PENSAI NO INFERNO
(Eclo 7, 40)
“Lembrai-vos dos vossos
novíssimos e não pecareis jamais”.
Que se entende por novíssimos? Quantos são os novíssimos? Por que
esses novíssimos se chamam últimas coisas que acontecerão ao homem?
São Pio X escreve:
“Novíssimos são chamados nos Livros Santos as últimas coisas
que hão de acontecer ao homem. São quatro: Morte, Juízo, Inferno e
Paraíso. Os novíssimos chamam-se últimas coisas que acontecerão ao homem
porque a Morte é a última coisa que nos acontece neste mundo; o Juízo de
Deus é o último entre os juízos que temos que passar; o Inferno é o último
mal que hão de sofrer os maus; e o Paraíso é sumo bem que hão de receber
os bons”.
São Filipe Néri diz:
“Principiantes na vida espiritual devem meditar muito os
novíssimos. Quem não descer ao inferno enquanto viver corre perigo de nele
entrar quando morrer”.
Centenas de bispos e milhares
de sacerdotes não pregam mais sobre os Novíssimos do homem,
principalmente sobre o Inferno; e milhões de católicos se
revoltam e tapam os ouvidos para não ouvirem a
Doutrina sobre o Inferno. São poucos os que aceitam a
pregação sobre os Novíssimos do homem.
O Papa João Paulo II escreve:
“A Igreja não pode
omitir, sem grave mutilação da sua mensagem essencial, uma catequese
constante sobre o que a linguagem cristã tradicional designa como os
quatro últimos fins do homem: Morte, Juízo, Inferno e Paraíso”,
e: “É bom pensarmos nos
Novíssimos todos os dias, e principalmente ao fazer a oração da manhã,
assim que despertamos, à noite, antes de deitar, e todas as vezes que
somos tentados a fazer algum mal, porque este pensamento é eficacíssimo
para nos fazer evitar o pecado”
(São Pio X).
Será que os bispos, sacerdotes e leigos que “aposentaram” a
Doutrina sobre os Novíssimos do homem ficarão para semente? É grande
covardia esconder essa Doutrina dos fiéis, deixando-os viverem sem
pensar nas últimas coisas que hão de acontecer.
Católico, o temor do inferno fortifica os mais fracos
perante os grandes e poderosos da terra.
Em 325 padeceram heroicamente o martírio as cristãs: Domnina
e Teonila. Conduzidas à presença do prefeito Lysias que lhes intima
a renunciar a fé para adorar os ídolos, recusam terminantemente. Então
Lysias faz acender uma fogueira e ao mesmo tempo erguer o altar dos falsos
deuses.
Escolhei, diz-lhes, ou queimar o incenso sobre o altar
dos nossos deuses, ou ser queimadas no fogo desta fogueira.
Nós não receamos essa fogueira, respondem sem hesitar, em
breve ela se apagará! O fogo que receamos é o do inferno, que não
se apagará. Para não cair nesse fogo, nós detestamos os vossos ídolos e só
adoramos Jesus Cristo que é Deus verdadeiro. E cheias de coragem
deixaram-se queimar vivas.
I.
A recordação do inferno afasta-nos do pecado
Quem poderia cometer o pecado
ao considerar com viva fé os castigos com que Deus o pune na eternidade?
Uma leve dor, quando prolongada, torna insuportável; que será, então,
padecer, sem alívio e eternamente, suplícios incompreensíveis? Lamentamos
os que, perdida toda a sua fortuna, se acham reduzidos subitamente à
mendicância; quanto mais lamentáveis são os que no inferno padecem a
indigência irremediável! Quem poderá meditar frequente e seriamente essas
verdades sem ficar com medo, penetrado de horror ao pecado, repleto de
compunção e espírito de penitência, disposições tão necessárias à
verdadeira santidade?
