FELIZ ÉS TU

(Sl 127, 1)

 

“Feliz és tu se temes o Senhor e trilhas seus caminhos”.

 

A verdadeira felicidade consiste em “temer” a Deus e “trilhar” seus caminhos.

Para os mundanos, tudo não passa de uma grande loucura e fanatismo; mas no dia do Juízo eles chorarão amargamente... mas já será tarde: “Sim, extraviamo-nos do caminho da verdade; a luz da justiça não brilhou para nós, para nós não nasceu o sol. Cansamo-nos nas veredas da iniquidade e perdição, percorremos desertos intransitáveis, mas não conhecemos o caminho do Senhor! Que proveito nos trouxe o orgulho? De que nos serviu riqueza e arrogância” (Sb 5, 6-8).

A Palavra de Deus diz que a felicidade está em “temer” a Deus e “trilhar” seus caminhos; mas os que vivem segundo as máximas do mundo fazem totalmente o contrário: zombam de Deus e percorrem o caminho dos vícios... por isso, seus corações não possui a verdadeira felicidade.

A felicidade não está nas garrafas de bebidas alcoólicas, nas noitadas barulhentas, no sexo fora do matrimônio, nas drogas, na imoralidade, na pornografia, nas novelas mundanas, nas brigas e nos assassinatos; mas sim, está na união com Deus... em conhecê-Lo, amá-Lo, servi-Lo... em trabalhar para a sua glória... em se consumir pelo Criador... em manter o coração desapegado das criaturas... em rezar piedosamente... em receber dignamente os sacramentos... em obedecer a Lei de Deus e em viver na graça santificante: “Quando buscamos deveras Deus sem repartirmos o nosso amor pelas criaturas, sem nos buscarmos a nós mesmos pelo amor próprio, o coração sente-se pouco a pouco dilatado, Deus sacia-o e inunda-o de alegria... Fora de Deus só há alegria efêmera e paz ilusória” (Bem-aventurado Columba Marmion) e: “Deus criou o homem para a felicidade, para a vida, mas não para a felicidade e vida efêmeras, como são as terrenas, e sim para as eternas, indefectíveis, que só nele é possível encontrar. Deus, porém, foge aos sentidos do homem, enquanto as coisas terrenas vão lhe ao encalço e o iludem de todas as maneiras, levando-o a procurar nelas a própria felicidade” (Pe. Gabriel de Santa Maria Madalena).

Não pode ser feliz o coração que deixa de “temer” a Deus e que foge do “caminho” da luz para se enveredar pelo das trevas.

Um coração que carrega o lixo do mundo não pode ser alegre.

Aquele que deseja chegar à plenitude da vida em Deus deve-se habituar gradualmente à renúncia, deixando de lado tudo aquilo que O desagrada.

Não se encontra a felicidade nesse mundo que finge ser alegre: “Agindo como cristão em direção à eterna felicidade, jamais conseguirei encontrar felicidade neste vale de lágrimas” (Bem-aventurado Eduardo Poppe).

Só é feliz quem “teme” a Deus e “trilha” o caminho da luz; quem despreza essa verdade vive amargurado, triste e frustrado.

“Temer a Deus” equivale em cumprir sua Lei: “Para nós, o temor de Deus consiste em obedecer a seus conselhos... sua Lei e confiar em suas promessas” (Santo Hilário de Poitiers).

O que vem a ser esse temor de Deus?

Não se trata aqui do medo de Deus que, à lembrança dos nossos pecados, nos inquieta, nos entristece ou nos agita. Nem tampouco se trata do temor do inferno, que basta para iniciar uma conversão, mas não para consumar a nossa santificação. Trata-se do temor reverencial e filial que nos leva a ter horror a qualquer ofensa de Deus.

O dom do temor aperfeiçoa juntamente as virtudes da esperança e da temperança: a virtude da esperança, fazendo-nos temer desagradar a Deus e ser dele separado; a virtude da temperança, desapegando-nos dos falsos prazeres que nos poderiam separar de Deus.

