UM ANIMAL FEROZ O DEVOROU

(Gn 37, 33)

 

 “Ele olhou e disse: ‘É a túnica de meu filho! Um animal feroz o devorou. José foi despedaçado!”

 

 

Os irmãos de José, invejosos, tomaram a sua túnica e, degolando um pode, molharam a túnica no sangue (Gn 37, 31). Enviaram a túnica adornada, fizeram-na levar a seu pai com estas palavras: “Eis o que encontramos! Vê se é ou não a túnica de teu filho” (Gn 37, 32).  “Ele olhou e disse: ‘É a túnica de meu filho! Um animal feroz o devorou. José foi despedaçado!” (Gn 37, 33). José rasgou suas vestes, cingiu os seus rins com um pano de saco e fez luto por seu filho durante muito tempo (Gn 37, 34). Todos os seus filhos e filhas vieram para consolá-lo, mas ele recusou toda consolação e disse: “Não, é em luto que descerei ao Xeol para junto do meu filho”. E seu pai o chorou (Gn 37, 35).

 

Católico, talvez em todo o Antigo Testamento, não haja um grito tão lancinante como o do patriarca Jacó quando lhe trouxeram para casa a túnica ensanguentada de seu filho José. De OLHOS ARREGALADOS, ele tomou-a, olhou-a e reconheceu-a: “É a túnica de meu filho! Um animal feroz o devorou. José foi despedaçado!” (Gn 37, 33).

Este é também o GRITO que Jesus Cristo REPETE diante de tantos católicos: “Um animal feroz devorou-o”.

Católico, existem HOMENS e MULHERES que, como ANIMAIS FEROZES, rondam para fazer MATANÇA de ALMAS: são os ESCANDALOSOS.

 

 I. Que é o escândalo?

 

Escândalo:

 

“É uma palavra ou ação que leva o próximo a ofender a Deus, e expõe assim a dar a morte à sua alma” (Mons. Cauly, Curso de Instrução Religiosa).

 

“É qualquer palavra e qualquer ação que pode induzir ao pecado” (Pe. João Colombo).

 

“É a atitude ou o comportamento que leva outrem a praticar o mal” (Catecismo da Igreja Católica, 2.284).

 

“É toda a ação, palavra ou omissão que se converte, para o próximo, em ocasião de pecar” (Ricardo Sada e Alfonso Monroy, Curso de Teologia Moral).

                    

 II. O escandaloso é um “animal feroz”

 

Jacó, pegando a túnica do inocente José disse: “É a túnica de meu filho! Um animal feroz o devorou. José foi despedaçado!” (Gn 37, 33).

Católico, esse MUNDO é um campo, campo perigosíssimo; por ele andam “animais ferozes”, isto é, PESSOAS ESCANDALOSAS, homens e mulheres, que “rasgam” a “túnica” da graça santificante, “devorando” assim, os inocentes “Josés”, isto é, os católicos fiéis a Deus.

Nosso Senhor Jesus Cristo disse: “Ai do mundo por causa dos escândalos! É necessário que haja escândalos, mas ai do homem pelo qual o escândalo vem!” (Mt 18, 7).

Infeliz do escandaloso que “mata” uma alma imortal; esse é um “animal feroz”.

O Pe. João Batista Lehmann comenta sobre a atitude diabólica do escandaloso.

Se é CRIME o homicídio, crime sem comparação muito maior deve ser matar uma alma imortal, isto é, tirar-lhe a vida da graça. Se o sangue de Abel bradou ao céu por vingança, qual não será o brado do Sangue de Jesus Cristo contra aqueles que dão escândalo! Se o Sangue de Jesus Cristo qual chuva de maldição caiu sobre os juizes que o mandaram à morte, que será daqueles que ROUBAM a Jesus Cristo almas que remiu com seu Sangue Preciosíssimo! É bem verdade que ninguém, absolutamente ninguém, ainda que contra nós se conjure o próprio inferno, pode fazer-nos cometer um pecado, se não dermos o nosso consentimento, mas verdade também é, que maus exemplos, mais que os bons, impressionam a nossa natureza corrompida, e sobre ela exercem uma força muito grande. Quem dá escândalo, completa a obra do demônio, seduzindo as almas e levando-as à eterna perdição; é pior que o demônio, que afinal nada mais pode fazer senão rodear-nos qual leão que ruge, porém, dum modo invisível, e em certa distância, sempre em atitude de fugir quando nota resistência da nossa parte. Inteiramente outra é a influência de quem dá escândalo. Este, com semblante de amigo se acerca de nós; à nossa resistência ele opõe suas blandícias, e não desiste dos seus maus intentos enquanto não os tiver realizado. Assim sendo, compreende-se porque nosso Senhor usa de expressões tão severas quando fala do escândalo: “Quem escandalizar a um destes pequeninos que crêem em mim, melhor é que se lhe pendure ao pescoço uma mó de atafona, e seja lançado no fundo do mar” (Mt 18, 6). Melhor lhes seria, fossem lançados ao fundo do mar muitos maus cristãos, que pelo exemplo péssimo que dão, ocasionam a queda e a perdição do seu próximo. Assim não fariam nenhum mal, nem se lhes agravariam as penas do inferno, que lhes serão reservadas. Ao fundo do mar deviam ser submersos, os que pervertem as almas pelos seus discursos, os pornográficos e escritores ímpios, os empresários do teatro imoral, os fabricantes e exibidores de fitas escandalosas, aqueles que publicam e ostensivamente faltam ao cumprimento do seu dever.

