REVESTI-VOS DA ARMADURA DE DEUS

(Ef 6, 10-17)

 

10 Finalmente, fortalecei-vos no Senhor e na força do seu poder. 11 Revesti-vos da armadura de Deus, para poderdes resistir às insídias do diabo. 12 Pois o nosso combate não é contra o sangue nem contra a carne, mas contra os Principados, contra as Autoridades, contra os Dominadores deste mundo de trevas, contra os Espíritos do Mal, que povoam as regiões celestiais. 13 Por isso deveis vestir a armadura de Deus. 14 Portanto, ponde-vos de pé e cingi os vossos rins com a verdade e revesti-vos da couraça da justiça 15 e calçai os vossos pés com a preparação do Evangelho da paz, 16 empunhando sempre o escudo da fé, com o qual podereis extinguir os dardos inflamados do Maligno. 17 E tomai o capacete da salvação e a espada do Espírito, que é a Palavra de Deus”.

 

Católico, é impossível vencer o Maligno com nossas forças; mas é preciso fortalecer-nos em Deus e na força do seu poder (Ef 6, 10). Apoiados em Deus venceremos todos os inimigos.

Com a força e proteção do alto nos sentimos fortes e derrubamos todas as barreiras: “Junto convosco eu enfrento os inimigos, com vossa ajuda eu transponho altas muralhas” (Sl 17, 30).

Mesmo se mobilizar todo o seu exército, Lúcifer não poderá vencer-nos à viva força: “Resisti ao diabo e ele fugirá de vós” (Tg 4, 7). Se o resistirmos, ele fugirá.

Quando o homem resiste às tentações do Diabo, este se afasta dele, porque não pode obrigar o homem a pecar: “Convertei-vos, vós, os que andais nos mandamentos do Diabo, entre vícios intoleráveis, repelentes e selvagens, e não temais o Diabo, porque não há nele força alguma contra vós... O Diabo só infunde medo, mas esse medo não tem eficácia nenhuma. Não o temais, pois, e ele fugirá de vós... O Diabo não pode dominar os servos de Deus que de todo o coração confiam  n’ Ele; pode certamente combatê-los, mas não pode derrotá-los. Se, pois, lhe resistis, fugirás de vós, vencido, cheio de vergonha” (Hermas).

O que ele pode fazer é isto: trabalhar por meio de insídias, persuadindo-nos por meio de enganos, que lhe dês consentimento. É por isso que o Apóstolo diz: “Revesti-vos da armadura de Deus, para poderdes resistir às insídias do diabo” (Ef 6, 11).

Então, católico, você tem a necessidade de armar-te convenientemente para não deixar que ele faça o seu jogo habilíssimo e você venha seguir as suas sugestões: “Lança-te daqui abaixo” (Mt 4, 6). Então tudo te seria imputado como culpa. Nota que não se trata de conseguir grandes triunfos. O Apóstolo te inculca armar-te “para resistires”.

As insídias do Demônio são muitíssimas, mas todas elas podem sintetizar-se em uma só: transformar-se em amigo. Ele nunca se apresenta de fronte descoberta, mas sempre mascarando as suas propostas sob as formas do prazer, do lucro ou da glória, segundo as inclinações de cada um.

Católico, é preciso tomar muito cuidado com as artimanhas do Demônio... ele te apresenta o mal como uma obra de virtude, chegando ao maior dos males, isto é, “transfigurando-se em Anjo de luz” (2 Cor 11, 14). Então se torna muito difícil reconhecê-lo. É esse o estado que se tem mais a temer, quando o vício aparece sob a capa de virtude, fazendo passar por sinceridade a maledicência, por firmeza a obstinação e por sabedoria a paixão. Em tal caso, se você não tomar cuidado a tempo, estará perdido, porque o primeiro remédio contra qualquer vício foi sempre este: julgá-lo como vício.

A primeira e principal arma à tua disposição é a oração; porque, mais do que qualquer outra arma, facilita descobrir os enganos: “Em todas estas coisas roga ao Altíssimo, para que Ele guie teus passos na verdade” (Eclo 37, 19). Além disso, você deve empreender a prática das virtudes, porque esta prática produz a experiência e a facilidade de pensar em muitas circunstâncias difíceis: “O homem experimentado em muitas coisas saberá muito” (Eclo 34, 9). Aí você tem a sua armadura, da qual justamente se diz que é a “armadura de Deus”, porque se é você quem deve se revestir dela, ela é, contudo, essencialmente um dom de Deus, ao qual você deve dispor com sentimento de grande humildade.

Católico, é preciso estar preparado para a batalha... batalha contínua... sem trégua... luta ferrenha.

O Apóstolo faz uma consideração de suma importância: a necessidade de estar, o católico, preparado para a luta “contra os dominadores deste mundo” (Ef 6, 12). Está a referir-se aos Anjos que se rebelaram contra Deus e foram já vencidos por Cristo (1 Cor 15, 24; Cl 1, 13-14; 2, 15), mas contra os quais ainda temos de manter a luta. Essa luta há de prosseguir até o fim, e por isso, com termos castrenses tomados do armamento que levavam os soldados romanos, descreve como há de ser esse combate. Em primeiro lugar recomenda revestir-se com “a armadura de Deus” (Ef 6, 13) visto que os “dominadores” com que se há de travar a luta não podem ser vencidos senão com armas totalmente espirituais, que Deus proporciona àqueles que O amam: a verdade, a justiça, a paz e a fé (Ef 6, 14-16).

Estas armas, por serem sobrenaturais, garantem a vitória e permitem, portanto, combater com segurança e alegria: “Enchamo-nos, pois, de confiança e despojemo-nos de tudo para afrontar esses assaltos. Cristo revestiu-nos de armas mais resplandecentes que o ouro, mais resistentes que o aço, mais ardentes que a chama, mais ligeiras que um leve sopro de ar... São armas de natureza totalmente nova, pois foram forjadas para um combate inédito. Eu, que não sou mais que um homem, vejo-me obrigado a assestar golpes aos Demônios; eu, que estou revestido de carne, luto contra as potências incorpóreas. Também Deus me fabricou uma couraça que não é de metal, mas de justiça: me preparou um escudo não de bronze, mas de fé. Tenho na mão uma espada aguda, a palavra do Espírito... É necessário que a tua vitória seja a de um homem que transborda contentamento” (São João Crisóstomo).

Em Ef 6, 16 diz: “... empunhando sempre o escudo da fé, com o qual podereis extinguir os dardos inflamados do Maligno”.

O Demônio não cessa de buscar de um modo ou de outro a perdição eterna do homem. Mas, uma vez vencido por Cristo na cruz, já não tem poder efetivo sobre nós, sempre que acorramos à luta empregando as armas da fé e a plena confiança em Deus. Assim raciocinava São João de Ávila: “Uma vez que este inimigo pode mais que nós, devemos aproveitar-nos do ‘escudo da fé’, que é coisa sobrenatural, ouvindo uma palavra de Deus, ou recebendo os Sacramentos, ou meditando a doutrina da Igreja. E crendo firme com o entendimento que Deus pode tudo”.

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP.

Anápolis, 30 de agosto de 2010

 

 

Bibliografia

 

Sagrada Escritura

São João Crisóstomo, Catequeses baptismais, III, 11-12

Hermas, Mandamentos XII, 4, 6 e 5, 2

Edições Theologica

Pe. Paulo Ségneri, Meditação de todos os dias

São João de Ávila, Audi, filia, capítulo 30

 

 

 

 

 

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