NÃO TE ENVERGONHES DE CONFESSAR

(Eclo 4, 31)

 

“Não te envergonhes de confessar os teus pecados”.

 

São Francisco de Sales escreve: “Tantos encantos tem a confissão e tantos perfumes exala para o céu e a terra, que tira e sara toda a fealdade e podridão do pecado”.

Santo Tomás de Aquino ensina: “A graça sacramental sempre acrescenta algo à graça habitual”.

Santo Agostinho escreve: “Se queres saúde, beleza e santidade de alma, ama a confissão”.

Agradeçamos de coração a Nosso Senhor Jesus Cristo por ter INSTITUÍDO, em seu amor para conosco, o SACRAMENTO da PENITÊNCIA; agradeçamos-Lhe tão preciosa INSTITUIÇÃO. É como um BANHO SAGRADO que lava todos os nossos pecados, como um divino canal que faz correr sobre nós a graça; é uma escola de prudentes conselhos e de animação para o bem; é finalmente o meio mais eficaz  para corrigir os nossos defeitos e nos obrigar a progredir na prática das virtudes. Feliz da pessoa que usa bem desta admirável invenção do amor divino!

Nosso Senhor instituiu na sua Igreja o sacramento da penitência ou confissão para purificar as nossas almas das suas culpas todas as vezes que se acham manchadas (São Francisco de Sales).

 

1. AS NOSSAS CONFISSÕES DEVEM SER HUMILDES

 

Devemos apresentar-nos diante do sacerdote cheios de respeito e de humildade, como um pecador diante do anjo de Deus, diante de outro Jesus Cristo; como um enfermo coberto de asquerosas chagas diante do médico que pode curá-las... se as declaram quais são; como um réu que ofendeu a Majestade Divina e que mereceu as penas do inferno... diante do supremo juiz que tem na sua mão a sentença da nossa vida ou da nossa morte eterna. Não podendo obter a título de justiça, mas somente a título de clemência e de misericórdia, não devemos apresentar-nos senão com profunda humildade interior e exterior, confessando os nossos pecados, não com a indiferença de quem conta uma história, mas com a vergonha e a dor de uma alma que compreende os seus erros; não se desculpando para evitar a confusão de aparecer culpado, mas acusando-os sem considerações que tendam a fazer que julguem os pecados menores do que são diante de Deus; não com altivez e arrogância, como se tivéssemos feito alguma boa ação, mas com modéstia e lamentando a nossa miséria, temendo mais os juízos de Deus do que os dos homens.

São Francisco de Sales escreve: “Confessa-te com humildade e devoção...”

São João Bosco diz: “Em nenhum outro exercício se praticam tantas virtudes como na confissão: De fato, exercita-se a fé, a esperança, a caridade, a humildade...”

Monsenhor Cauly ensina: “A confissão deve ser humilde: não é narração que se faz ao confessor, é acusação; portanto, a atitude do penitente deve ser a do culpado perante o juiz e suas declarações devem ser impregnadas de dor”.

São Pio X escreve: “A acusação deve ser humilde, quer dizer que o penitente deve acusar-se diante do seu confessor sem altivez de ânimo ou de palavras, mas com sentimentos de um réu que reconhece a sua culpa e comparece diante do juiz”.

 

2. AS NOSSAS CONFISSÕES DEVEM SER SINCERAS

 

A confissão sincera consiste em declarar com toda a candura e simplicidade o que nos lembra, sem nos inquietarmos com os esquecimentos possíveis, pois que a falta de memória não é um pecado perante Deus. É mal exagerar as nossas culpas a pretexto de que é melhor  dizer mais do que menos; não é prudente o enfermo que exagera ao médico o que padece. É pior ainda ocultar os nossos pecados, envolvendo-os artificialmente com outras acusações menos penosas e omitindo o que custa mais, pelo desejo de que o confessor o não advirta. O penitente sincero só aspira a mostrar-se tal qual é, e aborrece a astúcia e o artifício. É mal também desculpar os nossos pecados ou diligenciar que pareçam menores, imputando-os a outrem, como fizeram Adão e Eva. Mas o que é sumamente mal é encobrir os nossos pecados por vergonha. Então o sacramento de misericórdia muda-se em maldição, a obra da salvação em obra de reprovação e a sentença de vida em sentença de morte. Mais valeria mil vezes não nos confessarmos. É possível enganar o homem, não se engana a Deus que conhece o oculto dos corações; por um pecado não declarado ao sacerdote, todos os que se cometeram aparecerão um dia aos olhos do universo, e por uma pequena vergonha que se julga evitar nesta vida, há de ser coberto na outra de uma eterna confusão.

Examinemos aqui as nossas confissões. Temos declarado os nossos pecados sem disfarces, sem desculpas e sem lhes dar engenhosamente cores que ocultem a sua deformidade? Temos confessado as coisas certas como certas, as duvidosas como duvidosas, e evitado as palavras supérfluas e inúteis, os termos vagos, obscuros, equívocos, que impedem o confessor de conhecer a verdade?

