido achados dignos de sofrer afrontas pelo Nome" (At 5, 41).

Os ataques e perseguições não devem desanimar o católico, pelo contrário, o mesmo deve perseverar no caminho da cruz, porque é esse que conduz ao céu.

O católico deve fugir dos elogios e bajulações: "Ai de vós, quando vos louvarem os homens! Porque os pais deles faziam assim com os falsos profetas" (Lc 6, 26).

Aquele que procura agradar o mundo recebe os aplausos do mundo e está perto de uma grande queda: "Uma Congregação Religiosa ou uma pessoa que não sofre e a quem todos aplaudem, está próxima de uma queda" (São Vicente de Paulo).

Feliz do católico que sofre por ser de Cristo Jesus. Infeliz do católico que foge do caminho da cruz somente para agradar aos homens: "Os louvores, as aprovações do mundo e os contínuos êxitos nunca são os distintivos do verdadeiro seguimento de Cristo, mas antes, a herança dos falsos profetas. O verdadeiro profeta encontra, cedo ou tarde, as contradições, o que é providencial, pois o preserva das lisonjas do orgulho, dá-lhe consciência de sua pequenez, defende-o da ilusão de ser capaz de salvar ou transformar o mundo e, portanto, o mantém no número daqueles pobres que, entregando-se com todas as forças à salvação própria e dos outros, tudo esperam do único Salvador" (Pe. Gabriel de Santa Maria Madalena).

Os santos seguiram a Cristo Jesus, sofreram por seu amor, carregaram a cruz com alegria, subiram o monte Calvário com paciência, por isso, estão no céu.

Para nos encher de coragem, basta ler as Atas dos Mártires de Lião, observando principalmente Santa Blandina: "A perseguição foi de uma violência tal neste país, a raiva dos pagãos tão grande contra os santos, e nossos bem-aventurados mártires sofreram tanto, que nós não saberíamos encontrar as palavras necessárias para vos fazer uma descrição completa do que ocorreu. Pois foi com todas as forças que entrou em ação o adversário, o diabo, preparando assim um futuro reino nos infernos, onde possa desencadear sua violência. Por toda parte esteve induzindo os seus ao combate centra os servidores de Deus. Não somente nos rechaçaram das casas, dos banhos e da praça pública, mas nos proibiram de aparecer em qualquer parte.

Entretanto, a graça de Deus lutou por nós, afastando do perigo os tímidos e opondo ao adversário, colunas sólidas da fé, capazes de resistir sem vacilar e de fazer voltar contra eles todo o choque do Maligno. Os defensores caminharam para o martírio e tiveram de suportar ultrajes e suplícios, mas não se detiveram por tão pouco, apressaram o passo para o Cristo e revelaram ao mundo que os sofrimentos daqui de baixo nada são em comparação à glória que nos espera lá no alto.

Primeiramente suportaram valentemente as brutalidades da multidão. Foram batidos, insultados, importunados. Seus bens foram pilhados, atiraram-lhes pedras, encarceraram-nos juntos. Eles suportaram tudo que uma populaça desenfreada quisesse fazer sofrer a odiosos inimigos. Em seguida, fizeram-nos subir ao fórum. Lá, o tribuno e os magistrados da cidade os interrogaram perante todos, e eles, confessando sua religião, foram aprisionados, esperando a chegada do governador.

