FALAI DE DEUS A VOSSOS FILHOS!

(Ef 6, 4)

 

“E vós, pais, não deis a vossos filhos motivo de revolta contra vós, mas criai-os na disciplina e correção do Senhor”.

 

Mais cedo ou mais tarde devemos todos dar contas a Deus dos bens que nos confiou: “Quando o Juiz vier, exigirá de cada um de nós tanto quanto nos deu” (São Gregório Magno), e: “Virão prestar declaração umas testemunhas infalíveis, a saber, as próprias consciências dos homens” (Santo Tomás de Aquino). Feliz daquele que em tempo põe em ordem seus negócios e que abandona o caminho das trevas: “Procurai a Deus enquanto pode ser achado, invocai-o enquanto está perto. Abandone o ímpio o seu caminho, e o homem mau os seus pensamentos, e volte para Deus, pois terá compaixão dele, e para o nosso Deus, porque é rico em perdão” (Is 55, 6-7).

Que horror para aquele que terá de ouvir da boca do divino Juiz as palavras: “Não te conheço!” (Mt 25, 12). Não nos devemos esquecer das palavras de Nosso Senhor Jesus Cristo: “Quem me negar diante dos homens, será por mim negado perante meu Pai que está nos céus” (Mt 10, 33).

Nunca devemos negar a Nosso Senhor, negar nossa fé; pelo contrário, é  nosso dever confessá-la e defendê-la: “O primeiro mandamento manda-nos alimentar e guardar com prudência e vigilância nossa fé e rejeitar tudo o que se lhe opõe” (Catecismo da Igreja Católica).

Se isto é um dever geral para todos, ainda mais para aqueles que podem e devem falar em nome de Deus: para os pais e educadores. A Palavra de Deus é luz e diretiva para o homem: “Tua palavra é lâmpada para os meus pés e luz para o meu caminho” (Sl 118, 105).

Deus tem na terra seus representantes que em seu nome podem falar; sua palavra tem algo de autoridade divina, e como tal tem direito de ser ouvida e atendida. Não cumprem seu dever aqueles pais que de tudo falam a seus filhos, menos de Deus, da religião católica, da fé e da eternidade. As crianças não podem apreciar  daquilo de que nunca ouvem falar em casa. Que respeito pode a criança ter da religião católica, da casa de Deus, dos sacerdotes, se seus pais nunca lhes dão explicações a respeito das coisas divinas? Se de outra coisa não se trata, senão de comer, beber e se vestir, de ganhar dinheiro e gozar da vida, se na maioria das vezes se fala em futilidades, dos defeitos do próximo... que ideia a criança pode fazer da religião católica e da fé?

Adolfo Tanquerey escreve: “Se Deus lhe dá filhos, os recebem da sua mão como um depósito sagrado, os amam não somente como parte de si mesmos, mas como filhos de Deus, membros de Jesus Cristo, futuros cidadãos do céu; os cercam duma dedicação, duma solicitude de cada instante; dão-lhes educação cristã, esmerando-se em formar neles as próprias virtudes de Cristo Nosso Senhor; neste intuito, exercem a autoridade que Deus lhes deu, com prudência, delicadeza, força e doçura. Não se esqueçam que, sendo representantes de Deus, devem evitar aquela fraqueza que tende a amimar os filhos, aquele egoísmo que desejaria gozar deles sem os formar no trabalho e na virtude. Com o auxílio de Deus e dos educadores, que escolhem com o maior cuidado, fazem deles homens e cristãos, e exercem assim uma espécie de sacerdócio no seio da família; assim poderão contar com a bênção de Cristo e com a gratidão dos filhos”, e: “Visto que os pais deram a vida aos filhos, têm a gravíssima obrigação de educar a prole, e, portanto, há que reconhecê-los como os primeiros e principais educadores dos seus filhos. Este dever da educação familiar é de tanta transcendência, que, quando falta, dificilmente pode ser suprido. É, pois, dever dos pais criar um ambiente de família animado pelo amor, pela piedade para com Deus e para com os homens, que favoreça a educação íntegra, pessoal e social dos filhos (...). Na família cristã, enriquecida com a graça e os deveres do sacramento do matrimônio, importa que os filhos aprendam desde os primeiros anos a conhecer e adorar a Deus e a amar ao próximo segundo a fé recebida no Batismo” (Gravissimum educationis).

A família recebe, portanto, imediatamente do Criador a missão e, por isso mesmo, o direito de educar a prole; direito ao qual não pode renunciar por estar inseparavelmente unido a uma gravíssima obrigação; direito que é anterior a qualquer outro direito da sociedade e do Estado e que, por isso mesmo, não pode ser violado por nenhum poder terreno.

Os pais que relaxam na educação dos filhos cometem um erro gravíssimo. Eles devem recear, e com boa razão, que um dia Deus os receba dizendo: não vos conheço! Não me confessastes diante dos homens, ainda mais, diante de vossos filhos – agora não vos confessarei, isto é, não vos apresentarei a meu Pai celestial.

Como tudo seria diferente se os pais cumprissem o dever de educar os filhos! Como o mundo seria melhor se falassem muitas vezes a seus filhos, de Deus, de sua Santa Palavra, para que estes aprendessem a estimar e respeitar o que é virtuoso. Que os pais não digam: a criança ainda não compreende estas coisas. Engano! Quanto menores, tanto mais confianças elas têm na autoridade da palavra dos pais. A opinião dos pais é a das crianças; sua palavra para ela é “evangelho”. Que responsabilidade para os pais, que, não falando de Deus a seus filhos, os privam de um grande bem: da herança da fé. O coração da criança é impressionável e com prazer se abre às coisas da religião. Estas impressões, recebidas bem cedo, ficam para toda a vida, indelevelmente nele gravadas. O coração do filho bem formado, isto é, no caminho do bem e da luz, dará alegria aos pais “Corrige o teu filho e ele te dará descanso, trará delícias para ti” (Pr 29, 17).

Acusação mais tremenda perante o tribunal divino não pode haver, senão aquela levantada por filhos que de seus pais não receberam instrução religiosa suficiente.

Que devem os pais católicos fazer para um dia não ouvir a maldição de seus próprios filhos? Ensinar-lhes a religião, educá-los em seus sãos princípios; rezarem em sua companhia e darem ótimo exemplo em cumprir a lei divina; examiná-los sobre o catecismo, perguntá-los pelo que ouviram na prática dominical, dar-lhes bons livros para lerem, como a Imitação de Cristo, A prática do amor a Jesus Cristo, Preparação para a morte e a vida dos santos.

É isto que se chama educar os filhos na religião. Esta educação é o maior benefício que lhes pode fazer; a herança mais preciosa que se lhes pode deixar.

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP.

Anápolis, 17 de outubro de 2011

 

Bibliografia

 

Adolfo Tanquerey, Compêndio de Teologia Ascética é Mística, n.º 592

Catecismo da Igreja Católica, n.° 2088

Gravissimum educationis, n.º 3

Pe. João Batista Lehmann, Euntes... Praedicate!

Sagrada Escritura

Santo Tomás de Aquino, Exposição sobre o credo

São Gregório Magno, Homilia 9 sobre os Evangelhos

 

 

 

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Pe. Divino Antônio Lopes FP. “Falai de Deus a vossos filhos!”

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