FOI PARA A SUA PÁTRIA

(Mc 6, 1-6)

 

1 Saindo dali, foi para a sua pátria e os seus discípulos o seguiram. 2 Vindo o sábado, começou ele a ensinar na sinagoga e numerosos ouvintes ficavam maravilhados, dizendo: ‘De onde lhe vem tudo isto? E que sabedoria é esta que lhe foi dada? E como se fazem tais milagres por suas mãos? 3 Não é este o carpinteiro, o filho de Maria, irmão de Tiago, José, Judas e Simão? E as suas irmãs não estão aqui entre nós?’ E escandalizavam-se dele. 4 E Jesus lhes dizia: ‘Um profeta só é desprezado em sua pátria, em sua parentela e em sua casa’. 5 E não podia realizar ali nenhum milagre, a não ser algumas curas de enfermos, impondo-lhes as mãos. 6 E admirou-se da incredulidade deles”.

 

 

Em Mc 6, 1-3 diz: “Saindo dali, foi para a sua pátria e os seus discípulos o seguiram. Vindo o sábado, começou ele a ensinar na sinagoga e numerosos ouvintes ficavam maravilhados, dizendo: ‘De onde lhe vem tudo isto? E que sabedoria é esta que lhe foi dada? E como se fazem tais milagres por suas mãos? Não é este o carpinteiro, o filho de Maria, irmão de Tiago, José, Judas e Simão? E as suas irmãs não estão aqui entre nós?’ E escandalizavam-se dele”.

 

Edições Theologica comenta Mc 6, 1-3.

Jesus é designado aqui pelo Seu trabalho e por ser “o filho de Maria”. Indicará isto que São José já tinha morrido? Não o sabemos, ainda que seja provável. Em qualquer caso, é de sublinhar esta expressão: nos Evangelhos de São Mateus e de São Lucas tinha-se narrado a concepção virginal de Jesus. O Evangelho de São Marcos não refere à concepção e nascimento virginais, na designação “o filho de Maria”.

“José, cuidando daquele Menino como lhe tinha sido ordenado, fez de Jesus um artesão: transmitiu-Lhe o seu ofício. Por isso, os vizinhos de Nazaré falavam de Jesus chamando-Lhe indistintamente faber e fabri filius: artesão e filho de artesão” (São Josemaría Escrivá, Cristo que passa, n.° 55).

“Esta verdade, segundo a qual o homem mediante o trabalho participa na obra do próprio Deus, seu Criador, foi particularmente posta em relevo por Jesus Cristo, aquele Jesus com quem muitos dos Seus primeiros ouvintes em Nazaré ‘ficavam admirados e exclamavam: ‘Donde Lhe veio tudo isso? E que sabedoria é esta que lhe foi dada? Porventura não é Ele o carpinteiro?’ (Mc 6, 2-3). Com efeito, Jesus não só proclamava, mas sobretudo punha em prática com obras as palavras da Sabedoria eterna, o ‘Evangelho’ que Lhe tinha sido confiado. Tratava-se verdadeiramente do ‘evangelho do trabalho’ pois Aquele que o proclamava era Ele próprio homem do trabalho, do trabalho artesanal como José de Nazaré (cfr Mt 13, 55). Ainda que não encontramos nas Suas palavras o preceito especial de trabalhar – antes pelo contrário, uma vez, a proibição da preocupação excessiva com o trabalho e com os meios de subsistência (Mt 6, 25-34) – contudo, a eloquência da vida de Cristo é inequívoca: Ele pertence ao ‘mundo do trabalho’ e tem apreço e respeito pelo trabalho humano. Pode-se até afirmar: Ele encara com amor este trabalho, bem como as suas diversas expressões, vendo em cada uma delas uma linha particular da semelhança do homem com Deus, Criador e Pai” (João Paulo II, Encíclica Laborem exercens).

