PENSAI NO QUE É BOM

(Pr 12, 5)

 

“Os pensamentos dos justos são retos...”

 

O Bem-aventurado José Allamano escreve: “Todos os nossos pensamentos devem ser conforme a fé. É lógico, não somos donos dos pensamentos que despontam de improviso, mas começamos a sê-lo desde que os advertimos. Afastemos, pois, os pensamentos inúteis e quantos, se conhecidos, nos envergonhariam! Quando nos dermos conta de um pensamento, perguntemo-nos: este pensamento é do agrado de Deus? Sim, somente Deus! Tudo pertence a Deus, tudo procede de Deus, tudo vai a Deus!”

Cada um pensa naquilo que mais ama: O sábio PENSA nas suas descobertas; o matemático na solução de seu problema; o avarento no seu dinheiro... e o mundano  PENSA em luxo e magnificências, em prazeres e comodidades da vida.

E você católico, PENSA em quê? Em que é que tua imaginação anda mais ocupada? PENSA nas coisas do alto ou nas da terra? “Tendes a constante disposição de afastar da vossa mente e do vosso coração todo pensamento não bom, todo fim não reto e até mesmo qualquer afeição um tanto humana? A vossa mente está impregnada de Deus... das coisas que lhe dizem respeito? Tendes realmente em tudo os sentimentos de Nosso Senhor? Podeis, de verdade, repetir com São Paulo que possuis o senso de Nosso Senhor Jesus Cristo: ‘Nós, porém, temos o pensamento de Cristo?’ (1 Cor 2, 16)” (Idem.).

Os bons PENSAMENTOS são sinais de vida bem ordenada. O que deseja ser virtuoso PENSA na virtude; o que deseja servir a Deus de todo o coração PENSA como lhe há de agradar em tudo... PENSA no Eterno... no Infinito... e não nas coisas que passam: “Pensai nas coisas do alto, e não nas da terra” (Cl 3, 2), e: “Um cristão sincero, coerente com a sua fé, não atua senão com os olhos em Deus, com visão sobrenatural; trabalha neste mundo, que ama apaixonadamente, metido nos afãs da terra, com o olhar no Céu” (São Josemaría Escrivá), e também: “Esse mundo das coisas do alto, no qual Cristo glorioso está como centro de irradiação, é o único ao qual deve aspirar a alma do cristão com todas as suas faculdades” (Pe. Juan Leal).

O PENSAMENTO vai de ordinário para onde está o coração. Se o teu coração está na terra, da terra são os teus PENSAMENTOS. Se o teu coração está no céu, é no céu que PENSAS, é em Deus que andas ocupado.

Os bons PENSAMENTOS podem-se comparar a uma sebe (cerca viva) que protege a alma e impede que nela penetrem as imaginações desonestas: “Para reprimir os extravios da memória e da imaginação, aplicar-nos-emos, antes de mais nada, a afugentar implacavelmente, desde o princípio, isto é, logo que a consciência nos adverte, as imagens ou lembranças perigosas que, recordando-nos um passado escabroso, ou transportando-nos no meio das seduções do presente ou do futuro, seriam para nós uma fonte de tentações. Mas, como há muitas vezes uma espécie de determinismo psicológico, que nos faz passar por devaneios fúteis aos perigosos, premunir-nos-emos contra esta engrenagem, mortificando os pensamentos inúteis, que já nos fazem perder tempo precioso, e preparam o caminho a outros mais perigosos ainda: a mortificação dos pensamentos inúteis, dizem os Santos, é a morte dos pensamentos maus. Para melhor se vir a este resultado, o meio positivo mais conducente, é aplicar inteiramente a alma toda ao dever presente, aos nossos trabalhos, estudos e ocupações habituais. É, afinal, o melhor meio de conseguir fazer bem o que se faz, concentrando toda a atividade na ação presente: Lembrem-se os jovens que, para progredirem nos estudos, como nos demais deveres do próprio estado, é mister dar mais lugar ao trabalho da inteligência e da reflexão, e menos às faculdades sensíveis: deste modo assegurarão o futuro e evitarão os devaneios perigosos. É utilíssimo, enfim, servir-se da imaginação e da memória, para alimentar a piedade, buscando nos Livros Santos, nas orações litúrgicas e nos autores espirituais os mais belos textos, as mais formosas comparações e imagens; utilizar a imaginação para andar na presença de Deus, e representar-se por miúdo os mistérios de Cristo Senhor Nosso e da Santíssima Virgem. E assim, em lugar de atrofiarmos a imaginação, a povoaremos de piedosas representações que desterrarão as que poderiam ser perigosas” (Adolfo Tanquerey).

Enquanto os bons PENSAMENTOS ocupam a nossa mente, os maus PENSAMENTOS não acham nela entrada.