“Esconder” a Doutrina do Inferno dos fiéis com medo
de “amedrontá-los” nunca foi um ato de amor, mas sim, uma
covardia. Queira ou não os católicos “pó-de-arroz”, o
Inferno existe:
“Esvaziar o Inferno em nome da misericórdia não seria, portanto, uma
medida de clemência nem uma prova de bondade, mas uma capitulação da
justiça. Uma ‘anistia geral’ seria o reconhecimento da equivalência
entre o bem e o mal, entre o vício e a virtude, isto é, um absurdo
inconciliável com a Sabedoria divina. Deve-se sublinhar, portanto, que
haverá condenados no Inferno por toda a eternidade. A nossa vida na terra
é um tempo de prova durante o qual escolhemos livremente a vida definitiva
e os meios para alcançá-la. Não é senão lógico que quem pratica o mal
recolha o que semeou”
(Edouard Clerc).
É correto um católico aceitar a Santa Doutrina pela metade? Claro
que não. Por que então milhões aceitam a Doutrina sobre o Céu e negam
rigorosamente e com raiva a Doutrina sobre o Inferno?
A Sagrada Escritura mostra abertamente a
existência do Inferno. Por que dizem que é
errado pensar nessa verdade?
Em São Mateus:
1.
“A sua pá acha-se na sua mão; e recolherá o seu trigo no celeiro, mas
queimará as folhas num fogo que jamais se apagará”
(3, 12).
2.
“E se o teu olho direito te serve
de escândalo, arranca-o e lança-o fora de ti; porque melhor te é que se
perca um de teus membros, do que todo o teu corpo seja lançado no inferno”
(5, 29).
3. “Os filhos do
reino serão lançados nas trevas exteriores: ali haverá choro e ranger de
dentes”
(8, 12).
4. “E gritaram
logo ambos, dizendo: Que temos nós contigo, Jesus, filho de Deus? Vieste
aqui atormentar-nos antes do tempo?” (8, 29).
5. “E
lançá-los-ão na fornalha do fogo: ali haverá choro e ranger de dentes” (13, 50).
6. “Ora, se a
tua mão ou o teu pé te escandaliza, corta-o e lança-o fora de ti; melhor
te é entrar na vida manco ou aleijado, do que tendo duas mãos ou dois pés
e ser lançado no fogo eterno”
(18, 8).
7. “Então disse
o rei aos seus ministros: Atai-o de pés e mãos, e lançai-o nas trevas
exteriores; ali haverá choro e ranger de dentes”
(22, 13).
8. “Serpentes,
raça de víboras! Como escapareis vós de serdes condenados ao inferno?”
(23, 33).
9. “E ao servo
inútil lançai-o nas trevas exteriores: ali haverá choro e ranger de
dentes”
(25, 30).
Em São Marcos:
“E se a tua mão te escandalizar,
corta-a; melhor te é entrar na vida eterna maneta, do que tendo duas mãos
ir para o inferno, para o fogo que nunca mais se apaga, onde o verme que
os rói, nunca morre, e onde o fogo nunca se apaga”
(9, 42-43).
Em São Lucas:
1.
“Cuja pá está na sua mão, e ele limpará a sua eira, e recolherá o trigo no
seu celeiro, e queimará as palhas num fogo que nunca se apaga” (3, 17).
2. “E quando ele estava nos tormentos, levantando os seus olhos, viu ao
longe a Abraão e a Lázaro no seu seio; e gritando disse: Pai Abraão,
compadece-te de mim e manda Lázaro aqui para que molhe em água a ponta do
seu dedo, a fim de me refrescar a língua, pois sou atormentado nestas
chamas. E Abraão lhe respondeu: Filho, lembra-te que recebestes os teus
bens em tua vida, e que Lázaro os males! Por isso ele está gora consolado
e tu em tormentos”
(16, 23-26).
Em São Paulo:
1.
“Quando aparecer o Senhor Jesus
com os anjos, em chama de fogo, para tomar vingança daqueles que não
conheceram a Deus, e dos que não obedecem ao Evangelho de Nosso Senhor
Jesus Cristo, os quais sofrerão a pena eterna de perdição”
(2 Ts 1, 7-9).
