NUNCA MAIS HAVERÁ MALDIÇÕES

(Ap 22, 1-21)

 

1 Mostrou-me depois um rio de água da vida, brilhante como cristal, que saía do trono de Deus e do Cordeiro. 2 No meio da praça, de um lado e do outro do rio, há árvores da vida que frutificam doze vezes, dando fruto a cada mês; e suas folhas servem para curar as nações. 3 Nunca mais haverá maldições. Nela estará o trono de Deus e do Cordeiro, e seus servos lhe prestarão culto; 4 verão sua face, e seu nome estará sobre suas frontes. 5 Já não haverá noite: ninguém mais precisará da luz da lâmpada, nem da luz do sol, porque o Senhor Deus brilhará sobre eles, e eles reinarão pelos séculos dos séculos. 6 Disse-me então: ‘Estas palavras são fiéis e verdadeiras, pois o Senhor, o Deus dos espíritos dos profetas, enviou o seu Anjo para mostrar aos seus servos o que deve acontecer muito em breve. 7 Eis que eu venho em breve! Feliz aquele que observa as palavras da profecia deste livro’. 8 Eu, João, fui o ouvinte e a testemunha ocular destas coisas. Tendo-as ouvido e visto, prostrei-me para adorar o Anjo que me havia mostrado tais coisas. 9 Ele, porém, me impediu: ‘Não! Não o faças! Sou servo como tu e como teus irmãos, os profetas, e como aqueles que observam as palavras deste livro. É a Deus que deves adorar!’ 10 E acrescentou: ‘Não retenhas em segredo as palavras da profecia deste livro, pois o Tempo está próximo. 11Que o injusto cometa ainda a injustiça e o sujo continue a sujar-se; que o justo pratique ainda a justiça e que o santo continue a santificar-se. 12 Eis que eu venho em breve, e trago comigo o salário para retribuir a cada um conforme o seu trabalho. 13 Eu sou o Alfa e o Ômega, o Primeiro e o Último, o Princípio e o Fim. 14 Felizes os que lavam suas vestes para terem poder sobre a árvore da Vida e para entrarem na Cidade pelas portas. 15 Ficarão de fora os cães, os mágicos, os impudicos, os homicidas, os idólatras e todos os que amam ou praticam a mentira’. 16 Eu, Jesus, enviei meu Anjo para vos atestar estas coisas a respeito das Igrejas. Eu sou o rebento da estirpe de Davi, a brilhante Estrela da manhã. 17 O Espírito e a Esposa dizem: ‘Vem!’ Que aquele que ouve diga também: ‘Vem!’ Que o sedento venha, e quem o deseja receba gratuitamente água da vida. 18 A todo o que ouve as palavras da profecia deste livro eu declaro: ‘Se alguém lhes fizer algum acréscimo, Deus lhe acrescentará as pragas descritas neste livro. 19 E se alguém tirar algo das palavras do livro desta profecia, Deus lhe tirará também a sua parte da árvore da Vida e da Cidade santa, que estão descritas neste livro!’ 20 Aquele que atesta estas coisas diz: ‘Sim, venho muito em breve!’ Amém! Vem, Senhor Jesus! 21 A graça do Senhor Jesus esteja com todos! Amém”.

 

Em Ap 22, 1-5 diz: Mostrou-me depois um rio de água da vida, brilhante como cristal, que saía do trono de Deus e do Cordeiro. No meio da praça, de um lado e do outro do rio, há árvores da vida que frutificam doze vezes, dando fruto a cada mês; e suas folhas servem para curar as nações. Nunca mais haverá maldições. Nela estará o trono de Deus e do Cordeiro, e seus servos lhe prestarão culto; verão sua face, e seu nome estará sobre suas frontes. Já não haverá noite: ninguém mais precisará da luz da lâmpada, nem da luz do sol, porque o Senhor Deus brilhará sobre eles, e eles reinarão pelos séculos dos séculos”.

 

Se a água da vida é símbolo do Espírito Santo (Ap 21, 6), com razão alguns Padres da Igreja e autores modernos veem nesta passagem um significa trinitário: o Espírito Santo, que procede do Pai e do Filho, representado pelo rio que surge do trono de Deus e do Cordeiro.

As árvores sempre verdes (Sl 1, 3), com frutos e com folhas medicinais, são uma imagem do gozo da vida eterna (Ez 47, 1-12; Sl 46, 5).

Também se recolhe a profecia de Zacarias 14, 11, onde se promete que nunca mais haverá anátema algum: o terrível herem das guerras hebraicas que, para evitar a contaminação dos cultos idolátricos pagãos, assolava cidades e campos, pegando-lhes fogo e exterminando homens e animais. Tudo será paz e segurança. Vê-se cumprido o desejo de todo o homem: a visão de Deus, impossível de realizar na terra. Agora contemplá-lo-ão todos os bem-aventurados (1 Cor 13, 12), tornando-se semelhantes a Ele por vê-lo tal qual é (1 Jo 3, 2). O nome de Deus sobre as suas frontes expressa a sua pertença ao Senhor (Ap 13, 16-17).

