O ESPÍRITO DA VERDADE (Jo 14, 15-21)
"15 Se me amais, observareis meus mandamentos, 16 e rogarei ao Pai e ele vos dará outro Paráclito, para que convosco permaneça para sempre, 17 o Espírito da Verdade, que o mundo não pode acolher, porque não o vê nem o conhece. Vós o conheceis, porque permanece convosco. 18 Não vos deixarei órfãos. Eu virei a vós. 19 Ainda um pouco e o mundo não mais me verá, mas vós me vereis porque eu vivo e vós vivereis. 20 Nesse dia compreendereis que estou em meu Pai e vós em mim e eu em vós. 21 Quem tem meus mandamentos e os observa é que me ama; e quem me ama será amado por meu Pai. Eu o amarei e me manifestarei a ele".
Em Jo 14, 15 diz: "Se me amais, observareis meus mandamentos".
O autêntico amor há de manifestar-se com obras: "Isto é na verdade o amor: obedecer àquele que se ama e crer nele" (São João Crisóstomo, Hom. sobre São João, 74), e: "Por isso Jesus quer fazer-nos compreender que o amor a Deus, para o ser deveras, há de refletir-se numa vida de entrega generosa e fiel ao cumprimento da Vontade divina: aquele que recebe os Seus mandamentos e os guarda, esse é que O ama (cfr Jo 14, 21). O próprio São João exorta-nos noutro passo a que 'não amemos de palavra e com a língua, mas com obras e de verdade' (1 Jo 3, 18), e ensina-nos que 'o amor de Deus consiste em que cumpramos os Seus mandamentos' (1 Jo 5, 3)" (Edições Theologica). Amar a Deus e não observar os seus mandamentos é um contra-senso, é absolutamente impossível. Mente aquele que afirma amar a Deus, mas desobedece aos Seus mandamentos. O amor a Deus não consiste em "poesias" e sentimentalismo, mas sim, em viver os mandamentos. Aquele que ama verdadeiramente a Deus obedece aos Seus mandamentos. O Pe. Gabriel de Santa Maria Madalena escreve: "A observância dos mandamentos como prova de amor autêntico - muitas vezes recomendada no Sermão da última Ceia - é apresentada por Jesus como condição para receber o Espírito Santo. Só quem vive no amor e, portanto, no cumprimento da vontade divina, está apto a receber o Espírito Santo, Amor infinito feito Pessoa".
Em Jo 14, 16-17 diz: "... e rogarei ao Pai e ele vos dará outro Paráclito, para que convosco permaneça para sempre, o Espírito da Verdade, que o mundo não pode acolher, porque não o vê nem o conhece. Vós o conheceis, porque permanece convosco".
O Senhor promete aos Apóstolos em diversas ocasiões que lhes enviará o Espírito Santo (cfr 14,26; 15,36; 16,7-14; Mt 10,20). Aqui anuncia-lhes que um fruto da Sua mediação diante do Pai será a vinda do Paráclito. O Espírito Santo, com efeito, virá sobre os discípulos depois da Ascensão do Senhor (cfr At 2,1-13), enviado pelo Pai e pelo Filho. Aqui Jesus ao prometer que por meio d'Ele o Pai lhes enviará o Espírito Santo, está a revelar o mistério da Santíssima Trindade. Edições Theologica comenta: "Paráclito significa etimologicamente 'chamado junto a um' com o fim de o acompanhar, consolar, proteger, defender... Daí que o Paráclito se traduza por Consolador, Advogado, etc. Jesus fala do Espírito Santo como de 'outro Paráclito', porque será dado aos discípulos em Seu lugar como Advogado ou Defensor que os assista, já que Ele vai subir aos Céus. Em 1 Jo 2,1 chama-se Paráclito a Jesus Cristo: 'Temos Advogado diante do Pai: Jesus Cristo, o Justo'. Cristo, portanto, é também nosso Advogado e Mediador no Céu junto ao Pai (cfr Hb 7,25). O Espírito Santo cumpre agora o ofício de guiar, proteger e vivificar a Igreja". O Papa Paulo VI comenta: "Porque, como sabemos, dois são os elementos que Cristo prometeu e outorgou, ainda que diversamente, para continuar a Sua obra (...): o apostolado e o Espírito. O apostolado atua externa e objetivamente; forma o corpo, por assim dizer, material da Igreja, confere-lhe as suas estruturas visíveis e sociais; enquanto o Espírito Santo atua internamente, dentro de cada uma das pessoas, como também sobre a comunidade inteira, animando, vivificando e santificando". O Paráclito é o nosso Consolador enquanto caminhamos neste mundo no meio de dificuldades e sob a tentação da tristeza: "Por maiores que sejam as nossas limitações, nós, homens, podemos olhar com confiança para os Céus e sentir-nos cheios de alegria: Deus ama-nos e liberta-nos dos nossos pecados. A presença e a ação do Espírito Santo na Igreja são o penhor e a antecipação da felicidade eterna, dessa alegria e dessa paz que Deus nos prepara" (São Josemaría Escrivá, Cristo que passa, n.