O ESPÍRITO SANTO ESTÁ PRESENTE (Cl 2, 2-3)
“... para que sejam confortados os seus corações, unidos no amor, e para que eles cheguem à riqueza da plenitude do entendimento e à compreensão do mistério de Deus, no qual se acham escondidos todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento”.
A união dos batizados com Cristo, Cabeça do Corpo místico não pode certamente ser entendida no idêntico sentido da união existente entre os vários membros de um corpo físico: de fato, embora incorporados a Cristo, cada fiel mantém toda a própria personalidade; mas não pode também ser tida como simples união moral como a que existe, por exemplo, entre os membros de uma sociedade. Não, é algo mais profundo! É união misteriosa, sim, e em tal sentido se diz mística, mas é real e vital. União que provém do fato de, em todas as partes do Corpo da Igreja, estar presente o ESPÍRITO SANTO que “único e idêntico... enche e une toda a Igreja” (Santo Tomás de Aquino). Jesus cristo, com efeito, tornou-nos participantes de seu Espírito que, único e idêntico na Cabeça e nos membros, de tal forma vivifica, unifica e move todo o Corpo, que sua função pôde ser comparada pelos Santos Padres com a que exerce o princípio da vida, isto é, a alma no corpo humano (Concílio Vaticano II). O ESPÍRITO SANTO, alma da Igreja, é o vínculo que íntima e realmente une e vivifica todos os membros de Jesus Cristo, derramando neles a graça e a caridade. Não se trata, portanto, de união simbólica, metafórica e, sim, de união real, de realidade que supera todas as outras como a graça supera a natureza e como as coisas imortais transcendem todas as transitórias. O Filho de Deus de fato, comunicando seu Espírito, constitui misticamente, como seu Corpo, os irmãos chamados dentre todos os povos. Realidade sublime que abrange não só a vida terrena do cristão, mas, por ele conservada, permanece eternamente como única fonte de sua felicidade, pois a graça é a semente da glória. O cristão é membro de Cristo: esta é sua grandeza, sua glória que supera infinitamente toda dignidade e grandeza terrenas.
O DOM DA SABEDORIA
Existe um conhecimento de Deus e do que se refere a Ele a que só se chega pela santidade. O ESPÍRITO SANTO, mediante o DOM da SABEDORIA, coloca-o ao alcance das almas simples que amam o Senhor: Eu te glorifico, Pai, Senhor do céu e da terra — exclamou Jesus diante de umas crianças —, porque escondeste estas coisas aos sábios e prudentes e as revelaste aos pequeninos (Mt 11, 25). É uma SABEDORIA que não se aprende nos livros, mas que é comunicada à alma pelo próprio Deus, que ilumina e ao mesmo tempo cumula de amor a mente e o coração, a inteligência e a vontade; é um conhecimento mais íntimo e saboroso de Deus e dos seus mistérios. Quando temos na boca uma fruta, apreciamos o seu sabor muito melhor do que se lêssemos as descrições que dela fazem todos os livros de Botânica. Que descrição se pode comparar ao sabor que experimentamos quando provamos uma fruta ? Do mesmo modo, quando estamos unidos a Deus e o saboreamos por íntima experiência, isso nos faz conhecer muito melhor as coisas divinas do que todas as descrições que os eruditos e os livros dos homens mais sábios possam fazer. Este é o conhecimento que se experimenta de modo particular pelo DOM da SABEDORIA. De uma maneira semelhante à de uma mãe que conhece o seu filho pelo amor que lhe tem, assim a alma, mediante a caridade, chega a um conhecimento profundo de Deus que obtém do amor a sua luz e o seu poder de penetração nos mistérios. É um dom do ESPÍRITO SANTO porque é fruto da caridade infundida por Ele na alma e nasce de uma participação na sua SABEDORIA infinita. São Paulo orava pelos primeiros cristãos, para que, poderosamente robustecidos pelo seu Espírito [...], arraigados e alicerçados na caridade possais compreender qual a largura e o comprimento, a altura e a profundidade, e conhecer enfim a caridade de Cristo, que desafia todo o conhecimento (Ef 3, 16-19). É um compreender alicerçados na caridade; é um conhecimento profundo e amoroso. Não podemos aspirar a nenhum conhecimento mais alto de Deus do que este conhecimento saboroso, que enriquece e facilita a nossa oração e toda a nossa vida de serviço a Deus e aos homens por Deus: A sabedoria — diz a Sagrada Escritura — vale mais do que as pérolas, e jóia alguma a pode igualar (Pr 8, 11). Eu a preferi aos cetros e aos troncos, e considerei a riqueza como um nada em comparação com ela [...]. Todo o ouro ao seu lado é apenas um pouco de areia, e a prata diante dela é como lama [...]. Com ela vieram-me todos os bens [...] porque é a sabedoria que os traz [...]