Os bons PENSAMENTOS são como os Anjos que pairam sobre nós e nos protegem contra o assalto de imaginações pecaminosas.

Quem PENSA no bem evitará o mal. Aquele que se acostuma a bons PENSAMENTOS verá que os maus não lhe farão tanta guerra.

Católico, aproveite todas as ocasiões para despertares em ti bons e salutares PENSAMENTOS, pois eles são como raios de sol que penetram na alma e a enchem de santa alegria, tornando-a mais ativa no serviço de Deus.

Quando olharmos para o céu, PENSEMOS que ele vale mais do que a terra, e que, portanto, devemos fazer mais por consegui-lo um dia, do que amontoar bens que hão de ficar aqui na terra.

Se ouvirmos o sino tocar para o sepultamento de alguém, PENSEMOS que também um dia ele tocará para o nosso sepultamento... e isso não tardará porque a vida é curta.

Quando virmos levar alguém para ser sepultado, PENSEMOS na brevidade desta vida, na vaidade de tudo o que é terreno... e como tudo se acaba neste mundo com um suspiro e um fechar de olhos.

Ao vermos como as árvores crescem para o alto, PENSEMOS que também para o céu devem crescer os nossos afetos. Ao vermos umas árvores cheias de flores, examinemos se também nossa alma está coberta de virtudes... várias virtudes... virtudes perfumadas. Ao vermos outras árvores ostentando saborosos frutos, PENSEMOS quais são as boas obras de que nossa alma está adornada. Ao vermos que elas resistem às fúrias dos vendavais, recorda se é deste modo que resistimos os embates... choques e as fúrias das tentações, ou se o menor sopro delas basta para nos derrubar por terra! “As árvores que crescem em lugares sombreados e livres de ventos, enquanto externamente se desenvolvem com aspecto próspero, tornam-se fracas e moles, e facilmente qualquer coisa as fere; mas as árvores que vivem no cume dos montes mais altos, agitadas pelos muitos ventos e constantemente expostas à intempérie e a todas as inclemências, atingidas por fortíssimas tempestades e cobertas por frequentes neves, tornam-se mais robustas que o ferro” (São João Crisóstomo).

E o sol? Que bela imagem do Criador! Se é tanto o brilho com que fulge no firmamento, que será o divino Sol de Israel – Jesus Cristo – que ilumina a cidade santa da Glória! Se o sol espalha pelo mundo a alegria... muito mais alegria Cristo Jesus dará aos bem-aventurados por toda a eternidade! “Jesus querido, cada vez que me sinto mal, sinto saudades de Ti, desse céu onde não te ofenderei mais, onde me embriagarei com o teu amor, onde, Jesus, serei uma contigo, pois hei de estar em Ti e mover-me em Ti” (Santa Teresa dos Andes).

Católico, você vive à beira-mar? Que livro fecundo aí tens, capaz de te sugerir os PENSAMENTOS que mais elevam a Deus! A sua onipotência se revela de um modo admirável nesse poderoso elemento, bramindo como leão acorrentado, mas sempre sujeito a quem o criou. A dilatada planície das águas... que bela imagem nos dá da infinita imensidade do Criador! “Tudo o que vejo leva-me para Deus. O mar em sua imensidão faz-me pensar em Deus, em sua infinita grandeza. Sinto então sede do infinito” (Idem).

Por toda parte surgem monumentos que despertam na mente do católico recordações piedosas... PENSAMENTOS nas coisas do alto. As torres altivas das grandes catedrais com a cruz no topo, os zimbórios (nome dado à cúpula das igrejas) das basílicas sumindo-se por entre as nuvens, estão convidando o homem a que levante o coração ao alto e suba com o PENSAMENTO à região do sobrenatural. Quantos, porém, passam por estes monumentos de fé sem ter um PENSAMENTO que os levante da terra e os aproxime da divindade! É que caminham mergulhados nos cuidados da vida, nos seus planos políticos, nos prazeres, enfim, no que é terreno e mundano.

Que messe fecunda de salutares PENSAMENTOS não produz em nós a vista duma dessas capelinhas cobertas de trepadeira sempre verde, com seu campanário denegrido pelos anos, com seu cruzeiro de granito à entrada do terreno? Que memórias não sugerem essas paredes brancas que formam o palácio de um Deus na terra?

Isto, porém, não é o que vulgarmente sucede! Quantos circunscrevem o seu PENSAR à vista presente! Quantos vivem absorvidos na terra que lhes dá os frutos necessários para a conservação da vida! Só nela PENSAM, porque só dela esperam a paga de seus trabalhos! Quão mais sábios são aqueles que têm os olhos no céu e nele concentram todos os seus PENSAMENTOS!