2. “Mas uma
esperança terrível do juízo, e o ardor de um fogo zeloso que há de devorar
os adversários de Deus”
(Hb 10, 27).
Em São Pedro:
“Porque, se Deus não perdoou aos
anjos que pecaram, mas, amarrados com cadeias do inferno, os precipitou no
abismo”
(2 Pd 2, 4).
Em São Judas:
“E que aos anjos, que não
guardaram o seu principado, mas desampararam o seu domicílio os reservou
com cadeias eternas em trevas para o juízo do grande dia”
(v. 6).
O Inferno existe;
é impossível negar essa verdade.
Católico, o pensamento do inferno desapega-nos ainda do mundo
onde naufragam tantas almas. Dos trezentos mil que no espaço
de vinte e quatro horas passam à eternidade, quantos se
condenam? E nesse grande número a maior parte foi arrastada à perdição por
suas relações com o mundo, em que a impiedade, a
imoralidade, o amor dos bens passageiros conspurcam tantos corações e os
conduzem fatalmente a uma ruína sem fim. Como poderia então uma alma que
reflete apegar-se ao mundo, às suas vaidades, máximas e
prazeres, que são outros tantos laços que os demônios armam para levá-la
aos abismos?
A recordação do inferno dar-nos-á a vitória sobre
todas as nossas paixões: sobre o orgulho, mostrando-nos como
Deus, inimigo dos soberbos, os cobre de vergonha e ignomínia entre os
escravos de Satanás; sobre a avareza, recordando-nos o mau
rico a reclamar em altos brados uma gota d’água sem poder obtê-la; sobre a
impureza, pelo pensamento do fogo devorador que consome os
réprobos, tortura-os de todos os modos sem os fazer morrer, embora padeçam
mil mortes a cada instante.
II. A recordação do inferno
torna-nos mais fácil o exercício das virtudes
A humildade acha
abundantes recursos no pensamento dos opróbrios reservados aos condenados.
Ela nos faz dizer: “Se estivesse no inferno, como o merecia, eu seria
desprezado, insultado e coberto de confusão. Os Demônios exprobrar-me-iam
com ira por haver eu recebido meios abundantes de salvação sem os ter
aproveitado. Cumular-me-iam de injúrias e ultrajes”. Tais pensamentos
não serão de molde a rebater as nossas pretensões, a diminuir a nossa
confiança em nós mesmos, e a nos ajudar a suportar em paz neste mundo o
esquecimento, as faltas de respeito, os escárnios, os desprezos e as
maiores afrontas?
E que gratidão não devemos a Deus que nos preservou
do inferno! Se o pior dos condenados fosse neste momento arrancado às
chamas do inferno e recolocado no mundo para se penitenciar, poderia ele
esquecer tão grande benefício? E nós, a quem Deus não só retirou, mas
preservou dos abismos do fogo vingador por uma misericórdia inteiramente
gratuita, que gratidão lhe testemunhamos?
Tal caridade da parte de um Deus deveria abrasar-nos
de amor para com Ele, pois que não foi sem dificuldades que o Senhor nos
colocou no caminho da salvação. Ele teve de aplicar-nos os méritos de seu
Filho, que sofreu e morreu por nós; desse Filho que cada dia se imola para
aplacar a justiça divina em nosso favor. E, graças a essa aplicação
contínua que Deus faz dos méritos de Jesus, podemos subtrair-nos à ira dos
Demônios, aos suplícios dos réprobos, à desgraça incompreensível de sermos
afastados para sempre do soberano Bem.
Pe. Divino Antônio Lopes FP.
Anápolis, 20 de outubro de 2009
Bibliografia
Sagrada Escritura
São Pio X, Catecismo Maior
João Paulo II, Exortação Apostólica
Reconciliação e Penitência
Pe. Luis Bronchain, Meditações para todos
os dias do ano
Frei Mateus Maria do Souto, Verdade e Luz
Edouard Clerc, Que há para além da morte?
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