PRISÃO DE PEDRO E SUA LIBERTAÇÃO MIRACULOSA

(At 12, 1-19)

 

 

"1 Nessa mesma ocasião o rei Herodes começou a tomar medidas visando a maltratar alguns membros da Igreja. 2 Assim, mandou matar à espada Tiago, irmão de João. 3 E, vendo que isto agradava aos judeus, mandou prender também a Pedro. Era nos dias dos Pães sem fermento. 4 Tendo-o, pois, feito deter, lançou-o na prisão, entregando-o à guarda de quatro piquetes, de quatro soldados cada um, tencionando apresentá-lo ao povo depois da Páscoa. 5 Mas, enquanto Pedro estava sendo mantido na prisão, fazia-se incessantemente oração a Deus, por parte da igreja, em favor dele. 6 Quando se aproximava o momento de Herodes apresentá-lo, naquela mesma noite estava Pedro dormindo entre dois soldados, preso a duas correntes, enquanto sentinelas diante da porta vigiavam a prisão. 7 De repente, sobreveio o Anjo do Senhor e uma luz brilhou no cubículo. Tocando o lado de Pedro, o Anjo fê-lo erguer-se, dizendo: 'Levanta-te depressa!' E caíram-lhe as correntes das mãos. 8 Disse-lhe ainda: 'Cinge-te e calça  tuas sandálias'. E ele o fez. Disse-lhe mais: 'Envolve-te em teu manto e segue-me'. 9 Pedro saiu e foi seguindo-o, mas não sabia se era verdade o que estava acontecendo por meio do Anjo: parecia-lhe antes uma visão. 10 Passaram, assim, pelo primeiro posto da guarda, depois pelo segundo, e chegaram ao portão de ferro que dá para a cidade, o qual se abriu por si mesmo diante deles. Saindo, enveredaram por uma rua, quando subitamente o Anjo apartou-se dele. 11 Então Pedro, voltando a si, disse: 'Agora sei realmente que o Senhor enviou o seu Anjo, livrando-me das mãos de Herodes e de toda expectativa do povo judeu'. 12 Dando-se conta da situação, dirigiu-se à casa de Maria, a mãe de João, o que tem o cognome de Marcos. Ali se encontravam muitos, reunidos em oração. 13 Batendo ele ao postigo do portão, veio uma criada, chamada Rode, para ver quem era. 14 Tendo reconhecido a voz de Pedro, ficou tão alegre que não lhe abriu. Ao invés, correndo para dentro, anunciou que Pedro estava ali, diante do portão. 15 Então, disseram-lhe: 'Estás louca!' Ela, porém, assegurava que era verdade. 'Então é seu anjo!', concluíram. 16 Pedro, porém, continuava a bater. Afinal abriram e, vendo-o, ficaram estupefatos. 17 Ele, fazendo sinal com a mão para que não falassem, narrou-lhes como o Senhor o livrara da prisão. E acrescentou: 'Anunciai isto a Tiago e aos irmãos'. Depois saiu, e foi para outro lugar. 18 Fazendo-se dia, houve não pequeno alvoroço entre os soldados, sobre o que teria acontecido a Pedro. 19 Tendo mandado chamá-lo e não o encontrando, Herodes instaurou um inquérito sobre os guardas e ordenou que fossem executados. Depois, descendo da Judéia para Cesaréia, ali passou algum tempo".

 

 

Em At 12, 1-2 diz: "Nessa mesma ocasião o rei Herodes começou a tomar medidas visando a maltratar alguns membros da Igreja.  Assim, mandou matar à espada Tiago, irmão de João".

 

Narra-se a perseguição da Igreja pelo rei Herodes Agripa I (37-44), que deve ter tido lugar antes da viagem de Paulo e Barnabé à Cidade Santa (cfr At 11,30).

As notícias deste capítulo sobre a nova perseguição da comunidade de Jerusalém, mais ampla e generalizada que as crises anteriores (cfr At 5,17; 8,1), refletem com precisão tanto a cronologia como a situação na Palestina. Os cristãos de Jerusalém achavam-se antes relativamente protegidos pelos procuradores romanos. Agora são entregues por Agripa - ávido de congraçar-se com os Fariseus - ao ressentimento e à animosidade crescentes das autoridades e do povo judeu.

Este capítulo encerra, por assim dizer a história da primeira comunidade cristã em Jerusalém. Doravante, a atenção fixar-se-á na igreja de Antioquia. A última etapa da Igreja judeo-cristã palestinense, sob a direção de São Tiago, o irmão do Senhor, ver-se-á impedida da expansão de que gozaram outras Igrejas, pelas graves circunstâncias históricas que padeceu a Terra Santa.

