CORAÇÃO DE JESUS: MODELO PARA OS HOMENS CATÓLICOS

(Mt 11, 28-29)

 

“Vinde a mim todos… e aprendei de mim”.

 

Conta-se de Diógenes, célebre sábio da antiga Grécia, que à luz do meio dia, com a lanterna acesa na mão passava pelas ruas de Atenas como se procurasse um objeto perdido. Perguntado pela sua atitude um tanto ridícula, respondeu com ironia: “Estou a procurar homens”. – Queria o sábio dizer que não havia homens ou que era difícil encontrar um homem… homem de bem… homem de caráter.

Hoje, existem homens, como sempre existiu. Existem centenas de homens católicos… milhares. Mas, homens que são católicos, não só de nome, de batistério, mas em verdade – são raríssimos. É triste, mas essa é a verdade.

Nosso Senhor Jesus Cristo é modelo para todos os homens: modelo de perfeição, caráter e de beleza. Modelo mais perfeito não é possível encontrar: “Escutemos, pois, a palavra, a doutrina de Jesus; é por ela em primeiro lugar que Ele é o nosso caminho… Jesus é ainda o caminho pelo seu exemplo. Ele é Deus perfeito, Filho único de Deus… Mas é também homem perfeito; pertence autenticamente à nossa raça… Tudo quanto Jesus fez foi perfeito; não só pelo amor com que o fazia, mas também pelo modo como o fazia. Tudo quanto Jesus fez, ainda as mais pequeninas ações, eram ações dum Deus, infinitamente agradáveis ao pai. Por consequência, elas são para nós ‘exemplos a imitar’, modelos de perfeição. Imitando a Cristo Jesus, temos a certeza de ser, como Ele, embora a título diferente, agradáveis ao Pai e obter do Pai os mais preciosos dons” (Bem-aventurado Columba Marmion), e: “A Vida de Cristo é um livro excelente para doutos e ignorantes, para os perfeitos e imperfeitos que desejem agradar a Deus. Quem o ler bem muitas vezes atinge uma elevada sabedoria; obtém facilmente as luzes do espírito, a paz e tranquilidade da consciência e uma firme confiança em Deus num amor sincero” (Venerável Luís Blósio), e também: “Jesus é o Mestre que ensina a tender à perfeição do Pai celeste e, ao mesmo tempo, é o Modelo vivo desta perfeição. Os homens, por mais santos que possam ser, têm sempre, por natureza, seus limites e imperfeições e não podem servir-nos de modelos completos; enquanto Deus, que é a própria santidade, não o podemos ver; mas eis que o Filho de Deus, sua imagem viva, ao fazer-se homem, encarna em si a perfeição infinita do Pai” (Pe. Gabriel de Santa Maria Madalena).

Pelo Coração de Jesus é que os homens devem formar seu caráter. Em Jesus existem todas as virtudes que devem ornar o coração do homem: “Quando nos consagramos e dedicamos por completo a este Coração adorável, para amá-lo e honrá-lo, com todos os nossos meios, entregando-nos de todo a ele, ele cuida de nós e nos faz chegar ao porto da salvação, apesar de todas as borrascas” (Santa Margarida Maria Alacoque).

O CORAJOSO é ESTIMADO por todos; enquanto que o COVARDE é DESPREZADO. Na história de todos os povos são celebrados os corajosos, ao passo que os covardes colhem desprezo e escárnio. A coragem, a intrepidez e a calma nos mais tristes lances da vida aprendemos do Sagrado Coração de Jesus: “Seu Coração era meu repouso, meu retiro e minha força nas minhas fraquezas” (Idem.).

Jesus Cristo diante dos seus inimigos, no Horto das Oliveiras, vendo-se rodeado de soldados, algozes, fariseus e escribas – que calma Ele não apresenta! Os Apóstolos fugiram todos; Jesus, porém, se entrega espontaneamente, dizendo aos soldados: “Eu vos disse que sou eu. Se, então, é a mim que procurais, deixai que estes se retirem” (Jo 18, 8).

Durante a crudelíssima flagelação, no meio dos maus tratos que lhe deram na coroação de espinhos, nos momentos terríveis da crucifixão, nenhuma queixa ouviu-se dos seus lábios. Dos seus sofrimentos não faz menção, mas consola sua Mãe, ao bom ladrão e ao amigo do Coração. É um heroísmo que o mundo nunca presenciou e jamais presenciará.

