SEM PERSEVERANÇA NO BEM NÃO HÁ SALVAÇÃO

(Hb 10, 36)

 

“De fato, é de perseverança que tendes necessidade para cumprirdes a vontade de Deus e alcançardes o que ele prometeu”.

 

Diante das perseguições o autor sagrado renova a sua exortação à perseverança.

São João Crisóstomo compara a situação dos cristãos aos quais vai dirigida a carta, à de um atleta que depois de ter ganhado a competição, espera só que o que preside os jogos lhe conceda a coroa: “De agora em diante não há mais combate, basta que persevereis no mérito que ganhastes para não perder o do vosso triunfo (...). Já não há que combater, só é preciso perseverar. Basta esperar para conseguirdes a vossa coroa; para alcançá-la  sofrestes tudo: lutas, cadeias, dores, perda de bens. Que mais teríeis podido fazer? O único que vos resta é esperar com paciência o prêmio. Se se atrasa, não é mais que um momento”.

A inconstância no bem é uma das mais funestas chagas para a salvação dos católicos; quem não persevera no caminho do bem jamais entrará no céu: “Sem perseverança, impossível é chegar à santidade ou à salvação: não basta ser virtuosos e generosos alguns dias ou alguns anos; necessário é sê-lo sempre, até o fim” (Pe. Gabriel de Santa Maria Madalena).

Quantos há que começaram como anjos e acabaram como demônios! Não basta começar bem, mas é preciso terminar bem... é preciso perseverar até o último suspiro: “De nada vale ter sido santo por longo tempo, se no fim da vida se morre pecador” (Pe. Alexandrino Monteiro), e: “Muitos começam bem, mas poucos são os que perseveram” (São Jerônimo).

O que dizer do católico que abandona o verdadeiro caminho que conduz ao céu e se envereda pelo desvio que conduz à perdição eterna? Que deixa a pista reta para caminhar pela via tortuosa? Que abandona a trilha luminosa para cambalear pela escura? Que deixa de progredir no bem para voltar aos vícios? Que abandona a Deus para incensar ao Demônio? “Retirar-se do bem começado, do caminho da fé e do seguimento de Cristo, quer dizer pôr em perigo a própria salvação... Quem retrocede condena-se voluntariamente e jamais atingirá a meta: é um fraco, um vil, um desertor; enquanto deve o cristão ser forte, intrépido e perseverante” (Pe. Gabriel de Santa Maria Madalena).

Quantos que, como Adão no paraíso, viveram algum tempo revestidos da graça santificante e, comendo depois do fruto proibido, resvalaram até ao nível dos irracionais! “Um Saul, um Judas, um Tertuliano, começaram bem, mas acabaram mal, porque não perseveraram como deviam” (Santo Afonso Maria de Ligório), e: “Nos cristãos não se procura o princípio, mas o fim” (São Jerônimo).

São milhões de católicos, batizados e crismados na Santa Igreja, que hoje, por falta de perseverança, vivem mergulhados desgraçadamente nas trevas do protestantismo, islamismo, budismo, hinduísmo, espiritismo e outros “seguimentos”.

E entre as almas piedosas, quantas decepções e ruínas acumuladas pela inconstância! As almas dão-se a Deus ao ouvirem um sermão, resolvem-se a corrigir tudo e a tudo sacrificar ao seu beneplácito divino; e apenas entradas na vida ordinária, nos embaraços dos negócios exteriores, esquecem-se e transformam em uma hora o que custou tanto trabalho de espírito, tantas orações, esforços e lágrimas.

Esquecem tudo o que aprenderam e fracassam em seus propósitos... fracassam porque tremem e desanimam diante das dificuldades e obstáculos que surgem pelo caminho: “Não há dúvida: quem quiser ganhar sua alma para a vida eterna deve perseverar no bem, sem se assustar com a aspereza das provações” (Pe. Gabriel de Santa Maria Madalena).

Tal é a inconstância do coração humano! Mostra quão indispensável nos  é a virtude contrária. Sem ela nada de progresso, nada de perseverança e nada de salvação: “Quem perseverar até o fim será salvo” (Mt 10, 22). Quantos méritos não  teríamos adquiridos se tivéssemos sido fiéis às nossas resoluções! Tantas vezes começamos a mortificar-nos, a espezinhar nossa paixão dominante... e pouco a pouco ficamos remissos, tendo necessidade de um retiro espiritual para retemperar o nosso fervor.

Santa Catarina de Sena escreve: “Concedei-me, ó Deus Eterno, ser constante, perseverante na virtude, a fim de que não volte para trás a olhar o arado, mas com perseverança siga o caminho da verdade”, e: “Ó Senhor, serei certamente salvo se perseverar até o fim, mas há de ser virtuosa essa perseverança para merecer a salvação; de vós me vem a virtude que me salva; sois vós que me fazeis perseverar até obter a salvação” (Santo Agostinho).

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP.

Anápolis, 17 de agosto de 2011

 

Bibliografia

 

Sagrada Escritura

Edições Theologica

Pe. Luis Bronchain, Meditações para todos os dias do ano

São João Crisóstomo, Homilia sobre Hebreus, ad loc.

Pe. Gabriel de Santa Maria Madalena, Intimidade Divina, 301, 1 e 2

Pe. Alexandrino Monteiro, Raios de luz, 57

São Jerônimo, Lib. I contra Jovinianum

Santo Afonso Maria de Ligório, Preparação para a morte, Consideração XXXI, Ponto I

Santa Catarina de Sena, Epistolário 76, v. 2, pp. 25-27

Santo Agostinho, No Salmo 139, 11

 

 

 

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Pe. Divino Antônio Lopes FP. “Sem perseverança no bem não há salvação”

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