DEUS É BOM E SEVERO

(Rm 11, 22)

 

“Vê então a bondade e a severidade de Deus: a severidade para com os que caíram, e a bondade de Deus para contigo, se perseverares na bondade; do contrário, também tu serás cortado”.

 

Milhões de católicos falam somente da misericórdia de Deus e negam a sua justiça.

São Josemaría Escrivá escreve: “Há uma grande propensão nas almas mundanas para recordar a Misericórdia do Senhor. – E assim se animam a continuar em seus desvarios. É verdade que Deus Nosso Senhor é infinitamente misericordioso, mas também é infinitamente justo. E há um julgamento, Ele é o Juiz”.

Não digas — exclama o Senhor — a misericórdia de Deus é grande: meus inumeráveis pecados me serão perdoados com um ato de contrição (Eclo 5,6). Não faleis assim — nos diz o Senhor — e por quê? Porque sua ira está tão pronta como sua misericórdia; e sua cólera fita os pecadores (Eclo 5,7).

A misericórdia de Deus é infinita; mas os atos dela, ou seja, os de comiseração, são finitos. Deus é clemente, mas também é justo. Sou justo e misericordioso — disse o Senhor a Santa Brígida, — e os pecadores só pensam na misericórdia. Os pecadores — escreve São Basílio — só querem considerar a metade: “O Senhor é bom; mas também é justo. Não queiramos considerar unicamente uma das faces de Deus”. Tolerar quem se serve da bondade de Deus para mais O ofender — dizia o Padre Ávila — é antes injustiça que misericórdia.

A clemência foi prometida a quem teme a Deus e não a quem abusa dela. A justiça ameaça os obstinados, porque, como diz Santo Agostinho, a veracidade de Deus resplandece mesmo em suas ameaças.

Acautelai-vos — diz São João Crisóstomo — quando o demônio (não Deus) vos promete a misericórdia divina com o fim de que pequeis.

Ai daquele — acrescenta Santo Agostinho — que para pecar confia na esperança! A quantos essa vã ilusão tem enganado e levado à perdição.

Desgraçado daquele que abusa da bondade de Deus para ofendê-Lo mais! Lúcifer — como afirma São Bernardo de Claraval — foi castigado por Deus com tão assombrosa presteza, porque, ao rebelar-se, esperava não ser punido. O rei Manasses pecou... converteu-se em seguida, e Deus lhe perdoou. Mas para Amon, seu filho, que, vendo quão facilmente seu pai havia conseguido o perdão, entregou-se à má vida com a esperança de também ser perdoado, não houve misericórdia. Por essa causa — diz São João Crisóstomo — Judas se condenou porque se atreveu a pecar confiando na clemência de Jesus Cristo. Em suma: se Deus espera com paciência, não espera sempre. Pois, se o Senhor sempre nos tolerasse ninguém se condenaria; ora, é larga a porta e espaçoso o caminho que leva à perdição, e muitos são os que entram por ele (Mt 7,13). Quem ofende a Deus confiado na esperança de ser perdoado, “é um escarnecedor e não um penitente”, diz Santo Agostinho.

Para se salvar é preciso perseverar até o fim no caminho do bem: “Assim devemos operar também nós, se queremos salvar-nos e conservar a graça de Deus até a morte, pondo n’Ele somente a nossa confiança (...). O Demônio umas vezes tenta-nos de presunção, outras de desconfiança; quando nos assegura que não havemos de temer as quedas, então é quando havemos de temer, porque se o Senhor deixasse um só instante de nos socorrer com a sua graça, então é quando estaríamos perdidos. E quando nos tentar de desespero, pondo os olhos em Deus havemos de dizer-Lhe: A Vós, Senhor, me acolho; não fique para sempre confundido nem privado da Vossa graça. Estes atos de desconfiança em nós mesmos e de confiança em Deus havemos de exercitá-los até o último instante da nossa vida, rogando sempre ao Senhor que nos dê a Santa humildade” (Santo Afonso Maria de Ligório).

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP.

Anápolis, 06 de setembro de 2013

 

 

Bibliografia

 

Sagrada Escritura

São Josemaría Escrivá, Escritos

Santo Agostinho, Escritos

Santo Afonso Maria de Ligório, Preparação para a morte, Consideração XVII, I; A prática do amor a Jesus Cristo, cap. 9

São Bernardo de Claraval, Escritos

São João Crisóstomo, Escritos

São Basílio, Escritos

 

 

 

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Pe. Divino Antônio Lopes FP. “Deus é bom e severo”

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