MARCHAI... O ENTREGAREI NAS VOSSAS MÃOS (Jz 20, 28)
Pela manhã, os filhos de Israel saíram e acamparam defronte de Gabaá (Jz 20, 19). Os de Israel avançaram para o combate contra Benjamim, e se dispuseram em ordem de batalha diante de Gabaá (Jz 20, 20). Mas os benjaminitas saíram de Gabaá e, naquele dia, massacraram vinte e dois mil homens de Israel (Jz 20, 21). Os filhos de Israel vieram chorar na presença de Deus até à tarde, e depois consultaram a Deus, dizendo: "Devo ainda voltar a lutar contra os filhos de Benjamim, meu irmão?" E Deus respondeu: "Marchai contra ele!" (Jz 20, 23). Então o exército do povo de Israel se encheu de coragem e outra vez se dispôs em ordem de batalha, da mesma forma como no primeiro dia (Jz 20, 22). No segundo dia, os filhos de Israel chegaram perto dos benjaminitas (Jz 20, 24), porém, nesse segundo dia, Benjamim saiu de Gabaá ao seu encontro e massacrou ainda dezoito mil homens dos filhos de Israel, todos eles guerreiros hábeis no manejo da espada (Jz 20, 25). Então todos os filhos de Israel e todo o povo vieram a Betel, choraram, ficaram ali diante de Deus, jejuaram todo o dia até à tarde, e ofereceram holocaustos e sacrifícios de comunhão perante Deus (Jz 20, 26); e depois os filhos de Israel consultaram Deus. - A Arca da Aliança estava, naqueles dias, naquela região (Jz 20, 27), e Finéias, filho de Eleazar, filho de Aarão, prestava serviço junto a ela. - Eles disseram: "Devo sair ainda para combater contra os filhos de Benjamim, meu irmão, ou devo desistir?" E Deus respondeu: "Marchai, porque amanhã o entregarei nas vossas mãos" (Jz 20, 28).
Vinte e cinco mil benjaminitas e os terríveis guerreiros de Gabaá que COMBATIAM tanto com a MÃO ESQUERDA como com a DIREITA e MANEJAVAM a funda com precisão infalível, ofereceram batalha contra o povo de Israel. Trêmulos de medo, os filhos de Israel CONSULTARAM a Deus se era oportuno responder ao ataque, e rogaram-lhe designar um capitão. O Senhor designou o capitão, e eles travaram batalha. Mas foram derrotados e deixaram o campo coberto de cadáveres: "Os de Israel avançaram para o combate contra Benjamim, e se dispuseram em ordem de batalha diante de Gabaá. Mas os benjaminitas saíram de Gabaá e, naquele dia, massacraram vinte e dois mil homens de Israel" (Jz 20, 20-21). De novo correram a consultar a Deus, e choraram até à noite e gemiam: "Devemos combater ainda?" O Senhor respondeu: "Saí contra eles e dai batalha". Mas no dia seguinte foi uma matança cruenta. Por isso, os filhos de Israel foram à casa de Deus, e, sentados, choravam diante do Senhor: JEJUARAM todo aquele dia até o ocaso, e OFERECERAM HOLOCAUSTOS e VÍTIMAS PACÍFICAS. Então ressoou sobre eles a voz de Deus: "Marchai, porque amanhã o entregarei nas vossas mãos" (Jz 20, 28). O Pe. João Colombo escreve: "Não vos pareça estranho este fato: não bastou o primeiro recurso a Deus, porque não precedido por qualquer obra; tão pouco bastou o segundo, porque precedido só de lágrimas e de gemidos inúteis; o terceiro bastou, porque acompanhado da mortificação e do sacrifício".
Católico, nesta vida, também nós estamos circundados por um inimigo terrível que sabe ferir-nos com a mão esquerda como com a direita; esse inimigo é o DEMÔNIO IMUNDO: "O Demônio é um ser pessoal, real e concreto, de natureza espiritual e invisível, que, pelo seu pecado, se afastou de Deus para sempre" (Pe. Francisco Fernández-Carvajal), e: "Porque o diabo e os outros demônios foram criados por Deus naturalmente bons; mas eles, por si mesmos, se tornaram maus" (Conc. Lat. IV, 1215; Dz 800 (428), e também: "Ele é o pai da mentira" (Jo 8, 44). Milhões de católicos, para tentarem ficar em PAZ com os seus HORRÍVEIS PECADOS MORTAIS, NEGAM a existência do Demônio; nem por isso esse terrível inimigo das almas imortais deixa de existir. O único fim dessa "fera nefasta" (São Martinho de Tours), ao qual não renunciou, é a nossa perdição. Ele tentará diariamente alcançar esse fim por todos os meios ao seu alcance: "Tudo começou com a rejeição de Deus e do seu reino, com a usurpação dos seus direitos soberanos, na tentativa de alterar a economia da salvação e a própria ordem de toda a criação. Encontramos um reflexo dessa atitude nas palavras do tentador aos nossos primeiros pais: Sereis como deuses. Assim, o espírito maligno trata de transplantar para o homem a atitude de rivalidade, de insubordinação e de oposição a Deus que se converteu no motivo de toda a sua existência" (João Paulo II, Audiência geral, 13-08-1986). Sobre a luta contra o Demônio escreve o Pe. João Colombo: "Alguns pensaram que, para vencê-lo, bastasse aquela lânguida oração recitada com a mente distraída, outros esperaram que bastasse alguma lagrimazinha sobre as culpas passadas, alguma lamentação sobre a fraqueza da nossa natureza, e sobre a fragilidade dos nossos propósitos. Não! Ele é um forte armado que vigia com toda astúcia, para lançar-se a depredar na alma; é preciso fazer-se mais forte do que ele, ir-lhe em cima e arrancar-lhe a sua arma e a sua presa".
