ARRANCAVA A OVELHA DE SUA GOELA (1 Sm 17, 34-35)
"34 Mas Davi respondeu a Saul: 'Quando o teu servo apascentava as ovelhas de seu pai e aparecia um leão ou um urso que arrebatava uma ovelha do rebanho, 35 eu o perseguia e o atacava e arrancava a ovelha de sua goela; e, se vinha contra mim eu o agarrava pela juba, o feria e matava".
Davi (hebr. dawid, antigamente interpretado como dôd ou dôdô, "amado", talvez um título divino, é improvável que tenha relação com o horreu dawidum, "comandante supremo", encontrado na correspondência de Mari). Davi era filho de Jessé de Belém; o mesmo pastoreava as ovelhas com zelo, dedicação, cuidado e coragem. Esse trecho da Palavra de Deus (1 Sm 17, 34-35), mostra o quanto Davi era um pastor dedicado e zeloso; ele enfrentava valentemente inimigos perigosos para proteger as ovelhas que estavam sob seus cuidados. Davi é modelo para todos os sacerdotes que possuem paróquias. Todos os párocos deveriam possuir o zelo e a coragem de Davi para defender os seus fiéis das garras dos inimigos.
I. CAMPO E PARÓQUIA
Davi pastoreava as ovelhas em um campo, isto é, numa área de terreno limpo usado para pastagens, e ele conhecia muito bem o campo, sabia onde as ovelhas estariam seguras e onde corriam perigo. Davi, o zeloso pastorzinho, sabia também onde havia água, sombra, melhor capim... e também onde havia buracos, espinhos... que pudessem ferir suas ovelhas. Pode-se dizer que ele conhecia perfeitamente o campo e oferecia segurança às ovelhas. Davi conhecia muito bem o campo, da mesma forma o pároco santo e zeloso deve conhecer a paróquia que está sob os seus cuidados: "Paróquia é uma determinada comunidade de fiéis, constituída estavelmente na Igreja particular, e seu cuidado pastoral é confiado ao pároco como a seu pastor próprio, sob a autoridade do Bispo diocesano" (Código de Direito Canônico, 515, 1). O pároco zeloso e dedicado deve conhecer muito bem a área territorial de sua paróquia, deve estar sempre atento para saber onde estão a "água", "sombra", "melhor capim"... para os seus fiéis, isto é, os ambientes sadios, as escolas que ensinam a verdadeira doutrina, os lugares de lazer que não leva perigo para as almas imortais... e também saber onde estão os "buracos", "espinhos"... isto é, as casas noturnas, as praças onde se drogam, os salões de bailes, as escolas onde se ensina o paganismo... para orientar os seus fiéis que evitem tais lugares. O pároco santo e zeloso está sempre atento; o mesmo não "cochila", mas como bom pastor, está sempre de olhos abertos para orientar as suas ovelhas pelo caminho da luz. O pároco tem o dever de proteger as suas ovelhas, a exemplo de Davi, e não de colocá-las a perder precipitando-as nos "buracos" do pecado e nos "espinhos" do vício. Aquele que não se preocupa por onde andam suas ovelhas é um péssimo pastor. O sacerdote que promove festas com danças, bebedeiras, barulho... está jogando os fiéis no precipício, arruinando-os espiritualmente.