. Ela é para os homens um tesouro inesgotável; e os que a adquirem preparam-se para ser amigos de Deus (Sb 7, 8-14). Intimamente unido à virtude teologal da caridade, o DOM da SABEDORIA confere à alma um conhecimento muito especial de Deus, que a leva possuir uma certa experiência da doçura de Deus, em si mesmo e nas coisas criadas, enquanto se relacionam com Ele. Entre os dons do ESPÍRITO SANTO, diria que há um de que todos nós, cristãos, necessitamos especialmente: o DOM da SABEDORIA, que nos faz conhecer e saborear Deus, e nos coloca assim em condições de poder avaliar com verdade as situações e as coisas desta vida. Com a visão profunda que este dom confere à alma, o cristão que segue de perto o Senhor contempla toda a realidade com um olhar mais alto, pois participa de algum modo da visão que Deus tem de todas as coisas criadas. Julga tudo com a clareza deste dom. Os demais homens são então para ele uma oportunidade contínua de praticar a misericórdia e de exercer um apostolado eficaz aproximando-os do Senhor. Compreende melhor a imensa necessidade que os seus parentes, colegas e amigos têm de ser ajudados a caminhar para Cristo. Vê-os como pessoas urgentemente necessitadas de Deus, como Cristo as via. Iluminados por este dom, os santos entenderam no seu verdadeiro sentido os acontecimentos desta vida: tanto os que consideramos grandes e importantes como os aparentemente pequenos. Por isso, não chamaram desgraça à doença e às tribulações que tiveram que sofrer; compreenderam que Deus abençoa de muitas maneiras, e frequentemente com a Cruz; sabiam que todas as coisas, mesmo aquelas que são humanamente inexplicáveis, cooperam para o bem dos que amam a Deus (Rm 8, 28). As inspirações do ESPÍRITO SANTO, que este dom faz acolher com docilidade, esclarecem-nos pouco a pouco sobre a ordem admirável do plano providencial, mesmo e precisamente naquelas coisas que antes nos deixavam desconcertados, nos casos dolorosos e imprevistos, permitidos por Deus em vista de um bem superior. Através do DOM da SABEDORIA, as moções da graça trazem-nos uma grande paz, não somente para nós, mas também para o nosso próximo; ajudam-nos a semear alegria onde quer que estejamos e a encontrar a palavra oportuna que ajuda a reconciliarem-se os que estão desunidos. É por isso que este dom está em correspondência com a bem-aventurança dos pacíficos, daqueles que, tendo paz em si mesmos, podem comunicá-la aos outros. Esta paz, que o mundo não pode dar, é o resultado de se verem os acontecimentos dentro do plano providente de Deus, que em momento algum se esquece dos seus filhos. O DOM da SABEDORIA concede-nos uma fé amorosa, penetrante, uma clareza e segurança absolutamente insuspeitadas na compreensão do mistério inabarcável de Deus. Assim, por exemplo, a presença real de Jesus Cristo no Sacrário produz em nós uma felicidade inexplicável por nos acharmos diante de Deus. A pessoa permanece ali sem dizer nada ou simplesmente repetindo umas palavras de amor, em contemplação profunda, com os olhos fixos na Hóstia Santa, sem cansar-se de fitá-lo. Parece-lhe que Jesus penetra pelos seus olhos até o mais profundo dela própria... O normal será, no entanto, que encontremos a Deus na vida diária, sem quaisquer manifestações especiais, mas envolvidos pela íntima certeza de que Ele nos contempla, de que vê as nossas tarefas e nos olha como filhos seus... No meio do nosso trabalho, na família, o ESPÍRITO SANTO ensina-nos, quando somos fiéis às suas graças, que todas as nossas ocupações são o instrumento normal que Deus põe ao nosso alcance para que possamos amá-lO e servi-lO nesta vida e depois contemplá-lo na eternidade. À medida, pois, que vamos purificando o nosso coração, entendemos melhor a verdadeira realidade do mundo, das pessoas (que olhamos e tratamos como filhos de Deus) e dos conhecimentos, participando da própria visão de Deus sobre as coisas criadas, sempre dentro dos limites da nossa condição de criaturas. Esta ação amorosa do ESPÍRITO SANTO sobre a nossa vida só será possível se cuidarmos com esmero das normas de piedade através das quais nos dedicamos especialmente a Deus: a Santa Missa, os momentos de meditação pessoal, a Visita ao Santíssimo... E isto tanto nos dias normais como naqueles em que temos um trabalho que parece ultrapassar a nossa capacidade de levá-lo adiante; quando a devoção é fácil e simples ou quando chega a aridez; nas viagens, no descanso, na doença... E juntamente com o cuidado em viver com esmero esses momentos mais intensamente dedicados a Deus, não nos deve faltar o empenho por conseguir que o pano de fundo do nosso dia esteja sempre ocupado pelo Senhor. Presença de Deus alimentada com jaculatórias, ações de graças, pedidos de ajuda, atos de amor e desagravo, pequenos sacrifícios que surgem no nosso trabalho ou que procuramos por nossa conta.
Oração
Ó Espírito poderoso, enviai o orvalho da vossa suavidade, concedei à minha alma e ao meu espírito que domina os sentidos, gozar a plenitude das graças de vossa grande misericórdia. Arai o campo inteligente do meu coração de carne, endurecido, para que possa acolher e fazer frutificar vossa semente espiritual. Confessamos que só pela vossa suma sabedoria todos os dons florescem e crescem em nós. Sois vós que santificais os apóstolos, inspirais os profetas, instruís os doutores, fazeis falarem os mudos e abri os ouvidos dos surdos... Sobre mim descansai vossa mão direita e fortificai-me com a graça da vossa misericórdia! Dissipai do meu espírito a turva névoa do esquecimento das coisas divinas e dispersai, juntamente com ela, as trevas do pecado, para que possa elevar-me da vida terrena às alturas, pela penetração do intelecto. Amém.
Pe. Divino Antônio Lopes FP (C) Anápolis, 04 de agosto de 2014
Bibliografia
Sagrada Escritura Pe. Gabriel de Santa Maria Madalena, Intimidade Divina Pe. Francisco Fernández Carvajal, Falar com Deus L. M. Martinez, El Espíritu Santo Concílio Vaticano II Santo Tomás de Aquino, Suma Teológica São Gregório de Narek, Le livre de prières São Josemaría Escrivá, É Cristo que passa R. Garrigou-Lagrange, Las tres edades de la vida interior A. Riaud, La acción del Espíritu Santo em las almas
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