Católico, para vencer o Maligno é preciso VIGIAR e MORTIFICAR.
I- VIGIAR
O Pe. Alexandrino Monteiro comenta sobre a VIGILÂNCIA.
Para quem está em país hostil, em tempo de guerra, toda vigilância é pouca. Não pode haver segurança plena depois de uma vitória ganha. O inimigo ficou derrotado, mas não sem vida. A terra é para nós um campo de combate, e a vida é a duração desse combate. Se saíste vencedor da luta com algum inimigo de tua salvação, não deponhas logo as armas, nem digas: - "Agora já posso descansar; o inimigo está derrotado". Olha que não estás ainda defendido pelos muros da pátria; andas ainda peregrinando por terra de inimigos. Puseste em fuga o teu contrário, mas não lhe cortaste a cabeça! Se o céu da tua alma se desanuviou das nuvens negras da tentação e voltou ao seu azul diáfano e sereno, pensa que nem sempre estará assim meigo o seu caris. Ainda não secou o mar de tuas paixões para o não forrar de novo com nuvens sombrias. Ainda não abrasou a terra de tantas maldades para o não embaciar com as exalações de tantos vícios. Cuidado, pois; está sempre alerta! Os inimigos topam-se a cada passo, mas nem sempre nos aparecem como tais. Uns já são conhecidos, outros se acercam de nós embuçados em capas de amigos. O demônio é negro e feio, mas sabe trajar de anjo. Não espera que nós o provoquemos; está sempre em pé de guerra, disposto a dar o assalto, quando as circunstâncias forem mais propícias. Não dá sinal para nos prevenir do ataque, mas acomete de súbito e à calada! Cada época da vida tem seus perigos. Em todas elas tem o homem de sustentar duros combates para se manter na sua dignidade e conservar o inestimável dom da graça divina. Os inimigos não são os mesmos em cada uma das idades, ou ao menos não nos guerreiam com as mesmas armas; mudam-se com as pessoas, com os lugares e com os negócios. Se foges dum, não digas: - Deste estou livre! - porque já outro te espera. Se ouves o trovão, não digas que está longe a tempestade, e que, por isso, não há pressa em fugir para um lugar seguro. Acautela-te, porque pode ser que já esteja sobre a tua cabeça a desencadear-se a tremenda borrasca! Uma faísca não mata, mas produz um grande incêndio. E, quando o fogo é de concupiscência, o homem é palha, que se inflama como pólvora. Alerta sempre! Os olhos são janelas por onde entra o germe da morte. Se olham para o que não é lícito ver, introduzem na fantasia o que não é lícito pensar, e no coração o que é proibido apetecer. Quantas vezes não ouves esta voz: - "Isto não faz mal; lê sem medo, não sejas escrupuloso!" É a voz do anjo mau que sabe falar e insinuar-se de tal arte, que convence e rende. Leste, enfim, talvez depois de muita luta. E agora? - Ai! Se eu soubera, não teria lido! Assim é, se aquelas vozes fossem do bom espírito, não sofrerias um tal desengano! Vigia sempre, porque, mais que tu, vigiam teus inimigos, desejosos de te ver caído em alguma grave culpa. Não digas: - É só uma vez e nunca mais! Ai de ti se consentes essa única vez! Não será ela a única, mas o princípio de centenas de vezes. Não sabes o que diz o Espírito Santo? - Um abismo chama por outro abismo (Sl 42, 8). Quer dizer: um pecado chama por outro pecado, e este por outro, até se formar uma cadeia que chegue ao inferno! Vigia sobre ti, não só para evitar o pecado mortal, mas também o venial. O pecado venial é uma doença que ataca o organismo espiritual e predispõe a alma para adoecer de culpa grave. É como a água deitada na fervura; pois, mal entra na alma, arrefece nela o fogo do amor de Deus. É este o conselho do divino Mestre, que nos veio do céu para ensinar o caminho da salvação. A salvação é uma ciência que tem os seus preceitos. Um dos mais graves é a vigilância. Quem é Aquele que nos manda vigiar e orar para não cairmos em tentação? - Aquele é que melhor conhece o coração do homem e a sua fraqueza. - É Jesus. Ouve-o falando com o Apóstolo, que mais decidido estava a segui-lo até à morte: - Pedro, esta noite me hás de negar três vezes, primeiro que o galo cante. - Senhor, disse Pedro, ainda que seja preciso morrer convosco, não vos negarei! Quem falou a verdade? Foi Jesus, porque sabia que Pedro, fiado na sua resolução, não faria caso de se expor ao perigo de cair três vezes, tão desgraçadamente! Vigia e ora ao Pai do céu, para que te não deixe sozinho na tentação e para que o inimigo não prepondere sobre ti. Atende ao teu caráter. Vê quem acompanhas, com que pensamentos andas mais ocupado e quais são as tuas conversas favoritas. Vigia e ora, porque nenhuma esperança é segura, nenhuma vigilância vigia assaz, quando a eternidade entra em jogo! Vigia e ora, porque não sabes quando começará o novo combate, nem se te encontrarás com forças suficientes para sair vencedor. Vigia e ora, para, em cada tentação, colher os louros de triunfo, e em cada triunfo mereceres uma coroa de glória na eternidade!