O Pe. José Salguero comenta: O autor sagrado continua no capítulo 22, 1-5 a descrição da Jerusalém celeste, e nos fala da felicidade de seus habitantes, servindo-se das imagens da água e da árvore da vida.

A água é escassa na Palestina. Não há nela nenhuma cidade por meio da qual corra um rio que a alegre, como sucedia em Nínive com o Tigre, em Babilônia com o Eufrates, e como no paraíso terrestre com aquela fonte que, dividida em quatro braços, o regava e alegrava tudo. Por isso Ezequiel 47, 1-12, em sua descrição da restauração de Jerusalém, cuida de por um rio que a fecunda com suas águas e dá frescor à formosa cidade. O profeta nos descreve um arroio que sai do templo e corre para o oriente e vai crescendo cada vez mais. Em ambas as margens desse rio crescem árvores frutíferas de toda espécie, que dão fruto cada mês e suas folhas são medicinais (Jl 4, 18; Jr 17, 13; Zc 14, 8; Sl 36, 9).

Pois, São João, para completar o quadro da Jerusalém do céu, põe também nela um rio de água da vida, clara como o cristal, que sai do trono de Deus e do Cordeiro (versículo 1) e corre pelas ruas da cidade. De um lado e do outro do rio existem árvores plantadas, árvores da vida, que dão frutos durante o ano e suas folhas são saudáveis para as nações (versículo 2). Tudo, pois, nela é saúde e vida (Ap 7, 17). Seus frutos são frutos da vida, como os do paraíso (Gn 2, 9; 3, 22), e as mesmas folhas são medicinais. A árvore da vida da Jerusalém celeste dá frutos continuamente para que todos possam comer deles quando desejarem. Estes frutos perenes são o símbolo e, ao mesmo tempo, significam o dom da imortalidade. Nessa cidade não haverá enfermidades nem morte, porque as mesmas folhas da árvore da vida servirão de medicina para as pessoas. Refere-se à conversão dos mundanos quando começarem a vislumbrar o triunfo da Igreja e a glória da Jerusalém celeste. Todas essas imagens servem para expressar a felicidade dos moradores do céu que gozam da vida eterna sem temor algum de enfermidade nem de morte. São símbolos para significar como Deus se comunica aos eleitos. O rio, as  árvores com seus frutos e suas folhas, simbolizam a abundância dos dons e das consolações de que gozarão os bem-aventurados no céu, e especialmente a visão beatífica, pela qual Deus se comunica aos eleitos com todos os seus bens. A visão beatífica é o rio que alegra a Jerusalém celeste, e no qual bebem os santos, obtendo desta maneira a consolação de todas as aflições passadas e a glória e imortalidade dos corpos.

Este rio que nasce no trono onde se sentam Deus e o Cordeiro representa a Deus enquanto se comunica aos eleitos: simboliza o Espírito Santo. E nesse sentido parece constituir uma alusão trinitária bastante clara, já que os rios de águas vivas simbolizam em São João (Jo 7, 38-39; Ap 7, 17) o dom do Espírito Santo. Deste modo, no topo da Jerusalém celeste vemos toda a Trindade: o Pai ilumina a cidade com a sua glória, o Cordeiro a ilustra com a sua doutrina e o Espírito Santo a rega e a fecunda com toda classe de bens espirituais (comenta E. B. Allo).

Os versículos 3 até 5 mostram a natureza da felicidade dos eleitos servindo-se de expressões já encontradas anteriormente. Os bem-aventurados não terão medo algum de perder a bem-aventurança nem de ser expulsos do céu, porque ali não tem lugar para tentação, nem pecado nem dor. No paraíso terrestre nossos primeiros pais foram tentados, caíram no pecado, e com ele perderam todos os dons preternaturais que possuíam. Não sucederá assim na Jerusalém celeste: Nunca mais haverá maldições. Nela estará o trono de Deus e do Cordeiro, e seus servos lhe prestarão culto (versículo 3). Então se cumprirá o que foi dito pelo profeta Zacarias sobre a Jerusalém messiânica: E morarão nela, e já nunca mais será condenado e morarão em segurança (Zc  14, 11). Não haverá perigo de que a nova Jerusalém seja condenada e aniquilada, tão comum nas guerras antigas. Os eleitos no céu não temerão a condenação, porque não haverá pecado. A bem-aventurança dos predestinados se caracterizará por uma tranquilidade sem limites. Reinarão, sem serem perturbados, sobre todo o universo e por toda a eternidade. No céu verão a Deus face a face (versículo 4), com o qual ficará satisfeito, pois a visão da essência divina é o que propriamente faz bem-aventurados aos santos (Sl 17, 15; 41, 3). A visão de Deus face a face, privilégio exclusivo do Filho de Deus (Jo 1, 18) e dos anjos (Mt 18, 10), será – segundo a promessa do Novo Testamento – a herança de todos os filhos de Deus, herdeiros de Jesus Cristo (Rm 8, 17). São Paulo também afirma que no céu veremos a Deus face a face: Agora vemos em espelho e de maneira confusa, mas, depois, veremos face a face. Agora meu conhecimento é limitado, mas, depois, conhecerei como sou conhecido (1 Cor 13, 12). E o mesmo São João ensina na sua Primeira Epístola: Sabemos que quando aparecer seremos semelhantes a Ele, porque o veremos tal qual é (1 Jo 3, 2). Esta ideia da visão beatífica, da plena felicidade no céu, sem dúvida que seria de efeito para infundir novos alentos aos cristãos perseguidos. Os que se mantiverem fiéis a Deus neste mundo reinarão com Ele e com o Cordeiro para sempre no céu.

