NÃO TÊM PROPORÇÃO (Rm 8, 18)
"Penso, com efeito, que os sofrimentos do tempo presente não têm proporção com a glória que deverá revelar-se em nós".
I. Aquele que vive de "braços cruzados" não se salvará.
Santo Afonso Maria de Ligório escreve: "A terra é um lugar de merecimentos, e por isso é também um lugar de sofrimentos. O céu é nossa pátria, lá Deus nos preparou o repouso numa eterna felicidade. Passamos pouco tempo neste mundo, mas neste pouco tempo temos muitas dores a sofrer". O homem, nascido de mulher, vive pouco tempo e é cheio de muitas misérias. É preciso sofrer e todos têm de sofrer; seja justo ou pecador, cada um deve carregar sua cruz. Quem a carrega com paciência, salva-se; quem a carrega com impaciência, perde-se. "As mesmas misérias levam alguns para o céu, e outros para o inferno. Com a prova do sofrimento se distingue a palha do trigo na Igreja de Deus: quem se humilha nos sofrimentos e se submete à vontade de Deus é trigo destinado ao céu; quem é soberbo e fica impaciente, a ponto de voltar as costas para Deus, é palha que é destinada ao inferno" (Santo Agostinho). Sem luta não há salvação... sem peleja não há vitória... quem não combater será derrotado... Para conquistar a Glória Eterna é preciso "descruzar os braços" e trabalhar corajosamente: "Portanto, quem não vai esforçar-se por conseguir tão grande glória, por tornar-se amigo de Deus, por gozar imediatamente com Cristo, por receber os prêmios divinos depois dos tormentos e suplícios da terra? Se é uma glória para os soldados deste mundo voltar triunfantes à sua pátria depois de abater o inimigo, quanto maior e plausível glória será, uma vez vencido o Diabo, voltar triunfante ao céu (...); levar para lá os troféus vitoriosos (...); sentar-se ao lado de Deus quando vier para julgar, ser co-herdeiro com Cristo, equiparar-se aos Anjos e desfrutar com os Patriarcas, com os Apóstolos e com os Profetas da posse do Reino dos Céus? (...) Um espírito apoiado nestes pensamentos sobrenaturais permanece forte e firme, e persiste imóvel contra os ataques do Demônio e as ameaças do mundo, um espírito fortalecido por uma sólida e segura fé no futuro (...). Que dignidade e que segurança partir daqui gozoso (...), fechar num instante os olhos que viam os homens e o mundo, para ver a Deus e a Cristo! (...). Estas considerações devem ser feitas pela mente, isto deve ser meditado dia e noite. Se a perseguição encontra assim preparado o soldado de Deus, não haverá poder capaz de derrubar um espírito disposto de tal maneira para a peleja" (São Cipriano, Epist. Ad Fortunatum, 13).
Católico, quer se SALVAR?
1. "Descruze os braços" e desapegue o seu coração das coisas terrenas: "O Céu é a posse de Deus. No céu contempla-se a Deus, adora-se e ama-se a ele. Mas para chegar ao céu é preciso desprender-se da terra" (Santa Teresa dos Andes, Diário 58).
2. "Descruze os braços" e percorra alegremente o caminho da cruz, porque fora dele é impossível se salvar: "Não há senão um caminho, o da cruz. Fora dele não há salvação. Mas isto custa à natureza. É duro mortificar os sentidos, romper com os maus hábitos" (Bem-aventurada Elisabete da Trindade).
3. "Descruze os braços", lute contra as tentações e conserve a graça de Deus em sua alma imortal: "O céu é o reino dos vivos. A graça é a vida da alma; logo, só aqueles que, ao separar-se do mundo, estão em estado de graça e amizade com Deus, lá têm estrada. Nem vale para entrar no céu ter possuído a vida sobrenatural, a quem na hora decisiva se achar dela despojado" (Pe. Alexandrino Monteiro).