II. PASTOREAR
Disse Davi a Saul: "Quando o teu servo apascentava as ovelhas de seu pai..." Apascentar significa: levar ao pasto ou pastagem, guardar durante o pasto. Apascentar significa também doutrinar. Davi não conduzia as ovelhas para um terreno pedregoso, poeirento, queimado... mas as conduzia para um campo verde, com capim abundante, onde as ovelhas que estavam sob seus cuidados matavam a fome e se fortaleciam, longe de espinheiros e ervas perigosas. O pároco santo deve pastorear zelosamente seus fiéis, isto é, doutriná-los com o puríssimo "pasto" da Santa Doutrina Católica, dando-lhes Nosso Senhor Jesus Cristo: "Não haverá nunca evangelização verdadeira se o nome, a doutrina, a vida, as promessas, o reino, o mistério de Jesus de Nazaré, Filho de Deus, não forem anunciados" (Paulo VI, "Evangelii Nuntiandi, 22). Cuide-se o sacerdote, para não tirar a "vitamina" do "pasto", isto é, distorcendo e adulterando a verdadeira doutrina, porque isso deixaria as ovelhas fracas espiritualmente: "Para ser autêntica, a palavra deve ser transmitida 'sem duplicidade e sem nenhuma falsificação, mas manifestando com franqueza a verdade diante de Deus' (2 Cor 4, 2). O presbítero, com uma maturidade responsável, evitará disfarçar, reduzir, distorcer ou diluir o conteúdo da mensagem divina. Com efeito, a sua missão 'não é de ensinar uma sabedoria própria, mas sim de ensinar a palavra de Deus e de convidar insistentemente a todos à conversão e à santidade" (Diretório para o ministério e a vida do presbítero, 45). Davi não deixava que as ovelhas que estavam sob seus cuidados passassem para outros pastos. Cuide também o pároco, para que nenhum fiel frequente pastos venenosos; como reuniões espíritas, protestantes... isso é espinheiro que conduz à morte espiritual.
III. VERDADEIRO AMOR PELAS OVELHAS
Disse Davi: "Quando o teu servo apascentava as ovelhas de seu pai e aparecia um leão ou um urso que arrebatava uma ovelha do rebanho, eu o perseguia e o atacava e arrancava a ovelha de sua goela; e, se vinha contra mim eu o agarrava pela juba, o feria e matava". Davi era um pastorzinho zeloso; ele cuidava corajosamente das ovelhas que estavam sob seus cuidados e as defendiam de animais ferozes, como leões e ursos. Ele não ficava indiferente nem oferecia as ovelhas às feras, mas as defendia. Hoje, infelizmente, muitos párocos oferecem seus fiéis às feras. Como são irresponsáveis! Ele era franzino e novo, mas possuía uma grande coragem: "Falta o menor, que está tomando conta do rebanho... era ruivo, de belo semblante e admirável presença..." (1 Sm 16, 11-12), e: "... não passas de uma criança..." (1 Sm 17, 33). Quando um leão ou urso arrebatava uma ovelha do rebanho, ele PERSEGUIA, ATACAVA e ARRANCAVA a ovelha da goela das feras; e se as feras o atacava, ele as FERIA e as MATAVA. Está claro que Davi não cuidava das ovelhas para dá-las aos animais ferozes; mas sim, para sustentar aos seus familiares com leite e carne, e usava a pele para vestimenta. As ovelhas estavam sob seus cuidados, e para devolvê-las ao seu pai Jessé com saúde, o mesmo arriscava a própria vida enfrentando terríveis feras. O pároco deve imitar o zelo, amor e coragem de Davi; ele deve enfrentar tudo e todos para defender seus fiéis. São muitas as "feras" que rondam uma paróquia para devorar as ovelhas, isto é, os fiéis; e quanto mais "gordas" espiritualmente se apresentam, mais são cobiçadas pelos inimigos. O pároco santo e zeloso deve defender suas ovelhas dos ataques do demônio: "Eis que o vosso adversário, o diabo, vos rodeia como um leão a rugir, procurando a quem devorar. Resisti-lhe, firmes na fé" (1 Pd 5, 8-9), dos ataques do mundo: "Não ameis o mundo nem o que há no mundo. Se alguém ama o mundo, não está nele o amor do Pai. Porque