Edições Theologica comenta: "O rei Herodes é o terceiro príncipe que aparece com este nome no Novo Testamento. Era neto de Herodes o Grande, que edificou o novo Templo de Jerusalém e ordenou a matança dos inocentes (cfr Mt 2,16), e sobrinho de Herodes Antipas, tetrarca da Galileia no tempo da morte do Senhor. Herodes Agripa I tinha sido muito favorecido pelo imperador Calígula, que lhe ampliou gradualmente os territórios sob o seu domínio e lhe permitiu usar o título de rei. Agripa I conseguiu reinar sobre tudo o que constituiu o reino de seu avô, de modo que a Judéia - regida por governadores romanos até ao ano 41 - voltou a ser parte dos domínios que Roma lhe reconhecia. Era homem refinado e diplomático, dedicado tão intensamente a consolidar o seu poder, que se tinha convertido em mestre da intriga e do oportunismo. Por motivos preferentemente políticos praticava o Judaísmo com certo rigor.

O martírio de São Tiago, o Maior, deve ter acontecido no ano 42 ou 43. São Tiago é o primeiro mártir entre os doze Apóstolos e o único cuja morte se menciona no Novo Testamento. A Liturgia das Horas diz sobre ele o seguinte: 'Filho de Zebedeu e irmão do apóstolo João, tinha nascido em Betsaida. Foi testemunha dos principais milagres operados pelo Senhor, e morto por Herodes cerca do ano 42. É venerado com culto especial em Compostela (Espanha) onde se ergue a célebre basílica a ele dedicada".

São João Crisóstomo escreve: "O Senhor permite esta morte  para fazer ver aos homicidas que estes acontecimentos não fazem os cristãos retroceder nem deter-se" (Hom. sobre Act, 26).

Herodes Agripa era filho de Aristóbulo e de Berenice, e neto do grande Herodes e dessa Mariam que o Idumeu sanguinário tinha amado, assassinado e tantas vezes chorado. Seu pai tinha sido uma das últimas vítimas do tirano. Educado na corte de Tibério, onde a sua vida de libertinagem, de escândalos e de dívidas tinha surpreendido um meio que, no entanto, não era muito para se deixar surpreender, fora preso por ordem do velho imperador misantropo, no ano de 37, e tinha passado alguns meses na prisão. Mas o seu companheiro de orgias, Calígula, tendo subido ao trono pouco depois, dera-lhe o título de rei e as duas tetrarquias da Palestina do Norte e, depois da deposição de Antipas, a Galiléia e a Peréia. Cláudio juntou-lhe a Judéia e a Samaria, reconstituindo para ele o reino herodiano.

Quando este libertino, que não era tolo, chegou a Jerusalém, alardeou logo um grande zelo religioso para conquistar as boas graças do povo. Flávio Josefo conta que, por ocasião da sua entrada na cidade, "imolou vítimas em ação de graças, sem esquecer nenhuma das prescrições da Lei, e que uma cadeia de ouro, que lhe fora oferecida por Calígula e que pesava tanto quanto a de ferro com que Tibério lhe acorrentara as mãos reais, foi depositada por ele no recinto sagrado". Isto não era talvez apenas uma astúcia política, porque a psicologia dos herodianos mostra-se sempre complexa. O Talmude refere que, celebrando um dia a festa das Tendas e lendo, conforme o costume dos anos sabáticos (o ano de 40-41 era um deles), o texto, inteiro do Deuteronômio, e tendo chegado àquela passagem que diz: "Tu não farás reinar sobre ti um estrangeiro que não seja teu irmão", ele, o semibeduíno, o mestiço, sentira-se de repente indigno de reinar sobre a nação santa e derramara tantas lágrimas que o povo, comovido, tinha protestado, aclamando-o.