São Marcos dá uma lista de irmãos de Jesus, e fala genericamente da existência de umas irmãs. Mas a palavra “irmão” não significava necessariamente filho dos mesmos pais. Podia indicar também outros graus de parentesco: primos, sobrinhos, etc. Assim em Gn 13, 8 e 14, 14.16 chama-se a Lot irmão de Abraão, enquanto por Gn 12, 5 a 14, sabemos que era sobrinho, filho de Arão, irmão de Abraão. O mesmo acontece com Labão, a quem se chama irmão de Jacó (Gn 29, 15), quando era irmão de sua mãe (Gn 29, 10); e noutros casos: cf. 1 Cr 23, 21-22, etc. Esta confusão deve-se à pobreza da linguagem hebraica e aramaica: carecem de termos diferentes e usam uma mesma palavra, irmão, para designar graus diversos de parentesco.

Por outros passos do Evangelho, sabemos que Tiago e José, aqui nomeados, eram filhos de Maria de Cléofas (Mc 15, 40; Jo 19, 25). De Simão e de Judas temos menos dados. Parece que são os Apóstolos Simão, o Zelotes (Mt 10, 4; Mc 3, 18) e Judas Tadeu (Lc 6, 16), autor da epístola católica em que se declara “irmão” de Tiago. Por outro lado, ainda que se fale de Tiago, Simão e Judas como irmãos de Jesus, nunca se diz que sejam “filhos de Maria”, o que teria sido natural se tivessem sido estritamente irmãos do Senhor. Jesus aparece sempre como filho único; para os de Nazaré. Ele é “o filho de Maria” (Mt 13, 55). Jesus ao morrer confia Sua mãe a São João (cf. Jo 19, 26-27), o que revela que Maria não tinha outros filhos. A isto acrescenta-se a fé constante da Igreja, que considera Maria como a sempre Virgem: “Virgem antes do parto, no parto, e para sempre depois do parto” (Paulo IV, Const. Cum quorumdam).

 

O Pe. Gabriel de Santa Maria Madalena comenta esse trecho do Evangelho de São Marcos.

Nazaré era sua cidade, sua pátria, onde vivera desde a infância, onde tinha os parentes e era bem conhecido; era de esperar que tudo isto facilitasse seu ministério; foi, no entanto, ocasião de rejeição. Após o primeiro momento de espanto, ante sua sabedoria e seus milagres, os incrédulos nazarenos o repelem: “Não é este o carpinteiro, o filho de Maria’... E se escandalizavam dele”. Um secreto orgulho, egoísta e mesquinho, impede-os de admitir que um como eles, crescido sob seus olhos, operário pobre, pudesse ser profeta, e, além disso, Messias, Filho de Deus!

 

Marcos 6, 1-3 é comentado pelo Pe. Juan Leal.

Nazaré pode ser chamada a cidade “natal” de Jesus, porque ali Ele viveu principalmente. Jesus prega na sinagoga no sábado. Lc 4, 17-21 conta mais detalhadamente o ocorrido.

Há duas variantes importantes no versículo três. 1) O carpinteiro, o filho de Maria; 2) O filho do carpinteiro. Esta lição era a que lia Orígenes, pois contestado por Celso, disse que nenhuma parte do Evangelho se lê que Jesus fora carpinteiro (Contra Celso 1, 28). Mateus disse: Não é este o filho do carpinteiro? Não se chama sua mãe Maria? (Mt 13, 55). Lucas disse: Não é este filho de José? (Lc 4, 22). Nesta insegurança da tradição é difícil saber qual foi a frase original. Provavelmente, o carpinteiro, o filho de Maria, é a lição original, e as outras variantes poderiam explicar-se por um desejo dos copistas de evitar aos leitores algo que estes pudessem considerar como ofensivo a Jesus: ser ele mesmo um carpinteiro. Outros (Klostermann), em compensação, têm por mais primitiva a lição de Orígenes (o filho do carpinteiro), e consideram outras lições como correções dogmáticas em favor da concepção virginal.