Os santos no céu levarão o nome de Deus sobre a fronte para

Indicar que pertencem eternamente a Deus e que sempre serão de Deus. Reinarão pelos séculos dos séculos (versículo 5) com Jesus Cristo e lhe servirão como sacerdotes numa liturgia eterna (Ap 1, 6; 5, 10). Ninguém mais precisará da luz da lâmpada, nem da luz do sol, porque o Senhor Deus brilhará sobre eles (Ap 21, 23).

O Pe. Miguel Nicolau explica: São João Evangelista entrou na cidade. Entremos com ele. O anjo lhe mostra o rio de água viva. A mesma água viva pode significar o Espírito Santo.

A árvore da vida dá fruto contínuo, do qual todos podem facilmente comer. É símbolo do dom da imortalidade. Não haverá na Jerusalém celeste enfermidade nem morte, porque as folhas dessa árvore são medicinais (Ez 47, 12). São João acrescenta que servirão de medicina para os mundanos.

Os cidadãos da nova Jerusalém definitiva não temerão condenação, porque não haverá pecado.

O único trono de Deus, O Pai, e do Cordeiro, permanecerá para sempre na Jerusalém eterna. Ninguém pode ver a face de Deus (Ex 33, 20), porque a Deus, tal como é, ninguém lhe viu (Jo 1, 18). Ver o rosto de Deus, ainda confusamente, implica um alto grau de santidade (Mt 5, 8; Hb 12, 14; 1 Jo 3, 2). Nesta Jerusalém feliz, os cidadãos verão o rosto de Deus face a face, e ficarão satisfeitos. A noite da mentira não existirá mais. Não necessitarão de lâmpadas, pequenas nem grandes. Deus brilhará sobre eles. Como as penas dos condenados durarão para sempre; assim também a alegria dos escolhidos e salvos durarão para sempre.

 

Em Ap 22, 6-9 diz: “Disse-me então: ‘Estas palavras são fiéis e verdadeiras, pois o Senhor, o Deus dos espíritos dos profetas, enviou o seu Anjo para mostrar aos seus servos o que deve acontecer muito em breve. Eis que eu venho em breve! Feliz aquele que observa as palavras da profecia deste livro’.  Eu, João, fui o ouvinte e a testemunha ocular destas coisas. Tendo-as ouvido e visto, prostrei-me para adorar o Anjo que me havia mostrado tais coisas.  Ele, porém, me impediu: ‘Não! Não o faças! Sou servo como tu e como teus irmãos, os profetas, e como aqueles que observam as palavras deste livro. É a Deus que deves adorar!’”

 

As visões do autor concluem com a reafirmação da veracidade das palavras escritas (versículo 5 até 9), e com uma solene advertência de ameaça e de bem-aventurança diante da certeza do seu cumprimento (versículo 10 até 15).

A veracidade de quanto se disse tem o seu fundamento em Deus, que é a própria verdade. Assim costuma apresentar São João a autoridade e a verdade do seu ensinamento (Ap 1, 1. 9; Jo 19, 35; 1 Jo 1, 1ss.). Tem consciência de ter escrito do mesmo modo que falavam os Profetas, inspirados pelo Deus dos espíritos dos Profetas. Daí que o seu escrito se apresenta como profecia.

Insiste ao mesmo tempo na iminência da vinha do Senhor: três vezes o repete nestas últimas linhas (versículos 7. 12 e 20),  expressando dessa forma a certeza da sua chegada, e criando assim um clima de vigília e de esperança, que mantém alerta o leitor do livro sobre a prontidão da chegada divina.

Precisamente porque este escrito tem caráter profético, Deus chama bem-aventurados aqueles que creem e proclamam o que contém o livro. É a atitude que exigia Jesus Cristo diante da palavra do Pai e da sua: quando uma mulher proclama ditosa a sua Mãe, Santa Maria, o Senhor responde que ditosos são antes aqueles que escutam a palavra de Deus e a cumprem (Lc 11, 28), e assegura que aquele que escuta a sua palavra e a cumpre é como quem edifica sobre fundamentos de pedra (Mt 7, 24). Também São Tiago adverte: Haveis de pô-la em prática, e não só escutá-la, enganando-vos a vós próprios (Tg 1, 22).