Quando este chegou, fê-los comparecer a sua presença e então ficaram sujeitos às crueldades habituais contra os cristãos. Ora, um de nossos irmãos, Vetius Epagathus, estava presente. Homem impregnado de amor divino e de caridade, e tão perfeito que, apesar de sua juventude, merecia o elogio dirigido ao sacerdote Zacarias: 'Andou segundo as ordens e os preceitos do Senhor, e sua vida foi sem mácula'. Sempre pronto a devotar-se pelos outros, cheio de zelo ao serviço de Deus, possuía o ardor do Espírito. Um homem desta têmpera não pôde suportar tantas ilegalidades no processo dos cristãos. Num cúmulo de indignação, ele reclamou o direito de tomar a palavra, para defender seus irmãos e provar que entre nós não há impiedade, nem negação de Deus. Mas as pessoas que rodeavam o tribunal lançaram clamores contra ele - era um homem muito conhecido - e o governador rejeitou seu pedido, embora tão legítimo. Perguntou-lhe somente se era cristão. Ele, então, com voz forte, proclamou ser cristão. O governador uniu-o ao número de mártires. Ele pensava que seria o 'paráclito' dos cristãos, mas na verdade trazia consigo o Paráclito, o Espírito de Zacarias. Havia-o demonstrado muito bem nesse excesso de caridade com que arriscara a própria vida para salvar seus irmãos.

Era e ainda é um verdadeiro discípulo de Cristo, que segue o Cordeiro onde ele for.

A partir deste momento, estabeleceu-se uma cisão entre os cristãos. Uns pareciam prontos para o martírio; cheios de ardor, confessaram   sua   fé   até   ao   fim.  Mas viu-se que não estavam nem prontos, nem exercitados;  débeis  ainda, não podiam  sustentar  o esforço  de  um  grande  combate.  Uma dezena deles falhou.   Isso nos causou profunda tristeza, grande dor, e quebrou o  entusiasmo  dos outros  que não  tinham  sido  ainda  presos  e  que,  ao  preço  de  mil  perigos, assistiam aos mártires sem deles se afastar. Nós fomos então; todos tomados de viva angústia, na incerteza que planava sobre a confissão dos seguintes. Os suplícios que se lhes infligiam deixavam-nos sem pavor, mas, enquanto a coisa não chegava ao fim, nós temíamos as deserções.

Entrementes, as prisões continuavam todos os dias, e os que eram dignos vinham preencher as lacunas deixadas pelos apóstatas. Foi assim que se encontraram reunidos na prisão todos os cristãos fervorosos das duas Igrejas, os principais sustentáculos da religião em nossos países. Foram presos, também, alguns pagãos, servidores dos nossos, pois o governador havia dado ordem oficial de procurar-nos a todos. Essas pessoas, por influência pérfida de Satanás, tomaram-se de medo ante  os tormentos  infligidos aos   santos.  Impelidos pelos soldados, caluniaram-nos,  dizendo  que  fazíamos  refeições  dignas de Tiestes, que éramos incestuosos como Édipo. Acusavam-nos de horrores tão monstruosos que não os podíamos mencionar, nem mesmo imaginá-los ou crer que seres humanos  os  tenham jamais  cometido.

Esses rumores tiveram crédito e todos puseram-se em raiva contra nós. Pagãos que até então se haviam mostrado moderados a nosso respeito, por motivos de parentesco, puseram-se a odiar-nos e rangeram  os   dentes  contra   nós.   Era a realização   da   palavra do   Senhor: 'Tempo virá em que qualquer que vos matar estará pensando servir a Deus'.

Os santos mártires não fizeram mais, desde então, senão sofrer suplícios indescritíveis. Satanás ambicionava fazê-los proferir, também eles, alguma blasfêmia.

Levada ao paroxismo, a cólera da populaça, do governador e dos soldados abateu-se sobre o diácono Sanctus de Viena, sobre Maturus, ainda simples neófito, mas valente atleta, sobre Átala, originário de Pérgamo, que havia sido sempre a coluna e o sustentáculo dos cristãos daqui, e enfim, sobre Blandina. Por ela, Cristo nos ensinou que aquilo que é vil aos olhos dos homens, sem aparência e de pouco preço, é julgado digno de grande glória junto a Deus, quando é animado de amor por ele, amor que não se contenta de fórmulas vãs, mas se prova por atos. Nós todos temíamos por Blandina; e sua senhora segunda a carne, que combatia nas fileiras dos mártires, temia por sua serva, em razão de sua frágil compleição, supondo que lhe faltasse firmeza para confessar a fé. Ora, ela se mostrou tão corajosa, a ponto de cansar e desencorajar os carrascos.

