SOMOS SEU POVO E SEU REBANHO

(Sl 99, 2-5)

 

“Aclamai o Senhor, ó terra inteira, servi ao Senhor com alegria, ide a ele cantando jubilosos! Sabei que o Senhor, só ele é Deus, Ele mesmo nos fez, e somos seus, nós somos seu povo e seu rebanho. Entrai por suas portas dando graças, e em seus átrios com hinos de louvor, dai-lhe graças, seu nome bendizei! Sim, é bom o Senhor e nosso Deus, sua bondade perdura para sempre, seu amor é fiel eternamente!”

 

 

Esse Salmo era cantado quando se entrava no santuário para oferecer o sacrifício de ação de graças.

 

“Aclamai o Senhor, ó terra inteira...”

 

O salmista CONVIDA toda a TERRA a associar-se a esta manifestação de LOUVOR.

ACLAMAI... LOUVAI o SENHOR, ó terra inteira. Está claro que é o SENHOR... DEUS... quem deve ser ACLAMADO e LOUVADO, e não as coisas caducas desse mundo. É grande estupidez desprezar o Senhor para servir as coisas vazias da terra.

Perde tempo e vive no vazio aquele que deixa de ACLAMAR e LOUVAR a Deus para se colocar a serviço do mundo e suas máximas.

Diz: ACLAMAI, e não, ZOMBAI, BLASFEMAI, DESPREZAI... É preciso ser um LOUVOR de coração... da alma... um LOUVOR SILENCIOSO e SINCERO... mais com a vida  do que com os lábios.

Somente Deus deve ser ADORADO... nada nesse mundo pode ocupar o lugar do Criador... não podemos desviar os olhos para as coisas passageiras da terra.

Santo Agostinho escreve: “A terra inteira aclama diante do Senhor; e a parte que ainda não aclama, aclamará um dia. Estende-se a bênção, a Igreja começa em Jerusalém (cf Lc 24, 47), propaga-se por todas as nações, prostra por toda parte a impiedade, estabelece a piedade. Misturando-se bons e maus. Há maus na terra inteira, bons em toda a terra. Nos maus a terra toda murmura, nos bons clama a terra inteira... Quem aclama não pronuncia palavras. Aclamar é som alegre, sem palavras. É a vos da alma, transbordante de alegria, a exprimir quanto possível seu afeto, sem dar-lhe sentido preciso... Quando é que aclamamos? Quando louvamos o que é inefável”.

O salmista não deixou outra opção... somente DEUS deve ser ACLAMADO e LOUVADO. O que se faz longe do Senhor é ROUBO e PERDA de TEMPO: “O mundo inteiro não é digno de um só pensamento do homem, porque só a Deus ele é devido; assim, qualquer pensamento posto fora de Deus é um roubo que se lhe faz”.

 

“servi ao Senhor com alegria...”

 

Está claro que devemos SERVIR ao SENHOR, a DEUS, ao CRIADOR... fomos criados para SERVIR a DEUS.

Não fomos criados para SERVIR o mundo, o demônio e a carne; mas sim, para SERVIR a Deus.

Infeliz da pessoa que despreza o CRIADOR para SERVIR as coisas passageiras, vazias e caducas desse mundo.

Como servir a Deus? 1. Desprezar os prazeres oferecidos pelo mundo e colocar a felicidade em trabalhar comente para o Criador. 2. Evitar todos os males. 3. Guardar com fidelidade seus mandamentos. 4. Fazer as ações de boa vontade. 5.  Fazer todas as coisas, leves e pesadas, com o único fim de servir a Deus. 6. Não buscar consolação em Deus. 7. Servi-lO segundo a perfeição evangélica. 8. Possuir a liberdade de espírito. 9. Bons costumes e virtudes. 10. Com verdadeira caridade.

“Servi ao Senhor...” Isto é, ADORE-O, OBEDEÇA-O...

Não basta SERVIR a DEUS, mas é preciso SERVI-LO com ALEGRIA: “... servi ao Senhor com alegria...”

O LOUVOR a Deus, se é sincero, vem unido à ALEGRIA.

Com ALEGRIA, isto é, com o coração dilatado de AMOR e de ALEGRIA.

Devemos SERVIR ao DEUS, fonte da verdadeira alegria e alegria infinita, com o coração cheio de felicidade.