O Pe. José Salguero comenta: O que fala parece que deve ser o mesmo anjo que havia servido de intérprete a São João na última seção (Ap 21, 9). Porém, as palavras que disse no versículo 7 só convém a Jesus Cristo. O interlocutor assegura que o que se tem no livro se cumprirá, e pronto, porque as palavras do Senhor são fiéis e verdadeiras (versículo 6). Esta garantia se refere ao conjunto do Apocalipse, pois a referência do versículo 6 até 7 e Ap 1, 1-3 é bastante clara. Pelo estilo e as referências se vê que o autor do epílogo foi o que escreveu o prólogo e o resto do Apocalipse. O que envia o anjo é chamado o Senhor, Deus dos espíritos dos profetas, porque Deus lhes comunicou de seu espírito de profecia. Para entender todo o sentido essas palavras é conveniente voltarmos os olhos ao Antigo Testamento. São muitas as promessa de Deus, cujo cumprimento das mesmas vai se atrasando cada vez mais, de sorte que alguns já duvidam delas. Porém, a palavra de Deus não podia faltar, e Jesus Cristo veio dar-lhe um cumprimento muito acima de quanto podiam os homens esperar. Por isso, o Senhor é chamado de Fiel e Verdadeiro em Apocalipse (Ap 3, 14; 19, 11); e Jesus Cristo no Evangelho disse de si mesmo que é a Verdade (Jo 14, 6). A ideia de que essas promessas se cumpriram rapidamente aparece muitas vezes no Apocalipse. Entretanto, é preciso saber que essas promessas possuem muitos graus, os quais vão se desenvolvendo pouco a pouco. E se o cumprimento delas atrasa, é um segredo do Pai celeste; não obstante, o tempo comparado com a eternidade é apenas um momento. O Deus da revelação é o Deus dos espíritos dos profetas, expressão que pode ser explicada pelo texto de 1 Cor 14, 32, onde espírito significa inspirações. Trata-se dos dons proféticos, cuja fonte está em Deus. Ele é o que enviou suas inspirações a São João por ministério de seu anjo (Ap 1, 1) (comenta A. Gelin).

No versículo 7 é o mesmo Jesus Cristo o que toma a palavra para confirmar o que foi falado pelo anjo sobre a proximidade de sua vinda. A expressão venho logo se lê outras vezes neste epílogo (Ap 22, 12. 20), e também nos primeiros capítulos do Apocalipse (Ap 2, 16; 3, 11). Parece como refletir a tensão espiritual de São João que espera a chegada iminente de Jesus Cristo. E quer que os cristãos se preparem para o dia de sua parusia. A vinda de Jesus Cristo aqui, como a vinda de Deus no Antigo Testamento, pode ter lugar em diversos tempos e segundo a obra que venha realizar. Sempre que o Senhor intervém na história de uma maneira especial, pode dizer que se há produzido uma vinda sua. Assim, a vinda pode ser mais ou menos rápida. Para cada cristão em particular, a vinda de Cristo tem lugar na morte individual, pois com ela se decide seu destino eterno (comenta M. Garcia Cordero).  Por isso, o que vigia e o que está atento à chegada do Senhor poderá ser chamado bem-aventurado, porque Deus premiará a fidelidade com a glória eterna. Se os cristãos guardam as palavras da profecia do Apocalipse sendo fiéis, Deus será mais fiel ainda às promessas feitas. Esta bem-aventurança é a sexta das sete que conta o Apocalipse (Ap 1, 3; 14, 13; 16, 15; 19, 9; 20, 6; 22, 7. 14). Nela se põe de relevo que, se o cristão quiser conquistar o céu, deve cumprir os preceitos divinos. Não basta ter somente a fé para conseguir a felicidade eterna.

Depois São João testemunha a verdade de todo o exposto no Apocalipse. E eu, João, ouvi e vi estas coisas (versículo 8).

O anjo termina dizendo: adora a Deus, que resume com força o pensamento de São João e enquadra bem com o Apocalipse, que é um protesto contínuo contra a idolatria.

 

Em Ap 22, 10-15 diz: “E acrescentou: ‘Não retenhas em segredo as palavras da profecia deste livro, pois o Tempo está próximo. Que o injusto cometa ainda a injustiça e o sujo continue a sujar-se; que o justo pratique ainda a justiça e que o santo continue a santificar-se.  Eis que eu venho em breve, e trago comigo o salário para retribuir a cada um conforme o seu trabalho.  Eu sou o Alfa e o Ômega, o Primeiro e o Último, o Princípio e o Fim.  Felizes os que lavam suas vestes para terem poder sobre a árvore da Vida e para entrarem na Cidade pelas portas. Ficarão de fora os cães, os mágicos, os impudicos, os homicidas, os idólatras e todos os que amam ou praticam a mentira’”.

 

De modo diferente de outras revelações (Ap 10, 4; Dn 8, 26), Deus expressa sua vontade de que todos conheçam as que São João acaba de escrever; os cristãos haviam de sentir-se consolados e cheios de ânimo e fortaleza nas provações que teriam de padecer. Há de concluir-se o caminho empreendido (versículo 11), porque o fim aproxima-se: não deixa de haver uma certa ironia nessas palavras que ridicularizam aqueles que empenham em permanecer numa conduta depravada, sem querer reconhecer o próprio pecado e retificar a tempo. Em qualquer dos casos, apresenta-se a realidade do juízo que fará Jesus Cristo na sua segunda vinda, o qual ao exercer esse poder judicial exclusivo de Deus aparece com os atributos divinos. Daí a confiança do cristão diante do juízo, como escrevia Santa Teresa de Jesus: Oxalá sua Majestade nos dê a entender antes que nos tire desta vida, porque será grande coisa na hora da morte ver que vamos ser julgados por quem teremos amado sobre todas as coisas. Seguros podemos ir com o pleito das nossas dívidas. Não será a terra estranha, mas própria; pois é a que tanto amamos e nos ama.

