CAIU DA CADEIRA PARA TRÁS (1 Sm 4, 18)
“Eli caiu da cadeira para trás, junto à porta, quebrou o pescoço e morreu...”
Em Silo, para oferecer os sacrifícios no templo de Deus, estava Eli com seus dois filhos. Mas estes eram ímpios: roubavam nas ofertas, se alimentava das vítimas ao invés de sacrificá-las e viviam luxuriosamente até no recinto sagrado. O velho pai sabia de tudo o que os filhos faziam contra Deus e contra o povo, e contentava-se com ralhar com eles assim: “Por que procedeis do modo como ouço todo o povo contar? Não, meus filhos, não é boa a fama que ouço o povo de Deus espalhar. Se um homem comete uma falta contra outro homem, Deus o julgará; mas se pecar contra Deus, quem intercederá por ele?” (1 Sm 2, 23-25). Naturalmente os filhos ímpios não deram a mínima importância às palavras do pai: “Mas não escutaram a voz de seu pai” (1 Sm 2, 25). Um homem de Deus, impelido pelo espírito profético, passou por diante da casa de Eli, e, olhando de esguelha, disse: Ai de ti Eli! Sabias quão indignamente agiam teus filhos e não os corrigistes. Por isso jurei que a casa de Eli cairia e o vosso pecado nem por vítima nem por oferta poderia expiar-se (Cf. 1 Sm 2, 27-33). Eis que, pouco tempo depois, irrompe a guerra com os filisteus, e Hofni e Finéias foram mortos: “A Arca de Deus foi tomada e foram mortos os dois filhos de Eli, Hofni e Finéias” (1 Sm 4, 11). Um soldado correu a anunciar a desgraça ao velho pai, que, sentado numa cadeira alta, olhava para a estrada por onde os tinha visto ir para o combate: Que foi que aconteceu? Perguntou Eli. E aquele homem respondeu: Todo Israel foi derrotado. Teus filhos morreram. A arca de Deus foi tomada (Cf. 1 Sm 4, 12-17). Apenas ditas estas palavras, Ele caiu para trás da sua cadeira, próximo à porta, e, quebrando o pescoço, morreu (Cf. 1 Sm 4, 18). Este tremendo exemplo da História Sagrada exprime claramente que a fraqueza em corrigir torna-se ruína eterna dos pais e dos filhos. Quem poupa o castigo merecido não ama os filhos, mas os odeiam. Foi justamente assim que o tirano de Siracusa, Dionísio, o Velho, desafogou o seu ódio contra seu genro Dione. Tomou-lhe o filho e concedeu-lhe toda liberdade; mandou que lhe obedecessem todos os caprichos, sem censurá-lo ou castigá-lo nunca, por qualquer excesso que ele praticasse. Após alguns anos restituiu-o a Dione que não mais soube reconhecer seu filho e morreu de desgosto. Os grandes inimigos dos jovens são aqueles que os deixam crescer sem lhes ensinarem a virtude e o temor de Deus. E não raras vezes se acham pais que batem brutalmente em seus filhos porque quebraram um vaso ou fizeram um estrago na parede da casa; e, depois, quando os ouvem blasfemar, dizer palavrões, roubarem ou transgredirem outros mandamentos da Lei de Deus e da Santa Igreja, dizem apenas alguma palavra de repreensão... e os deixam livres para fazer. Existem milhões de pais omissos, relaxados, covardes e irresponsáveis que liberam os filhos para o mundo como se solta gado num pasto... não os corrigem nem mostra-lhes o caminho certo. Se disser aos pais: suas filhas vestem escandalosamente... dão escândalo... estão namorando no escuro... dizem palavrões... estão buscando homens casados... Seus filhos estão se drogando... colecionando revistas pornográficas... roubando... Ouve-se dos pais: já ralhamos com eles cem vezes, porém não nos obedecem... ameaçam deixar a casa... dizem que não nos ajudarão pagar as despesas... nos ameaçam com armas... Eis aí pais fracos, covardes e omissos! Mas quem é que manda em casa? Quem