Deus não quer pessoas carrancudas, mal humoradas e com o semblante carregado em seu serviço... devemos nos doar completamente ao Criador e com muita alegria: “Deus ama a quem dá com alegria” (2 Cor 9, 7).

Santo Agostinho escreve: “Servi ao Senhor, com alegria’. A servidão é repleta de amargura. Os escravos servem murmurando. Não tenhais medo de servir a este Senhor. Não será com gemido, murmuração, indignação. Ninguém será vendido, pois suavemente fomos resgatados. É enorme felicidade, irmãos, ser escravo nessa grande casa, não obstante os grilhões... ‘Servi ao Senhor, com alegria’. Perto do Senhor, a escravidão é livre; escravidão livre, porque se serve com caridade, não por necessidade... a verdade te fez livre; faça-te escravo a caridade...”

São João Bosco escreve: “Dois são os artifícios que o demônio costuma usar para afastar o cristão do caminho da virtude. O primeiro é fazer crer que, para servir Deus, é preciso levar uma vida melancólica, longe de todo divertimento e prazer. Quero ensinar um plano de vida que o faça feliz e, ao mesmo tempo, conceda conhecer quais são os verdadeiros divertimentos e encantos, de tal forma que possa dizer como Davi: ‘Servi ao Senhor com alegria’ (SL 99, 2)’”.

Sirvamos ao Senhor com ALEGRIA, porque a sua recompensa é grande.

Quem SERVE a Deus com ALEGRIA nunca está SATISFEITO, porque sabe que somente Ele merece o seu amor. E se sente cansado, não fica acomodado, mas busca força em Deus para SERVI-LO com maior perfeição e alegria.

 

“Ide a ele cantando jubilosos!”

 

Ide a quem? Ao mundo? Ao demônio? Aos ambientes de pecado? Aos bares e prostíbulos? Aos salões de bailes e carnaval? Aos pontos de drogas? Não! Ide ao Senhor que nos criou e que cuida de nós. Ide ao Senhor que é a fonte da verdadeira alegria, paz e amor. Devemos caminhar apressadamente para o Senhor que enche a nossa alma da mais pura felicidade. Não nos cansemos de buscá-lO!

“... cantando jubilosos!” Devemos caminhar para o Senhor com o coração feliz... cantando com o coração, com a alma e com os lábios... cantando hinos respeitosos ao Senhor da vida. Não devemos caminhar para o Senhor com o semblante carregado, com o coração triste, murmurando e reclamando de tudo e de todos.

Santo Agostinho escreve: “Entrai exultantes em sua presença. É fácil exultar exteriormente. Exulta na presença do Senhor. Não tanto seja a boca a exultar. Exulte a consciência. Entrai exultantes em sua presença”.

Santo Eusébio de Casaréia escreve: “Se não o servimos com alegria, nem sequer nos podemos atrever a apresentarmos diante d’Ele”.

Somente os que vivem com a graça santificante na alma caminham para o Senhor cantando jubilosos. Quem vive no pecado mortal canta com os lábios, mas não podem cantar com a alma e com o coração... cantam superficialmente, somente da boca para fora... é um cantar triste e um caminhar cambaleante.

A nossa vida é um CAMINHAR CONTÍNUO para Deus... não podemos parar nem olhar para trás... não podemos olhar para a direita nem para a esquerda... mas sempre para frente... onde está o Senhor. CAMINHAR com o coração cheio de alegria... aquela que  o mundo não pode dar.

 

“Sabei que o Senhor, só ele é Deus...”

 

É grande estupidez buscar alegria, paz e felicidade fora de Deus, porque somente Deus é o Deus verdadeiro e não existe outro Deus que possa nos ajudar.

Há um só Deus que é Espírito. Há um só Deus e não pode haver mais do que um.

Em Deus há três pessoas iguais: O Pai, o Filho e o Espírito Santo.

Se existe somente UM Deus: “só ele é Deus”, é perda de tempo buscar a salvação nas criaturas e no vazio do mundo.

Santo Agostinho escreve: “Sabei que o Senhor é Deus’. Quem não sabe que o Senhor é Deus? O salmo se refere ao Senhor que os homens julgavam não ser Deus. ‘Sabei que o Senhor é Deus’. Não menosprezeis aquele Senhor. Vós o crucificastes, flagelastes, cobristes de escarros, coroastes de espinhos, vestistes com a veste ignominiosa, suspendestes no madeiro, atravessastes com os cravos, feristes com a lança, pusestes guardas em seu sepulcro. Ele é Deus. ‘Sabei que o Senhor é Deus’”.

