VEM PARA FORA! (Jo 11, 43)
“Tendo dito isso, gritou em alta voz: ‘Lázaro, vem para fora!”
Que necessidade havia daquela ALTA VOZ para ressuscitar a Lázaro, quando Jesus Cristo poderia ter feito só com a Sua vontade? Porque aquela voz pela qual (Sl 148, 5) disse e foram feitas as coisas, mandou e foram criadas, foi só a vontade, não expressada de nenhuma maneira, e bastou para fazer o que não existia. Por que razão usou aqui daquela ALTA VOZ chamando a Lázaro por seu nome, pois bastava ter dito: vem para fora? São João Crisóstomo e Teofilacto indicam que usou aquela voz para demonstrar que só se valia de sua autoridade e poder para o milagre. Mandando disse: Lázaro, vem para fora. E aqui se envolvem em longas disputas com os arianos, defendendo que, sem dúvida alguma, Deus era o que com sua autoridade e poder ressuscitava os mortos, coisa que nunca fizeram os apóstolos nem algum outro santo. Os milagres que fizeram os apóstolos foram em nome de Jesus Cristo. A mesma razão, ainda que com maior claridade, propõe São Cirilo dizendo: “Digno e real mandato próprio de Deus, dizer: Lázaro, vem para fora”. Teodoro de Mopsuestia, Teofilacto e Eutímio dizem que o fez assim para atrair a alma de Lázaro que se achava em lugar remotíssimo e afastado. O Pe. Juan Leal diz que a ALTA VOZ está em harmonia com as circunstâncias. É sinal de força e serve para que todos ouçam e chegue ao fundo da caverna. O Pe. Manuel de Tuya diz que terminada a oração, deu sua ordem à morte “com voz muito forte”, reclamada pela solenidade do momento, e também por conveniência psicológica humana dos presentes: para que sua voz entrasse sensivelmente na profundidade daquela caverna-tumba e chegasse ao morto, com sua ordem, a vida. Outra causa indicam São Cirilo, André Cretense, Santo Ambrósio, São João Crisóstomo, Teofilacto e Eutímio, respondendo as perguntas, a saber: quis Cristo declarar que era realidade o que em outra ocasião afirmou: Vem a hora, e é agora, quando os mortos ouvirem a voz do Filho do homem, e os que a ouvirem viverão. São Cirilo, André e Santo Ambrósio também crêem que o Salvador com aquela voz quis recordar a trombeta do juízo. Santo Agostinho e São Beda indicam outra causa mais moral que exegética, a saber: é necessário chamar com alta voz os que se encontram oprimidos pelos maus costumes. A primeira sentença parece a mais provável, ainda quando acreditamos que a verdadeira explicação é a mais simples. Cristo se adapta à opinião e costume dos homens; ninguém, se se trata de conjurar a um morto, o faz com voz baixa, mas gritando, como se se falasse com um surdo, e talvez com maiores vozes quanto mais tempo levasse o morto, como se estivera mais morto pelo tempo e com maior dificuldade para ouvir. Chama Cristo a Lázaro pelo nome, porque se tratava de um amigo, e, como disse Leôncio, é sinal de amizade usar os nomes próprios das pessoas com que tratamos, ou também, segundo insinua Santo Ambrósio, para que ninguém pensasse que ressuscitava um morto por outro e que era bem casual que pretendida aquela ressurreição. Daqui prova Santo Irineu que nós ressuscitaremos com o mesmo corpo, a mesma alma, e não outros distintos. E também concluem acertadamente São João Crisóstomo, Eutímio e Teofilacto: Cristo fala com o morto como se estivesse vivo ao gritar-lhe: Lázaro, vem para fora, porque para Ele, como Deus que é, todos, ainda os mortos, vivem. Com estas palavras: vem para fora, não se manda precisamente ressuscitar, mas o supõe vivo e ressuscitado e lhe ordena para que saia do sepulcro. Jesus chama Lázaro pelo seu nome. Embora estivesse verdadeiramente morto, não tinha perdido a sua identidade pessoal: os defuntos continuam a existir, mas de outro modo, pois passam da vida mortal para a vida eterna.
