O ESPÍRITO SANTO E MARIA SANTÍSSIMA

(At 1, 14)

 

“... todos perseveravam unanimemente na oração juntamente com as santas mulheres e Maria, a Mãe de Jesus...”

 

Nota-se como a oração é feita em comunidade e com Maria Santíssima, a Mãe de Jesus Cristo, que desde agora começa a receber este título glorioso. São João, no final do século I, a chamará sempre assim. Os irmãos são os primos e parentes de Jesus que se distinguem aqui dos Apóstolos. Temos três categorias: a) Apóstolos; b) As mulheres e Maria, em particular; c) Os irmãos. É a triple categoria que aparece nos Evangelhos. Que significa a oração? É a visita diária ao templo nas horas da oração (Wikenhauser). Porém, não se pode excluir a oração de súplica e louvor que fizeram na sala alta, onde se reúnem. O texto faz pensar nesta oração autenticamente cristã.

 

NO CENTRO DELES, ENCONTRA-SE A MÃE DE DEUS

 

Enquanto esperavam a vinda do ESPÍRITO SANTO prometido, “... todos perseveravam unanimemente na oração juntamente com as santas mulheres e Maria, a Mãe de Jesus...” (At 1, 14). Todos estão num mesmo lugar, no Cenáculo, animados pelo mesmo amor e por uma só esperança. No centro deles, encontra-se a Mãe de Deus. A Tradição, ao meditar nesta cena, viu refletida nela a maternidade espiritual de Maria Santíssima sobre toda a Igreja: “A era da Igreja começou com a ‘vida’, quer dizer, com a descida do Espírito Santo sobre os Apóstolos reunidos no Cenáculo de Jerusalém, junto com Maria, a Mãe do Senhor” (São João Paulo II).

Nossa Senhora vive uma espécie de segundo Advento, uma espera que prepara a comunicação plena do ESPÍRITO SANTO e dos seus dons à Igreja nascente. Este novo Advento é ao mesmo tempo muito semelhante e muito diferente do primeiro, daquele que preparou o nascimento de Jesus Cristo. Muito semelhante porque em ambos estão presentes a oração, o recolhimento, a fé na promessa, o desejo ardente que esta se realiza. Maria Santíssima, quando trazia Jesus Cristo oculto no seu seio, permanecia no silêncio da sua contemplação. Agora, Nossa Senhora vive profundamente unida ao seu Filho glorificado.

Mas esta segunda espera é também muito diferente da primeira. No primeiro Advento, a Virgem é a única que vive a promessa realizada no seu seio; agora, aguarda-a em companhia dos Apóstolos e das santas mulheres. É uma espera compartilhada, a da Igreja que está a ponto de manifestar-se publicamente em redor de Nossa Senhora: “Maria, que concebeu Cristo por obra do Espírito Santo, do amor do Deus vivo, preside ao nascimento da Igreja no dia de Pentecostes, quando o próprio Espírito Santo desce sobre os discípulos e vivifica na unidade e na caridade o Corpo místico dos cristãos” (Paulo VI).

Na festa de Pentecostes, devemos esperar a chegada do Paráclito unidos à nossa Mãe, “que implora com as suas preces o dom do Espírito, o qual já na Anunciação a havia coberto com a sua sombra” (Concílio Vaticano II), convertendo-se no novo Tabernáculo de Deus. Nos começos da Redenção, Nossa Senhora dera-nos o seu Filho; agora, “através das suas eficacíssimas súplicas, conseguiu que o Espírito do divino Redentor, já outorgado na Cruz, se comunicasse com os seus prodigiosos dons à Igreja, recém-nascida no dia de Pentecostes” (Pio XII).

“Quem nos transmite esse dado é São Lucas, o evangelista que mais longamente narrou a infância de Jesus. É como se quisesse dar-nos a entender que, assim como Maria teve um papel primordial na Encarnação do Verbo, de modo análogo esteve também presente nas origens da Igreja, que é o Corpo de Cristo” (São Josemaría Escrivá). Para podermos estar bem preparados para uma maior intimidade com o Paráclito, para sermos mais dóceis às suas inspirações, o caminho é Nossa Senhora. Os Apóstolos assim o entenderam; por isso os vemos ao lado de Maria no Cenáculo.