 

“Ele mesmo nos fez, e somos seus...”

 

Ângelo Silesius escreve: “A única coisa realmente grande e maravilhosa é o homem, que pode, segundo seu comportamento, tornar-se Deus ou demônio”.

A distinção entre o homem e os animais é muito profunda. O animal é apenas corpo e provém de baixo. O anjo é só espírito e deriva totalmente do alto. O homem é ao mesmo tempo do alto e de baixo, mortal e imortal. Pascal dizia: “Que é o homem no mundo? Um nada defronte ao infinito, tudo do nada, alguma coisa de entremeio entre o nada e o Todo”.

A quem deve o homem a existência na terra? Ao acaso? – ao cego destino? – Foi simplesmente arremessado no mundo? Ninguém nos perguntou se era do nosso agrado nascer? – Fiquemos tranquilos! Deus chamou o homem por amor a seu mundo, porque, após tê-lo posto à prova, o quer ter consigo no Céu.

Deus nos fez para conhecê-lO, amá-lO e servi-lO. Não nos criou para o Inferno; mas sim, para o Céu... mas Ele respeita a nossa liberdade.

“e somos seus...” Somos de Deus! Por que, então, buscar alegria longe d’Ele? Por que desprezar o Criador para mendigar o amor das criaturas? Somos de Deus... mas somos livres. Ele não nos obriga a segui-lO: “Se alguém quer vir após mim...” (Mt 16, 24), e: “Ele não violenta nem força a criatura a abrir-se para a misericórdia” (Pe. Luiz Fernando Cintra).

 

“... nós somos seu povo e seu rebanho”.

 

Santo Agostinho escreve: “Somos ovelhas e ovelha. As ovelhas constituem uma só ovelha. E que pastor é tão amante quanto nosso pastor? Deixou as noventa e nove ovelhas e foi em busca de uma só, aquela que foi redimida com seu sangue. Carrega-a nos ombros e volta (cf Lc 15, 4-5). O pastor morreu confiante pela ovelha e tendo ressuscitado a possui. ‘Somos povo seu e ovelhas de seu rebanho”.

Somos ovelhas do rebanho de Nosso Senhor; por isso, não abusemos do seu amor e da sua misericórdia.

A clemência foi prometida a quem teme a Deus e não a quem abusa dela. A justiça ameaça os obstinados, porque, como diz Santo Agostinho, a veracidade de Deus resplandece mesmo em suas ameaças.

O Senhor, Bom Pastor, está sempre pronto para receber uma ovelha arrependida e com bons propósitos.

Para ser ovelha de Deus é preciso desprezar o mundo e seguir somente aquilo que Lhe agrada: “... ocupai-vos com tudo o que é verdadeiro, nobre, justo, puro, amável, honroso, virtuoso ou que de qualquer modo mereça louvor” (Fl 4, 8).

 

“Entrai por suas portas dando graças, e em seus átrios com hinos de louvor, dai-lhe graças, seu nome bendizei!”

 

Santo Agostinho escreve: “Os pórticos são o começo. Começai pela confissão. Por isso é que o salmo se intitula: ‘De confissão’. Confessai que não vos fizestes a vós mesmos, louvai vosso criador. Ele seja teu bem, pois ao te afastares dele, praticaste o mal que vem de ti. O rebanho atravesse os pórticos. Não fique fora, em poder dos lobos. E como há de entrar? ‘Pela confissão’. Tendo entrado, não confessaremos mais? Confessa sempre; há sempre o que confessar. Difícil é nessa vida transformar-se o homem de tal maneira que nada mais de repreensível nele se encontre. Importa que te acuses a ti mesmo, a fim de que não te censure quem pode condenar. Portanto, mesmo depois de entrares nos átrios, confessa. Quando não haverá mais confissão de pecados? Naquele repouso, naquela igualdade com os anjos. Mas, notai o que afirmei: Não haverá mais confissão de pecados. Não disse: Não haverá mais confissão. Haverá a confissão do louvor. Sempre haverás de confessar que ele é Deus e tu, criatura; ele é protetor e tu o protegido. Nele, de certo modo, estarás escondido... e tendo entrado em seus átrios, confessai-o com hinos. Os hinos são louvores. Ao entrares censura-te a ti mesmo; lá dentro louva-o”.