Este zelo explica a sua atitude para com os cristãos. Pela primeira vez, a perseguição tomou um caráter sistemático, que nunca tivera anteriormente, pois as reações violentas contra a propaganda do Evangelho haviam sido apenas ocasionais. "Herodes Agripa pôs-se a maltratar os membros da Igreja. Matou à espada Tiago, irmão de João" (Atos 12, 1-2). Trata-se de um dos filhos de Zebedeu, de quem se fala muitas vezes nos Evangelhos; pela primeira vez, um Apóstolo, um dos Doze, dava o seu testemunho de sangue. Eusébio, segundo Clemente de Alexandria, conta que este martírio deu motivo a um comovente episódio, como tantos outros se deram depois nos tempos heróicos das grandes perseguições. O denunciante de Tiago, que manteve a acusação perante o tribunal, impressionado com a coragem do Apóstolo, converteu-se ali mesmo e declarou-se cristão. Levado ao suplício com a sua vítima, pediu-lhe que lhe perdoasse. Tiago refletiu um instante e disse: "A paz seja contigo. E abraçou-o".

 

Em At 12, 3-4 diz: "E, vendo que isto agradava aos judeus, mandou prender também a Pedro. Era nos dias dos Pães sem fermento. Tendo-o, pois, feito deter, lançou-o na prisão, entregando-o à guarda de quatro piquetes, de quatro soldados cada um, tencionando apresentá-lo ao povo depois da Páscoa".

 

Na mesma ocasião foi também preso Pedro. A sua importância na comunidade devia ser notória, porque o rodearam dos mais diligentes cuidados. Na prisão era guardado por um grupo de quatro soldados, que se rendiam a determinadas horas, enquanto não terminassem as festas da Páscoa para o julgarem.

O maligno Herodes Agripa I, como acontece também com muitos perseguidores de hoje, estava preocupado em agradar aos judeus, e para isso, perseguia os fiéis amigos de Deus.

São Pedro não foi colocado numa prisão por ser um homem mau, beberrão, baderneiro, assassino..., mas sim, porque era luz e sal, isto é, fazia o bem e era um grande santo: "Pedro, então, de pé, junto com os Onze, levantou a voz e assim lhes falou..." (At 2, 14), e: "Aqueles, pois, que acolheram a sua palavra, fizeram-se batizar. E acrescentaram-se a eles, naquele dia, cerca de três mil pessoas" (At 2, 41), e também: "Pedro, porém, fitando nele os olhos, junto com João, disse-lhe: 'Olha para nós!' ... E, tomando-o pela mão direita, ergueu-o... de um salto pôs-se em pé e começou a andar" (At 3, 4.7), e ainda: "Pedro então lhe disse: 'Enéias, Jesus Cristo te cura! Levanta-te e arruma teu leito'. Ele imediatamente levantou-se. Viram-no todos os habitantes de Lida e da planície de Saron e se converteram ao Senhor" (At 9, 34-35).

Católico, se você é perseguido, ridicularizado e xingado pelos inimigos de Deus e do Santo Evangelho por fazer o bem, não se preocupe nem fique desanimado, pelo contrário; trabalhe ainda mais intensamente e faça sempre o bem, porque a sua recompensa será grande no céu: "Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos Céus. Bem-aventurados, quando vos injuriarem e vos perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por causa de mim. Alegrai-vos e regozijai-vos, porque será grande a vossa recompensa nos céus, pois foi assim que perseguiram os profetas, que vieram antes de vós" (Mt 5, 10-12), e: "Mas se sofreis por causa da justiça, bem-aventurados sois! Não tenhais medo nenhum deles, nem fiqueis conturbados..." (1 Pd 3, 14), e também: "Bem-aventurados sois, se sofreis injúrias por causa do nome de Cristo, porque o Espírito de glória, o Espírito de Deus repousa sobre vós" (1 Pd 4, 14), e ainda: "Aliás, todos os que quiserem viver com piedade em Cristo Jesus serão perseguidos" (2 Tm 3, 12).

Infeliz do católico que deixa de servir a agradar a Deus para se inclinar diante das criaturas: "Ai de vós, quando todos vos bendisserem, pois do mesmo modo seus pais trataram os falsos profetas" (Lc 6, 26), e: "Uma Congregação Religiosa ou uma pessoa que não sofre e a quem todos aplaudem, está próxima de uma queda" (São Vicente de Paulo, Abelly, Vie, Ed 1881, 1, 3, c. 22).

São Pedro ficou cercado por guardas. Às vezes você também é cercado pelos "guardas" das calúnias, fofocas, xingos, ameaças... não se preocupe; lembre-se de que existe um Deus que olha por ti. Não fique desanimado nem se venda para os inimigos, mas permaneça firme como uma rocha: "Sobrevêm muitas ondas e fortes procelas; mas não tememos afundar, pois estamos firmes sobre a pedra. Enfureça-se o mar, não tem forças para dissolver a pedra; ergam-se as vagas, não podem submergir o navio de Cristo" (São João Crisóstomo, Homilias).