No dia de Pentecostes, a Santíssima Virgem recebeu o ESPÍRITO SANTO com uma plenitude inigualável porque o seu coração era o mais puro, o mais desprendido, o que amava de modo incomparável a Santíssima Trindade. O Paráclito desceu sobre a alma da Virgem e inundou-a de uma maneira nova. Ele é o “doce Hóspede” da alma de Maria. O Senhor havia prometido a todo aquele que amasse a Deus: Viremos a ele e nele faremos a nossa morada (Jo 14, 23). Esta promessa realiza-se, sobretudo, em Nossa Senhora.

Ela, “a obra prima de Deus” (São Josemaría Escrivá), fora preparada com  imensos cuidados pelo ESPÍRITO SANTO para ser tabernáculo vivo do Filho de Deus. Por isso, o Anjo a cumprimentou no momento da Anunciação: Ave, cheia de graça (Lc 1, 28). E aquela que já estava possuída pelo ESPÍRITO SANTO e cheia de graça, recebeu nesse instante uma nova e singular plenitude: O Espírito Santo virá sobre ti e te cobrirá com a sua sombra (Lc 1, 35). “Redimida de um modo eminente e em previsão dos méritos do seu Filho, e unida a Ele por um vínculo estreito e indissolúvel, Maria Santíssima é enriquecida com a sublime missão e a dignidade de ser a Mãe do Filho de Deus e, por isso, Filha predileta do Pai e Sacrário do Espírito Santo, com o dom de uma graça tão extraordinária que supera de longe todas as criaturas celestes e terrenas” (Concílio Vaticano II).

Depois, ao longo da sua vida, Nossa Senhora foi crescendo no amor a Deus Pai, a Deus Filho (seu Filho Jesus), e a Deus ESPÍRITO SANTO. Correspondeu a todas as aspirações e moções do Paráclito e, de cada vez que era dócil a essas inspirações, recebia novas graças.  Em momento algum opôs a menor resistência a Deus, nunca lhe negou nada; o seu crescimento nas virtudes sobrenaturais e humanas (que estavam sob uma especial influência da graça) foi contínuo.

No dia de Pentecostes, o ESPÍRITO SANTO, que já habitava em Maria Santíssima desde o mistério da sua Imaculada Conceição,  veio fixar n’Ela a sua morada de uma maneira nova. Todas as promessas que Jesus tinha feito acerca do Paráclito – Ele vos recordará todas estas coisas (Jo 14, 26), Ele vos conduzirá à verdade completa (Jo 16, 13) – cumprem-se plenamente na alma da Virgem Maria.

Nossa Senhora é a Criatura mais amada por Deus. Pois se a cada um de nós, apesar de tantas ofensas, o Senhor nos recebe como o pai do filho pródigo; se a nós, sendo pecadores, nos ama com amor infinito e nos enche de bens cada vez que correspondemos às suas graças, “se procede assim com quem o ofendeu, o que não fará para honrar a sua Mãe imaculada, Virgem Santíssima, sempre fiel? Se o amor de Deus se mostra tão grande, quando a capacidade do coração humano – com frequência traidor – é tão pequena, como não se manifestará no Coração de Maria, que nunca opôs o menor obstáculo à Vontade divina?” (São Josemaría Escrivá).

Tudo o que tem levado a cabo na Igreja desde o seu nascimento até os nossos dias é obra do ESPÍRITO SANTO: a evangelização do mundo, as conversões, a fortaleza dos mártires, a santidade dos seus membros... “O que a alma é para o corpo do homem, isso é o Espírito Santo no Corpo de Cristo que é a Igreja. O Espírito Santo realiza na Igreja o que a alma realiza nos membros de um corpo” (Santo Agostinho): dá-lhe vida, desenvolve-o, é o seu princípio de unidade... Por Ele vivemos do próprio Cristo Nosso Senhor, em união com Santa Maria, com todos os anjos e santos do Céu, com os que se preparam no purgatório e os que ainda peregrinam na terra.

