OS TORMENTOS DO INFERNO
(Mc 9, 43)
“Fogo que
nunca se apaga”.
O inferno é um
abismo fechado de todos os lados, onde não penetra o mais leve
raio de luz: “Pois o inferno é cárcere fechado por completo e
escuro, onde nunca penetrará raio de sol nem qualquer outra luz (Sl
48, 20)” (Santo Afonso Maria
de Ligório). Nesta vida o fogo nos aclara; mas na
morada dos condenados, que é um lugar de morte, as chamas
são escuras; deixam somente perceber o horrível estado dos condenados e as
formas hediondas tomadas pelos demônios para espantar as suas vítimas.
Explica São Basílio Magno
“que o
Senhor separará do fogo a luz; de modo que estas chamas arderão sem
iluminar”; o que Santo Alberto Magno exprime
mais brevemente nestes termos: “Separará do calor o resplendor”.
O fumo sairá
dessa fogueira e formará a espessa nuvem tenebrosa que, como diz São
Judas, “cegará os olhos dos condenados”
(Jd 13).
Haverá ali apenas a claridade precisa para
aumentar os tormentos. Uma sinistra claridade que permite ver a
fealdade dos condenados e dos demônios, assim como o aspecto horrendo que
estes tomarão para causarem mais horror.
Quão
amarga é a recordação das satisfações dos olhos para esses infelizes que
se vêem imersos em trevas por causa da demasiada liberdade concedida a
seus olhares: “... aos quais está reservada a
escuridão das trevas para a eternidade” (Jd
13).
Santa
Teresa de Jesus escreve:
“Depois de muito
tempo, quando o Senhor me tinha já feito muitas mercês que tenho dito e
outras muito grandes, estando um dia em oração, achei-me de repente, sem
saber como, e segundo me parece, toda metida no inferno. Entendi que o
Senhor queria que visse o lugar que os demônios lá me tinham preparado, e
eu merecido, por meus pecados. Foi de brevíssima duração, mas, embora eu
vivesse muitos anos, parece-me impossível esquecê-lo. Parecia-me a entrada
à maneira dum beco muito comprido e estreito, semelhante a um forno muito
baixo e escuro e apertado. O chão pareceu-me duma água com lodo muito sujo
e de cheiro pestilencial e cheio de muitas sevandijas peçonhentas. No
fundo havia uma concavidade aberta numa parede a modo dum armário, aonde
me vi meter em muita estreiteza. Tudo isto era deleitoso à vista em
comparação do que ali senti... Senti um grande fogo na alma que eu não
chego a entender como poder dizer de que maneira é. As dores corporais são
tão insuportáveis que, apesar de eu as ter passado nesta vida gravíssimas,
tudo é nada em comparação do que ali senti... um aperto, uma sufocação,
uma aflição tão sensível e com um tão desesperado e aflitivo
descontentamento, que eu não sei explicar... Estando em tão pestilencial
lugar, tão desesperada de toda a consolação, não há sentar-se, nem
deitar-se, nem há lugar, porquanto me puseram neste como que buraco feito
na parede; porque estas paredes, que são espantosas à vista, apertam por
si mesmas e tudo sufoca. Não há luz, mas tudo trevas escuríssimas. Eu não
entendo como pode ser isto, que, não havendo luz, se vê tudo o que à vista
há de causar pena”,
e: “Hoje
estive nos abismos do inferno, levada por um Anjo. É um lugar de grande
castigo, e como é grande a sua extensão. Tipos de tormentos que vi: o
primeiro tormento que constitui o inferno é a perda de Deus; segundo —
contínuo remorso de consciência; terceiro — esse destino já não mudará
nunca; quarto tormento — é o fogo que atravessará a alma mas não a
destruirá; é um tormento terrível, é um fogo puramente espiritual,
acendido pela ira de Deus; quinto tormento — é a contínua escuridão, um
terrível cheiro sufocante, e embora haja escuridão, os demônios e as almas
condenadas vêem-se mutuamente, e vêem todo o mal dos outros e o seu; o
sexto tormento — é a contínua companhia do demônio; sétimo tormento — é o
terrível desespero, ódio a Deus, maldições, blasfêmias. São tormentos que
todos os condenados sofrem juntos, mas não é o fim dos tormentos; existem
tormentos especiais para as almas, os tormentos dos sentidos; cada alma é
atormentada com o que pecou, de maneira horrível e indescritível. Existem
terríveis prisões subterrâneas, abismos de castigo, onde um tormento
distingue-se do outro; eu teria morrido vendo esses terríveis tormentos,
se não me sustentasse a onipotência Divina. Que o pecador saiba que será
atormentado com o sentido com que pecou, por toda a eternidade; estou
escrevendo isso por ordem de Deus, para que nenhuma alma se escuse
dizendo que não existe o inferno, ou que ninguém esteve lá e não sabe como
é lá” (Santa Faustina Kowalska).
