PÔS-SE A PASSEAR

(2 Sm 11, 2)

 

 "Aconteceu que, numa tarde, Davi, levantando-se da cama, pôs-se a passear..."

 


 

Numa tarde, Davi, levantando-se da cama, pôs-se a passear pelo terraço do palácio e do terraço avistou uma mulher que tomava banho. E era muito bonita a mulher (2 Sm 11, 2). Davi mandou tomar informações sobre aquela mulher, e lhe disseram: "Ora, é Betsabéia, a filha de Eliam e mulher de Urias, o heteu!" (2 Sm 11, 3). Então Davi enviou emissários que a trouxessem. Ela veio ter com ele, e ele deitou-se com ela, que tinha acabado de se purificar de suas regras. Depois ela voltou para a sua casa (2 Sm 11, 4). A mulher concebeu e mandou dizer a Davi: "Estou grávida!" (2 Sm 11, 5).

 

Católico, no retorno do ano, na época em que os reis costumavam fazer a guerra, "Davi enviou Joab, e com ele a sua guarda e todo o Israel, e eles massacraram os amonitas e sitiaram Rabá. Mas Davi ficou em Jerusalém" (2 Mc 11, 1).

Davi preferiu ficar em seu palácio a ir à guerra. O mesmo dormiu durante a tarde e após levantar-se, "PÔS-SE A PASSEAR" pelo terraço. Está claro que Davi estava OCIOSO (que está na ociosidade, não tem o que fazer, que não trabalha).

Davi, estando OCIOSO, começou a passear pelo terraço do palácio e AVISTOU uma mulher que tomava banho. Davi mandou chamá-la e deitou com ela. Essa, não era sua esposa, mas sim, de Urias.

Católico, como explicar a QUEDA de Davi, rei segundo o coração de Deus? Ele CAIU na hora do ÓCIO e não durante a GUERRA: "Nas obras de guerra, Davi conservou-se SANTO; na hora do ÓCIO, tornou-se ADÚLTERO e HOMICIDA" (Santo Tomás de Villanova).

Infeliz do católico que vive na OCIOSIDADE: "A ociosidade traz a pobreza e a penúria, porque a mãe da indigência é a ociosidade" (Tb 4, 13).

São milhões os católicos que "levam vida à-toa, muito atarefados sem nada fazer" (2 Ts 3, 11). Esses passam horas e horas, dias inteiros, semanas e meses inteiros sentados às portas das casas, nas varandas dos botecos, nas casas dos vizinhos... ociosamente, de pernas e braços cruzados, sem nada fazerem... são os "Davis" de hoje.

Cuidado católico: "A ociosidade ensina muitos males" (Eclo 33, 28).

Davi pecou porque estava OCIOSO; e com você, caso não mude de vida empregando bem o tempo, acontecerá o mesmo: "O ócio é pai dos vícios; e o vício da incontinência é o primogênito de todos. Os santos sempre evitaram o ócio e amaram o trabalho, inclusive os que se dedicavam de modo especial à oração. Quando se trabalha, não sobra mais espaço para maus pensamentos" (Bem-aventurado José Allamano, A Vida Espiritual, Capítulo 21).

Além de estar OCIOSO, Davi foi CURIOSO, isto é, não MORTIFICOU os OLHOS: "... avistou uma mulher que tomava banho".

Se Davi tivesse mortificado os olhos, não teria cometido o pecado com a mulher de Urias. Se ele tivesse "Arrancado o olho" (Mt 18, 9), isto é, desviado-o; não teria caído.

Existem pessoas que não mortificam os olhos; saem nas ruas olhando para tudo e todos, e transforma o coração num depósito de lixo: "Não queirais ver tudo, não sejais curiosos, pois acontece com frequência que, entre mil coisas inócuas, amoita-se uma perigosa" (Bem-aventurado José Allamano, A Vida Espiritual, Capítulo 21).

