NÃO PEQUES MAIS

(Jo 8, 11)

 

“Vai, e de agora em diante não peques mais”.

 

 

Santo Agostinho escreve: “Apenas dois ficam ali: a miserável e a Misericórdia. E o Senhor, depois de ter cravado o dardo da Sua justiça no coração dos judeus, nem Se digna olhar sequer como vão desaparecendo, mas afasta deles a Sua vista e volta outra vez a escrever com o dedo na terra. Quando se afastaram todos e ficou só a mulher, levantou os olhos e fixou-os nela. Já ouvimos a voz da justiça; ouçamos agora também a voz da mansidão. Que aterrada deve ter ficado aquela mulher quando ouviu dizer ao Senhor: ‘Aquele de vós que estiver sem pecado, que atire primeiro a pedra’, porque temia ser castigada por Aquele em que não podia achar-se pecado algum. Mas Aquele que tinha afastado de Si os Seus inimigos com as palavras da justiça, olhando-a com olhos de misericórdia, pergunta-lhe: Ninguém te condenou? Responde ela: Ninguém, Senhor. E Ele: Nem Eu te condeno; Eu próprio, de quem talvez tenhas temido ser castigada, porque em Mim não achaste pecado algum. ‘Também Eu não te condeno’. Senhor, que é isto? Favoreces Tu os pecadores? Claro que não. Vê o que se segue: Vai e desde agora não peques mais. Portanto, o Senhor deu sentença de condenação contra o pecado, mas não contra a mulher” (In loann. Evang., 33,5-6).

Católico, Deus sempre perdoa um pecador arrependido, mas exige uma mudança de vida: “... não peques mais”.

Existem algumas condições para se confessar bem; uma delas é o propósito de não mais pecar.

Não basta ter a dor de ter ofendido a Deus, mas é necessário ainda o propósito de não mais ofendê-Lo; antes, sem propósito, não pode haver verdadeira dor: “Dos três atos do penitente, o mais importante é a contrição, ou seja, a rejeição clara e firme do pecado cometido, juntamente com o propósito de não voltar a cometê-lo” (Ricardo Sada e Alfonso Monroy).

O propósito consiste numa vontade firme e decidida de nunca mais pecar e de empregar todos os meios necessários para evitar o pecado.

O propósito para ser bom deve ser: 1° Universal; 2° Firme e eficaz.

Propósito universal, quer dizer que o propósito deve abranger todos os pecados mortais com a vontade de os evitar: Universal, ou seja, abrangendo todo o pecado mortal, porque, tal como a contrição, o verdadeiro propósito rejeita o pecado enquanto pecado” (Idem.).

Pelas palavras firme e eficaz entende-se que é mister ter vontade decidida a não cometer, por motivo nenhum, o pecado mortal, e a empregar todos os meios de evitar os pecados, fugindo das ocasiões perigosas, combatendo os maus hábitos, etc: Firme, porque, no momento de o fazer, o penitente se  propõe, por um ato voluntário, não voltar a ofender a Deus. Esta firmeza não se deve confundir com a constância, que diz respeito, antes, ao futuro; por outras palavras, a sinceridade do propósito é compatível com a dúvida sobre o cumprimento posterior, dada a debilidade própria. Eficaz, porque deve levar a empregar os meios necessários para evitar o pecado, evitar as ocasiões de pecado na medida das possibilidades próprias, e reparar o prejuízo que possa ter sido feito a outrem pelo pecado cometido” (Idem.).

Sobre o propósito, Monsenhor Cauly  escreve: “O firme propósito é a resolução firme de não tornar a cair nos pecados que se tem cometido e que foram confessados com arrependimento. Não é pois simples intenção e mero desejo, mas sim, determinação enérgica de não mais pecar.

