... E ESPERA SEMPRE EM TEU DEUS

(Os 12, 7)

 

“... e espera sempre em teu Deus”.

 

Católico, jamais percamos a esperança em Deus.

Judas Iscariotes desesperou-se, não acreditou mais na misericórdia divina. Que deveria ter feito? Mesmo que alguém tenha pecado como Judas, deve sempre esperar, converter-se e pedir perdão a Deus. Quem perde a esperança em Deus e se desespera, entrega-se ao pecado e ao demônio. Quem perde a esperança e se desespera, assemelha-se a quem sabe o caminho de retorno, mas teima em prosseguir em seu desvio. É como quem se acha na fonte, mas recusa beber por ser ela de Deus... “Comportando-se assim, não terá ajuda” (Santo Tomás de Aquino).

A esperança no futuro suaviza as dores no presente... Esperemos em Deus e Ele nos dará o prêmio: “É na luta que provamos a Deus nosso amor, bem como na aceitação das dores que nos manda” (São João Maria Vianney).

A cruz pode estar pesadíssima, mas se olharmos esperançosos para o futuro é possível carregá-la sem arrastá-la: “A cruz que arrastamos se torna mais pesada do que a que carregamos” (Santa Teresa de Jesus).

A esperança de ter no outono uma colheita abundante é que torna leve ao camponês o frio do inverno e superáveis os ardores do estio.

A esperança na vitória é que leva o soldado à guerra e lhe torna leve o peso das armas.

A esperança do ouro é que lança o navegante para o meio das ondas e o fortalece contra as mais encarniçadas tormentas.

A esperança é também que anima o católico, mas por um motivo sobrenatural.

Católico, esperemos sempre em Deus... Sem esperança não se pode concretizar nada.

No meio das penas da vida espera em Deus que o há de fazer feliz para sempre. No meio da luta contra tantos inimigos espera em Deus que o há de auxiliar e coroar-lhe as vitórias com a glória eterna. No meio das contínuas mudanças, a que está sujeita a nossa vida, espera em Deus que o há de passar à outra... de alegria perene e descanso imperturbável: “Sabemos, com efeito, que, se a nossa morada terrestre, esta tenda, for destruída, teremos no céu um edifício, obra de Deus, morada eterna, não feita por mãos humanas. Tanto assim que gememos pelo desejo ardente de revestir por cima da nossa morada terrestre a nossa habitação celeste” (2 Cor 5, 1-2), e: “Os sofrimentos do tempo presente não têm proporção com a glória que deverá se revelar em nós” (Rm 8, 18).

Em Deus espera e em Deus confia. Espera na sua Palavra que é infalível, e confia no Seu poder que é infinito.

Espera na Sua bondade que não há de permitir que o inimigo o tente mais do que podem as suas forças. Espera em Deus como Pai amoroso que há de vir em seu auxílio, quando se encontrar lutando com inimigos pertinazes e traiçoeiros: “Deus é fiel e não permitirá que sejais tentados acima de vossas forças” (1 Cor 10, 13), e: “Entrega-te a Deus e não temas, porque, se ele te coloca na luta, certamente não te deixará sozinho para que caias” (Santo Agostinho).

Nesta esperança vive, o católico, embalado como o filho nos braços de sua mãe.

É-lhe suave o caminho da cruz, porque espera chegar por ele ao termo da sua glorificação: “Para ganhar o céu, todo sofrimento é pouco” (São José Calazans).

É-lhe leve o jugo da lei de Deus, porque na observância dela vê luzir-lhe um astro de ventura, um prêmio de tanto valor que paga com excesso os maiores sacrifícios.

É-lhe doce o sofrer, porque vive esperançado na palavra de Jesus Cristo que disse que a nossa tristeza se há de converter em gozo: “Em verdade, em verdade, vos digo: chorareis e vos lamentareis, mas o mundo se alegrará. Vós vos entristecereis, mas a vossa tristeza se transformará em alegria” (Jo 16, 20).

Quão doce é a esperança! Pecamos, é verdade! Mas sabemos que desde o momento em que choramos o nosso pecado e o detestamos de todo o nosso coração, Deus não se lembrará mais dele: “Mas quanto ao ímpio, se ele se converter de todos os pecados que cometeu e passar a guardar os meus estatutos e a praticar o direito e a justiça, certamente viverá: ele não morrerá. Nenhum dos crimes que praticou será lembrado” (Ez 18, 21-22).

Perdemos o céu com nossos pecados, tantos e tão graves! Mas esperamos que, pelos merecimentos de Nosso Senhor Jesus Cristo, nosso Salvador, recuperaremos o direito a ele e ainda podemos pertencer um dia ao número dos bem-aventurados!