4. "Descruze os braços", não se poupe e consuma-se por Deus: "O cristão que se poupa, que calcula para dar a Deus o mínimo indispensável, de modo a não lhe ser traidor, que vive procurando antes fugir da cruz que carregá-la, antes defender-se que renunciar-se, antes salvar a própria vida que sacrificá-la, não é discípulo de Cristo. Se não nos é dado testemunhar nosso amor e nossa fé com o martírio do sangue, devemos, todavia, testemunhá-los abraçando com generoso coração todos os deveres que o seguimento de Cristo impõe, sem recuar perante o sacrifício" (Pe. Gabriel de Santa Maria Madalena, Intimidade Divina, 298, 1).
5. "Descruze os braços" e coloque em prática a Palavra de Deus: "Tornai-vos praticantes da Palavra e não simples ouvintes, enganando-vos a vós mesmos! Com efeito, aquele que ouve a Palavra e não a pratica assemelha-se a um homem que, observando o seu rosto no espelho, se limita a observar-se e vai-se embora, esquecendo-se logo da sua aparência" (Tg 1, 22-24), e: "É viva a palavra quando são as obras que falam. Cessem, peço, os discursos, falem as obras. Estamos saturados de palavras, mas vazios de obras e por isto amaldiçoados pelo Senhor, porque Ele amaldiçoou a figueira em que não encontrara frutos, apenas folhas" (Santo Antônio de Pádua).
6. "Descruze os braços", mate a própria vontade e faça alegremente a vontade do Deus Eterno: "Desapareça a vontade própria e não haverá mais inferno!" (São Bernardo de Claraval), e: "Não está a suma perfeição nas doçuras interiores, nos grandes arroubamentos, nas visões e no espírito de profecia, mas na perfeita conformidade da vossa vontade com a de Deus, de tal modo que nos leva a querer firmemente o que percebemos ser sua vontade, aceitando com a mesma alegria, tanto o saboroso como o amargo" (Santa Teresa de Jesus, Fundações 5, 10).
II. Para conquistar o céu vale a pena suportar qualquer sofrimento.
Na carta de São Paulo aos Romanos 8, 18 diz: "Penso, com efeito, que os sofrimentos do tempo presente não têm proporção com a glória que deverá revelar-se em nós". Sabemos que no esporte existem muitos INCENTIVOS para levar o atleta a conquistar o primeiro lugar: dinheiro, medalha de ouro, carro novo, casa nova, capa de revista... Em algumas escolas, o INCENTIVO para levar um aluno a tirar boas notas é: viagens, dinheiro, bolsa de estudo... Num comércio, o INCENTIVO para quem vender melhor durante todo o ano é: dinheiro, carro zero, casa, viagens... Vendo essa "CHUVA" de INCENTIVOS com prêmios "gordos", MUITOS CATÓLICOS têm a coragem de dizer: "Por que na nossa paróquia não existem esses INCENTIVOS? É por isso que as crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos não sentem vontade de frequentar a catequese, reuniões e de participarem da Santa Missa". Católico, será que existe MAIOR INCENTIVO do que o Céu? Para aquele que viver santamente e morrer na graça de Deus não está reservado como prêmio: viagens, dinheiro, bolsa de estudo, carro, casa... porque tudo isso acaba... mas sim, está reservado o Céu, Pátria Eterna: "Muito bem, servo bom e fiel! Sobre o pouco foste fiel, sobre o muito te colocarei. Vem alegrar-te com o teu senhor" (Mt 25, 21). São milhões os que querem se SALVAR sem CARREGAR a CRUZ de cada dia. Enganam-se! Para entrar na Glória Eterna é preciso SOFRER, CARREGAR a CRUZ, PADECER...: "Entrai pela porta estreita... Estreita, porém, é a porta e apertado o caminho que conduz à Vida" (Mt 7, 13-14), e: "Procure sempre inclinar-se não ao mais fácil, senão ao mais difícil. Não ao mais saboroso, senão ao mais insípido. Não ao mais agradável, senão ao mais desagradável. Não ao descanso, senão ao trabalho. Não ao consolo, mas à desolação. Não ao mais, senão ao menos. Não ao mais alto e precioso, senão ao mais baixo e desprezível. Não a querer algo, e sim, a nada querer. Não a andar buscando o melhor das coisas temporais, mas o pior; enfim, desejando entrar por amor de Cristo na total desnudez, vazio e pobreza de tudo quanto há no mundo" (São João da Cruz, Subida do Monte Carmelo, Livro I, Capítulo XIII, 6), e também: "Não se pode salvar sem sofrer" (Santa Margarida Maria Alacoque, Avisos 41, G. II, 705), e ainda: "Prepara-te para sofrer nesta miserável vida muitas adversidades e vários incômodos..." (Tomás de Kempis, Imitação de Cristo, Livro II, Capítulo XII, 10).