O não nomear mais que Maria, pode indicar que José já havia morrido.

                                 

O Pe. Manuel de Tuya comenta Mc 6, 1-3.

Cristo sai provavelmente de Cafarnaum, e vai para a “sua pátria”. Esta é Nazaré (Mc 1, 9. 24; Lc 4, 16).

“Como são realizados tais milagres por sua mão?” Os nazarenos ouvem falar dos milagres de Cristo e reconhecem que os realiza, porém como um simples instrumento ou mediador. Por isso, a sabedoria que tem “lhe foi dada”, e os “milagres são realizados por sua mão”. É o mesmo que se diz de Moisés (2 Cr 35, 6). Porém, sua crença n’Ele, ainda como taumaturgo, é muito rudimentar. Por conhecê-Lo, os seus familiares desestimam seus poderes e se “escandalizam”. Provavelmente desconfiam do valor de suas obras. É um caso de dificuldade em aldeia e na família.

Faz-se a Cristo “artesão”. A palavra grega usada significa um artesão que trabalha principalmente com madeira. Porém, naquele vilarejo, os ofícios de um “artesão” podiam estender-se a outras pequenas ocupações.

Citam-se “irmãos” e “irmãs” de Cristo. Estes são “parentes” em grau diverso do mesmo. Precisamente no mesmo Evangelho se dá o nome da mãe destes “irmãos” de Cristo. A razão de chamá-los “irmãos” e não parentes, ou especificamente com o grau de parentesco que tivessem, se deve a quem, em hebraico, não há termos específicos para isto. Só se usa para todos os graus de parentesco a palavra irmão.

 

Lúcio Navarro comenta Mc 6, 3: “Não é este o carpinteiro, o filho de Maria, irmão de Tiago, José, Judas e Simão?”

Sabemos que a Bíblia não somente designa com o nome de irmãos aqueles que são filhos do mesmo pai ou da mesma mãe, como eram Caim e Abel, Esaú e Jacó, São Tiago Maior e São João Evangelista (que eram filhos de Zebedeu), etc.; mas também aqueles que são parentes próximos, como tios e primos.

A Bíblia está cheia destes exemplos.

Abrão chama de irmão a Lot: “Que não haja discórdia entre mim e ti, entre meus pastores e os teus, pois somos IRMÃOS” (Gn 13, 8). Mais adiante a própria Bíblia o chama assim: “Abraão, tendo ouvido que Lot, seu IRMÃO, ficara prisioneiro...” (Gn 14, 14). Pois bem, Lot era apenas sobrinho de Abraão, pois já antes disto se lê no Gênesis: “Abrão partiu, como lhe disse o Senhor, e Lot partiu com ele. Abrão tinha setenta e cinco anos quando deixou Harã. Abrão tomou sua mulher Sara, seu sobrinho Lot...” (Gn 12, 4-5).

Labão diz a Jacó: “Acaso, porque tu és meu IRMÃO, deves tu servir-me de graça?” (Gn 29, 15). E, no entanto, Jacó era SOBRINHO de Labão: “Isaac chamou a Jacó e o abençoou e lhe pôs por preceito dizendo: Não tomes mulher da geração de Canaã; mas vai e parte para Mesopotâmia..., e desposa-te com uma das filhas de Labão, SEU TIO” (Gn 28, 1-2). Realmente, Jacó era filho de Isaac com Rebeca (Gn 25, 21-25)  Rebeca era irmã de Labão: Rebeca, porém, tinha um irmão chamado Labão (Gn 24, 29). E, no entanto, não só como vimos acima, seu tio, o chama IRMÃO, mas também quando Jacó se encontra com Raquel, que é filha de Labão (Gn 29, 5-6), diz à moça que é IRMÃO de Labão: “E lhe manifestou que era IRMÃO de seu pai e filho de Rebeca” (Gn 29, 12).