Monsenhor Cauly ensina: “A confissão deve ser sincera, isto é, devem-se acusar as faltas com franqueza e simplicidade, sem as exagerar, mas também sem diminuí-las nem disfarçá-las. Esconder voluntariamente um pecado mortal ou julgado mortal seria fazer confissão sacrílega e tornar nula a absolvição que se recebesse. Neste caso seria necessário recomeçar a confissão mal feita e todas aquelas que a seguiram enquanto não se tivesse reparado a primeira, e cumpriria declarar o sacrilégio ou os sacrilégios cometidos”.

São Pio X escreve: “A acusação sincera significa que é necessário declarar os pecados como eles são, sem os desculpar, sem os diminuir e sem os aumentar”.

 

3. AS NOSSAS CONFISSÕES DEVEM SER INTEIRAS

 

Para que as confissões tenham a integridade requerida, não basta acusar os pecados mortais; mas é preciso ainda: 1.º Dizer quantas vezes os cometemos, declarar as suas circunstâncias agravantes ou que mudam as espécies, as suas consequências desagradáveis, por exemplo: se houve escândalo, se a maledicência foi em matéria grave, na presença de muitas pessoas, contra um superior ou um sacerdote; se foi inspirado pelo ódio, pelo ressentimento ou pela vingança... e quando se acusa uma desobediência, se esta desobediência foi acompanhada de arrogância, de desprezo ou de aspereza. Sem isto, o confessor não conhece suficientemente o estado do penitente para formar a respeito dele um prudente juízo. É preciso: 2.º Acusar os pecados veniais. Ainda que isto não seja de rigoroso preceito, é, todavia, importantíssimo fazê-lo: a) Porque o confessor não conhecendo senão imperfeitamente o penitente, não poderia encaminhá-lo com segurança nem para as comunhões que lhe permitisse, nem para os outros atos da vida cristã, nem para a reforma dos seus defeitos ou para a aquisição das virtudes. b) Porque a acusação dos pecados veniais faz que o penitente cuide mais em evitá-los, e é ajudado nisso pela graça do sacramento, pelos conselhos do confessor e pela vergonha da acusação.

São Pio X explica: “A acusação deve ser íntegra, quer dizer que se devem confessar, com as suas circunstâncias e no seu número,  todos os pecados mortais cometidos desde a última confissão bem feita, e dos quais se tem consciência. Para que a acusação seja íntegra, devem acusar-se as circunstâncias que mudam a espécie do pecado. As circunstâncias que mudam a espécie do pecado são: 1.º Aquelas pelas quais uma ação pecaminosa de venial se torna mortal. 2.º Aquelas pelas quais uma ação pecaminosa contém a malícia de dois ou mais pecados mortais. Quem, para se desculpar, dissesse uma mentira da qual resultasse dano grave para o próximo, deveria manifestar esta circunstância, que muda a mentira de oficiosa em gravemente nociva. Quem tivesse roubado uma coisa sagrada deveria acusar esta circunstância, que acrescenta ao furto a malícia do sacrilégio”.

Monsenhor Cauly ensina: “A confissão deve ser inteira, isto é, segundo o ensino do Concílio de Trento: ‘É preciso declarar todos os pecados mortais que se recordam’ depois de um exame de consciência sério. Ora, esta integridade da confissão exige: 1.º Que se dê a conhecer a espécie ou natureza do pecado, isto é, contra qual mandamento, qual virtude ou qual dever foi cometido. 2.º Que se indique, quanto possível, o número exato dos pecados mortais. É evidente que, quanto mais faltas houver, tanto maior será a culpabilidade. 3.º Que se declarem as circunstâncias que mudam a espécie, isto é, que modificam a natureza, ou fazem um mesmo ato ficar em oposição a vários deveres, a várias virtudes. Damos algumas circunstâncias que mudam a espécie: mentir depois de ter jurado falar a verdade; bater nos pais ou numa pessoa consagrada a Deus; roubar um objeto sagrado, ou num lugar santo. Em matéria de luxúria, muitas vezes a condição da pessoa que comete o pecado ou daquela em cuja companhia é cometido muda a espécie do pecado. 4.º Devem se declarar ainda as circunstâncias que sem mudar a espécie do pecado aumentam notavelmente a malícia numa mesma espécie. Quanto aos pecados veniais, não é necessário acusá-los, nem, portanto, dar a conhecer o número, as circunstâncias. Todavia, é útil confessá-los; pois é o meio mais fácil e mais seguro de alcançar o perdão”.

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP (C)

Anápolis, 07 de abril de 2016

 

 

Bibliografia

 

Sagrada Escritura

São Francisco de Sales, Filotéia

Monsenhor Cauly, Curso de Instrução Religiosa

M. Hamon, Meditações para todos os dias do ano

Santo Tomás de Aquino, III pars, p. 62, a. II

Santo Agostinho, Escritos

São João Bosco, Memória Biográfica, v. 5, p. 544

São Pio X, Catecismo Maior

Concílio de Trento

Adolfo Tanquerey, Compêndio de Teologia Ascética e Mística

 

 

 

 

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Pe. Divino Antônio Lopes FP. “Não te envergonhes de confessar”

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