O sentido do
tato terá também seu tormento especial: o do fogo.
O fogo é o mais terrível suplício da terra, bem que nosso
fogo tenha sido criado pela Bondade infinita. Imaginai, pois, o condenado,
imerso, submergido num oceano de chamas acesas pela cólera do Onipotente.
O corpo do infeliz é por elas penetrado até às veias, até à medula dos
ossos; suplício horrível que encerra todos os outros, pois que o Espírito
Santo designa todos os tormentos do inferno sob o nome de fogo.
Os outros
sentidos, além do suplício do fogo, acham no inferno os seus castigos
particulares. O ouvido é sempre aturdido pelos lamentos,
blasfêmias e uivos horrorosos dos outros condenados. O gosto
sofre fome e sede incompreensíveis, e jamais uma migalha de pão ou uma
gota de água será concedida aos condenados. O olfato é
atormentado dia e noite pela horrível infecção de tantos cadáveres
amontoados desordenadamente, dos quais um só bastaria para causar a morte
a todos os homens da terra. Quão caro custarão aos condenados os prazeres
dos sentidos!
Santo Afonso
Maria de Ligório escreve: “Consideremos, em primeiro lugar, a
pena do sentido. É de fé que existe inferno. No centro da terra se
encontra esse cárcere destinado ao castigo dos que se revoltaram contra
Deus. Que é, pois, o inferno? O lugar de tormentos (Lc 16, 28), como o
chamou o mau rico; lugar de tormentos, onde todos os sentidos e todas as
faculdades do condenado hão de ter o seu castigo próprio, e onde aquele
sentido que mais tiver servido para ofender a Deus mais acentuadamente
será atormentado (Sb 11,17; Ap 18,7). A vista padecerá o tormento
das trevas (Jó 10,21). O olfato padecerá o seu tormento próprio.
Seria insuportável se nos metêssemos num quarto acanhado, onde jazesse um
cadáver em putrefação. O condenado deve ficar sempre entre milhões de
réprobos, vivos para a pena, mas cadáveres hediondos quanto à pestilência
que exalam (Is 34,3). Disse São Boaventura que, se o corpo de um condenado
saísse do inferno, bastaria ele só para produzir uma infecção em
consequência da qual morreriam todos os homens do mundo E ainda há
insensatos que se atrevem a dizer: ‘Se for ao inferno, não irei sozinho’.
Infelizes! Quanto maior for o número de réprobos ali, tantos maiores serão
os sofrimentos de cada um. ‘Ali — diz Santo Tomás — a companhia de outros
desgraçados não alivia; antes aumenta a desventura geral’. Muito mais
sofrerão, sem dúvida, pela fetidez asquerosa, pelos gritos daquela
multidão desesperada, e pelo aperto em que se acharão amontoados e
comprimidos os réprobos, à semelhança de ovelhas em tempo de inverno (Sl
48,15), ou como uvas esmagadas no lagar da cólera de Deus (Ap 19,15). E
assim mesmo padecerão o tormento da imobilidade (Ex 15,16). Da maneira
como o condenado cair no inferno, assim há de permanecer imóvel, sem que
lhe seja dado mudar de posição, nem mexer mãos nem pés, enquanto Deus for
Deus. O ouvido será atormentado com os contínuos gritos aflitivos daqueles
pobres desesperados, e pelo barulho horroroso que, sem cessar, os demônios
provocam (Jó 15, 21). Quando desejamos dormir, é com o maior desespero que
ouvimos o contínuo gemido de um doente, o choro de uma criança ou o ladrar
de um cão… Infelizes réprobos, que são obrigados a ouvir, por toda a
eternidade, os gritos pavorosos de todos os condenados! A gula será
castigada com a fome devoradora. Entretanto, não haverá ali nem uma
migalha de pão. O condenado sofrerá sede abrasadora, que não se apagaria
com toda a água do mar. Mas não se lhe dará uma só gota. Uma só gota d’água
pedia o rico avarento, e não a obteve, nem a obterá jamais”.