permite a entrada de vestidos escandalosos e revistas pornográficas? Quem é que deve obedecer? Parece estranho, mas é essa a situação. Será possível que os pais não vejam as revistas e outros impressos que entram em casa? Será possível que só eles não saibam o que toda gente sabe? E se o sabem, por que não proíbem energicamente essa entrada? Com certeza estão imitando o péssimo exemplo de Eli. Se, depois, esses pais vêem seus filhos raramente na Santa Missa, na fila de Confissão... culparão aos sacerdotes dizendo que os mesmos não conseguem atrair seus filhos para a igreja. É preciso lembrar a esses omissos, discípulos de Eli, que, antes dos sacerdotes, são os pais que possuem a responsabilidade dos filhos. São milhares os casais que, por descuidarem da educação dos filhos, recebem notícias tristes sobre os mesmos e morrem repentinamente. Os pais têm o dever de educar com amor, firmeza e sinceridade aos filhos. Adolfo Tanquerey escreve: “Se Deus lhe dá filhos, receba-os da sua mão como um depósito sagrado, ama-os não somente como parte de si mesmo, mas como filhos de Deus, membros de Jesus Cristo, futuros cidadãos do céu; cerca-os duma dedicação, duma solicitude de cada instante; dá-lhes educação cristã, esmerando-se em formar neles as próprias virtudes de Cristo Nosso Senhor; neste intuito, exerce a autoridade que Deus lhe deu, com prudência, delicadeza, força e doçura. Não esqueça que, sendo representante de Deus, deve evitar aquela fraqueza que tende a amimar os filhos, aquele egoísmo que desejaria gozar deles sem os formar no trabalho e na virtude. Com o auxílio de Deus e dos educadores, que escolhe com o maior cuidado, faz deles homens e cristãos, e exerce assim uma espécie de sacerdócio no seio da família; assim poderá contar com a bênção de Cristo e com a gratidão dos filhos”. A Palavra de Deus ordena que os pais eduquem seus filhos: “Fortifica a vigilância sobre uma filha audaciosa, a fim de que ela não faça de ti motivo de irrisão para teus inimigos, o assunto da cidade, a chacota do povo, e não te desonre aos olhos de todos” (Eclo 42, 11), e: “Tens filhos? Educa-os, e desde a infância faze-os dobrar o pescoço” (Eclo 7, 23), e também: “Aquele que ama seu filho usará com frequência o chicote, para, no seu fim, alegrar-se. Aquele que educa seu filho terá nele motivo de satisfação e entre os conhecidos gloriar-se-á dele” (Eclo 30, 1-2), e ainda: “Mima teu filho e ele te aterrorizará, brinca com ele e ele te entristecerá” (Eclo 30, 9), e: “Obriga-o a curvar a espinha na sua juventude, bate-lhe nos flancos enquanto é menino... Educa teu filho e forma-o bem para que não te aborreças com a sua insolência” (Eclo 30, 12-13), e também: “Quem poupa a vara odeia seu filho, aquele que o ama aplica a disciplina” (Pr 13, 24), e ainda: “Ensina a criança no caminho que deve andar” (Pr 22, 6), e: “A estultícia está ligada ao coração da criança, mas a vara da disciplina a afastará dela” (Pr 22, 15), e também: “Não afastes do jovem a disciplina! Se lhe bates com a vara, não morrerá” (Pr 23, 13), e ainda: “A vara e a repreensão dão sabedoria, mas o jovem deixado a si mesmo envergonha sua mãe” (Pr 29, 15), e: “Corrige teu filho, e ele te dará descanso, trará delícias para ti” (Pr 29, 17).
Pe. Divino Antônio Lopes FP. Anápolis, 04 de julho de 2011
Bibliografia
Sagrada Escritura Pe. João Colombo, Pensamentos sobre os Evangelhos e sobre as festas do Senhor e dos Santos Adolfo Tanquerey, Compêndio de Teologia Ascética e Mística, n.º 592
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