tudo o que há no mundo - a concupiscência da carne, e concupiscência dos olhos e o orgulho da riqueza - não vêm do Pai, mas do mundo" (1 Jo 2, 15-16), dos ataques dos protestantes, espíritas, ateus... "Com efeito, há muitos insubmissos, palavrosos e enganadores, especialmente no partido da circuncisão, aos quais é preciso calar, pois estão pervertendo famílias inteiras, e, com objetivo de lucro ilícito, ensinam o que não têm direito de ensinar" (Tt 1, 10-11). Quando um leão ou urso arrebatava uma ovelha do rebanho, Davi não deixava para depois, mas agia rapidamente, antes que a ovelha fosse devorada pelas feras; ele PERSEGUIA, ATACAVA e ARRANCAVA a ovelha da goela das feras. O pároco santo deve PERSEGUIR os inimigos que lutam para "devorar" os seus fiéis. PERSEGUI-LOS de que forma? Mostrando aos fiéis quais são as intenções de tais inimigos; dizer-lhes que a principal delas é destruí-los espiritualmente, desviando-os do caminho da verdade. O pároco zeloso deve ATACAR as "feras" furiosas que rondam os seus fiéis para destruí-los espiritualmente. ATACÁ-LOS de que maneira? Catequizando os fiéis com a Santa Doutrina Católica, para torná-los convictos e fortes perante os ataques dos inimigos. O pároco que ama os seus fiéis, ARRANCA-OS das "goelas" dos inimigos. ARRANCA-OS de que forma? Rezando, fazendo rezar e indo atrás do fiel que foi seduzido. Se, infelizmente, um fiel fraquejou e se debandou para outro "pasto", o pároco não deve ficar indiferente e ter a ovelha como que perdida; lembre-se de que é uma alma imortal que está à beira do abismo. O mesmo deve rezar e fazer penitência pelo retorno da ovelha, e pedir que os fiéis façam o mesmo; além da oração e da penitência, o pároco zeloso e santo deve dialogar com a ovelha transviada, mostrando-lhe o seu péssimo estado e perigo de se perder eternamente. Ele deve ser insistente com tal ovelha; aqui está o verdadeiro amor: "Queres vaguear assim, queres perder-te assim? Muito bem, mas eu não quero. Ouso dizer isto mesmo: sou importuno... Sou inteiramente importuno, ouso dizer: 'Tu queres errar, tu queres perecer; eu não quero... Reconduzirei a desgarrada, procurarei a perdida. Quer queiras quer não, assim farei. E se, em minha busca, os espinhos dos bosques me rasgarem, eu me obrigarei a ir por todos os atalhos difíceis; baterei todos os cercados; enquanto me der forças o Senhor que me ameaça, percorrerei tudo sem descanso. Reconduzirei a desgarrada, procurarei a perdida. Se não me queres atrás de ti, não te desgarres, não te percas" (Santo Agostinho, Do Sermão sobre os Pastores). Diz Davi: "... e, se vinha contra mim eu o agarrava pela juba, o feria e matava". Davi não só arrancava as ovelhas da goela das feras, mas as FERIA e as MATAVA, se voltassem contra ele. O pároco zeloso e santo deve cortar o mal pela raiz, isto é, deve "FERIR" e "MATAR" os inimigos que lutam para desviar os fiéis do caminho da santidade. "FERIR" e "MATAR"? Como? Rezando e trabalhando para eliminar do território da paróquia tudo aquilo que obstaculiza o crescimento espiritual de suas ovelhas: salões de bailes, carnaval, bebedeiras, casas noturnas, drogas, locadoras de filmes pornográficos, bancas de revistas pornográficas... São Bonifácio cortou uma árvore que era adorada pelos pagãos; São Luis Maria Grignion de Montfort fechou vários botecos durante suas missões; São João Maria Vianney eliminou de Ars várias tavernas e Santa Lúcia Filippini destruiu, com o joelho, vários instrumentos musicais para dança. Davi prestava conta a seu pai Jessé de todas as ovelhas. O pároco prestará conta a Deus de cada fiel. Infeliz dele se alguém se perder por sua negligência.
Pe. Divino Antônio Lopes FP. Anápolis, 19 de junho de 2008
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