II- MORTIFICAR
Adolfo Tanquerey escreve sobre a MORTIFICAÇÃO.
No céu amaremos sem necessidade de nos imolarmos. Neste mundo, porém, passam as coisas muito diversamente. No estado atual da natureza decaída, é impossível amar a Deus com amor verdadeiro e efetivo, sem nos sacrificarmos por Ele. Não podemos amar a Deus, sem combater e mortificar essas tendências; e este combate, que principia com o desabrochar da razão, não termina senão com o último suspiro. Há sem dúvida momentos de trégua, em que a luta é menos viva; mas até mesmo então não podemos largar mão das armas, sem nos expormos a uma contra-ofensiva do inimigo. É o que prova o testemunho da Sagrada Escritura. A Sagrada Escritura indica-nos claramente a necessidade absoluta do sacrifício ou da abnegação, para amar a Deus e ao próximo. A) É a todos os seus discípulos que Nosso Senhor Jesus Cristo dirige este convite: "Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me" (Mt 16, 24). Para seguir e amar a Jesus, a condição essencial é renunciar-se a si mesmo, isto é, às tendências más da natureza, ao egoísmo, ao orgulho, à ambição, à sensualidade, à luxúria, ao amor desordenado do bem-estar e das riquezas; é levar a sua cruz, aceitar os sofrimentos, as privações, as humilhações, os reveses da fortuna, as fadigas, as doenças, numa palavra, todas essas cruzes providenciais que Deus nos envia para nos provar, arraigar na virtude e facilitar a expiação das nossas faltas. Então, mas só então, é que podemos ser seus discípulos e avançar nos caminhos do amor e da perfeição. Esta lição confirma-a Jesus Cristo, com o seu exemplo. Ele, que descera do céu expressamente para nos mostrar o caminho da perfeição, não seguiu outro senão o da cruz: Toda a vida de Jesus Cristo foi um martírio. Do presépio ao Calvário, o seu caminho é uma longa série de privações, humilhações, fadigas, trabalhos apostólicos, coroados pelas angústias e torturas da sua Paixão. É o comentário eloquente; se houvesse outro caminho mais seguro, Ele no-lo teria mostrado; mas, como sabia que não há outro, trilhou-o, para nos arrastar em seu seguimento: "Eu, quando for levantado da terra, todas as coisas atrairei a mim mesmo" (Jo 12, 32). Assim o compreenderam os Apóstolos que nos repetem, com São Pedro, que, se Cristo sofreu por nós, foi para nos atrair em seu seguimento. B) É igualmente a doutrina de São Paulo: para ele, a perfeição cristã consiste em nos despojarmos do homem velho, para nos revestirmos do novo. Ora, o homem velho é o complexo das tendências más que herdamos de Adão, é a tríplice concupiscência que é necessário combater e açamar pela prática da mortificação. E assim, diz ele claramente que os que querem ser discípulos de Cristo têm de crucificar os seus vícios e concupiscências. É condição essencial, de tal forma que ele mesmo se sente obrigado a castigar o seu corpo e a reprimir a concupiscência, para não se expor à reprovação. C) São João, o apóstolo do amor, não é menos categórico: ensina que, para amar a Deus, é necessário observar os mandamentos e combater a tríplice concupiscência que reina como senhora no mundo; e acrescenta que, se alguém ama o mundo e o que há no mundo, isto é, a tríplice concupiscência, não pode possuir o amor de Deus. Ora, para odiar o mundo e as suas seduções, é evidentemente necessário praticar o espírito de sacrifício, privando-nos dos prazeres maus e perigosos.
Católico, VIGIE e MORTIFIQUE o seu corpo, porque Satanás não tira férias: "Sede sóbrios e vigilantes! Eis que o vosso adversário, o diabo, vos rodeia como um leão a rugir, procurando a quem devorar. Resisti-lhe, firmes na fé" (1 Pd 5, 8-9).
Pe. Divino Antônio Lopes FP. Anápolis, 30 de outubro de 2008
Obs: Como exige o sentido, invertemos os vv. 22 e 23; na realidade, esses dois vv. não pertencem à mesma tradição (Explicação do rodapé da Bíblia de Jerusalém).
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