 

“Sim, é bom o Senhor e nosso Deus, sua bondade perdura para sempre, seu amor é fiel eternamente!”

 

Na relação entre o Criador e as suas criaturas, a misericórdia só tem lugar porque as criaturas têm misérias. Se o Pai não tivesse criado o homem, e o homem não tivesse pecado, nem por isso Ele teria deixado de ser verdadeiramente bom, mas não teria sido atualmente misericordioso, porque a misericórdia só se exerce com os miseráveis. Mas Ele nos criou plenamente consciente das nossas fragilidades, e ama-nos infinitamente apesar dessas nossas limitações. Mesmo o pecado, que é a maior das nossas misérias, obriga o amor divino a apresentar-se sob a forma particular da misericórdia.

“... sua bondade perdura para sempre”. A bondade: é esta propensão que leva Deus a procurar o bem de suas criaturas. – A bondade de Deus é tão manifesta que costumamos designá-lo por este atributo, e dizemos: o bom Deus! Quando a bondade de Deus se exerce em favor do pecador e tende a convertê-lo e conceder-lhe o perdão, chama-se misericórdia.

Deus é bondade infinita. Não há limites à sua bondade, que é tal, que ver a Deus será amá-lo com amor irresistível. E essa bondade se derrama continuamente sobre nós.

Alguém poderá perguntar: “Se Deus é tão bom, por que permite tantos sofrimentos e males no mundo? Por que deixa que haja crimes, doenças e misérias?” O que podemos é mencionar que o mal, tanto físico como moral, na medida em que afeta os seres humanos, veio ao mundo como consequência do pecado do homem. Deus, que deu ao homem o livre arbítrio e pôs em marcha seu plano para a humanidade, não anda interferindo continuamente para arrebatar-lhe esse dom da liberdade. Com esse livre arbítrio que Deus nos deu, temos que lavrar o nosso destino até o seu final – até a felicidade eterna, se a escolhermos como meta e se quisermos aceitar e utilizar o auxílio da graça divina -, mas livres até o fim.

“... seu amor é fiel eternamente!”

O amor não é uma propriedade de Deus à maneira das demais, mas indica a sua própria natureza. O Deus do amor é um Deus ativo. Todo o movimento e toda vida em Deus é amor.  Mesmo o fim de cada ação sua é amor: Deus faz tudo por amor, para gerar amor, de tal sorte que aquilo que d’Ele saiu, a Ele retorne.

A criação é uma difusão desse amor. Deus é bom: todas as coisas receberam d’Ele a existência. Precisamente porque Deus é amor, Ele encerra em si a plenitude de todo o bem, e quer que dela participe – o maior número possível de seres: “O ser e a natureza de Deus são de tal sorte, que Ele deve difundir-se” (Tauler). É o amor de Deus que nos dá o ser: “Nós existimos porque Deus é bom” (Boécio).

Santo Agostinho escreve: “Sua misericórdia é eterna. Com a tua libertação não se extinguirá sua misericórdia. Compete a sua misericórdia proteger-te sempre na vida eterna. Portanto, sua misericórdia é eterna e sua verdade se estende de geração em geração. De geração em geração, isto é, em todas as gerações; ou duas gerações, uma terrena e outra celeste. Aqui na terra é a primeira geração, que gera seres mortais; a outra produz seres eternos. Sua verdade existe aqui e lá”.

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP (C)

Anápolis, 01 de junho de 2014

 

 

Bibliografia

 

Sagrada Escritura

Pe. Manuel de Tuya, Bíblia comentada

Pe. Leo J. Trese, A fé explicada

Monsenhor Cauly, Curso de Instrução Religiosa

Ângelo Silesius, Escritos

Santo Tomás de Aquino, Suma Teológica

Pe. Luiz Fernando Cintra, A misericórdia divina

Santo Afonso Maria de Ligório, Preparação para a morte

Pascal, Pensamentos

Pe. Alfred Barth, Enciclopédia catequética

Santo Eusébio de Casaréia, Commentaria in Psalmos 99

Pe. Juan Leal, A Sagrada Escritura (Texto e comentário)

Sagrada Bíblia, Libros poéticos y sapienciales

São João Bosco, O cristão bem formado

Santo Agostinho, Comentário do Evangelho de São João

São João da Cruz, Obras Completas

Pe. Marco M. Sales, La Sacra Bibbia, Il Vecchio Testamento

 

 

 

 

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