O ESPÍRITO SANTO é também o santificador da nossa alma. Todas as inspirações e desejos que nos animam a ser melhores, todas as nossas boas obras, bem como as ajudas necessárias para terminá-las..., tudo é obra do Paráclito: “Este divino Mestre estabeleceu a sua escola no interior das almas que lho pedem e desejam ardentemente tê-lo por Mestre” (F. Javiera del Valle), e: “A sua ação na alma é suave, a sua experiência é agradável e aprazível, e o seu jugo é levíssimo. A sua vida é precedida pelos raios brilhantes da sua luz e da sua ciência. Vem com a verdade do genuíno protetor, pois vem salvar, curar, ensinar, aconselhar, fortalecer, consolar, iluminar, em primeiro lugar a mente daquele que o recebe e depois, pelas obras deste, a mente dos outros” (São Cirilo de Jerusalém).

E assim como aquele que se achava rodeado de trevas, e saindo o sol recebe a sua luz nos olhos corporais e contempla claramente o que antes não via, assim também aquele que é achado digno do dom do ESPÍRITO SANTO fica com a alma iluminada e, elevando-se acima da razão natural, vê aquilo que antes ignorava.

O ESPÍRITO SANTO não cessa de atuar na Igreja, fazendo surgir por toda a parte novos desejos de santidade, novos filhos e, ao mesmo tempo, melhores filhos de Deus, que têm em Jesus Cristo o Modelo perfeito, pois Ele é o primogênito de muitos irmãos. E Nossa Senhora, pela sua colaboração ativa com o ESPÍRITO SANTO nas almas, exerce a sua maternidade sobre todos os seus filhos. Por isso é proclamada Mãe da Igreja, “quer dizer, Mãe de todo o Povo de Deus, tanto dos fiéis como dos Pastores, que a chamam Mãe amorosa. Queremos que de agora em diante seja honrada e invocada por todo o povo cristão com esse título gratíssimo” (Paulo VI).

 

Oração

 

Espírito Santo, Hóspede bem-amado dos nossos corações, divino Consolador, concedei-me a graça de viver a partir de hoje na vossa santa presença e de saborear cada vez mais a suavidade do vosso Amor. Não permitais que vos contriste resistindo às vossas santas inspirações. Entrego-me a Vós; apoderai-vos de mim por completo, da minha alma, do meu corpo e de todas as minhas faculdades, a fim de que eu passe a atuar unicamente de acordo com o vosso amável beneplácito. Transformai-me cada vez mais em Jesus, a fim de que n’Ele e por Ele, eu cumpra sempre a vontade do Pai, para maior glória do seu Nome. Amém.

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP (C)

Anápolis, 06 de julho de 2014

 

 

Bibliografia

 

Sagrada Escritura

Concílio Vaticano II

São João Paulo II, Encíclica Dominum et vivificantem, 18-05-1986

Pe. Francisco Fernández Carvajal, Falar com Deus

M. D. Philippe, Mistério de Maria

Paulo VI, Discurso, 25-10-1969; Discurso ao Concílio, 02-09-1964

Pio XII, Encíclica Mystici Corporis, 29-06-1943

São Josemaría Escrivá, É Cristo que passa, n.º 141; Amigos de Deus, n.º 292

Santo Agostinho, Sermão 267

F. Javiera del Valle, Decenario al Espíritu Santo

São Cirilo de Jerusalém, Catequese 16 sobre o Espírito Santo

Wikenhauser, Escritos

Pe. Alexis Riaud, A ação do Espírito Santo na alma

Pe. Lorenzo Turrado, Bíblia comentada

Pe. Juan Leal, A Sagrada Escritura

 

 

 

 

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Pe. Divino Antônio Lopes FP. “O Espírito Santo e Maria Santíssima”

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