Em Eclo 7, 40 diz: “Pensa nos teus novíssimos e não pecarás”.

O Papa João Paulo II escreve: “A Igreja não pode omitir, sem grave mutilação da sua mensagem essencial, uma catequese constante sobre o que a linguagem cristã tradicional designa como os quatro últimos fins do homem: Morte, Juízo, Inferno e Paraíso”.

Que acertado conselho! Com efeito; se PENSÁSSEMOS mais vezes na morte, não nos apegaríamos tanto à vida, nem nos serviríamos tanto dela para sobrecarregar a nossa alma de pecados: “Assistimos todos os dias a morte de muitos, celebramos os seus enterros e funerais, e no, entanto, continuamos a prometer-nos longos anos de vida” (Santo Agostinho), e: “As pessoas temem muito a morte porque amam muito a vida deste mundo e pouco a do outro. Mas a alma que ama a Deus vive mais na outra vida do que nesta, porque a alma vive mais onde ama do que onde anima” (São João da Cruz).

Se PENSÁSSEMOS com mais frequência no dia do juízo, não faríamos tantas ações que nele hão de ser punidas com toda a severidade: “Quando o Juiz vier, exigirá de cada um de nós tanto quanto nos deu” (São Gregório Magno).

Se houvesse quem mais PENSASSE no inferno, não haveria tantos pecados no mundo, pois o temor das penas eternas é o melhor freio para conter o homem dentro dos limites da moralidade: “A pena (sensível) do inferno é insuportável, é verdade; mas se alguém fosse capaz de imaginar dez mil infernos, nada seria o sofrimento em comparação com a pena que produz ter perdido o céu e ter sido rejeitado por Cristo” (São Francisco de Sales).

Se PENSÁSSEMOS mais vezes no céu, não andaríamos tão preocupados com os bens da terra, nem nos deixaríamos cegar pelo falso brilho de suas vaidades: “Importa desejar o Céu com toda a alma, pois é o objeto da nossa esperança” (Edouard Clerc), e: “Amemos a Jesus Cristo o quanto podemos neste mundo. Desejemos a todo o instante ir vê-lo no céu para lá o amarmos perfeitamente. Seja esse o principal objeto de toda a nossa esperança: ir lá amá-lo com todas as nossas forças” (Santo Afonso Maria de Ligório).

Os maus PENSAMENTOS se combatem com os bons.

Católico, logo que despertares põe diante de ti algum bom PENSAMENTO.

Enche o teu espírito de PENSAMENTOS santos, colhidos na leitura espiritual ou ponderados na tua oração mental, e verá como passará o dia sem as molestas imaginações que o demônio inspira.

Ande sempre na divina presença e você terá PENSAMENTOS de Deus.

Ande na presença de teu Anjo da Guarda e teus PENSAMENTOS serão puros.

Católico, seja temente a Deus que penetra todo o teu interior, e assim, você não PENSARÁ em coisa que lhe desagrada: “Deus, tu me sondas e conheces: conhece meu sentar e meu levantar, de longe penetras o meu pensamento” (Sl 139, 1-2).

Seja amigo do recolhimento e de viver longe dos homens... e teu espírito se verá livre das molestas cogitações que se geram no meio dos divertimentos mundanos.

Rezemos com e confiança: “Meu Jesus, dai-me a ambição de vos agradar e fazei-me esquecer a todas as criaturas e até de mim mesmo. O que me adianta ser amado por todo o mundo, se não sou amado por vós, o tudo de minha vida? Jesus, viestes a este mundo para ganhar os nossos corações. Se eu não sei vos dar o meu coração, tomai-o vós; enchei-o de vosso amor e não permitais que me separe de vós” (Santo Afonso Maria de Ligório).

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP.

Anápolis, 11 de outubro de 2010

 

Bibliografia

 

Sagrada Escritura

Pe. Alexandrino Monteiro, Raios de luz

Bem-aventurado José Allamano, A Vida Espiritual, capítulos 8 e 17

São Josemaría Escrivá, Amigos de Deus, n.° 206

Pe. Juan Leal, A Sagrada Escritura

Adolfo Tanquerey, Compêndio de Teologia Ascética e Mística, 781-783

São João Crisóstomo, Homilia sobre a glória da tribulação

Santa Teresa dos Andes, Diário 37; Carta 20

João Paulo II, Exortação Apostólica Reconciliação e Penitência, 02-12-1984

Santo Agostinho, Sermão 17

São João da Cruz, Cântico espiritual, 11, 10

São Gregório Magno, Homilia 9 sobre os Evangelhos

São Francisco de Sales, Introdução à vida devota, I, 15

Edouard Clerc, Que há para além da morte?

Santo Afonso Maria de Ligório, A prática do amor a Jesus Cristo, cap. XVI

 

 

 

 

 

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