Milhões de homens encaram demoradamente as mulheres, principalmente as seminuas, e acham que isso não passa de um "pequeno descuido": "Nosso Senhor Jesus Cristo fala disso clarissimamente, a propósito das faltas contra a castidade: 'Todo aquele que olhar para uma mulher com concupiscência, já cometeu adultério com ela em seu coração' (Mt 5, 28). Há, pois, olhares gravemente pecaminosos, os que são inspirados por maus desejos; e a mortificação de tais olhares impõe-se sob pena de pecado mortal. É, afinal, o que Nosso Senhor acrescenta com estas enérgicas palavras: 'Se o teu olho direito te escandaliza, arranca-o, e lança-o para longe de ti; porque melhor te é que pereça um só dos teus membros do que ser todo o teu corpo lançado na geena' (Mt 5, 29). Não se trata aqui de vazar os próprios olhos, senão de arrancar a vista desses objetos que são causa de escândalo" (Adolfo Tanquerey, Compêndio de Teologia Ascética e Mística, 755).

Católico, aprenda a mortificar seus olhos: "Eu fiz um pacto com meus olhos: para não olhar para uma virgem" (Jó 31, 1).

Além de estar OCIOSO, CURIOSO; Davi NÃO FUGIU da OCASIÃO de PECAR: "Davi mandou tomar informações sobre aquela mulher".

Se Davi tivesse voltado imediatamente para o seu quarto e rezado, não teria CAÍDO; mas não EVITOU a OCASIÃO pedindo informações sobre a mulher que estava banhando.

Católico, a Palavra de Deus diz: "... o que ama o perigo nele cairá" (Eclo 3, 26).

O abade Guerico diz: "Lázaro ressuscitou com as mãos e pés atados, e por isso ficou sujeito à morte. Infeliz daquele que ressuscitar e ficar preso nos laços das ocasiões do pecado! Apesar de sua ressurreição, tornará a morrer. Quem quiser salvar-se, precisa renunciar, não somente ao pecado, mas também às ocasiões de pecado, isto é, deve afastar-se deste companheiro, daquela casa e de certas relações de amizade", e:  "Poderá alguém objetar que, ao mudar de vida, abandonou inteiramente o fim ilícito em suas relações com determinadas pessoas e que, portanto, já não há receio de tentações. A propósito, recordarei o que se conta de certa espécie de ursos da Mauritânia, que vão à caça de macacos. Estes animais, ao ver o inimigo, trepam para o alto das árvores. O urso estende-se junto ao tronco, fingindo-se morto, e quando os macacos, confiados, descem ao solo, levanta-se, apanha-os e os devora. Tal é a astúcia do demônio: persuade que as tentações estão mortas e quando os homens condescendem com as ocasiões perigosas, apresenta-lhes de súbito a tentação que os faz sucumbir. Quantas almas infelizes, que praticavam a oração, que frequentavam a comunhão e que se podiam chamar santas, deixaram-se prender nos tentáculos do inferno, porque não evitaram as más ocasiões" (Santo Afonso Maria de Ligório, Preparação para a morte, Consideração XXXI, Ponto II).

Católico, seja VALENTE! FUJA das OCASIÕES de PECAR.

Leia com atenção essa pequena fábula.

O leão adoecera de uma tremenda bronquite. De cauda pendente, de cabeça baixa, com o ardor da febre nas vísceras, vem à boca da sua caverna e avista passar, na vereda em baixo, a raposa. "Raposa, raposa! - chamava gemendo o rei do deserto. - Estou doente de bronquite: ajuda-me, do contrário morrerei sem sequer um cuidado".

A astuta raposa começou a pôr-se a uma distância tranquilizadora; perscrutou em volta, e observou a vereda que conduzia à gruta do ilustre enfermo. Depois respondeu-lhe com um sorriso todo malicioso: "Meu caro! Vejo muitas pisadas de animais, e todas voltadas para dentro da espelunca, e nenhuma para fora. Isto absolutamente não me tranquiliza. Se estás doente, sinto muito: adeus". E desapareceu, rindo-se, por entre as verduras.