É dentro deste costume hebreu de designar com o nome de IRMÃOS, não só os que têm os mesmos pais, senão também os parentes próximos como tios, primos e sobrinhos, pois o hebraico não possuía palavras próprias para designar esses parentescos, que o Novo Testamento fala em IRMÃOS DE JESUS e é  o próprio Novo Testamento QUE SE ENCARREGA DE DEMONSTRÁ-LO.

Dá alguma vez o Evangelho os nomes desses irmãos de Jesus para que possamos identificá-los?

Sim, dá. Sabe-se dos nomes, pelos menos de 4: TIAGO, JOSÉ, JUDAS e SIMÃO: “Não é este o carpinteiro, filho de Maria, IRMÃO de TIAGO, e de JOSÉ e de JUDAS e de SIMÃO? Não vivem aqui entre nós também suas irmãs?” (Mc 6, 3), e: “Porventura não é este o filho do carpinteiro? Não se chama sua mãe Maria, e seus irmãos TIAGO, JOSÉ, SIMÃO e JUDAS? E suas irmãs não vivem todas entre nós?” (Mt 13, 55-56).

Pois bem, este TIAGO que encabeça a lista é um Apóstolo, pois diz São Paulo na Epístola aos Gálatas: “E dos outros APÓSTOLOS não vi a nenhum, senão a TIAGO, IRMÃO do SENHOR” (Gl 1, 19).

Temos 2 Apóstolos com o nome de TIAGO: TIAGO MAIOR e TIAGO MENOR. Vamos ver se algum deles era filho de José com Maria.

SÃO TIAGO MAIOR era irmão de São João Evangelista e ambos FILHOS de ZEBEDEU: “... e também de TIAGO e JOÃO, FILHOS de ZEBEDEU” (Lc 5, 10).

SÃO TIAGO MENOR, IRMÃO de JUDAS, era FILHO de ALFEU. Entre os Apóstolos, que são enumerados por São Mateus, estão: “TIAGO, FILHO de ZEBEDEU e TIAGO FILHO de ALFEU” (Mt 10, 2-3). Que tem a ver Maria Santíssima com este ALFEU ou com este ZEBEDEU? Logo, este Tiago, IRMÃO do SENHOR, NÃO é SEU FILHO.

Além disto, comparando-se os Evangelhos, se vê claramente que este TIAGO e este JOSÉ que encabeçam a lista são PRIMOS de Jesus, e o TIAGO é o Apóstolo TIAGO MENOR. Enumerando as mulheres que estavam juntamente com Maria ao pé da cruz, Mateus, Marcos e João as identificam da seguinte maneira:

                                                          

MATEUS 27, 56: MARCOS 15, 40: JOÃO 19, 25:

Maria, mãe de Tiago e de José;
Maria Madalena, mãe dos filhos de Zebedeu.

Maria, mãe de Tiago Menor e de José;
Maria Madalena; Salomé.

a irmã de sua mãe, Maria,
Mulher de Cléofas: Maria Madalena.

 

Por aí se vê que a mesma Maria que é apresentada por São João como tia de Jesus (irmã de sua mãe) é apresentada por São Mateus e São Marcos como mãe de TIAGO MENOR e de JOSÉ. E é claro que não se trata de Maria Salomé, que é a mãe dos FILHOS de ZEBEDEU e, portanto, é mãe de TIAGO MENOR.

TIAGO MENOR e JOSÉ são, portanto, PRIMOS de Jesus, e são os primeiros que encabeçam aquela lista:

TIAGO, JOSÉ, JUDAS e SIMÃO.

SÃO JUDAS TADEU era IRMÃO de SÃO TIAGO MENOR, pois ele diz no começo de sua Epístola: “Judas, servo de Jesus Cristo e IRMÃO de Tiago” (Jd 1).