As vestes lavadas com o sangue do Cordeiro são um modo de expressar que os justos se purificaram, aplicando-lhes os méritos da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus Cristo.

O Pe. José Salguero comenta: Segundo o contexto, seria o anjo do versículo 9 o que continua falando; entretanto, as palavras do versículo 10 até 15 só podem ser colocadas nos lábios de Jesus Cristo, por causa da gravidade das declarações que seguem. Jesus Cristo ordena a São João que não retenhas em segredo as palavras da profecia deste livro, pois o Tempo está próximo (versículo 10). O Apocalipse está ordenado em grande parte a consolar e animar aos fiéis, mostrando-lhes a especialíssima providência de Deus sobre eles. Por isso, São João não pode fechar esses oráculos, para que em qualquer tempo possam os cristãos encontrar neles alívio e consolo.

Em contraste com a literatura apocalíptica, onde frequentemente ordena de manter em segredo as visões recebidas (Dn 8, 26; Ap 12, 4. 9), a revelação recebida por São João não há de permanecer oculta, mas que interessa manifestá-la à geração presente. As profecias contidas nela começavam já a cumprir-se, e, portanto, era urgente tirar proveito delas, preparando-se para quando chegassem os acontecimentos. Esta recomendação tinha particular interesse para os contemporâneos de São João, que eram testemunhas dos feitos aos quais refere no Apocalipse. Isto resulta particularmente claro pelo que se refere do  capítulo 2 até 13 do Apocalipse. Porém, também o resto do livro se apresenta intimamente ligado com o que precede em virtude do artifício literário chamado recapitulação, segundo o qual o Apocalipse não poderia expor uma série contínua e cronológica de sucessos futuros, mas que descreveria os mesmos sucessos em diversas formas. Para São João o mesmo que para os antigos profetas, o futuro se apresenta na sua mente sem perspectiva propriamente temporal ou cronológica. A vinda do reino de Deus terá lugar depois da ruína de Roma, do mesmo modo que o reino messiânico é associado em Isaías à derrota da Assíria (Isaías, capítulo 9 até 11).

O plano de Deus se cumprirá de todas as maneiras. A má vontade dos homens não poderá impedir o plano providencial divino. Por este motivo, o vidente de Patmos declara com certa ironia que, enquanto chega o cumprimento da profecia, cada um considera o que lhe convém fazer: se trabalhar na obra de sua santificação ou deixar-se levar pelo pecado e pelo vício (versículo 11). É uma figura retórica, a permissão, que se encontra em diversas passagens do Antigo Testamento (Is 6, 9-10; Jr 15, 2; Zc 11, 9). O verdadeiro cristão há de trabalhar para santificar-se: que o justo pratique ainda a justiça e que o santo continue a santificar-se. A perseguição revelará as disposições íntimas de cada um. Porém, a vinda de Jesus Cristo fixará a cada um na atitude que escolhera livremente.  Esta vinda é anunciada como iminente pelo mesmo Jesus Cristo. Eis que venho em breve (Is 40, 10) para dar a cada um o prêmio ou o castigo, segundo as obras realizadas (versículo 12). Isso terá lugar no fim da vida de cada um, e de um modo especial no fim do mundo, quando o homem todo inteiro, em corpo e alma, receberá a retribuição merecida (Ap 20, 12). O salário, o prêmio ou castigo que o Senhor trará consigo, se dará a cada um segundo as obras praticadas. O tema do salário ou recompensa é frequente na Sagrada Escritura (Is 40, 10; Sl 62, 13; Mt 16, 27) e incluso no Apocalipse (Ap 2, 23; 11, 18). Jesus Cristo se apresenta nesta passagem como Juiz supremo, com o qual se dá a indicar que está no mesmo plano de igualdade com Deus Pai, pois em outros lugares do Apocalipse Deus Pai era o juiz (Ap 16, 7; 19, 2; 20, 12).

Todas estas palavras de Jesus Cristo insistem na iminência de sua vinda e trazem à memória as parábolas da vigilância que tanto repete Jesus no Evangelho (Mt 24, 42-51; Mc 13, 33-27; Lc 12, 35-47).

Jesus Cristo se aplica a si mesmo, como em Ap 1, 17; 2, 8, os títulos divinos que já antes (Ap 1, 8; 21, 6) haviam sido atribuídos a Deus. Ele é o alfa e o ômega, o primeiro e o último, o princípio e o fim (versículo 13). Com o qual mostra que Ele é Deus, igual ao Pai, e que, portanto, tem poder para manter suas promessas e suas ameaças. Pode julgar aos homens como Senhor soberano de toda criação. Daí que declara bem-aventurados aos que lavam suas túnicas no sangue do Cordeiro (versículo 14), isto é, aos que souberam aproveitar dos efeitos da redenção. Estes são os únicos que poderão ter as vestes limpas para serem admitidos ao banquete celeste. A lavagem das vestes dos eleitos só poderá acontecem no sangue do Cordeiro (Ap 7, 14). Esta bem-aventurança é a sétima e última do Apocalipse. Os que foram purificados no sangue do Cordeiro, ou seja, os que vivem santamente, adquirem o direito de comer dos frutos da árvore da vida e de entrar pelas portas da Jerusalém celeste (Ap 21, 12-13. 27) para permanecer nela eternamente. Ter acesso na árvore da vida e à Jerusalém celeste é o mesmo que entrar na glória (Ap 21, 27; 22, 1-2).