° 128), e: "Paráclito quer dizer consolador e também advogado, assistente, auxílio. Jesus foi o primeiro consolador que, em sua misericórdia, nos enviou o Pai celeste. O Espírito Santo é também um consolador, para nós como para os Apóstolos. O Espírito Santo permanecerá eternamente convosco, o que quer dizer que a sua assistência foi prometida, não somente aos Apóstolos, mas a todos os seus sucessores. Os mundanos, guiados pelo espírito do erro, não são capazes de discernir ou compreender os dons do Espírito Santo, bem que o tenham debaixo dos olhos. Por isso não o podem receber. Permanecerá convosco, com o corpo da Igreja, com a Igreja universal, e estará em vós, no coração de cada um, pela graça santificante. Todo cristão, em estado de graça é um templo do Espírito Santo" (Dom Duarte Leopoldo), e também: "Posta esta premissa, Jesus mesmo, voltando ao Pai, enviará aos seus 'um outro Consolador' - advogado, defensor - que o substituirá junto aos discípulos, permanecerá sempre com eles e com toda a Igreja. Sendo 'Espírito', sua presença e atuação serão invisíveis, absolutamente espirituais. O mundo imerso na matéria e obscurecido pelo erro não poderá conhecê-lo, nem recebê-lo, pois está em franca oposição com o 'Espírito de Verdade" (Pe. Gabriel de Santa Maria Madalena). Dídimo do Espírito Santo comenta: "Chamou ao Espírito Santo outro Consolador, não pela diversidade de essência, senão de operação, porque o Salvador desempenhava o ofício de mediador e de enviado, para que na condição de Pontífice rogasse por nós pecadores, e a denominação de Paráclito do Espírito Santo já tem outro sentido, e é o de consolador dos tristes", e: "Também disse: 'Para que permaneça entre vocês eternamente'... Aqui insinua implicitamente que o Espírito Santo não morrerá como Ele, nem tampouco se separará" (São João Crisóstomo, Ut supra), e também: "Este é na Trindade o Espírito Santo, a quem a Igreja proclama coeterno e consubstancial com o Pai e o Filho" (Santo Agostinho, Ut supra), e ainda: "Observe-se que quando chama ao Espírito Santo, Espírito de verdade, manifesta que o Espírito Santo é seu próprio Espírito. Depois, quando promete que o Pai o enviará, que é também o Espírito do Pai. Por esta razão o Espírito Santo procede do Pai e do Filho" (São Beda), e: "Todo aquele que o Espírito Santo enche com sua presença, se eleva ao desejo das coisas invisíveis. E como os corações mundanos não desejam senão as visíveis, não o recebe este mundo, que não sabe levantar-se até o amor do invisível" (São Gregório, Moralium 5, 20).
Em Jo 14, 18-21 diz: "Não vos deixarei órfãos. Eu virei a vós. Ainda um pouco e o mundo não mais me verá, mas vós me vereis porque eu vivo e vós vivereis. Nesse dia compreendereis que estou em meu Pai e vós em mim e eu em vós. Quem tem meus mandamentos e os observa é que me ama; e quem me ama será amado por meu Pai. Eu o amarei e me manifestarei a ele".
A desgraça do órfão é o isolamento. Abandonado e só na terra, não tem mais pai nem mãe para amá-lo e defendê-lo. Jesus, porém, nos deixa um Pai no céu, e na terra uma mãe terna e carinhosa - a Santa Igreja Católica. Não somos órfãos, porque temos o nosso Divino Salvador realmente presente na Santíssima Eucaristia. Edições Theologica comenta: "Em vários momentos da Ceia transparece a tristeza dos Apóstolos diante das palavras de despedida do Senhor (cfr Jo 15, 16; 16, 22). Jesus fala-lhes com ternura, chamando-lhes filhinhos (Jo 13, 33) e a amigos (Jo 15, 15), e promete-lhes que não ficarão sós, pois lhes enviará o Espírito Santo, e Ele mesmo voltará a estar com eles. Na verdade, vê-Lo-ão de novo depois da Ressurreição, quando lhes aparecer durante quarenta dias falando com eles do reino de Deus (cfr At 1, 3). Ao subir aos Céus deixarão de vê-Lo; não obstante, Jesus continua no meio dos Seus discípulos, segundo tinha prometido (cfr Mt 28, 20), e vê-Lo-emos face a face no Céu". Santo Agostinho escreve: "Então poderemos ver o que agora cremos. Também agora Ele está entre nós, e nós n'Ele; mas agora cremo-Lo, então conhecê-Lo-emos, e ainda que agora O conheçamos pela fé, então conhecê-Lo-emos pela contemplação. Enquanto vivemos neste corpo corruptível que pesa à alma, como sucede agora, estamos a peregrinar para o Senhor: caminhamos na fé e não na visão. Mas então vê-Lo-emos diretamente, tal qual é" (In Ioann. Evang., 75, 4). "Nesse dia compreendereis que estou em meu Pai e vós em mim e eu em vós". Três dias depois da sua morte, os Apóstolos tornariam a vê-lo ressuscitado e glorioso. Nesse dia, sob a ação do Espírito Santo, eles deviam conhecer que Jesus está no Pai, que nós estamos em Jesus, e que Jesus está em nós. É a revelação do grande mistério de que fala São Paulo aos Efésios: 'O Cristo habita em vós pela fé' de modo invisível, porém real. Feliz a alma que tem o sentimento da presença de Jesus em seu coração! Este sentimento é a sua força, é o Céu antecipado. "Quem tem meus mandamentos e os observa é que me ama; e quem me ama será amado por meu Pai. Eu o amarei e me manifestarei a ele". Como se manifesta Jesus àqueles que o amam? - Pela luz da graça e da fé, cada vez mais intensa, conforme a pureza da sua alma, e pela visão de Deus na outra vida. Quereis mais claro? Perguntai a São Paulo, a São Francisco de Assis, a Santa Teresa, a Santa Catarina de Sena e a Santa Madalena de Pazzi. Eles, os santos, as almas puras, vos dirão como, na escola de Jesus, os mais ignorantes se tornam sábios e grandes sábios.
Pe. Divino Antônio Lopes FP. Anápolis, 23 de abril de 2008
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