A TRIBULAÇÃO FAZ-NOS VOLTAR A DEUS

(2 Cr 33, 1-2)

 

“Manassés tinha doze anos quando começou a reinar e reinou cinquenta e cinco anos em Jerusalém. Fez o mal aos olhos de Deus, imitando as abominações das nações que Deus tinha expulsado de diante dos israelitas”.

 

Manassés, ascendendo ao trono de Judá aos doze anos, cortejado e honrado por um povo, na abundância dos favores divinos, fez o mal na presença do Senhor. Levantou altares a Baal, fabricou postes sagrados, reedificou estátuas dos ídolos já destruídas por Ezequias, seu pai.

O Senhor então suscitou os Assírios que invadiram o reino do ímpio rei. Colhido de surpresa, Manassés foi vendido, preso, amarrado e arrastado para Babilônia. No doloroso exílio, o rei prisioneiro, só e desprezado, deu-se conta de que a mão de Deus pesava sobre sua cabeça. Só então se lembrou do Senhor, dirigiu-se a Ele e pediu-Lhe que tivesse misericórdia para consigo: “No tempo dessa provação, procurou aplacar o Senhor, seu Deus, humilhou-se profundamente diante do Deus de seus pais; orou a Deus, que se deixou comover. Ouviu sua súplica e o reintegrou em sua realeza, em Jerusalém. Manassés reconheceu que é o Senhor que é Deus” (2 Cr 33, 12-13).

Católico, assim sucede também conosco: quando somos felizes, quando a saúde é boa e os negócios vão bem, esquecemo-nos de Deus como de uma coisa inútil; e muitas vezes calcamos aos pés a sua lei e vivemos longe d’Ele que nos criou. Fazem-nos mister as tribulações para nos abrir os olhos e para nos reconduzir a Deus: “Nem sempre os sofrimentos correspondem, pois, a um castigo divino por pecados cometidos, pois servem frequentemente para manifestar as obra de Deus (Jo 9, 3). Não raras vezes têm por fim exortar-nos ao recolhimento e à conversão” (Pe. Richard Gräf).

Manassés perdeu tudo e foi preso; somente, depois da provação, olhou para o alto e pediu a misericórdia do Senhor.

São milhares os católicos que vivem de costas para Deus... olham para tudo e todos, mas desprezam completamente ao criador.

Quando perdem todos os bens e se tornam “prisioneiros” em um leito de dor, então “enxergam” a Deus e pedem sua proteção.

Não devemos nos revoltar diante das tribulações que surgem em nosso caminho, elas são o “chamado” carinhoso de Deus para voltarmos para Ele o quanto antes.

A família que não é provada se esquece facilmente de Deus e se entrega totalmente ao mundo.

Quando não há dores, a alma se esquece de Deus.

A casa onde não há provação é amaldiçoada: “Fujamos dessa casa, porque a maldição de Deus está sobre uma casa onde não há provação” (Santo Ambrósio).

O povo hebreu também foi provado.

Mas, quando o Senhor enchia de tribulação e de morte o seu caminho, o povo hebreu voltava a refugiar-se no seu Deus.

O Pe. João Colombo comenta: “Às vezes Deus envia a tribulação a inocentes crianças, a homens que viveram sempre na justiça; então isso é uma provação que Deus envia para aumentar os méritos dos seus amigos. Deus é como um senhor que faz trabalhar muito aqueles a quem quer recompensar muito. A tribulação pode ser  também um purgatório terreno, com o qual Deus purifica de toda sombra de culpa as almas eleitas, para não lhes reservar nada mais do que alegria e prêmio; ao passo que a prosperidade dos ímpios é um pequeno prêmio do pouco bem que fizeram neste mundo, e depois da morte só terão dor e castigo”.

Embora compreendamos muitas coisas e possamos seguir o Senhor por alguns caminhos com a razão iluminada pela fé, há muitos outros que não podemos compreender, porque nos conduzem a trevas profundas. Só nos pode ajudar a fé viva na justiça divina e no imenso amor que o Senhor nos dedica. Deus não pode ser cruel, nem por um instante. Quase seria preferível duvidarmos da nossa própria razão a duvidarmos da justiça e amor divinos. Quem perder a fé e a confiança na justiça de Deus, no seu amor, bondade e misericórdia, perderá o chão debaixo dos pés, deixará de ter as suas raízes em Deus, origem da sua vida, e será arrebatado pela tempestade da dor.

A fé diz-nos que Deus é nosso Pai, que está junto de nós quando nos envia o sofrimento. Nesse momento, passamos como que para uma escola superior: O Senhor está perto daqueles que têm o coração atribulado (Sl 33, 19). A dor é mesmo um dos sinais mais seguros de eleição: Bem-aventurado o homem a quem Deus corrige (Jó 5, 17).

É nosso dever, mesmo ao sofrermos as mais negras dores, estarmos convencidos de que é Deus quem as envia e não começar a ponderar e a cismar. Basta procurarmos compreender o que quer Deus dizer-nos por intermédio desse sofrimento, saber como poderemos valorizá-lo e utilizá-lo. Porque Ele quer salvar-nos e levar-nos ao céu pelo caminho da dor: O que presentemente é para nós uma tribulação momentânea e ligeira, produz em nós um peso eterno de glória incomparável (2 Cor 4, 17). E devemos pensar com São Paulo que os sofrimentos do tempo presente não têm proporção com a glória vindoura (Rm 8, 18).

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP.

Anápolis, 18 de julho de 2011

 

 

Bibliografia

 

Sagrada Escritura

Pe. João Colombo, Pensamentos sobre os Evangelhos e sobre as festas do Senhor e dos Santos

Pe. Richard Gräf, O cristão e a dor

 

 

 

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Pe. Divino Antônio Lopes FP. “A tribulação faz-nos voltar a Deus”

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