O Senhor não
odeia a obra das suas mãos, nem mesmo os animais ferozes e hediondos:
“Amais tudo que existe e não tendes horror ao que criastes”
(Sb 11, 25). Entretanto, Deus não poderia amar e deve necessariamente
detestar a alma do condenado. Sempre unida ao pecado que Deus detesta, a
infeliz é objeto da justa aversão do Onipotente. Que suplício estar sempre
em oposição com o Criador, seu último fim, seu soberano Bem!
“Pois Deus detesta igualmente o ímpio e sua impiedade” (Sb 14, 9).
Deus
não só detesta a alma condenada, mas a repele com horror:
“Naquele dia minha cólera se inflamará contra
eles, e eu os abandonarei e lhes ocultarei a minha face” (Dt
31, 17). Ao deixar a
vida, ela sente o instinto do seu destino que a constrange a ir para Deus.
Mal entra na eternidade, lança-se ao Bem supremo, do qual não se poderia
privar um instante porque feita para possuí-lo. Mas ouve uma voz que lhe
grita: “Já não me pertences, nem eu a ti”. Ao mesmo tempo uma força
invencível a repele, ou antes, o peso dos seus pecados a arrasta para os
abismos eternos. Lá, sempre em luta com a justiça que a castiga, esgota-se
em esforços inúteis, porque jamais verá Deus pelo que
aspira: “A privação da visão de Deus é chamada
pena de dano, e é a mais terrível das penas do Inferno. De fato, priva os
condenados para sempre de Deus, o Bem infinito para o qual fomos criados;
e, privando-os de Deus, priva-os de qualquer outro bem e felicidade”
(Pablo Arce e Ricardo Sada).
O Senhor
não só a repele, mas trata-a como inimiga:
“Já não sois meus, nem eu vosso”
(Os
1, 9). Endurecida no
crime, ela está em oposição com a santidade do Criador que a olha como
adversária irreconciliável. Que sorte horrenda! Impelidos sempre para
Deus, os condenados se vêem repelidos e tratados com o maior rigor,
sem esperança do perdão. Que grande mal é o pecado! Transforma o
oceano da misericórdia divina em um mar de justiça e severidade sem fim:
“O condenado odiará e amaldiçoará a Deus, e
amaldiçoando-o, amaldiçoará também os benefícios que dele recebeu: a
criação, a redenção, os sacramentos o Santíssimo Sacramento do Altar...
Aborrecerá todos os anjos e com ódio implacável o seu anjo da guarda, os
seus santos padroeiros e a Virgem Santíssima. Malditas serão por ele as
três Pessoas divinas, especialmente a de Deus Filho, que morreu para
salvar-nos, e as chagas, os trabalhos, o sangue, paixão e morte de Cristo
Jesus” (Santo Afonso Maria de Ligório).
Diante dessa Doutrina da Igreja Católica, é impressionante o silêncio, ou
melhor, a omissão do clero (bispos e sacerdotes). Por que será que
os pregadores, responsáveis pela salvação das almas, não
pregam sobre o Inferno? Será que eles acreditam nesse dogma
da Santa Igreja?
Pergunte ao sacerdote de sua paróquia ou ao bispo de sua diocese sobre a
existência do Inferno.
Existe um bispo no Estado de Goiás que pediu para o clero de sua diocese
dar férias ao Demônio. Será que esse homem tem noção da
gravidade de tal pedido?
Pe. Divino Antônio Lopes FP.
Anápolis, 06 de novembro de
2009
Bibliografia
Sagrada Escritura
Pablo Arce e
Ricardo Sada, Curso de Teologia
Dogmática
Santa Teresa de
Jesus, Livro da Vida
Santa
Faustina Kowalska, Diário
Pe.
Luis Bronchain, Meditações para todos os dias do ano
Santo Afonso
Maria de Ligório, Preparação para a morte
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