Desde manhã tiveram estes que se revezar para torturá-la cada vez mais. À tarde confessaram-se vencidos, pois não tinham mais nada a fazer-lhe. Espantavam-se que ela tivesse ainda um sopro de vida, tanto seu corpo estava despedaçado e transpassado; e afirmavam que um só destes suplícios seria suficiente para causar-lhe a morte. Mas a bem-aventurada, como um valoroso atleta, renovava as forças ao confessar a fé. Esta lhe era um conforto em seus sofrimentos, era-lhe um alívio o dizer: 'Eu sou cristã e entre nós não há nada de mal'.

Sanctus, superior a  tudo,   também  suportou  com valor  sobre-humano todas  as  torturas  dos  carrascos.  Os  ímpios  esperavam que tormentos prolongados e cruéis lhe arrancariam a confissão de algum crime. Ele os enfrentou com inquebrantável coragem. Não lhes disse o nome, nem de que país vinha, nem sua cidade natal, nem se era escravo ou livre; mas a todas as perguntas respondia em latim: 'Sou Cristão'. Foi a única resposta que ele repetiu cada vez, em lugar do nome, da cidade, da raça e do resto. Os pagãos não conseguiram mais nada.       

O governador e os carrascos rivalizavam então em crueldade contra ele. E quando as torturas habituais foram esgotadas, fizeram aquecer lâminas de bronze e lhas  aplicaram, ardentes,  nos pontos  mais sensíveis do corpo. Estas partes de seu corpo queimavam, mas ele, sem vacilar, permanecia inabalável e firme na afirmação de sua fé. E a fonte celeste de   água   viva   que   brota do   seio   de   Cristo   lhe   era , força e frescor. Seu pobre corpo era a prova das torturas sofridas, não sendo mais que uma chaga e contusão, tão desconjuntado que já não tinha a forma humana. O Cristo, que sofria nele, conquistava magníficos  títulos  de  glória,  esmagando  Satã, o  adversário,  e  mostrando aos outros, com proveito, que nada há de temível quando reina o amor do Pai, nada de doloroso quando se trata da glória de Cristo.    

Dias  após,   os ímpios   recomeçaram  a  torturar   o  mártir.  Suas carnes estavam inchadas e  inflamadas,  mas  os  carrascos  esperavam que, recomeçando as mesmas torturas, triunfariam sobre ele - dado que  já  nem podia  suportar o contato  das  mãos  -  ou  então  que expiraria  em   meio   aos   tormentos,   atemorizando   os   outros.   Não somente nada disso  aconteceu  a  Sanctus  mas,  contra  toda  expectativa, seu corpo ferido se restabeleceu e se reergueu nestes novos suplícios; ele retomou o aspecto de um homem e o uso de seus membros. Para Sanctus  também,  esta segunda  tortura  não  foi  tormento, mas cura.

Biblis, uma daquelas que havia renegado a fé, parecia já ser presa do diabo. Este,  a fim de melhor possuí-la para a condenação, fê-la conduzir à tortura, na esperança de fazê-la repetir as impiedades que nos abatiam. Ela estava, com efeito, tão débil e tão pouco corajosa! Mas eis que em meio aos tormentos, recobrou consciência e despertou de um profundo sono. A pena temporal recordou-lhe o castigo eterno da geena. Eis que então ousou desmentir tudo em face dos caluniadores: 'Como,   diz   ela,   pessoas   destas   comeriam   crianças,   pessoas que não  sabem  sequer nutrir-se  do sangue de  animais  sem  razão?' Desde então não cessou de se confessar cristã e puseram-na no grupo dos mártires.