Católico, NÃO CORRA da cruz... NÃO PISE na cruz... NÃO XINGUE a cruz... NÃO AMALDIÇOE a cruz... NÃO CUSPA na cruz... Lembre-se de que para ENTRAR no céu vale a pena sofrer: "Para ganhar o céu, todo sofrimento é pouco" (São José Calazans), e que NÃO SE PODE NEM COMPARAR os sofrimentos dessa vida passageira com a GLÓRIA do Céu Eterno: "Penso, com efeito, que os sofrimentos do tempo presente não têm proporção com a glória que deverá revelar-se em nós" (Rm 8, 18).
Católico, LEMBRE-SE do céu e CARREGUE a cruz por amor a Deus... PENSE no céu e SUPORTE a cruz com paciência... OLHE para o céu e BEIJE a cruz como se beijasse um tesouro precioso. Não se esqueça de que a DOR acabará, mas a ALEGRIA do céu é ETERNA... o SOFRIMENTO terá fim, mas a FELICIDADE do céu é INFINITA... a LUTA cessará, mas a PAZ ETERNA será para SEMPRE.
Católico:
Se "os sofrimentos do tempo presente não têm proporção com a glória que deverá revelar-se em nós", por que se poupar? Se "os sofrimentos do tempo presente não têm proporção com a glória que deverá revelar-se em nós", por que viver de braços cruzados? Se "os sofrimentos do tempo presente não têm proporção com a glória que deverá revelar-se em nós", por que reclamar tanto da vida? Se "os sofrimentos do tempo presente não têm proporção com a glória que deverá revelar-se em nós", por que buscar o mais fácil? Se "os sofrimentos do tempo presente não têm proporção com a glória que deverá revelar-se em nós", por que desanimar e pensar em suicídio? Se "os sofrimentos do tempo presente não têm proporção com a glória que deverá revelar-se em nós", por que tanta preguiça de rezar e de trabalhar para o bem das almas imortais? Se "os sofrimentos do tempo presente não têm proporção com a glória que deverá revelar-se em nós", por que esse apego às coisas passageiras da terra? Se "os sofrimentos do tempo presente não têm proporção com a glória que deverá revelar-se em nós", por que pedir continuamente a morte?
Católico, NÃO AZEDE a sua vida... NÃO AMARGUE a sua vida... NÃO ARDA a sua vida... pelo contrário, ADOCE-A, CARREGANDO a CRUZ, pensando na ETERNIDADE do Céu: "Seria uma grande vantagem sofrer a vida inteira todos os tormentos sofridos pelos mártires, só para gozarmos um momento do céu. Com maior razão devemos então abraçar as nossas cruzes, sabendo que os sofrimentos desta vida curta nos farão conquistar uma felicidade eterna" (Santo Afonso Maria de Ligório), e: "As nossas tribulações do momento são leves e nos preparam um peso de glória eterna" (2 Cor 4, 17).