Desta cidade santa serão excluídos os que não praticam a lei de Deus e os que se deixaram arrastar pelos caminhos da imoralidade (Ap 21, 8. 27). Em primeiro lugar não terão parte na felicidade eterna os cachorros (versículo 15), isto é, os sodomitas e todos os manchados com os vícios dos idólatras (Rm 1, 26-32). O cachorro era considerado pelos hebreus como animal impuro, e era, por este motivo, desprezado.  No Antigo Testamento, a expressão cachorros é usada para designar aos homens entregues à prostituição e aos vícios de homossexualidade (Dt 23, 18). Aqui simboliza aos homens impuros e viciosos (Ap 21, 8, 27). Também não entrarão no céu os feiticeiros, ou seja, os que dedicam às artes mágicas muito espalhado na Ásia Menor no século I; nem os fornicadores que cometem todo tipo de imoralidade (1 Cor 5, 10); nem os homicidas que derramavam o sangue  inocentes dos cristãos ou dos pobres escravos (Mc 6, 21ss. ; Rm 1, 29); nem dos idólatras, que, em lugar de adorar ao Deus único e verdadeiro, ofereciam culto aos deuses falsos. Culto que muitas vezes incitava e conduzia à perversão moral.  A lista termina excluindo da Jerusalém celeste a todos os que amam e praticam a mentira, isto é, a todos os que se opõem à doutrina de Jesus Cristo que é a única verdadeira. Jesus Cristo é a mesma Verdade (Jo 1, 17; 14, 6; 17, 17). Por isso, o que pratica a mentira se faz amigo de Satanás que é o pai da mentira (Jo 8, 44), e não pode ter parte com Jesus Cristo, fonte da Verdade.

 

Em Ap 22, 16 diz: “Eu, Jesus, enviei meu Anjo para vos atestar estas coisas a respeito das Igrejas. Eu sou o rebento da estirpe de Davi, a brilhante Estrela da manhã”.

 

Jesus Cristo, de modo solene, dirige-se aos fiéis e ratifica a autenticidade do conteúdo profético do livro. Desta forma começa o epílogo, no qual ficará também expressado o testemunho da Igreja (versículo 17), do autor escrito (versículos 18 e 19), e, de novo, antes da saudação epistolar, a confirmação por parte de Jesus Cristo (versículo 20).

Os títulos aplicados a Jesus Cristo põem em destaque a sua linguagem hebraica e davídica, condição imprescindível para o que havia de ser o Messias. Em lugar de raiz, noutras passagens fala-se de rebento ou vergôntea que brota verde e pujante do idoso tronco de Jessé (Is 11, 1). Quanto à estrela ou luzeiro da manhã, é outra metáfora para designar o Messias, segundo a passagem de Nm 24, 17.

O Pe. José Salguero comenta: O Apocalipse começava com uma visão introdutória na que aparecia Jesus Cristo escrevendo as cartas às sete igrejas. Aqui o mesmo Cristo dá testemunho da verdade das revelações contidas no dito livro, e declara como Senhor dos anjos: enviei meu Anjo para vos atestar estas coisas a respeito das Igrejas (versículo 16). É, pois, um novo testemunho da autenticidade do livro dado pelo mesmo Jesus (versículos 6-7). O anjo de que nos fala o versículo 16 pode muito bem ser o último que fala ao vidente de Patmos, ou talvez pudesse ser um nome coletivo que abrange a todos os anjos que aparecem no Apocalipse como intérprete de São João.

Jesus Cristo, que antes se declarava princípio e fim (Ap 22, 13), agora se diz a raiz e da linhagem de Davi, ou seja, que Jesus Cristo se apresenta a si mesmo com os caracteres do verdadeiro Messias para que ninguém sinta medo de cair na ilusão (Ap 5, 5). Jesus Cristo é, além disso, a brilhante Estrela da manhã, que anuncia o despontar daquele dia eterno no qual não haverá noite (Ap 2, 28). Esta estrela é também o símbolo do principado de Jesus Cristo sobre todos os santos e sobre todos os reis da terra. No claro céu do Oriente, o luzeiro da manhã brilha sobre todos os astros. Pois esta estrela é comparada a Jesus Cristo, que no quarto Evangelho diz que é luz do mundo (Jo 9, 5). E d’Ele diz o próprio São João que é a luz verdadeira que vem a este mundo para iluminar a todo homem (Jo 1, 4-9).

 

Em Ap 22, 17 diz: “O Espírito e a Esposa dizem: ‘Vem!’ Que aquele que ouve diga também: ‘Vem!’ Que o sedento venha, e quem o deseja receba gratuitamente água da vida”.