Estes cruéis tormentos tornavam-se, pois, sem efeito graças ao Cristo que fortificava seus amigos. O diabo imaginou novos ardis; amontoar os mártires em um calabouço infecto e na escuridão, os pés violentamente separados por uma trave - até o quinto buraco; acrescentar a isto as maldades dos carcereiros furiosos. Possuídos pelo diabo, eles estavam mais ferozes que nunca. Assim, a maioria pereceu asfixiada na prisão. O Senhor havia querido que estes desaparecessem assim, para fazer brilhar melhor seu poder. Alguns, com efeito, tão cruelmente feridos pelos suplícios, que pareciam ir morrer apesar dos maiores cuidados, levaram a melhor na prisão. Sem nenhum socorro humano, mas reconfortados pelo Senhor, recuperavam o vigor do corpo e da alma, fortaleciam os outros e os encorajavam. Outros, ao contrário, novos, que vinham presos, mas não haviam recebido em sua carne a sagração dos suplícios, não podiam suportar o horror de ser assim amontoados e morriam na prisão.

O bem-aventurado Potino, então bispo de Lião, tinha mais de noventa anos. De saúde muito fraca, mal podia respirar, tão gasto estava seu corpo. Mas o ardor do Espírito lhe deu forças, pois desejava o martírio. Arrastaram-no ao  tribunal,  o corpo  alquebrado de velhice e de enfermidade, a alma intacta. Por ela devia triunfar o Cristo. Foi levado ao tribunal pelos soldados. Os magistrados da cidade e toda uma populaça o acompanhavam, atirando-lhe insultos de todo gênero, como se ele fosse o Cristo em pessoa. Seu testemunho de fé foi esplêndido. O governador perguntou-lhe qual era o deus dos cristãos. 'Se fordes digno, disse ele, sabê-lo-eis'. Então arrastaram-no brutalmente e maltrataram-no mais ainda. Os mais próximos davam-lhe pontapés ou socos, sem respeito, apesar de sua idade avançada. Os que estavam mais longe lançavam-lhe tudo que lhes caía às mãos. Cada qual pensava fazer grave pecado não o ultrajando, pois assim vingaria seus deuses. O mártir já mal respirava quando o jogaram na prisão. Aí morreu dois dias depois.

Realizaram-se então  os  desígnios  grandiosos  de Deus,  e  os homens  conheceram   a  misericórdia   infinita   de  Jesus.   Nossa   comunidade de fiéis raramente viu tal triunfo, mas era bem segundo o espírito de Cristo. Ei-lo:

Aqueles que haviam renegado a fé desde sua detenção ficaram também presos com os mártires, partilhando seus sofrimentos, pois nessas circunstâncias a apostasia nada lhes servia. Os verdadeiros confessores da fé eram aprisionados como cristãos sem outro motivo de acusação; aos outros, aprisionavam-nos como homicidas e impudicos. Seu castigo era duas vezes mais duro que o de seus companheiros. Estes, com efeito, encontravam um reconforto na alegria do martírio, na esperança das promessas, no amor de Cristo e no Espírito do Pai. Os apóstatas, ao contrário, eram torturados pelo remorso, a ponto de serem reconhecíveis ao passarem entre os outros.

Os confessores caminhavam cheios de alegria, o rosto rebrilhando de glória e de graça. Suas próprias correntes tornavam-se um nobre enfeite, como no vestido de uma noiva as franjas bordadas de ouro. Difundiam o suave odor de Cristo, tanto que vários deles se perguntavam se estavam perfumados. Mas os apóstatas passavam com os olhos baixos, humilhados, repulsivos e feios. Assim, os próprios pagãos os insultavam e chamavam-nos de velhacos e sujos. Acusavam-nos de homicídio e eles haviam ainda perdido o nome que lhes fazia honra, sua glória e sua vida. Este espetáculo revigorou os outros, e os que ainda eram presos confessavam a fé sem hesitação, sem mais pensar em cálculos diabólicos.