Santo Afonso Maria de Ligório comenta Rm 8, 18. Santo Agapito, mocinho de poucos anos, quando foi ameaçado de morte, respondeu: "Que maior felicidade posso eu ter do que a de perder a minha cabeça para vê-la depois coroada no céu?" São Francisco costumava sempre dizer: "O bem que espero é tão grande que todo sofrimento é prazer para mim". Para obter o paraíso é preciso lutar e sofrer. "Se sofremos com Cristo, com Ele reinaremos". Não pode haver prêmio sem merecimento, nem merecimento sem paciência. "Não recebe a coroa, senão aquele que lutou segundo as regras do jogo". Terá maior coroa quem combate com maior paciência. Coisa admirável! Quando se trata dos bens temporais desta terra, os mundanos procuram conquistar o máximo de coisas possíveis. Quando se trata dos bens eternos, dizem que basta um cantinho no paraíso. Esse não foi o comportamento dos santos. Nesta vida contentaram-se com qualquer coisa e desapegaram-se dos bens terrenos. Tratando-se dos bens eternos, Eles procuraram ganhar o mais possível. Agora eu lhes pergunto: quem age com mais sabedoria e prudência? Falando desta vida, é certo que quem padece com mais paciência vive com mais paz. Dizia São Felipe Neri que neste mundo não há purgatório: ou é paraíso ou é um inferno. Os que suportam com paciência os sofrimentos desta vida gozam do paraíso. Quem assim não o faz, sofre o inferno! Sim, como escreve Santa Teresa, quem abraça as cruzes que Deus lhe manda não as sente. São Francisco de Sales, achando-se uma vez cercado de sofrimentos, disse: "De algum tempo para cá as grandes tribulações e oposições que sinto me trazem uma paz tão grande e me predizem a união próxima e estável de minha alma com Deus; sinceramente falando, é a única ambição e o único desejo de meu coração". Na verdade, não há paz para aqueles que levam uma vida errada, mas só para quem vive unido com Deus e com sua santa vontade. Um missionário religioso, nas Índias, assistia uma vez à execução de um condenado. Este, antes de morrer, chamou-o e lhe disse: "Sabe, padre, eu fui de sua Congregação Religiosa. Enquanto observava o regulamento de vida, eu era muito feliz. Mas desde que comecei a relaxar, achei tudo difícil e passei a me aborrecer com tudo. Abandonei a vida religiosa para me entregar aos vícios; eles finalmente me trouxeram a este fim desgraçado que agora o senhor está vendo. Digo-lhe isto para que o meu exemplo possa servir a outros". Dizia o Padre Luís da Ponte: "Considere como amargas as coisas doces desta vida e como doces as amargas; assim terá sempre paz". Isso é verdade, porque os prazeres ainda que agradáveis à natureza, deixam sempre o amargor do remorso da consciência devido ao apego desordenado que, as mais das vezes, colocamos neles. Mas as amarguras desta vida, aceitas das mãos de Deus com resignação, tornam-se suaves e queridas às pessoas que amam o Senhor.
O Pe. Paulo Segneri comenta Rm 8, 18. Considera antes de tudo a modéstia do Apóstolo, no fato de dizer "eu penso", de uma coisa da qual tinha toda certeza. E não tinha estado no terceiro céu para se dar conta da glória de que trata? Disse "eu penso", talvez para mostrar-te que, mesmo que se tratasse só de uma opinião provável, a respeito daquela glória excelentíssima, tu deverias fazer o possível para adquiri-la. Não vês o que fazem aqueles que se põem à busca de ouro? Pode acontecer muito bem que, em vez de ouro, só encontrem uma porção de terra amarela. Todavia, suam, trabalham, condenam-se a uma vida duríssima, só porque têm probabilidade de achar ouro. Quando São Paulo diz "eu penso", não deixa certamente lugar a nenhuma incerteza. Ele sabe muito bem o que diz. Talvez disse "eu penso" por ironia para contigo, que ainda mostras duvidar de uma coisa tão certa. Diz menos, mas realmente diz mais do que se dissesse: eu sei. Considera a moeda com a qual se compra a glória do céu: "os padecimentos do tempo presente": pobreza, ignomínia, enfermidades, perseguições, dificuldades, suores e as várias tribulações que Deus te manda. E tu fazes pouco caso destas tribulações, desprezas a moeda de Deus, a moeda que Deus te dá para uma aquisição tão preciosa. Quando um príncipe por ocasião de uma festa lança moedas entre os pobres, viste alguma negligência na gente em recolhê-las? E tu não darias nem mesmo um passo para recolher aquela tribulação que Deus te dá somente para te enriquecer? "Não quiseram aceitar a disciplina" (Jr 5, 3).
Católico, agora é tempo de ENTESOURAR TESOUROS no céu, e não de viver de BRAÇOS CRUZADOS. ACORDE enquanto é tempo, porque "os sofrimentos do tempo presente não têm proporção com a glória que deverá revelar-se em nós" (Rm 8, 18).
Pe. Divino Antônio Lopes FP. Anápolis, 14 de outubro de 2008
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