GUARDA A TUA ESPADA (Mt 26, 52)
“Guarda a tua espada no seu lugar, pois todos os que pegam a espada pela espada perecerão”.
Significa que “todo aquele que, sem a autoridade do poder supremo derrama o sangue de outro, é réu de morte” (Santo Agostinho). Jesus Cristo reprime o zelo indiscreto e inútil do fogoso apóstolo com umas palavras cheias de mansidão e resignação. Recorda uma máxima proverbial, conforme a qual a violência gera a violência, pois o reino que Ele vem estabelecer se fundará na caridade, na abnegação e na paciência, para trazer aos homens a paz verdadeira, como já havia pregado no sermão da montanha (Mt 5, 39-42). Por outra parte, se nos planos de Deus houvesse entrado que ele se defendesse com a força, lhe bastasse pedir o auxílio de seu Pai Celeste, que podia socorrê-lo imediatamente com doze legiões de anjos. Uma legião do exército romano constava de dez coortes, isto é, de quatro a seis mil homens. Por conseguinte, doze legiões representavam um corpo de exército muito considerável. Naturalmente que Jesus Cristo, ao usar estes termos concretos, quis significar que em sua mão estava, se quisesse, frustrar os planos de seus inimigos. Porém, como acrescenta imediatamente, é necessário que se cumpra o profetizado nas Escrituras do Antigo Testamento, segundo as quais Cristo devia entregar-se sem resistência, como ovelha que levam ao matadouro, segundo se lê em Isaías 53,7. Orígenes interpreta assim: “Os autores de guerras e revoltas perecerão com elas”. São Jerônimo e São Beda entendem da espada espiritual ou vingança divina que sofrerão na vida ou na outra. Eutímio pensa que se refere Cristo somente aos judeus, que por causa de sua morte perecerão sob a espada dos romanos. Jesus Cristo não quis dizer que materialmente todos os que usam da espada pela espada morrerão, já que muitos deles não serão mortos dessa maneira; mas se limita a recordar a lei que mandava matar ao homicida: O que derrama sangue humano, também terá o seu derramado (Gn 9, 6). Nem disse que pena haverão de padecer expressamente, mas que castigo merece como já indicaram Santo Agostinho e Teofilacto. Muitos se admiram de que Jesus Cristo repreendesse a São Pedro porque rebatia a força com a força a fim de defender a seu Mestre, coisa lícita pelo direito natural divino e humano. Santo Agostinho pensa que a repreensão não foi por haver cortado a orelha do servo do pontífice, pois julga que o fez com a permissão do mesmo Cristo, o qual deduz daquela frase de São Lucas 22, 51: Basta; como se dissesse: Basta por ter cortado a orelha desse homem; agora, põe a espada na bainha, acrescenta São João 18, 11; porque todo aquele que usa da espada, pela espada morrerá, segundo disse aqui São Mateus. Só, segue Santo Agostinho, tratou de deter São Pedro para que não passasse adiante. Por que então Jesus Cristo repreendeu São Pedro? Porque ele não poderia se defender sozinho: que poderia um homem só contra toda uma coorte, senão irritar aos soldados para que tratassem pior a Jesus Cristo? Se Cristo quisesse se livrar dos soldados, poderia muito bem pedir ao Pai Celeste a ajuda dos anjos; mas preferiu o Senhor obedecer à vontade do seu Pai e cumprir o que foi dito pelos profetas. Cristo não aceitou aquela defesa violenta. As suas palavras aludem à oração no horto (Mt 26, 39), em que tinha aceitado livremente a Vontade do Pai, entregando-se sem resistência para levar a cabo a Redenção pela Cruz (Edições Theologica). Malco, por ser servo do Sumo Sacerdote, se sentiu no dever de tomar a frente para encorajar os outros inimigos do Senhor: Malco estava mais indignado que os outros contra o Salvador, e assim entendeu que devia demonstrar diante dos outros. Por isso, quando o Senhor se deu a conhecer, Malco, com mais atrevimento que os outros, adiantou-se para o prender (Pe. Luis de La Palma). Tudo indica que Malco levava um capacete, a espada resvalou e atingiu a orelha, cortando-a. Jesus, Manso Cordeiro, não aprovou a atitude de Pedro, e mandou que o mesmo guardasse a espada: “Guarda a tua espada no seu lugar, pois todos os que pegam a espada pela espada perecerão” (Mt 26, 52). Nosso Salvador não quer que façamos o mal a ninguém, mesmo aos inimigos que insistem em nos destruir. Ele, Humilde e Manso Cordeiro, quer que paguemos o mal com o bem: “…amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem” (Mt 5, 44), e: “Amai os vossos inimigos, fazei o bem aos que vos odeiam, bendizei os que vos amaldiçoam, orai por aqueles que vos difamam” (Lc 6, 27-28). Jesus Cristo não estava à procura de alguém para defendê-lo, porque se o mesmo quisesse, pediria para o Pai enviar algumas legiões de anjos que são bem mais fortes que a espada de Pedro: “Ou pensas tu que eu não poderia apelar para o meu Pai, para que ele pusesse à minha disposição, agora mesmo, mais de doze legiões de anjos?” (Mt 26, 53). O que estava acontecendo, foi profetizado há muitos séculos, e convinha que acontecesse tudo isso: “E como se cumpririam então as Escrituras, segundo as quais isso deve acontecer?” (Mt 26, 54).
Pe. Divino Antônio Lopes FP (C) Anápolis, 11 de maio de 2016
Bibliografia
Sagrada Escritura Santo Agostinho, Escritos Dom Duarte Leopoldo, Concordância dos Santos Evangelhos Pe. Juan Leal, A Sagrada Escritura, texto e comentário Pe. Juan de Maldonado, Comentário de São Lucas Orígenes, Escritos São Jerônimo, Escritos São Beda, Escritos Eutímio, Escritos Teofilacto, Escritos Edições Theologica Pe. Luis de La Palma, A Paixão do Senhor
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