...Após tantos sofrimentos, seu martírio afinal apresentou uma variedade de grande beleza. Com flores de  toda espécie e  de todas as cores, teceram uma coroa e ofereceram-na ao Pai. Em troca, os valentes  atletas,  vencedores de  incontáveis  combates,  bem  mereciam a coroa magnífica da imortalidade.

Pois Maturus, Sanctus, Blandina e Átala foram conduzidos às feras no anfiteatro para alegrar os olhos dos pagãos sem coração. Era um dia de combate contra as feras, feito expressamente por causa dos nossos.     

Maturus e Sanctus sofreram novamente no anfiteatro toda sorte de tormentos como se antes não tivessem sido torturados. Mas eles eram como atletas, já vencedores do adversário em outros combates e que travavam então a batalha decisiva pela coroa. Vieram ainda as chicotadas, segundo os usos do país, os ferimentos das feras e tudo que o povo delirante reclamava aos gritos provenientes de todos os lados; enfim, a cadeira de ferro onde os corpos, tostando, exalavam um odor de gordura. Mas os pagãos não estavam saciados. Sua raiva redobrava contra os mártires, querendo vencer sua resistência.

Apesar de tudo, nada puderam arrancar de Sanctus, a não ser a confissão de fé que ele repetia desde o princípio. Para terminar, pois a vida dos mártires resistia ainda após toda essa luta, degolaram-nos. Nesse dia, os mártires oferecidos em espetáculo bastaram para substituir os duelos de gladiadores e suas peripécias.

Blandina, suspensa a um poste, devia servir de presa às feras desencadeadas. Vendo-a assim, como crucificada e orando em voz alta, os combatentes se sentiam mais valentes.  Em plena luta,  eles olhavam  sua irmã e  criam  ver  nela,  com  os  olhos  do  corpo,  o  Cristo crucificado   por   eles,   a   fim  de   assegurar   aos   crentes   que   aqueles que  sofrem  por  sua  glória  viverão  para  sempre  com  o Deus vivo.

Entretanto nenhuma das feras tocou Blandina naquele dia. Tiraram-na do poste e tornaram a levá-la para a prisão. Guardavam-na para outro combate. Suas vitórias repetidas no decorrer de tantas provações tornavam assim para a pérfida Serpente um revés sem remédio e para nossos irmãos um aguilhão à bravura. Ela, a pequena, a frágil, a desprezada, mas revestida de Cristo, o grande e invencível Atleta, havia rechaçado várias vezes o Adversário. Ela devia merecer no último combate cingir a coroa de imortalidade.

Átala também foi imperiosamente reclamado pela populaça, pois era muito conhecido. Entrou na arena, pronto para a luta, seguro da beleza de sua causa. Havia-se exercitado bravamente no exército cristão e fora sempre para nós uma testemunha da verdade. Fizeram-no dar a volta do anfiteatro. Levavam em sua frente um cartaz onde se lia em latim: 'Átala, o cristão'. O povo estava enraivecido contra ele. Mas o governador, sabendo que era cidadão romano, fê-lo reconduzir à prisão onde se encontravam os outros cristãos. Mandou notificar a César e esperou a resposta. Esta delonga não foi tempo perdido para os mártires. Sua paciência manifestava bem a misericórdia infinita de Cristo. Nos sobreviventes vivia a recordação dos mortos, e os mártires perdoavam os que não haviam ousado ser mártires. Tudo isso constituiu grande alegria para a Igreja, nossa mãe virginal; os filhos que ela havia suposto mortos, recebia-os vivos. Sob a conduta dos verdadeiros mártires, a maioria dos apóstatas experimentou novamente suas forças. Tornavam-se concebidos pela segunda vez na vida da graça, a vida reacendia-se neles. Aprendiam a confessar sua fé. E foi vivos e refortalecidos que se apresentaram ao tribunal. Deus que em sua bondade não quer a morte do pecador, mas seu arrependimento, os sustentava com sua graça, quando o governador os interrogou de novo. César havia, nesse ínterim, respondido que fossem golpeados os obstinados e libertos os apóstatas.

