DEUS O EXPULSOU (Gn 3, 23-24)
“E Deus o expulsou do jardim de Éden para cultivar o solo de onde fora tirado. Ele baniu o homem e colocou, diante do jardim de Éden, os querubins e a chama da espada fulgurante para guardar o caminho da árvore da vida”.
“E Deus o expulsou do jardim de Éden para cultivar o solo de onde fora tirado”. As primeiras palavras são de Deus, mas o fato veio em seguida como consequência das palavras. Afastado da vida, não somente da que receberia com os anjos, se tivesse observado o preceito, mas também da que levava no paraíso num estado feliz do corpo, certamente teve que se separar da árvore da vida, seja porque por ela subsistiria nele aquele estado feliz do corpo, sendo algo visível com poder invisível, seja porque nela estaria também o sacramento visível da sabedoria invisível. Devia ser expulso dali certamente como já devendo morrer ou também como excomungado, assim como também neste paraíso, que é a Igreja, costuma-se afastar o homem dos sacramentos visíveis do altar pela disciplina eclesiástica. “Ele baniu o homem e colocou, diante do jardim de Éden, os querubins e a chama da espada fulgurante para guardar o caminho da árvore da vida”. Isso aconteceu para significar algo, para que o pecador na miséria morasse diante do paraíso que simbolizava espiritualmente a vida feliz. “... os querubins e a chama da espada fulgurante”. Deve-se crer que isso certamente aconteceu pelas potestades celestiais, no paraíso visível, e assim ficasse ali por meio do ministério angélico uma guarda de fogo. Contudo, não se há de duvidar que acontecesse em vão, porque representa algo referente ao paraíso espiritual. Deus expulsou Adão do paraíso, pondo, na porta, um querubim com espada flamejante para que impedisse Adão de voltar ao paraíso. Pode-se expressar de um modo mais claro o fato dogmático de que o primeiro homem perdeu sua situação privilegiada de justiça original? Como bom catequista, o hagiógrafo soube revestir suas altas ideias teológicas abstratas de uma roupagem literária e folclórica adaptadas para as pessoas simples e pouco entendidas. No folclore oriental, o querubim é o gênio protetor de um palácio ou de um lugar. No Êxodo, os querubins são os que com suas asas protegem o propiciatório (Ex 25, 17-22). Nos palácios assírios de Jorsabad aparecem os Karibâti, ou gênios protetores com cabeça humana, asas de águia e corpo de touro e de leão. O profeta Ezequiel põe o quarto querubim desta índole sustentando o trono de Deus (Ez 1, 2ss). A espada fulgurante nas mãos do querubim parece também ter seus antecedentes no folclore oriental. No texto de Teglatfalazar se fala de uma “espada de bronze” em que está escrita a proibição de transpassar os limites assinalados por ela. A espada é aqui símbolo da proibição de entrar na cidade.
Pe. Divino Antônio Lopes FP (C) Anápolis, 07 de abril de 2013
Bibliografia
Sagrada Escritura Santo Agostinho, Comentário ao Gênesis Thureau-Dangin, La glaive tournoyant Pe. Alberto Colunga, Bíblia comentada
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