Para ser sincero e verdadeiro, o firme propósito, como a Contrição, deve ser: 1° Interior, isto é, no coração e na vontade e não unicamente nos lábios; 2° Universal, isto é, deve abranger todos os pecados mortais sem exceção, especialmente aqueles em que caímos mais facilmente; 3° Soberano, isto é, superior a todos os vínculos, até os partirmos, superior a todas as dificuldades, até as vencermos corajosamente; 4° Enfim, deve ser prático, isto é, ter sua aplicação circunstanciada e seus meios de execução; este último sinal será a pedra de toque e real prova da existência verdadeira do firme propósito.

Os tais meios de realização são os seguintes : 1° Oração; 2° Vigilância; 3° Emenda dos maus hábitos; 4° Fuga das ocasiões.

A oração e a vigilância já são conhecidas : pela oração imploramos o socorro de Deus; pela vigilância acautelamo-nos contra as ciladas e tentações. Maus hábitos são uma facilidade lastimável que nos leva a cair nas mesmas faltas às quais nos acostumamos. Qual é o meio de os debelar? Por hábitos contrários, exames sérios, atos de arrependimento, e principalmente por penitências voluntárias  quando caimos.

As ocasiões de pecado são certas circunstâncias que expõem ao perigo de fazer o mal: certos lugares, certas companhias, certas leituras... Quem não quisesse desviar das ocasiões de pecar gravemente, quando pode fugir, ou então, se forçado a ficar nesse perigo, não tomasse as devidas providências e toda a cautela necessária para removê-las, mostraria que não tem firme propósito e seria indigno da absolvição. Outro tanto se deve dizer das quedas repetidas nos mesmos pecados mortais, sem emenda nem esforços para corrigir-se”.

Infelizmente, poucos católicos se aproximam da confissão, e dos que ainda se aproximam, milhares vão por “tradição”.

Milhares são os que se aproximam da confissão como se estivem numa mesa de boteco ou no banco do jardim conversando e sorrindo com os amigos; contam os pecados como se estivessem contando uma piada muito engraçada... sem dor, nem propósito nem sinceridade. Será que esses saem do confessionário perdoados de seus pecados?

 

Em Lima, capital do Peru, uma senhora tinha três criadas. Uma era cristã, convertida do paganismo. Deixou, porém, a prática da oração, tornou-se leviana e livre nos costumes. Tendo adoecido, recebeu os sacramentos com pouca devoção. Revelou, depois, às suas companheiras de serviço, que tivera o cuidado de ocultar ao sacerdote todos os pecados que cometera. Alarmadas, as companheiras levaram o fato ao conhecimento de sua patroa, a qual alcançou da enferma a promessa de fazer uma confissão sincera. Marta, assim se chamava ela, confessa-se de novo e morre depois de algum tempo. Apenas exalou o último suspiro, começou o seu cadáver a espalhar um mau cheiro insuportável, e tiveram de levá-la para fora da casa. O cão, por natureza tranquilo, pôs-se a uivar. Uma das criadas, indo dormir no quarto onde Marta falecera, foi despertada por rumores espantosos; todos os móveis eram como que agitados por uma força invisível e atirados ao solo. Com a outra criada deu-se a mesma cena espantosa. Resolveram, pois, passar juntas a noite. Ouviram, a certa altura, a voz clara e distinta de Marta que se lhes apresentou em estado horrível e rodeada de chamas. Disse-lhes que, por ordem de Deus, vinha fazer-lhes conhecer em que estado se achava e que fora condenada por seus pecados de impureza e por suas confissões mal feitas. E acrescentou: “Contai a outros o que acabo de revelar-vos, para que não sejam vítimas da mesma desgraça”. A estas palavras lançou um grito de desespero e desapareceu.

 

             

Pe. Divino Antônio Lopes FP.

Anápolis, 14 de março de 2009

 

 

Bibliografia

                    

Bíblia Sagrada

Santo Agostinho, Escritos

Pe. Francisco Alves, Tesouro de exemplos

Terceiro Catecismo da Doutrina Cristã

Monsenhor Cauly, Curso de instrução religiosa 

Curso de teologia dos sacramentos, Ricardo Sada e Alfonso Monroy

 

 

 

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