As ocasiões voluntárias de pecado são semelhantes a uma gruta, onde, porém, não um leão, mas sim o demônio, urde a sua tramóia. Mas os homens são menos astutos que a raposa. São Cipriano diz muito bem a eles: "Quem brinca com a ocasião próxima do pecado, já não está seguro; é uma pérfida esperança essa que nos atrai para o meio da trincheira inimiga. Meter-se entre as chamas de um vasto incêndio e não se queimar, ou poder sair dele quando se quiser, é uma empresa impossível. Seria preciso um milagre; mas Deus não está obrigado a fazê-lo, e o homem que assim se expõe não o merece, antes faz tudo para se afastar do Senhor e perecer" (Lib. I, Ep. II). Em vão São Bernardo de Claraval os adverte: "Quem procura a ocasião já pecou". Em vão, ainda, Jesus clama a eles: "Não tenteis o Senhor!"

Tende o cuidado da raposa, olhai a senda que conduz às ocasiões: não lhe achareis nenhum vestígio de retorno. Todos perecem nela.

Tende ao menos o cuidado de aproveitar da dolorosa experiência do passado. Todas as vezes que fostes ao baile, àquele espetáculo, àquele encontro, todas as vezes que entrastes naquela casa, que vos aproximastes daquela pessoa, que lestes aquele livro; dizei, acaso voltastes? Com o vosso corpo, sempre; mas a vossa alma, todas as vezes foi queimada na fogueira de Satanás.

Davi, além de OCIOSO, CURIOSO, NÃO ter FUGIDO da OCASIÃO de PECAR, CEDEU também aos DESEJOS da CARNE: "Então Davi enviou emissários que a trouxessem".

Aquele que matou leões e ursos, e que derrotou o gigante Golias e muitos outros inimigos, não CONSEGUIU "MATAR" a CARNE.

Na hora da tentação, se Davi tivesse REZADO, com certeza teria saído vencedor: "Oxalá todos os homens recorressem a Deus, quando são tentados a ofendê-lo; certamente nenhum o ofenderia. Caem os coitados porque, impelidos pelos seus maus instintos, preferem perder o supremo bem, que é Deus, só para não perderem uns breves prazeres. A experiência mostra de sobra que quem recorre a Deus nas tentações, não cai; quem não recorre, cai, especialmente nas tentações impuras" (Santo Afonso Maria de Ligório, A Prática do amor a Jesus Cristo, Capítulo XVII).

Católico, quando você for tentado contra a pureza, não dê ouvidos à CARNE, mas reze, reze com fervor, confiança e perseverança: "Logo que sentimos os movimentos da carne, comecemos a gritar: Senhor, sede o meu auxílio" (São Jerônimo, Epístola 22, ad Eustochium, n° 6. ML 22-398), e: "As crianças, vendo o lobo, correm logo para os braços do pai ou da mãe, pois ali se sentem seguras. Assim devemos fazer: recorrer imediatamente a Jesus e Maria" (São Francisco de Sales, Introdução à Vida Devota, Parte IV, c. 7), e também: "Se a tentação continua a perseguir-nos, continuemos a invocar os nomes de Jesus e Maria. Enquanto a tentação persiste nos atormentando, convém renovar o propósito feito a Deus de antes sofrer todas as dores e morrer do que ofendê-lo; ao mesmo tempo não se deve deixar de lhe pedir ajuda" (Santo Afonso Maria de Ligório, A Prática do amor a Jesus Cristo, Capítulo XVII).

Católico, não se desespere diante das tentações contra a pureza; lembre-se de que os santos também foram tentados: "Seria mais tolerável para mim sofrer todas as dores, suportar as torturas mais horrorosas dos mártires, que me ver exposta às tentações diabólicas contra a pureza" (Santa Ângela de Foligno).

 

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP.

Anápolis, 15 de julho de 2008

 

 

 

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Pe. Divino Antônio Lopes FP. "Pôs-se a passear"

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