 

Em At 12, 5 diz: "Mas, enquanto Pedro estava sendo mantido na prisão, fazia-se incessantemente oração a Deus, por parte da igreja, em favor dele".

 

São João Crisóstomo escreve: "Observai os sentimentos dos fiéis para com os seus pastores. Não recorrem a distúrbios nem à rebeldia, mas à oração, que é o remédio invencível. Não dizem: homens insignificantes como somos, é inútil que oremos por ele. Rezavam por amor e não pensavam nada  semelhante. Vedes o que faziam os perseguidores sem o pretenderem: tornavam uns mais firmes nas provas e outros mais zelosos e amantes" (Hom. sobre Act, 26), e: "São Lucas, que recolheu no seu Evangelho as palavras do Senhor acerca da oração perseverante (cfr 11, 5-8; 11, 11-13; 18, 1-8), manifesta agora a eficácia que Deus concede à oração de toda a comunidade em favor de Pedro. O Senhor deseja que os Seus desígnios providentes de salvar o Apóstolo para o bem da Igreja, sejam como que uma resposta aos rogos confiantes dos cristãos" (Edições Theologica).

Católicos, imitemos os nossos irmãos da Igreja Primitiva, rezando frequentemente pelo Santo Padre que carrega uma cruz muito pesada: "Ó Maria, recorro a ti e apresento meu pedido pela doce Esposa de Cristo, teu Filho muito amado; e, também, pelo seu Representante na terra. A este seja dada a luz (divina), para que com discrição tome as decisões necessárias para a reforma da Santa Igreja. Que o povo cristão se una. Que o coração dos cristãos conforme-se ao coração do seu guia e jamais se revolte contra ele" (Santa Catarina de Sena, Orações).

 

Em At 12, 6-15 diz: "Quando se aproximava o momento de Herodes apresentá-lo, naquela mesma noite estava Pedro dormindo entre dois soldados, preso a duas correntes, enquanto sentinelas diante da porta vigiavam a prisão. De repente, sobreveio o Anjo do Senhor e uma luz brilhou no cubículo. Tocando o lado de Pedro, o Anjo fê-lo erguer-se, dizendo: 'Levanta-te depressa!' E caíram-lhe as correntes das mãos. Disse-lhe ainda: 'Cinge-te e calça tuas sandálias'. E ele o fez. Disse-lhe mais: 'Envolve-te em teu manto e segue-me'.  Pedro saiu e foi seguindo-o, mas não sabia se era verdade o que estava acontecendo por meio do Anjo: parecia-lhe antes uma visão. Passaram, assim, pelo primeiro posto da guarda, depois pelo segundo, e chegaram ao portão de ferro que dá para a cidade, o qual se abriu por si mesmo diante deles. Saindo, enveredaram por uma rua, quando subitamente o Anjo apartou-se dele. Então Pedro, voltando a si, disse: 'Agora sei realmente que o Senhor enviou o seu Anjo, livrando-me das mãos de Herodes e de toda expectativa do povo judeu. Dando-se conta da situação, dirigiu-se à casa de Maria, a mãe de João, o que tem o cognome de Marcos. Ali se encontravam muitos, reunidos em oração. Batendo ele ao postigo do portão, veio uma criada, chamada Rode, para ver quem era. Tendo reconhecido a voz de Pedro, ficou tão alegre que não lhe abriu. Ao invés, correndo para dentro, anunciou que Pedro estava ali, diante do portão. Então, disseram-lhe: 'Estás louca!' Ela, porém, assegurava que era verdade. 'Então é seu anjo!', concluíram".

 

São João Bosco escreve: "Vendo esse rei que, perseguido os cristãos, agradava aos judeus, também mandou pôr na prisão a São Pedro, para dar-lhe a morte depois das solenidades da Páscoa. Mas um anjo enviado por Deus o livrou milagrosamente na noite que precedia o dia do suplício. Assim São Pedro foi salvo e os planos de Herodes falharam" (História Eclesiástica).

"Dando-se conta da situação, dirigiu-se à casa de Maria, a mãe de João, o que tem o cognome de Marcos".

Edições Theologica comenta: "João Marcos era primo de Barnabé (cfr Cl 4, 10). Será o companheiro de Barnabé e Paulo na primeira viagem apostólica (cfr 13, 5) até ao momento de passar para a região da Ásia (cfr 15, 37-39), aparece mais tarde entre os colaboradores do Apóstolo (cfr Cl 4, 10; 2 Tm 4, 11). Vemo-lo igualmente como discípulo e ajudante de São Pedro (1 Pd 5, 13). A tradição da Igreja atribui-lhe a composição do segundo Evangelho".