 

A Esposa é a Igreja que, em resposta à promessa de Jesus Cristo (Ap 22, 12), deseja ardentemente e suplica a vinda do Senhor. A Igreja ora movida pelo Espírito Santo, de tal forma que as vozes de ambos se fundem num mesmo apelo. Convida-se cada cristão a unir-se a essa mesma oração, e a encontrar na Igreja o dom do Espírito, simbolizando na água da vida (Ap 21, 6), que faz saborear antecipadamente os bens do Reino. Sob estas expressões percebe-se o contexto litúrgico da Igreja em oração e celebração sacramental.

O Pe. José Salguero comenta: O Espírito Santo que habita na Igreja e que no coração dos fiéis reza com gemidos inenarráveis (Rm 8, 26), dirige de contínuo a Jesus Cristo a súplica do Pai Eterno: venha o teu reino. É o Espírito divino o que realiza no coração da Esposa, isto é, no coração da Igreja, enquanto vive e luta ainda na terra, e lhe faz pedir ao Senhor, seu Esposo, que acelere sua vinda para livrá-la das tribulações. A Igreja deseja ardentemente sua vinda, porque será o sinal da libertação da perseguição. A Igreja, a semelhança de São Paulo, que desejava ser desatada dos laços do corpo para estar com Jesus Cristo (Fl 1, 23), suspira por poder unir-se ao Esposo na glória. Iguais desejos hão de ter quantos ouvem a leitura do Apocalipse, dizendo também: Vem! Esta súplica que dirigem a Jesus Cristo é o Marana-tha, Senhor, vem, fórmula aramaica que se repetia durante as reuniões litúrgicas (1 Cor 16, 22). O Apocalipse apresenta-a traduzida em grego. São João, dirigindo-se a todas as almas de boa vontade, lhes convida, dizendo: o que tem fome e sede de justiça e de felicidade verdadeira, que venha beber da fonte da água da vida (Is 55, 1) que brota do templo e refresca a cidade de Deus. A água da vida é o dom atual da graça, da união espiritual com Jesus Cristo, da qual participam as almas e que é garantia da imortalidade.

 

Em Ap 22, 18-19 diz: “A todo o que ouve as palavras da profecia deste livro eu declaro: ‘Se alguém lhes fizer algum acréscimo, Deus lhe acrescentará as pragas descritas neste livro.  E se alguém tirar algo das palavras do livro desta profecia, Deus lhe tirará também a sua parte da árvore da Vida e da Cidade santa, que estão descritas neste livro!’”

 

Com expressões semelhantes à de Dt 4, 2, o autor do Apocalipse adverte agora da imutabilidade do conteúdo do livro: precisamente porque também é revelação de Deus. Ninguém poderá manipulá-la, acrescentando ou tirando, sem que o próprio Deus lhe peça a devida conta. O que diz aqui São João sobre o conteúdo do seu livro é aplicável a toda a Revelação divina. Daí que São Paulo escrevesse aos Gálatas que é digno de anátema, de excomunhão, quem se atreva a modificar o Evangelho, a mensagem de fé recebida, inclusivamente ainda que aparecesse um Anjo (Gl 1, 8).

A Igreja, receptora e custódia da Revelação feita por Jesus Cristo, guarda fielmente, com assistência do Espírito Santo, o que recebeu. Como ensina São Vicente de Lerins, na Igreja Católica há que pôr o maior cuidado para manter o que foi crido em todas as partes, sempre e por todos (...). A própria natureza da religião exige que tudo seja transmitido aos filhos com a mesma fidelidade com que foi recebido dos pais. Tão intocável é o depositum fidei que a verdadeira atividade ecumênica significa abertura, aproximação, disponibilidade para o diálogo, busca comum da verdade no pleno sentido evangélico e cristão; mas de nenhum modo significa renunciar ou causar prejuízo de alguma maneira aos tesouros da verdade divina, constantemente confessada e ensinada pela Igreja.

O Pe. José Salguero comenta: Em nome de Deus, o vidente de Patmos proíbe severamente aos fiéis de acrescentar ou omitir algo das profecias do Apocalipse (versículo 18). Ao que se atrever a acrescentar algo, Deus enviará sobre eles as pragas escritas neste livro. A gravidade do castigo nos demonstra que o autor sagrado considerava a mensagem do Apocalipse como algo muito importante para a salvação dos homens. Por isso, quer tomar suas precauções contra as possíveis falsificações do livro. Tais recomendações e comunicações encaminhadas para proteger a integridade do livro sagrado, não são novas, pois já se encontram em outros livros da Bíblia (Dt 4, 2; 13, 1; 29, 19; Pr 30, 6). São João se inspira aqui nas recomendações que frequentemente põe os escritores no final de suas obras rogando aos que copiam que corrijam com cuidado. A razão profunda desta imutabilidade do Apocalipse se há de buscar na convicção que tinha São João de sua origem divina. O  vidente parece que estava seguro de que o livro era inspirado, o que é de suma importância para a história do cânon. E precisamente por se tratar de uma obra inspirada pelo Espirito Santo, ameaça com a ira de Deus ao que se atrever a acrescentar ou tirar algo. E o que fizer isso não terá parte na árvore da vida, nem será contado entre os cidadãos da Jerusalém celeste, nem estará escrito no livro da vida (versículo 19).  Expressões todas que indicam a exclusão da bem-aventurança eterna. Os falsificadores da mensagem de Jesus Cristo não irão ao céu.

