LUTAR PELA FÉ

(Fl 1, 27-28)

 

27 Somente vivei vida digna do evangelho de Cristo, para que eu, indo ver-vos ou estando longe, ouça dizer de vós que estais firmes num só espírito, lutando juntos com uma só alma, pela fé do evangelho, 28 e que em nada vos deixais atemorizar pelos vossos adversários, o que para eles é sinal de ruína, mas, para vós, de salvação, e isso da parte de Deus”.

 

Em Fl 1, 27 diz: “Somente vivei vida digna do evangelho de Cristo, para que eu, indo ver-vos ou estando longe, ouça dizer de vós que estais firmes num só espírito, lutando juntos com uma só alma, pela fé do evangelho”.

 

O católico que quiser viver em paz, segurança e feliz aqui na terra, deverá seguir fielmente o evangelho de Cristo Jesus: “Somente vivei vida digna do evangelho de Cristo” (Fl 1, 27).

Esse trecho diz: “Somente...” Não deixa nenhuma abertura para viver segundo as máximas do mundo.

Não basta que o divino Semeador passe pelo mundo a lançar a semente da sua Palavra; é necessário que a terra a receba bem, do contrário em vão esperaremos os frutos. Se a semente é sempre ótima, frequentes vezes o terreno é péssimo. De fato, há corações onde a palavra de Deus não pode operar por causa da distração, inconstância e maus hábitos.

Se todos os católicos, mais de um bilhão, vivessem vida digna do evangelho de Cristo, com certeza não existiria mais pagãos no mundo; mas, infelizmente, a maioria vive vida digna das máximas do mundo: “Cristo deixou-nos na terra a fim de que nos tornássemos faróis que iluminam, doutores que ensinam; a fim de que cumpríssemos o nosso dever de fermento; a fim de que nos comportássemos como anjos, como anunciadores entre os homens; a fim de que fôssemos adultos entre os menores, homens espirituais entre os carnais a fim de os ganharmos; a fim de que fôssemos semente e déssemos frutos numerosos. Nem sequer seria necessário expor a doutrina, se a nossa vida fosse irradiante a esse ponto; não seria necessário recorrer às palavras, se as nossas obras dessem um tal testemunho. Não haveria mais nenhum pagão, se nos comportássemos como verdadeiros cristãos” (São João Crisóstomo).

Não se vive o Evangelho de Cristo sob aplausos dos mundanos; pelo contrário, é preciso lutar com firmeza para perseverar até o fim: “... estais firmes num só espírito, lutando juntos com uma só alma, pela fé do evangelho” (Fl 1, 27), e: “Decidimos, contudo, confiados em nosso Deus, anunciar-vos o evangelho de Deus, no meio de grandes lutas” (1 Ts 2, 2).  

 

O Apóstolo São Paulo deseja ardentemente pessoas maduras na fé... pessoas que se comportam santamente na sua presença e principalmente na sua ausência... ele não quer formar hipócritas, mascarados e caniços que balançam de um lado para o outro: “... indo ver-vos ou estando longe, ouça dizer de vós que estais firmes num só espírito, lutando juntos com uma só alma, pela fé do evangelho” (Fl 1, 27).

É triste e escandaloso ver milhares de católicos batizados se “escorregarem” nas salivas dos hereges. Que vergonha! Quanta hipocrisia!

O católico deve ter um comportamento exemplar... ser firme e convicto na fé. É preciso lutar contra os hereges e contra milhões de católicos que já vivem com os pés no inferno eterno... esses que vivem como cadáveres ambulantes infectando a Santa Igreja: “Quem, sendo muito embora membro da Igreja Católica, não pusesse em prática os seus ensinamentos, este seria membro morto, e portanto NÃO SE SALVARIA, porque para a salvação de um adulto requerem-se não só o Batismo e a fé, mas também as obras conformes à fé” (São Pio X).

Católico, o termo grego traduzido por “comportar-vos” tem um significado mais preciso: “vivais como dignos cidadãos”. Os habitantes de Filipos gozavam do direito de cidadania romana e estavam muito orgulhosos da sua dignidade. Mas os cristãos, junto com a posição que ocupam na sociedade, têm uma cidadania nos céus: “Mas a nossa cidade está nos céus, de onde também esperamos ansiosamente como Salvador e Senhor Jesus Cristo” (Fl 3, 20). Por isso, hão de levar “uma vida digna do Evangelho de Cristo”, como bons cidadãos do Reino de Deus, de que Cristo é rei: “Tu o dizes: eu sou rei” (Jo 18, 37), obedecendo fielmente às suas leis: a lei nova da graça que está contida no Evangelho.

Não obstante, a cidadania celestial e a terrena não se excluem uma à outra. O reconhecimento de Deus não se opõe de modo algum à dignidade humana, já que esta dignidade tem no próprio Deus o seu fundamento e perfeição. É Deus criador o que constitui o homem inteligente e livre na sociedade. E, sobretudo, o homem é chamado como filho à união com Deus e à participação na sua felicidade. Ensina ainda a Igreja que a esperança escatológica não tira a importância das tarefas temporais, mas antes proporciona novos motivos de apoio para o seu exercício.