A festa solene do país acabava de começar e havia grande afluência de estrangeiros. O governador fez trazer os bem-aventurados a seu tribunal, e o cortejo desfilou, com aparato teatral, para o prazer do povo. Após novo interrogatório, fez decapitar os que eram conhecidos como cidadãos romanos, e enviou os demais às feras.

Os que antes haviam renegado ao Cristo glorificaram-no então magnificamente, confessando sua fé contra a expectativa dos pagãos. Tinham sido interrogados à parte, como pessoas a serem conquistadas, declararam-se cristãos e foram reunidos ao grupo dos mártires.

Ficavam excluídos somente os que não haviam tido jamais qualquer traço de fé, que não haviam compreendido o símbolo do traje nupcial, que não tinham o temor de Deus. Eram os filhos da perdição que, por sua apostasia, blasfemaram contra os caminhos de Deus. Todos os outros permaneceram no corpo da Igreja.

Perto do tribunal, estava de pé certo Alexandre. Vindo da Frigia, estabelecera-se como médico nas Gálias havia longos anos. Era universalmente conhecido por seu amor a Deus e sua franqueza de linguagem, e havia recebido do céu o dom do apostolado. Ora, durante os interrogatórios, ele fazia sinais com a cabeça aos acusados, encorajando-os a proclamar a fé. As pessoas que rodeavam o tribunal perceberam que se entregava a este trabalho de gerar para a Igreja novos filhos. O povo então, furioso de ver os antigos apóstatas confessarem de novo o Cristo, reclamou aos berros contra Alexandre e acusou-o de responsável por isso. O governador fê-lo comparecer e perguntou-lhe quem era. 'Cristão', respondeu Alexandre. Furioso, o governador o condenou às feras.

No dia seguinte, Alexandre entrava no anfiteatro com Átala. Pois o governador, para agradar ao povo, entregava novamente Átala às feras. Eles passaram então por todos os instrumentos de torturas imaginadas para o anfiteatro e sustentaram um combate duríssimo. Enfim foram degolados. Alexandre, sem um gemido, sem um murmúrio, entreteve-se todo o tempo com Deus, no fundo do coração. Átala, sentado sobre a cadeira de ferro e com o corpo queimado, havia dito em latim ao populacho, ao sentir o cheiro de gordura queimada que  subia de sua carne tostada: 'Vede: o que vós fazeis é comer homens.   Nós não comemos homens, e não fazemos nenhum mal'. Perguntaram-lhe que nome dava a Deus. 'Deus', respondeu ele,  'não tem nome como um homem'.

Após todos estes martírios, no último dia dos embates individuais, Blandina foi levada de novo com Ponticus, um jovem de uns quinze anos. Cada dia, faziam-nos vir ao anfiteatro para lhes mostrar os suplícios dos outros. Queriam forçá-los a jurar pelos ídolos. Sua resistência calma e o desprezo que testemunhavam aos deuses pagãos levantaram contra eles o furor do povo, que foi implacável ante a juventude do rapaz e perdeu todo respeito pelo sexo de Blandina. Sujeitaram-nos a horrores e fizeram-nos passar por todo o ciclo dos suplícios. Entre golpes, esforçavam-se por fazê-los jurar contra Deus, mas não conseguiram. Ponticus era encorajado por sua irmã, e os pagãos percebiam que ela o exortava e estimulava. Ele suportou bravamente todas as torturas e entregou a alma.  