Vivemos longe da Pátria, num verdadeiro e pleno exílio, afastados daquele Sumo Bem que é o centro de todas as nossas aspirações! Mas esperamos que venha um dia, em que, desatados e livres das cadeias que nos prendem à terra, voaremos, como a águia altaneira para o ninho do nosso eterno descanso!

Que bem incomparável é a esperança! Nela temos a âncora onde seguramos no meio do tempestuoso mar da vida e não nos deixamos levar pelas ondas de suas vicissitudes.

Nela existe um astro que nos guia por entre dificuldades e obstáculos, ao desejado porto da glória.

Nela existe um mensageiro que apontando para o céu nos diz: “Trabalha, sofre, combate, porque no céu te espera o prêmio!”

Infeliz de quem vive sem esperança! Pobre de quem tem o sofrer por uma fatalidade, e não vê na dor a mão de Deus providente, que, por meio do sofrimento, o está preparando para ser uma “estátua” no seu templo.

O homem sem esperança é um navio sem mastro, com o qual as ondas jogam a seu bel-prazer.

O homem que não tem esperança na vida futura procura gozar da vida presente quanto mais pode. Atira-se para o meio dos prazeres mundanos, e como se além campa não houvesse mais que esperar e tudo acabasse com a morte.

O católico não deve agir assim... como se a morte e Deus não existissem.

Pela esperança, o católico sobe ao céu e deposita-se no meio de Deus.

Só esta esperança basta para deixar a alma durante toda a vida inundada de alegria.

Um grande bem que se espera alcançar faz esquecer qualquer pena. E que bem maior podemos esperar do que ver a Deus eternamente? Se possuímos essa esperança, temos nela o melhor lenitivo (que acalma) para todas as nossas amarguras.

Com a esperança na vida futura, com a esperança na glória do Paraíso, com a esperança na felicidade eterna de ver a Deus, não há dor que se não suporte com resignação, não há gemido que se não abafe e não há lágrima que se não enxugue.

Católico, que esperanças são as suas?

Obter uma grande herança? Um emprego rendoso? Uma carreira brilhante? Uma vida cômoda e regalada?

Só isso não te basta! Sobe mais acima com a tua esperança e põe-na só em Deus e em viver com Ele para sempre. Mas enquanto essa hora não chegar, espera dias de luta, tempo de prova e horas amargas!

Espera por toda a parte a cruz que te há de fazer companhia por toda a vida.

Espera, enquanto andares neste mundo, dores, trabalhos, incômodos, perseguições, ódios e injustiças. Mas espera também que após tudo isso virá a tua glorificação.

Católico, espera que às lágrimas de poucos dias sucederão as alegrias eternas, que do Calvário subirás ao Tabor e que à morte sobrevirá a ressurreição.

Espera em Deus, espera na Sua palavra, espera nas Suas promessas, espera na Sua graça e amor... luta por Ele, pela Sua glória, pela Sua Igreja, que não te faltará o mesmo Deus com o merecido prêmio.

Rezemos com arrependimento: “Ó Jesus, meu tesouro e meu amor, pelas ofensas que vos fiz eu não mereceria mais poder vos amar; mas, pelos vossos merecimentos, peço-vos que me façais digno de vosso puro amor. Amo-vos sobre todas as coisas e arrependo-me do fundo de meu coração de vos ter outrora desprezado e expulsado de minha alma. Agora eu vos amo mais que a mim mesmo, eu vos amo com todo o meu coração. Bondade infinita, eu vos amo e outra coisa não desejo senão amar-vos perfeitamente; nada temo senão ver-me afastado de vosso santo amor” (Santo Afonso Maria de Ligório).

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP.

Anápolis, 04 de outubro de 2010

 

Bibliografia

 

Sagrada Escritura

Pe. Alexandrino Monteiro, Raios de luz

Santo Tomás de Aquino, Summa c. gent., IV, 71

Alfred Barth, Enciclopédia Catequética, Volume II

São João Maria Vianney, Textos escolhidos

Santa Teresa de Jesus, Escritos

Santo Agostinho, Confessiones, 1. 8, c. 11, n.° 27. ML 32-761

São José Calazans, V. Talenti, Vita, 1. 6, c. 2, p. 481-2

Santo Afonso Maria de Ligório, A prática do amor a Jesus Cristo, cap. V

 

 

 

 

 

Este texto não pode ser reproduzido sob nenhuma forma; por fotocópia ou outro meio qualquer sem autorização por escrito do autor Pe. Divino Antônio Lopes FP.
Depois de autorizado, é preciso citar:
Pe. Divino Antônio Lopes FP. “... e espera sempre em teu Deus”
www.filhosdapaixao.org.br/escritos/comentarios/escrituras/escritura_0323.htm