E assim cai por terra fragorosamente a alegação de certas pessoas de que Maria teve outros filhos além de Jesus Cristo. Não só provamos que entre os hebreus se chamavam IRMÃOS os parentes próximos, mas também mostramos que a lista dos nomes apresentados como sendo destes IRMÃOS é logo encabeçada por dois PRIMOS, filhos da irmã da mãe de Jesus.

A única dificuldade, esta agora já sem importância, que pode fazer certas pessoas é que TIAGO MENOR é FILHO de ALFEU, e sua mãe é apresentada como MULHER de CLÉOFAS.

Temos que observar o seguinte:

1.° O texto original não diz MULHER de CLÉOFAS, mas diz simplesmente: a irmã de sua mãe, Maria a do Cléofas (texto grego de João 19, 25); podia chamar-se Maria, a do Cléofas, por causa do pai ou por outro qualquer motivo.

2.° Não repugna que a mesma Maria se tenha casado com Alfeu e dele tenha tido São Tiago Menor e depois se tenha casado com Cléofas e tido outros filhos ou mesmo deixado de ter. Tiago é o único apontado nos Evangelhos como filho deste Alfeu, pois o Alfeu, pai de São Mateus (Mc 2, 14) já deve ser outro.

3.° Não repugna que o mesmo Alfeu seja o mesmo Cléofas. É muito comum nas Escrituras uma pessoa ser conhecida por 2 nomes diversos: O sogro de Moisés é chamado Raguel (Ex 2, 18-21) e logo depois é chamado Jetro (Ex 3, 1). Gedeão, depois de ter derrubado o altar de Baal é chamado também de Jerobaal (Jz 4, 32). E no Novo Testamento o mesmo Mateus é chamado Levi: Viu um homem que estava assentado no telônio chamado Mateus (Mt 9, 9), viu a Levi, filho de Alfeu, assentado no telônio (Mc 2, 14). O mesmo que é chamado José é chamado Barsabás (At 1, 23).

Seja Alfeu o mesmo Cléofas ou não, isto pouco importa. O que é fato é que Maria de Cléofas é irmã de Maria, mãe de Jesus e é ao mesmo tempo mãe de Tiago e de José, que são chamados IRMÃOS do Senhor.

E, no entanto, o Evangelho, descrevendo a família em Nazaré, relatando a ida de Jesus ao templo de Jerusalém, quando o Menino Deus já tinha doze anos (Lc 2, 42), não faz a mínima referência a irmão nenhum que Jesus tivesse. Se Maria teve assim tantos filhos, nessa ocasião já deveria ter alguns.

Os Evangelhos só vêm falar em IRMÃOS de Jesus, quando Ele aparece na sua vida pública.

Mais ainda: na hora da sua morte, é a São João Evangelista, filho de Zebedeu e de Salomé que Ele encarrega de ficar tomando conta de sua Mãe Santíssima: “Jesus, pois, tendo visto sua mãe e ao discípulo que Ele amava, o qual  estava presente, disse à sua mãe: Mulher, eis aí o teu filho. Depois disse ao discípulo: Eis aí a tua mãe. E desta hora em diante a tomou o discípulo para sua casa” (Jo 19, 26-27).

Se Maria teve tantos filhos e filhas, como se explica que ela tenha sido entregue aos cuidados de São João Evangelista e que este a tenha levado para sua casa? Dizer que esses irmãos do Senhor tenham morrido dentro daqueles três anos da vida pública do mestre não é possível, pois São Paulo continua a falar em irmãos do Senhor que ainda estão vivos depois da morte de Jesus (1 Cor 9, 5; Gl 1, 19).

Estas considerações levam a concluir que a expressão “Irmãos de Jesus” não obriga a dizer que Maria teve outros filhos além de Jesus. Pode-se mesmo afirmar que somente a falta de conhecimento exato da linguagem bíblica e dos textos concernentes ao assunto fundamenta a tese de que Maria foi mãe dos “Irmãos de Jesus”. O estudo preciso e objetivo das Escrituras dissuade de tal sentença.