A bem-aventurada Blandina foi a última. Qual nobre mãe que deu entusiasmo a seus filhos e os enviou vencedores perante o rei, ela sustentou por sua vez os mesmos combates que seus filhos no martírio e apressou-se a reunir-se a eles. Toda contente e na alegria da partida, parecia convidada a um festim de núpcias e não jogada às feras. Após os chicotes, as feras, a grelha, puseram-na numa rede, para ser atirada a um touro. Lançada ao ar por várias vezes pelo animal, não sentia mais nada, toda na esperança das recompensas prometidas, entregue à sua conversação com Cristo. Finalmente degolaram-na, e os próprios pagãos confessaram que jamais, entre eles, mulher alguma padecera tantos e tão cruéis sofrimentos.

Entretanto isto não foi suficiente para saciar-lhes o furor e a crueldade contra os santos. Excitados pelo diabo, que é fera, essas tribos selvagens e bárbaras dificilmente se apaziguavam. Em seu furor, voltaram-se para os cadáveres. Vencidos, não se envergonhavam, sendo incapazes de raciocinar como homens. Ao contrário, o revés os enraivecia como a feras. E o governador também demonstrava contra nós o mesmo ódio injusto. Cumpria-se assim a palavra da Escritura: 'O ímpio mergulhará em sua impiedade, e o justo será mais justo ainda'. Uma guarda montada noite e dia nos impedia de sepultá-los. Também expuseram o que as feras e os carrascos haviam deixado dos corpos: aqui carnes em farrapos, lá despojos carbonizados, e ainda cabeças cortadas com corpos mutilados. Tudo isso ficou ali por muitos dias, sem sepultura, guardado por soldados. Entre os pagãos, uns ralhavam e rangiam os dentes contra os mártires: gostariam de poder  fazê-los sofrer   ainda.   Outros escarneciam  caçoando   dos mortos  e  glorificavam   seus   ídolos  por   terem   assim  castigado   aos cristãos. Alguns, mais moderados e aparentemente  tocados  por um pouco de compaixão: 'Onde está seu Deus?'  'De que lhes há servido a religião que eles amaram mais que sua vida?' Eram assim diversas as reações.

Entre nós reinava grande luto: não podíamos inumar os corpos. Impossível contar com a noite. O dinheiro não seduzia os guardas e nossos rogos não os comoviam. A vigilância não relaxava, como se houvesse grande proveito em privar nossos mortos de sepultura.

Durante seis dias, os corpos dos mártires ficaram expostos em pleno ar e insultados de todas maneiras. Em seguida queimaram-nos, e quando foram reduzidos a cinza, os ímpios as varreram e jogaram no Ródano, que corre ali perto, para não restar sobre a terra a menor relíquia dos mártires. Fazendo isso, os pagãos criam vencer a Deus e impedir os mortos de ressuscitar.

'É preciso', diziam eles, 'tirar dos cristãos até a esperança da ressurreição. Foi graças a esta crença que eles introduziram entre nós uma religião estranha e nova e que eles desprezam as torturas, prontificando-se em caminhar para a morte com alegria. Vejamos agora se vão ressuscitar e se Deus pode socorrê-los e arrancá-los de nossas mãos'.

 

Em 1 Pd 4, 16-17 diz: "... mas, se sofre como cristão, não se envergonhe, antes glorifique a Deus por esse nome. Com efeito, é tempo de começar o julgamento pela casa de Deus. Ora, se ele começa por nós, qual será o fim dos que se recusam a obedecer ao evangelho de Deus?"

 

É um dos três lugares do Novo Testamento em que se designa os discípulos de Cristo com o nome de "cristãos" (cfr At 11, 26; 26, 28).

Como explica São Lucas no livro dos Atos dos Apóstolos, começaram a receber esse nome em Antioquia, capital da província romana da Síria (cfr At 11, 26).

Ser cristão não pode converter-se nunca em motivo de vergonha ou de covardia, mas de agradecimento a Deus e de santo orgulho.