Culpáveis pelo escândalo, não são só aqueles que propositalmente levam o próximo a pecar, mas escandalosos são também aqueles que, sem terem esta intenção, pela sua conduta dão ocasião de outros pecarem. Escândalo dá aquele que, embora pratique ou fale coisas em si indiferentes, assim procede com previsão clara de causar tentação aos que o ouvem ou vêem. Escândalo dá quem não impede pecados de outrem, quando os devia impedir pela sua posição e sua influência moral. Escândalo dá, quem pela sua crítica, pelo seu sarcasmo, pela ironia ou por qualquer outro modo, afasta o próximo do cumprimento do seu dever. Escândalo deu ainda aquele que, embora o tenha tentado por todos os meios, para fazer o próximo pecar, não conseguiu seu alvo. Pelo escândalo, se o derem, responderão a Deus todos aqueles que em razão do seu ofício têm o dever de constantemente dar bom exemplo aos seus inferiores, por exemplo: os pais, os patrões, os magistrados, os juízes, os sacerdotes...

Não é culpável do escândalo só aquele que o dá diretamente, como também aquele que o recebe de bom grado. A maior parte dos escândalos públicos, hoje na ordem do dia, nenhum mal produziriam, se não fossem acolhidos com a aquiescência e o apoio dos bons. Se não houvesse leitores, a má imprensa não existiria; maus negócios fariam os empresários de teatros e cinemas, se não houvesse quem aprecie e prefira representações e exibições escandalosas e imorais.

Há uma outra sorte de gente que se escandaliza, mas a modo dos fariseus, que se entristeciam e se indignavam, ao verem o bem feito por outros. É este o escândalo daqueles para os quais o bem é um mal e vice-versa. É o escândalo dos inimigos da verdade, dos perseguidores da Igreja, daqueles que matam os discípulos de Jesus Cristo, pensando que com isto “prestam serviço a Deus” (Jo 16, 2).

 

Católico, assim como Jacó disse: “Um animal feroz o devorou. José foi despedaçado!”; MILHÕES são os pais que CHORAM e DIZEM: “Um escandaloso devorou meu filho (ou filha). Ele (ou ela) foi despedaçado espiritualmente pelo escandaloso!”

 

São milhares de MOÇAS que eram a alegria dos pais; mas, depois que se envolveram com jovens escandalosas, que se VESTEM com INDECÊNCIA, foram terrivelmente “DESPEDAÇADAS”.

 

Milhões de JOVENS trabalhavam honestamente e ajudavam os pais nas despesas da casa; depois que começaram a FREQÜENTAR certos LUGARES de PECADO, se envolveram com DROGAS e PROSTITUIÇÃO e foram horrivelmente “DESPEDAÇADOS”.

 

Quantas CRIANÇAS já foram “DESPEDAÇADAS” e “DEVORADAS” espiritualmente, exatamente por darem atenção a certos adultos, contadores de PIADAS IMORAIS, verdadeiros “animais ferozes”.

Existem certos “grupinhos” em gramados de futebol, pátio de colégio, esquinas, sombras de árvores... que são verdadeiros “INFERNINHOS” comandados por adultos diabólicos, ladrões da inocência das crianças.

 

Não são somente as CRIANÇAS, ADOLESCENTES e JOVENS que são “DESPEDAÇADOS” e “DEVORADOS” pelos “animais ferozes”, isto é, pelos ESCANDALOSOS; também milhões de ADULTOS, homens e mulheres, “morrem” espiritualmente por causa do veneno desses “satélites” de Satanás.

 

Muitos homens casados abandonam o lar e entram na ESTRADA do CRIME e do ADULTÉRIO, exatamente por “beberem” o veneno dos escandalosos.

 

Centenas de mulheres, mães de família, que eram consideradas por todos como luz do lar, se transformaram em TREVAS, justamente por se envolverem com mulheres escandalosas e levianas.

 

Milhões de famílias, a exemplo de Jacó (Gn 37, 34-35), estão ENLUTADAS e CHOROSAS, por verem os filhos, pais, irmãos... “DESPEDAÇADOS” e “DEVORADOS” pelos ESCANDALOSOS, “animais ferozes”.