                                        

O Pe. Juan de Maldonado comenta Mc 6, 1-3.

6, 1. E saindo dali. – Ou seja, da casa do chefe da sinagoga, onde havia ressuscitado a filha deste (5, 41), ou também da cidade de Cafarnaum, onde devia estar a dita casa, como se deduz São Mateus 9, 23.

Ele foi à sua pátria. – A Nazaré, onde se havia criado... a julgar pela Escritura e a observação de autores de nota, pode-se chamar pátria de Cristo a três cidades: Belém, a cidade própria de seu nascimento; Nazaré, de sua educação, e Cafarnaum, de sua permanência e pregação. Aqui neste lugar não se refere a Belém, a qual não acredito que seja citada como tal em toda a Escritura, nem a Cafarnaum, pois ali estava quando se diz que partiu para sua pátria; senão somente a Nazaré, onde viviam seus irmãos e irmãs, como se lê no versículo três e em São Mateus 13, 55.

E seus discípulos o seguiam. – Talvez nota isto aqui o evangelista para dar razão de havê-los enviado logo a pregar pela Judéia, posto que viessem com Ele à sua pátria.

6, 2. E chegado o sábado. Quando chegou o dia de sábado, em que os judeus se reuniam na sinagoga (Mc 1, 21).

Perguntam alguns por que Cristo quis ir à sua pátria e pregar na sinagoga, pois sabia que não havia de ter aceitação nem sua doutrina nem seus milagres, como se vê em seguida (vv. 3, 4 e 5). Teofilacto e Eutimio respondem: para que não tivessem ocasião de se desculparem, dizendo que se Ele tivesse ido ali, teriam acreditado.

Admiravam-se de sua doutrina.-  A construção da versão latina, in doctrina eius, é um hebraísmo que põe ablativo em vez de acusativo, com preposição.

E não podia realizar ali nenhum grande milagre. – Chama virtutes aos milagres porque neles resplandece principalmente o poder de Deus.

Parece causar escândalo o dizer que “não pode fazer em sua pátria nenhum milagre”, como se não tivesse Cristo poder para fazer tudo o que quer e onde quer que seja. Entenderá muito bem pelo que ensina São Gregório Nazianzeno: “Um dos vários modos porque algo não se pode ou é impossível, segundo a Sagrada Escritura, é quando se diz que não podemos fazer o que não queremos: v. gr., os irmãos de José, diz o Gênesis, não podiam dizer-lhe uma  palavra pacífica pelo ódio que lhe tinham (Gn 34, 4), ou seja, que não lhe queriam; e neste sentido dizia Cristo (Jo 7, 7): Não pode o mundo vos odiar, ou seja, não quer nem tem razão, porque sois mundanos. E neste mesmo sentido se diz que Cristo não podia fazer milagres em sua pátria, ou seja, não queria, por causa da incredulidade daqueles homens, e, para exagerá-la, o evangelista preferiu dizer que não pode, ao invés de dizer que não quis, como se houvessem impedido a Cristo de realizar milagres, não por defeito d’Ele, senão dos ouvintes”.

Com efeito: duas coisas ocorrem para fazer milagres, se não por necessidade, se por conveniência; o poder suficiente no taumaturgo e a fé no que recebe o milagre. Se faltar algum destes dois requisitos, se diz que não pode haver o milagre, como apoiados no mesmo São Gregório notaram Teofilacto e Eutimio.