 

Era no tempo da revolução francesa. A impiedade e a tirania empunhavam o cetro sob a proclamação patética e hipócrita do novo lema: liberdade, igualdade e fraternidade. Milhares de inocentes subiram à guilhotina. Centenas de igrejas entregues ao furor louco das massas alucinadas foram sacrilegamente profanadas e destruídas. Os sacerdotes foram condenados a comer o pão do exílio e leis severíssimas proibiram qualquer manifestação do culto católico. Os chefes daquele novo regime decretaram abolida a religião cristã, e em lugar da mesma seria colocada uma nova, inventada pelos revolucionários. Numa assembléia das mais ruidosas, um dos cabeças do movimento ímpio em termos altivos e balofos, apregoou as belezas do novo tempo, preconizando o advento da aurora da felicidade para o gênero humano.  Ouvindo aquelas baboseiras, do meio do povo um homem se levantou e aparteou o orador: “Não tem dúvida; aceito vossa nova religião; mas espero que como Cristo vos sujeiteis à flagelação, aceiteis a coroa de espinhos e vades morrer na cruz”.

 

De um homem de bem se espera que seja homem de palavra. Desprezo merece quem não cumpre sua palavra; ao passo que é digno de confiança quem cumpre o que prometeu. Homem de bem é aquele que cumpre a palavra dada a Deus, seu Supremo Senhor.

 

Um jovem se empenhou junto de um ministro para obter uma colocação. O ministro era protestante; o jovem, porém, católico.

Perguntou o ministro: “O senhor é católico, não é verdade?”

Respondeu o moço: “Sou, sim, senhor… mas a este ponto não dou importância”.

Replicou o ministro: “Sinto muito ter esta declaração da sua parte. Já não conto com o senhor; porque, quem não é fiel a Deus, que fidelidade prestará à sua pátria?”

 

O Sagrado Coração de Jesus é o Coração mais SINCERO que pulsou aqui na terra. Fiel a seu eterno Pai, tornou-se obediente à sua vontade até a morte na cruz. Suas últimas palavras foram um protesto de sua fidelidade: “Pai, em tuas mãos  entrego o meu espírito” (Lc 23, 46).

O mal do nosso tempo é a falta de fidelidade e de sinceridade. Exemplos desta observação brotam e se alastram por toda parte e não é difícil encontrá-los aos milhares em todas as camadas da sociedade. As queixas da falta de sinceridade são as mais frequentes e as mais dolorosas: “A língua mentirosa quer deliberadamente despejar névoa escura na mente do próximo para ocultar assim a verdade” (Pe. Francisco Faus), e: “Há pessoas que parecem estar sempre numa situação ‘crepuscular’, de ‘lusco-fusco’: não são nem deixam de ser; não afirmam nem negam; não estão a favor nem contra…” (Dom Rafael Llano Cifuentes).

A nossa sociedade precisa aprender a fidelidade e sinceridade, e escola melhor para se instruir nesta virtude na há melhor que o Sagrado Coração de Jesus. Jesus é mestre por excelência da sinceridade: “Ele não cometeu nenhum pecado; mentira nenhuma foi achada em sua boca” (1 Pd 2, 22). Oxalá d’Ele queiramos aprender sinceridade para com Deus, sinceridade para com a nossa Santa Religião e sinceridade para com o próximo. Sejamos fiéis à nossa fé e à Santa Igreja Católica não só de palavra, mas na verdade e com toda sinceridade.

Um coração puro é o que mais se exige do homem de bem. No mundo a virtude da pureza não é valorizada. Estimado, festejado é o rico, o sábio, o poderoso… embora seu coração seja talvez o reduto de todos os vícios. Não deve ser esta a nossa orientação. Nossa diretiva deve ser a palavra do divino Mestre que diz: “Com efeito, que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro e arruinar a sua vida?” (Mc 8, 36). Não é a riqueza das fazendas, não são os vastos e repletos armazéns, não são as cadernetas bancárias, não é o prestígio social e político que determina o valor do homem. Não são estas coisas que põem no agrado de Deus um homem cheio de vícios e pecados. No dia do juízo ele ouvirá a palavra do eterno e justo juiz que lhe dirá: “Não te conheço” (Mt 25, 12).

Coragem, fidelidade, sinceridade e pureza são as virtudes que o homem do nosso século deve aprender do Sagrado Coração de Jesus. Se todos quisessem reconhecer nele seu modelo e imitar seu glorioso exemplo, em breve seria mudada a face da terra e quebrado seria o poder do pecado e do demônio. Caridade e justiça, paz e harmonia reinariam em toda a parte.

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP.

Anápolis, 25 de outubro de 2011

 

 

Bibliografia

 

Bem-aventurado Columba Marmion, Jesus Cristo: ideal do monge

Dom Rafael Llano Cifuentes, Vidas sinceras

Gilles, Escritos

Pe. Francisco Faus, A língua

Pe. Gabriel de Santa Maria Madalena, Intimidade Divina, 161, 1

Pe. João Batista Lehmann, Euntes… Praedicate!

Sagrada Escritura

Santa Margarida Maria Alacoque, Cartas 27 e 33

Venerável Luis Blósio, Espelho da Alma, c. X, 7

 

 

 

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Pe. Divino Antônio Lopes FP. “Coração de Jesus: Modelo para os homens católicos”

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