Muitos pais saem a “juntar” os “cacos” que restaram de um filho ou filha que eram VIRTUOSOS até serem “atropelados” por um escandaloso, “devorador” de ALMAS IMORTAIS. Quanta tristeza!

Católico, não basta chorar, mas é preciso REZAR e LUTAR para RECUPERÁ-LOS. Não deixe o escandaloso CANTAR VITÓRIA.

Cuidado! Ele pode estar dentro de sua casa ou muito próximo de você.

Expulse os escandalosos de sua casa usando as palavras de São João Bosco: “És tu... um lobo que giras pelo meio dos companheiros e os afastas dos superiores, ridicularizando os avisos destes. És tu... um ladrão que com teus discursos roubas os avisos destes. És tu... um ladrão que com teus discursos roubas a inocência dos outros... És tu... um assassino que com cartas secretas e com gracejos arrancas as almas do meu lado e as matas”.

 

 III. As diferentes espécies de escândalo

 

Citarei aqui somente sobre o ESCÂNDALO ATIVO (agir com intenção de dar escândalo).

                                                                                        

1) Escândalo direto: “Quando se tem a intenção de levar o próximo ao pecado; isto se dá quando se ensina o mal, quando se manda ou aconselha, quando se facilita a sua realização. Nestes casos, o pecado de escândalo é evidentemente mais grave” (Mons. Cauly, Curso de Instrução Religiosa).

 

2) Escândalo indireto: “Quando não se tenciona fazer o próximo cair no pecado, e que, no entanto, se praticam coisas próprias para dar mau exemplo. É o caso de quem, em público, blasfema, transgride as leis de Deus e da Igreja, tem um comportamento irregular” (Idem.).

 

3) Escândalo dos fracos: “Em certas circunstâncias, pode-se dar um escândalo grave por ações que, se pusermos à parte a influência que elas são capazes de exercer sobre os outros, são, na realidade, boas ou indiferentes. O que as transforma em perigo de escândalo é a aparência de mal que apresentam para certas almas fracas. E neste caso chegam a causar perturbações em consciências frágeis, proporcionando-lhes pretexto para invocar tais ações como justificativa para uma maneira semelhante de agir, a qual, embora nada envolvendo de mau em si mesma, constitui, no entanto, gravíssimo perigo para a salvação. Verifica-se, neste caso, o que podemos chamar de escândalo do mau exemplo aparente. Pode-se, também, ampliar essa definição e estabelecer relação de conceito entre o escândalo dos fracos e a ‘sedução aparente’ ou material: Meu procedimento, embora não possa ser em si mesmo incriminado de faltoso, origina para o próximo, circunstâncias próprias, para o levarem a cometer pecado. À fraqueza e à falta de resistência moral do próximo, deve-se atribuir o fato dele se escandalizar: por isso, a denominação de ‘escândalo dos fracos” (Pe. Bernhard Häring).
 

4) Escândalo farisaico: “Entretanto, o cristão deve ter em mente, que pelo simples fato de orientar sua vida pelos princípios ditados por Cristo, ele já constitui, inevitavelmente, pedra de escândalo para o ‘mundo’ inimigo de Deus. Foi precisamente por sua santidade, que Cristo, o Santo em pessoa, despertou e desmascarou toda a fúria do mundo perverso. Ao tomarem posição contra Cristo, os homens maus abriram um abismo de maldade, que, sem a vinda do Filho de Deus ao mundo, sequer poderia ser imaginado. ‘Se eu não tivesse vindo ao mundo, e não lhes tivesse falado, não teriam culpa, mas agora não têm desculpa de seu pecado’ (Jo 15, 22). Contra as boas obras e a santidade dos discípulos de Cristo, hão de desencadear-se sempre e inevitavelmente, com acrescentada fúria, os ódios do mundo subserviente a Satanás. Esse, porém, é um escândalo, do qual não é possível fugir. Urge enfrentá-lo de testa erguida (cf. Sb 2, 10-12)” (Idem.)

 

5) Escândalo salutar: “Embora a proclamação vigorosa da mensagem evangélica possa ocasionar prejuízo aos que a rejeitam, é ela altamente benéfica para os indecisos, porque os liberta de seu torpor espiritual. É para eles um escândalo salutar. Atemoriza-os com a violência de seus impactos e estimula-os a abandonarem suas atitudes ambíguas e a exibirem toda sua estrutura moral e cristã. Toda a economia da salvação estriba-se nesta espécie de abalos. Jesus é, em Si mesmo, o grande escândalo. A pregação dos Apóstolos é também um escândalo” (Idem.).

 

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP.

Anápolis, 24 de setembro de 2008

 

 

 

 

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Pe. Divino Antônio Lopes FP. “Um animal feroz o devorou”

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