 

Em Ap 22, 20-21 diz: “Aquele que atesta estas coisas diz: ‘Sim, venho muito em breve!’ Amém! Vem, Senhor Jesus! A graça do Senhor Jesus esteja com todos! Amém”.

 

O próprio Jesus Cristo responde à súplica da Igreja e do Espírito: Sim, vou imediatamente. A ideia repete-se sete vezes ao longo do livro (Ap 2, 16; 3, 11; 16, 15; 22, 7. 12. 17 e 20), indicando assim a firmeza e segurança dessa promessa. Apoiado nesta passagem, exorta São João Paulo II: Seja, pois, Cristo o vosso ponto seguro de referência, o fundamento de uma confiança que não conhece vacilações. Que a invocação apaixonada da Igreja: Vem, Senhor Jesus, se converta no suspiro espontâneo do vosso coração, jamais satisfeito com o presente, porque tende sempre para o ainda não do cumprimento prometido.

Aquela invocação – Vem, Senhor Jesus! – era como uma jaculatória dos primeiros cristãos que inclusive ficou plasmada em aramaico, a língua que falavam Jesus Cristo e os Apóstolos: Marana-tha (1 Cor 16, 22; Didaché, 10, 6). Hoje, traduzida para os nossos idiomas, repete-se como aclamação na Santa Missa, depois da elevação. Dessa forma, a liturgia da terra harmoniza-se com a do céu. E agora, como em cada uma das Missas, chega ao nosso coração necessitado de consolação a resposta tranquilizadora: Aquele que dá testemunho destas coisas diz: Sim, vou imediatamente.

São João Paulo II escreve: Sustentados por esta certeza, recomeçamos a marcha pelos caminhos do mundo, sentindo-nos mais unidos e solidários entre nós e, ao mesmo tempo, levando no coração o desejo que se tornou mais ardente de comunicar aos irmãos, o gozoso anúncio de que no horizonte da sua existência surgiu a estrela radiante da manhã (Ap 22, 16): o Redentor do homem, Cristo Senhor.

O Pe. José Salguero comenta: De novo volta a falar Jesus Cristo e promete a sua próxima vinda: Sim, venho em breve. É a resposta do Senhor à chamada que lhe haviam feito o Espírito, a Esposa e os leitores do livro (Ap 22, 17), e, como tal, constitui o selo definitivo com o qual se rubrica a esperança ansiosa dos cristãos perseguidos. São João, em nome seu e de toda a Igreja, implora com grande fé e expressa seu ardente desejo de que a vinda do Senhor se execute quanto antes: Amém. Vem, Senhor Jesus. O amém constitui um ato de fé nas promessas de Jesus Cristo e ao mesmo tempo expressa a ânsia de que cumpram o antes possível. A expressão Vem, Senhor Jesus devia de ser uma oração entre os primeiros cristãos, pois São Paulo nos há conservado o original aramaico, Marana-tha (1 Cor 16, 22), que deviam usar os fiéis nas assembleias litúrgicas. A exclamação Marana-tha se encontra também na Didaché e pode ter diferentes sentidos. O sentido que melhor enquadra aqui é o de simples desejo: Vem, Senhor Jesus! Também pode ter o matiz de um sinal secreto conhecido somente pelos cristãos, que, a modo de rubrica, garantiria a autenticidade do livro (comenta E. Hommel).

São João Evangelista encerra o Apocalipse com esta belíssima frase, cheia de fé e de esperança: Vem, Senhor Jesus! É como o resumo de todo o livro. As angústias e perseguições passarão quando Jesus Cristo vier visitar os seus seguidores. Então enxugará todas as lágrimas dos cristãos aflitos.

A graça do Senhor Jesus esteja com todos! Amém.

O vidente de Patmos termina o livro como frequentemente termina as cartas, desejando a todos a graça do Senhor Jesus para praticar o bem e fugir do mal. O Apocalipse começa e termina em forma de carta, pois na realidade é uma espécie de epístola enviada às igrejas cristãs da Ásia Menor (Ap 1, 4). A graça que seja aos seus leitores implica todos os favores divinos que dimanam de Jesus Cristo e que ajudam a conseguir a salvação eterna.

São João Evangelista mostra nesta saudação final sua caridade, não só para com os fiéis da Ásia, mas também para com todos os cristãos.

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP (C)

Anápolis, 28 de junho de 2015

 

 

Bibliografia

 

Sagrada Escritura

Edições Theologica

Santa Teresa de Jesus, Caminho de perfeição, capítulo 40, 8

São Vicente de Lerins, Commonitorio, 2 e 6

São João Paulo II, Redemptor hominis, 6; Homilia, 18 – 05 – 1980

Didaché, 10, 6

E. B. Allo, o. c. p. 353

A. Gelin, o. c. p. 665

E. Hommel, Marana-tha

M. Garcia Cordero, o. c. p. 226

Pe. José Salguero, Bíblia Comentada

Pe. Miguel Nicolau, A Sagrada Escritura

 

 

 

 

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