Se diz também que não se pode fazer (como ensina o mesmo São Gregório) o que não é conveniente, como quando disse Cristo: Porventura podem chorar (ou seja, não é conveniente nem decente) os filhos do esposo enquanto está o esposo com eles? (Mt 9, 15). Assim se pode entender também este lugar, como se dissesse que Cristo não podia então fazer milagres porque não era conveniente nem justo. Desta maneira respondeu Cristo em outra ocasião aos filhos de Zebedeu  que não podia conceder-lhes postos de honra que lhe pediam, porque não era justo fazê-lo naquele tempo: Todavia, o sentar-se à minha direita ou à minha esquerda não cabe a mim concedê-lo, mas é para aqueles a quem está preparado (Mc 10, 40). Neste mesmo sentido disse aqui o evangelista que não pode fazer milagres, a saber, porque não parecia justo fazê-los a homens ingratos e mal dispostos, como interpreta Teofilacto. Queria guardar em si mesmo aquela regra que havia dado a seus discípulos: Não deis aos cães o que é santo, nem atireis as vossas pérolas aos porcos, para que não as pisem e, voltando-se contra vós, vos estraçalhem (Mt 7, 6).

Observa Orígenes que São Mateus e São Marcos não só dizem que não pode Cristo fazer milagres em sua pátria, senão que realizou alguns e nada mais: E não fez ali grandes milagres, disse o primeiro; somente a cura de alguns enfermos, impondo-lhes as mãos, acrescenta o outro; para que entendêssemos que fez alguns milagres, porém, que não pode haver mais pela má disposição daqueles homens.

Opinam São Beda e Teofilacto que Cristo não fez muitos milagres entre aqueles incrédulos para não dar-lhes gosto. Porém, a meu entender, se há de atribuir esta reserva de Cristo a sua justiça mais que a sua misericórdia, privando de seus milagres àqueles indignos, como castigo merecido.

                                    

Em Mc 6, 4-6 diz: “E Jesus lhes dizia: ‘Um profeta só é desprezado em sua pátria, em sua parentela e em sua casa’. E não podia realizar ali nenhum milagre, a não ser algumas curas de enfermos, impondo-lhes as mãos. E admirou-se da incredulidade deles”.

 

Edições Theologica comenta Mc 6, 4-6.

Jesus não fez ali milagres: não porque Lhe faltasse poder, mas como castigo da incredulidade dos Seus concidadãos. Deus quer que o homem use da graça oferecida, de sorte que, ao cooperar com ela, se disponha a receber novas graças. Em frase gráfica de Santo Agostinho: “Deus que te criou sem ti, não te salvará sem ti” (Sermão 169).

 

Esse trecho do Evangelho de São Marcos é comentado pelo Pe. Gabriel de Santa Maria Madalena.

A modéstia, a humildade de Jesus é a pedra de escândalo em que esbarram, fechando-se à fé. E Jesus observa com tristeza: “Um profeta não é desprezado senão na sua terra, entre os seus parentes, na própria família”. A incredulidade dos seus impede-O de operar ali os grandes milagres feitos em outros lugares, porque Deus usa da onipotência só em favor de quem crê. Alguém, porém – provavelmente entre os mais humildes -, certamente creram, também em Nazaré, pois nota Marcos: “Curou um pequeno número de enfermos, impondo-lhes as mãos”. Isso mostra que Jesus está sempre pronto para salvar quem o aceita como Salvador.

                             

O Pe. Juan Leal comenta Mc 6, 4-6.

Diz–se que por causa da incredulidade dos nazarenos, Jesus não pode fazer nenhum milagre, mas sim, a cura de uns poucos enfermos. É que seus milagres estão ligados como condição à fé daqueles que deve experimentar seu poder salvífico.

 

O Pe. Manuel de Tuya comenta Mc 6, 6.

Esta “admiração” verdadeira que Cristo tem por causa da “incredulidade” que tinham d’Ele, em nada vai contra a plena sabedoria que tem por sua ciência “beatífica” e “infusa”, já que isto não é mais que um caso do exercício de sua ciência “experimental”, como a teologia ensina.

 

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP.

Anápolis, 02 de julho de 2009

                           

 

 

 

 

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Pe. Divino Antônio Lopes FP. “Foi para a sua pátria”

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