Após algum tempo de reflexão e de ação de graças, o Apóstolo correu ao longo das ruas noturnas e chegou à casa de Maria, mãe de Marcos, que ficava talvez, se nos lembrarmos dos incidentes da prisão de Cristo, na parte mais baixa dos arredores da cidade, para os lados de Getsêmani. Bateu à porta. Uma criada, de nome Rode, veio ver quem batia e, na sua alegria quando reconheceu a voz do Apóstolo, antes de abrir a porta, correu a dar a notícia de que Pedro estava ali. Dentro de casa havia um grupo de fiéis que rezavam. O grito que soltaram foi unânime: "Tu estás doida!" Mas a pequena serva insistiu. "Não pode ser ele; é o seu anjo", voltaram todos a dizer. Entretanto Pedro continuava a bater e, depois de terem aberto a porta, reconheceram-no e aclamaram-no. O Apóstolo impôs silêncio. O Senhor tinha-o libertado milagrosamente e era preciso que agora não o comprometessem.

Este capítulo dos Atos (12, 3-19), tão vivo e sensibilizador, permite-nos, no decorrer da narrativa, colher muitos e interessantes pormenores sobre a comunidade primitiva. Vemos ali reunida a pequena assembléia de fiéis, agrupados durante a noite para fugirem da polícia, com a esperança posta unicamente em Deus. Observamos, por outro lado, a aparição do pequeno Marcos, que será o companheiro de São Paulo, o futuro evangelizador. Verificamos ainda que Pedro, uma vez em liberdade, ordena que previnam Tiago e os irmãos, isto é, possivelmente, o grupo dos Anciães, reunidos em volta do "irmão do Senhor", como se se tratasse de uma autoridade regular da comunidade. Por fim, vem a narrativa, em tom irônico, da decepção de Herodes ao saber que o seu prisioneiro havia desaparecido, e da morte do pequeno tirano, ferido por um anjo de Deus, torturado, segundo Flávio Josefo, por horríveis dores nas entranhas, e entregando a alma, com o corpo roído de vermes.

Infeliz daquele que persegue os ministros de Nosso Senhor: "São muitas as razões que fazem desta ofensa a mais grave. Vou lembrar apenas três. A primeira, é porque os perseguidores agem contra mim em tudo o que fazem em oposição aos meus ministros. A segunda, é porque desobedecem àquela ordem pela qual proibi que meus sacerdotes fossem tocados. Ao persegui-los, os homens desprezam a riqueza do sangue de Cristo recebida no batismo. Desrespeitando o sangue de Jesus e perseguindo os ministros, rebelam-se e tornam-se membros apodrecidos, separados da hierarquia eclesiástica. Caso venham a morrer obstinados em tal revolta e desrespeito, irão para a condenação eterna" (Santa Catarina de Sena, O Diálogo, 28. 3. 3).

"Então é seu anjo!"

Edições Theologica comenta: "A fé nos Anjos da Guarda e no papel de assistência que Deus lhes confia junto de cada homem manifesta-se extraordinariamente viva entre os primeiros cristãos. No Antigo testamento Deus revela já a existência dos Anjos, que intervêm na História Sagrada em diversas ocasiões (cfr, p. ex., Gn 48, 16; Tb 5, 22; etc.). Nos livros apócrifos do Antigo Testamento ou literatura intertestamentária (que floresceu nos tempos que rodeiam a vida terrena de Cristo) há não poucas referências aos Anjos. Nosso Senhor falou deles com frequência, como se pode apreciar pelos Evangelhos (cfr, p. ex., Mt 18, 10), e: "Que cada um de nós tem um Anjo diz-se (...) em muitos lugares da Sagrada Escritura. Afirma-o o Senhor quando fala das crianças: 'Os seus Anjos nos Céus estão a ver sempre o rosto de Meu Pai' (Mt 18, 10). E Jacó refere-se ao 'Anjo que me livrou de todo o mal'. Nesta ocasião os discípulos pensavam que vinha a eles o Anjo do apóstolo Pedro" (São Beda, Super Act expositio, ad loc.).