São Josemaría Escrivá escreve: "Os cristãos acovardados, coibidos ou invejosos da libertinagem dos que não aceitam a palavra de Deus, demonstram ter um conceito miserável da nossa fé. Se cumprimos verdadeiramente a Lei de Cristo - se nos esforçamos por cumpri-la, porque nem sempre o conseguiremos - descobrir-nos-emos dotados dessa maravilhosa galhardia de espírito, que não precisa de ir buscar a outro sítio o sentido da mais plena dignidade humana" (Amigos de Deus, n° 38).

Muitos santos que derramaram o sangue por amor a Cristo Jesus, se sentiam orgulhosos em dizer aos carrascos que eram cristãos.

"Sou cristã e meu empenho é servir a Cristo, meu Deus" (Santa Cristina).

 

"Sou cristão e cristão permanecerei. Honra maior não conheço que esta, de sacrificar não só meus bens e minha fortuna, como também minha vida, pela glória de Jesus Cristo" (São Flaviano).

 

"Sou cristão, e como cristão quero viver e morrer" (Santo Anastácio).

 

"Sim, sou Policarpo. Oitenta e seis anos são que completo no serviço de Jesus Cristo e ele nunca me fez mal algum; como poderia injuriá-lo?"

O Imperador o ameaçou jogá-lo às feras: "Deixa-as vir! Persisto no meu intento e não mudarei".

"Sou cristão e não abandonarei a Cristo".

 

"Sendo cristã, só servirei a Deus, rei do céu e da terra, para os deuses não tenho senão desprezo" (Santa Dorotéia).

 

Em 1 Pd 4, 18-19 diz: "Se o justo com dificuldade consegue salvar-se, em que situação ficará o ímpio e pecador? Assim, aqueles que sofrem segundo a vontade de Deus confiam as suas almas ao fiel Criador, dedicando-se à prática do bem".

 

Muitos pensam que os santos viveram folgadamente aqui na terra; quem pensa assim, erra. Os santos levaram Deus e o Evangelho a sério, percorreram o caminho estreito, pisaram o respeito humano, viraram as costas para as máximas do mundo, mortificaram o corpo... em resumo, viveram crucificados com Cristo Jesus.

Muitos santos, para vencerem as tentações, se jogavam na neve e se abraçavam com espinhos, usavam cilícios e disciplinas, jejuavam com rigor, passavam horas ajoelhados diante do Santíssimo Sacramento, dormiam na terra dura e usavam uma pedra como travesseiro.

Os santos se salvaram com dificuldade, enquanto que os pecadores se julgam salvos, dizendo que já existe um lugar para eles no céu, dizem que já possuem a salvação garantida.

Se os santos que viveram a pureza se salvaram com dificuldade; em que situação ficará os pecadores que vivem mergulhados na impureza?

Se os santos que pisaram as máximas do mundo se salvaram com dificuldade; em que situação ficará os pecadores que seguem o mundo e suas máximas?

Se os santos que mortificaram o corpo com jejuns e penitências se salvaram com dificuldade; em que situação ficará os pecadores que endeusam o corpo, tratando-o com mimo?

Se os santos que aproveitaram bem o tempo para entesourar tesouros no céu se salvaram com dificuldade; em que situação ficará os pecadores que desperdiçam o tempo com as coisas passageiras?

Se os santos que passaram horas e horas em oração se salvaram com dificuldade; em que situação ficará os pecadores que não rezam?

Se os santos que confessavam com frequência se salvaram com dificuldade; que situação ficará os pecadores que zombam da confissão?

Se os santos que participavam da Santa Missa diariamente se salvaram com dificuldade; que situação ficará o pecador que não passa nem perto da igreja?

Feliz daquele que sofre por servir fielmente a Deus; esse está no caminho certo, no caminho do céu: "Bem-aventurado o homem que suporta com paciência a provação! Porque, uma vez provado, receberá a coroa da vida, que o Senhor prometeu aos que o amam" (Tg 1, 12).

 

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP.

Anápolis, 08 de abril de 2008

 

 

 

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Pe. Divino Antônio Lopes FP. "Sofrer com Cristo"

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