Assim como Nosso Senhor GRITOU em ALTA VOZ a Lázaro: “... vem para fora!”, hoje, Ele GRITA:
1. Aos adúlteros, fornicadores, homossexuais, prostitutas, pedófilos, pornográficos, masturbadores, impudicos, imorais... para que saiam do “túmulo” da IMPUREZA. Se há vício no mundo que rebaixe a natureza humana é a impureza. Este vício degradante deprime o homem até a condição do bruto. Como ele, o impuro vive da satisfação de apetites materiais. A impureza escraviza o homem. Tira-lhe da cabeça a coroa de rei e ata-lhe aos pés a cadeia de escravo. O homem que se entrega a tal vício, não sabe mais dominar-se. As inclinações de sua natureza viciada traçam-lhe a regra de vida, e ele fica vergado sob o jugo das ignóbeis paixões. É este vício tão nocivo que, uma vez alojado no coração do homem, atrofia-lhe todas as faculdades. A vontade já não se sente inclinada para a virtude e piedade; acha, pelo contrário, fastio e tédio em todas as práticas religiosas. A impureza tem aberto para a maior parte dos homens o caminho da perdição. É por este desfiladeiro que tantas e tantas almas vão se precipitando no abismo da perdição eterna. Se Deus permitisse nesta hora que os condenados do inferno dissessem o motivo que lá os levou, quantos haviam de apontar para o sexto mandamento da Lei de Deus, que eles tantas vezes transgrediram. Nenhum outro pecado se transforma tão facilmente em mau hábito, em vício, como este, resultando dificilmente a emenda. É o vício que conduz à cegueira da mente, causa a perda da fé, produz a obstinação da vontade, leva ao desespero e à impenitência final. Como da alma, prepara também a ruína do corpo. Suas consequências são a perda da honra, a dissipação da fortuna e a ruína da família e da nação.
2. Aos caluniadores, fofoqueiros, maledicentes... para que saiam do “túmulo” da CALÚNIA. A calúnia é um dos piores pecados contra o oitavo mandamento, porque combina um pecado contra a verdade (mentir) com um pecado contra a justiça (ferir o bom nome alheio) e a caridade (falhar no amor devido ao próximo). A calúnia fere o próximo onde mais dói: na sua reputação. Se roubamos dinheiro a um homem, este pode irar-se ou entristecer-se, mas, normalmente, acabará por refazer-se dessa perda. Quando manchamos o seu bom nome, roubamos-lhe algo que todo o trabalho do mundo não lhe poderá devolver. É fácil ver, pois, que o pecado de calúnia é mortal se com ele prejudicamos seriamente a honra do próximo, ainda que seja na consideração de uma só pessoa e mesmo que esse próximo não tenha notícia do mal que lhe causamos.
3. Aos preguiçosos, acomodados, boas-vidas, folgados... para que saiam do “túmulo” da “POLTRONICE”. As vontades fracas, as meias vontades jamais conseguirão coisa alguma, jamais darão um passo na senda da perfeição; os indivíduos espiritualmente preguiçosos balançam-se entre o quero e o não quero. Hoje, sim; amanhã, não. São moles, sempre em último lugar; parece que fazem um favor quando se trata de rezar, de estudar... Como é triste e repugnante conviver com o preguiçoso e acomodado. Estes frouxos e estas meias vontades não agradam aos fervorosos. Se não se mexerem, se não sacudirem o tédio que os conduz à moleza e a fazer as coisas negligentemente, o diabo os levará a cometer vícios abomináveis.
Pe. Divino Antônio Lopes FP. Anápolis, 19 de janeiro de 2009
Bibliografia
Bíblia Sagrada Pe. Juan de Maldonado, Comentário do Evangelho de São João Pe. Alexandrino Monteiro, Raios de luz Pe. Juan Leal, A Sagrada Escritura, texto e comentário Pe. João Batista Lehmann, Euntes... Praedicate! Bem-aventurado José Allamano, A Vida Espiritual Pe. Manuel de Tuya, Bíblia comentada Pe. Leo J. Trese, A fé explicada
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