Uma vida autenticamente cristã no meio do mundo é um testemunho diante de todos os homens, cristãos ou não, da presença de Deus e dos seus planos de salvação para toda a humanidade. Além disso, contribui muito para esta manifestação da presença de Deus o amor fraterno dos fiéis, que com um mesmo espírito colaboram na extensão da fé do Evangelho e se elevam como sinal de unidade. Isto é imprescindível na luta por implantar o Reino de Deus, pois “todo o reino dividido contra si mesmo ficará desolado” (Lc 11, 17). Os primeiros cristãos aprenderam bem esta lição, já que se comportavam tendo “um só coração e uma só alma” (At 4, 32).

 

Em Fl 1, 28 diz: “... e que em nada vos deixais atemorizar pelos vossos adversários, o que para eles é sinal de ruína, mas, para vós, de salvação, e isso da parte de Deus”.

 

Católico, é preciso viver sem medo! Não se pode deixar as trevas vencerem a luz nem o mal triunfar sobre o bem: “... e que em nada vos deixais atemorizar pelos vossos adversários” (Fl 1, 28).

Cristo Jesus é o nosso Salvador; ou lutamos unidos a Ele para conquistarmos o céu ou seremos “engolidos” pelos monstros da covardia e da omissão.

A guerra contra os amigos de Nosso Senhor sempre existiu e existirá até o fim.

Os Neros, Antoninos, Décios, Dioclecianos... “andam” pelo mundo sedentos do sangue dos amigos fiéis de Cristo Jesus: “Dos extremos confins do Oriente até o último Ocidente, chega  a nós o grito dos povos em que Reis e Governos verdadeiramente hão conspirando juntos contra o Senhor e contra a sua Igreja. Vimos pisados os direitos divinos e humanos, os templos destruídos desde os alicerces, religiosos e virgens sagradas expulsos das suas casas, aprisionados, famintos... as falanges dos meninos e das meninas arrancados ao seio da Mãe Igreja, compelidas a negar e a blasfemar contra Cristo, e levadas aos piores delitos da luxúria; todo o povo cristão ameaçado, oprimido, em contínuo perigo de apostasia da fé, ou de morte a mais atroz” (Pio XI), e: “As discriminações e os graves ataques de que foram vítimas, no ano passado, milhares de cristãos, mostram como o que afeta a paz não é só a pobreza material, mas também a pobreza moral. De fato, é na pobreza moral onde tais atrocidades têm suas raízes” (Bento XVI).

Agora, como em tempos de São Paulo, não faltam os inimigos do Evangelho que procuram arrancar a fé do coração humano. Os cristãos não se hão de deixar intimidar por eles, mas prestar maior atenção para se manterem firmes na fé: “Antes de mais é necessário que cada um entre em si mesmo, procurando com vigilância delicada conservar profundamente arraigada no seu coração a fé, precavendo-se dos perigos e, de modo especial, bem armado sempre contra vários sofismas enganadores. Para melhor pôr a salvo esta virtude, julgamos sobremaneira útil e extremamente conforme com as circunstâncias dos tempos o esmerado estudo da doutrina cristã, segundo a possibilidade e capacidade de cada qual; empapando a sua inteligência com o maior conhecimento possível daquelas verdades que dizem respeito à religião e pela razão se podem alcançar” (Leão XIII).

Junto com a formação na fé, é preciso que o cristão saiba defendê-la dos ataques que sofra: “Cada um está obrigado a propagar a fé diante dos outros, quer para instruir e confirmar os outros infiéis, quer para reprimir a audácia dos infiéis” (Santo Tomás de Aquino), e: “Ceder o lugar ao inimigo, ou calar quando de todas as partes se levanta incessante clamor para oprimir a verdade, é próprio, ou de homem covarde, ou de quem duvida estar em posse das verdades que professa. Uma e outra coisa é vergonhosa e injuriosa para Deus; uma e outra coisa contraria à salvação do indivíduo e da sociedade: isso aproveita unicamente aos inimigos do homem cristão, porque a covardia dos bons fomenta a audácia dos maus” (Leão XIII).

Nada nesse mundo deve nos afastar do caminho de Deus. Devemos lutar corajosamente, principalmente quando for preciso remar contra a corrente: “Não devemos estranhar que em muitas ocasiões tenhamos que remar contra a corrente num mundo que parece afastar-se cada vez mais de Deus, que tem como fim o bem-estar material e que desconhece ou relega para segundo plano os valores espirituais; num mundo que alguns querem construir completamente de costas para Deus” (Pe. Francisco Fernández Carvajal).

No final do versículo 28 diz: “... isso da parte de Deus”.

O Pe. Lorenzo Turrado comenta: “Com a expressão ‘isso da parte de Deus’ dá a entender São Paulo que na nossa atuação a força nos vem de Deus... essa força não nos faltará; então não devemos ter medo de nada e de ninguém”.

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP.

Anápolis, 21 de junho de 2011

 

 

Bibliografia

 

Sagrada Escritura

Leão XIII, Sapientiae christianae, nn. 17 e 18

Santo Tomás de Aquino, Suma Teológica, II-II, q. 3, a. 2, ad 2

Pe. Juan Leal, A Sagrada Escritura, texto e comentário

Edições Theologica

Pe. Lorenzo Turrado, Bíblia comentada

Pe. João Colombo, Pensamentos sobre os Evangelhos e sobre as festas do Senhor e dos Santos

São João Crisóstomo, Hom. X in ITm.; Migne, PG LXII, 551 

São Pio X, Catecismo Maior, 171

Pio XI, Discurso

Bento XVI, Discurso

Pe. Francisco Fernández Carvajal, Falar com Deus

 

 

 

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Pe. Divino Antônio Lopes FP. “Lutar pela fé”

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