Católico, seja devoto do seu Anjo da Guarda; ele é amigo fiel e te ajudará: "A Sagrada Escritura e a Tradição chamam propriamente anjos àqueles espíritos puros que, na prova fundamental da liberdade, escolheram Deus, a sua glória e o seu reino" (João Paulo II, Audiência geral, 6-VIII-1986), e: "É doutrina comum que todos e cada um dos homens, batizados ou não, tem o seu Anjo da Guarda. A sua missão começa no instante da concepção de cada homem e prolonga-se até o momento da morte" (Pe. Francisco Fernández-Carvajal).

O Catecismo Romano comenta: "Porque assim como os pais, quando os filhos necessitam de viajar por caminhos maus e perigosos, procuram alguém que os possa acompanhar para defendê-los dos perigos e cuidar deles, de igual modo o nosso Pai dos Céus, nesta viagem que empreendemos para a pátria celestial, nos dá anjos a cada um de nós para que, fortificados pelo seu poder e auxílio, nos livremos das ciladas furtivamente preparadas pelos nossos inimigos e afastemos os terríveis ataques que eles nos dirigem; e para que, com tais guias, sigamos pelo caminho reto, sem que erro algum interposto pelo inimigo seja capaz de separar-nos da senda que conduz ao Céu".

Portanto, é missão dos Anjos da Guarda auxiliar o homem contra todas as tentações e perigos e suscitar no seu coração boas inspirações. Eles são nossos intercessores, nossos protetores, e prestam-nos a sua ajuda quando os invocamos. "Os Santos intercedem pelos homens, ao passo que os Anjos da Guarda não só pedem pelos homens, mas também atuam à sua volta. Se os bem-aventurados intercedem, os anjos intercedem e intervêm diretamente: são ao mesmo tempo advogados dos homens junto de Deus e ministros de Deus junto dos homens" (G. Huber).

O Anjo da Guarda "pode prestar-nos também ajudas materiais, se forem convenientes para o nosso fim sobrenatural ou para o dos outros. Não tenhamos receio de pedir-lhes o seu favor nas pequenas coisas materiais de que necessitamos diariamente: encontrar uma vaga para estacionar o carro, não perder o ônibus, sair bem de uma prova para a qual estudamos, etc. Podem ainda colaborar conosco no apostolado, e especialmente na oração e na luta contra as tentações e contra o demônio" (Pe. Francisco Fernández-Carvajal), e: "Os anjos, além de levarem a Deus notícias nossas, trazem o auxílio de Deus às nossas almas e as apascentam como bons pastores, com doces comunicações e inspirações divinas. Os anjos defendem-nos dos lobos, que são os demônios, e nos amparam" (São João da Cruz).

 

Em At 12, 16-19 diz: "Pedro, porém, continuava a bater. Afinal abriram e, vendo-o, ficaram estupefatos. Ele, fazendo sinal com a mão para que não falassem, narrou-lhes como o Senhor o livrara da prisão. E acrescentou: 'Anunciai isto a Tiago e aos irmãos'. Depois saiu, e foi para outro lugar. Fazendo-se dia, houve não pequeno alvoroço entre os soldados, sobre o que teria acontecido a Pedro. Tendo mandado chamá-lo e não o encontrando, Herodes instaurou um inquérito sobre os guardas e ordenou que fossem executados. Depois, descendo da Judéia para Cesaréia, ali passou algum tempo".

 

A partir da partida de Pedro e dos outros Apóstolos, a comunidade de Jerusalém é governada por São Tiago, o Menor, "irmão" do Senhor, que já ocupava antes um lugar importante dentro dela. Segundo Flávio Josefo, São Tiago morreu lapidado no ano 62 por ordem do Sinédrio (cfr Antiquitates iud., 20, 200).

Pedro abandona Jerusalém com rumo desconhecido. Iria provavelmente para Antioquia ou para Roma. Sabemos que esteve uma vez em Antioquia (cfr Gl 2, 11), mas não é seguro que tenha sido neste momento. A tradição afirma que Pedro ocupou por algum tempo a sede antioquena. Sabemos com certeza que assistiu ao concílio de Jerusalém. Em qualquer caso, foi Roma o destino definitivo do Apóstolo.

Diz São Jerônimo que no ano segundo do principado de Cláudio - que corresponde ao ano 43 d.C. -, Pedro viajou para Roma e ocupou ali a sede por espaço de 25 anos, até ao ano 14 de Nero - isto é, o ano 68 d. C. - (cfr De viris illustribus, 1).

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP.

Anápolis, 09 de maio de 2008

 

 

 

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Pe. Divino Antônio Lopes FP. "Prisão de Pedro e sua libertação miraculosa"

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