Pode-se, pois, definir: um dom que inclina a nossa vontade ao respeito filial de Deus, nos afasta do pecado, enquanto lhe desagrada, e nos faz  esperar no poder do seu auxílio.

O temor compreende três atos principais: 1.º Um vivo sentimento da grandeza de Deus, e por conseguinte, um extremo horror dos menores pecados que ofendem a sua infinita Majestade. 2.º Uma viva contrição das menores faltas cometidas, por haverem ofendido um Deus infinito e infinitamente bom; donde nasce um desejo ardente e sincero de as reparar, multiplicando atos de sacrifícios e de amor. 3.° Um cuidado vigilante de evitar as ocasiões de pecado, como se foge duma serpente; e, por conseguinte, uma grande atenção em querer conhecer em tudo o beneplácito de Deus, para com ele conformar a nossa vida.

Necessidade do temor. 1.° Este dom é necessário para evitar a demasiada familiaridade com Deus. Pessoas há que são tentadas a esquecer a grandeza de Deus e a infinita distância que nos separa d’Ele, e a tomar com Ele e com as coisas santas liberdades inconvenientes, a falar-Lhe com excessiva ousadia, a tratar com Ele como de igual para igual. É certo que o próprio Deus convida certas almas a uma doce intimidade, a uma familiaridade estupenda; mas é a Ele que compete tomar a dianteira, e não a nós. O temor filial, aliás, de forma alguma impede aquela terna familiaridade que se vê em alguns Santos. 2.° E não é menos útil este dom para nos preservar, em nossas relações com o próximo, sobretudo com os nossos inferiores, dessas maneiras altivas e orgulhosas que se avizinham muito mais do espírito pagão que do espírito cristão; o temor reverencial de Deus, que é pai deles como é nosso pai, far-nos-á exercer a nossa autoridade modestamente, como cumpre a quem a não tem de si mesmo, senão de Deus.

Meios de cultivar o temor. 1.º Importa  meditar frequentemente a infinita grandeza de Deus, os seus atributos, a sua autoridade sobre nós; e considerar, à luz da fé, o que é o pecado que, por mais leve que seja, é ainda uma ofensa à infinita majestade de Deus. Então, não poderemos deixar de conhecer um temor reverencial para com o Supremo Senhor que não cessamos de ofender; e, quando aparecermos diante dele será com um coração contrito e humilhado. 2.° Para alimentar este sentimento, é bom fazer com cuidado os exames de consciência, excitando-nos ainda mais à compunção do que ao exame minucioso das próprias faltas.

O que vem a ser trilhar os caminhos do Senhor?

“Trilhar” os caminhos do Senhor é buscar fervorosamente a perfeição de vida... é lutar diariamente em busca da santidade: “O caminho de Deus é perfeito” (2 Sm 22, 31).

Não se pode “trilhar” os caminhos do Senhor obedecendo as máximas do mundo.

“Trilhar” os caminhos do Senhor é viver em contínua segurança... é estar protegido contra os ataques dos inimigos: “O caminho de Deus é refúgio para o íntegro” (Pr 10, 29).

“Trilhar” os caminhos do Senhor é obedecer aos seus mandamentos... é viver somente para agradá-Lo: “Coloca tua alegria em Deus e ele realizará os desejos do teu coração” (Sl 37, 4).

É impossível encontrar a felicidade longe de Deus.

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP.

Anápolis, 29 de junho de 2011

 

 

Bibliografia

 

Sagrada Escritura

Santo Hilário de Poitiers, Tratado sobre os Salmos - Salmo 127, 1-3

Bem-aventurado Columba Marmion, Jesus Cristo: ideal do monge

Pe. Gabriel de Santa Maria Madalena, Intimidade Divina

Bem-aventurado Eduardo Poppe, Intimidades espirituais

Adolfo Tanquerey, Compêndio de Teologia Ascética e Mística

 

 

 

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Pe. Divino Antônio Lopes FP. “Feliz és tu”

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