O DIVINO INFANTE CHOROU

(Jo 11, 35)

 

“E Jesus chorou”.

 

 

 

 As lágrimas do Menino Jesus foram muito diferentes das que as outras crianças derramam quando nascem: “Estas choram de dor, mas Jesus não chora de dor, mas sim, de compaixão para conosco e de amor” (São Bernardo de Claraval). Chorar por alguém é sinal de grande amor. Por esta razão os Judeus, ao verem o Salvador chorar a morte de Lázaro, diziam: “Vede como o amava”. Da mesma forma os anjos, vendo as lágrimas de Jesus Menino podiam dizer: Vede como nosso Deus ama os homens, pois por amor deles vemo-lO feito homem, feito criança, vemo-lO chorar.

Católico, se o Senhor nos ama, não Lhe viremos as costas como pessoas ingratas, mas paguemos amor com amor; abramos o nosso coração e O acolhamos com sinceridade e alegria.

Será que existe maior e melhor ocupação do que a de amar verdadeiramente a Deus? Por nosso amor Ele se fez homem... Quanto amor!

Amemos apaixonadamente a Deus! Se Deus a cada instante se dá a nós com amor infinito, não cabe a nós, criaturas miseráveis, dar-nos a Ele com todo o nosso ser, de modo que todas as nossas obras sejam dirigidas a Ele com toda a intensidade de amor de que somos capazes?

Católico, como é belo, como é grande conhecer, amar e servir a Deus! É a única coisa que temos para fazer neste mundo. Tudo o que fazemos afora isto, é tempo perdido.

O Bom Deus nos colocou na terra para ver como nos comportaríamos e se O amaríamos; mas ninguém permanece nela para sempre.

O homem foi criado para o amor e é por isso que é tão propenso a amar.

O homem criado para o amor não pode viver sem o amor: ou ama a Deus, ou ama a si mesmo ou ama o mundo...

Não se pode amar a Deus sem testemunhar esse nosso amor com as nossas obras.

Amar a Deus com todo o nosso coração é amar somente a Ele, é torná-lO presente em tudo aquilo que amamos.

Amar a Deus não consiste somente em dizer-lhe com a boca: meu Deus, eu te amo. Amar a Deus com todo o coração, com toda a mente e com todas as forças é preferi-lO a tudo; é estar pronto a perder os bens, a honra, a própria vida do que ofendê-lO. Amar a Deus é não amar nada acima d’Ele, nada que compartilhe com Ele o nosso coração.

Mesmo se não houvesse outra vida, já seria uma felicidade bastante grande o fato de amarmos a Deus nesta vida, de servi-lO e de poder fazer alguma coisa pela sua glória.

Se pudéssemos compreender a felicidade que temos de poder amar a Deus, ficaríamos imóveis, isto é, em êxtase.

Não há nada tão usual entre os cristãos como dizer: Meu Deus, te amo; e nada mais raro, talvez, que o amor de Deus.

Enquanto não amardes o vosso Deus, jamais estareis contentes: tudo vos oprimirá, tudo vos enfastiará...

Afora do Bom Deus... nada é estável, nada, nada! Se é a vida, ela passa; se é a riqueza, ela desmorona; se é a saúde, ela é destruída; se é o renome, ele é afetado. Passamos como o vento... Tudo some em grande velocidade, tudo se precipita. Como são dignos de pena os que dedicam seus afetos a qualquer coisa! Afeiçoam-se a qualquer coisa porque amam-se demasiado a si mesmos; mas não se amam com um amor racional; amam-se com o amor de si mesmos e do mundo, buscando a si mesmos, procurando as criaturas mais que a Deus. Por isso nunca estão satisfeitos, nunca estão tranqüilos; acham-se sempre inquietos, sempre atormentados, sempre transtornados...

Católico, Jesus chorava e oferecia as suas lágrimas ao Pai Eterno, para obter para nós o perdão dos nossos pecados: “Aquelas lágrimas lavaram os meus crimes” (Santo Ambrósio). Com seus gemidos, Jesus suplicava misericórdia por nós que estávamos condenados à morte eterna e aplacava a indignação de seu Pai. Quanto intercederam a nosso favor as lágrimas do divino Menino! Como aceitas foram de Deus! Foi então que Deus Pai mandou anunciar pelos anjos que já queria fazer a paz com os homens e recebê-los em sua graça: “Na terra paz aos homens de boa vontade”.

Agradeçamos ao Menino Deus por nos amar tanto... não tratemos tanto amor com frieza e indiferença como fazem os mundanos que servem o mundo e seguem as trevas.

Católico, a ingratidão fere... sangra o coração... arranca lágrimas... Não sejamos ingratos para com o Nosso Amado Deus.

Quão amável é Jesus! N’Ele, encontramos divinamente toda Beleza, toda Bondade e toda Perfeição.

Ainda não O amávamos, e Ele já nos tinha Amor.

Jesus nos amou desde toda a eternidade, pois desde sempre estávamos presentes aos Seus olhos. Via-nos, amava-nos e nos preparou os Seus Dons e as suas Graças.  

Jesus nos ama pessoalmente, como se só a nós tivesse de amar no mundo. Ama-nos com amor de ternura, como o homem não saberia amar, com amor generoso, de que o homem é incapaz.    

Sejamos fiéis a Cristo Jesus... O amemos apaixonadamente... Que o nosso amor por Ele nunca se esfrie, seja na alegria, seja na tristeza. Ainda que todas as atividades corporais desapareçam, o amor nunca deve faltar.

É grande loucura abandonar o Filho de Deus para seguir o príncipe das trevas. Será que existe maior ingratidão?         

Jesus chora de amor; mas chora também de dor à vista de tão grande número de pecadores que, apesar de tantas lágrimas e de tanto sangue derramado para a salvação deles, não deixariam de desprezar a sua graça.

Católico, você consta entre o número desses ingratos? Você pisa e cospe na graça de Deus? Se você despreza a graça de Deus, então você é um louco, de todos o mais louco: “Neste mundo deveria haver dois grandes cárceres: um para aqueles que não têm fé, e outro para aqueles que, tendo-a, vivem em pecado e afastados de Deus. A estes conviria o hospício de loucos” (São João de Ávila), e: “Que imensa loucura é, portanto, perder a graça de Deus em troca de um pouco de fumo e de um breve deleite!” (Santo Afonso Maria de Ligório).

Cleópatra, essa infame rainha do Egito, querendo exceder a todos os excessos e a todas as dissoluções que Marco Antônio havia ostentado nos seus banquetes, mandou trazer no fim de um festim, um frasco de vinagre fino e lançou nele a pérola de um dos seus brincos, avaliada em duzentos e cinqüenta mil escudos, e depois de derretida e liquefeita engoliu-a.

Assim acontece com milhões de católicos durante o Tempo do Santo Natal; esses, mergulhados nas trevas do mundo, jogam, não um brinco, mais sim, a preciosa “jóia” da Graça Santificante no “vinagre” do pecado, e vivem na escuridão.

Católico, quem será tão cruel que, vendo o Menino Deus chorar as nossas culpas, não chore também e não deteste os pecados que tanto tem feito chorar o nosso Amantíssimo Senhor? Não agravemos mais os padecimentos deste Inocente Menino, mas consolemo-lO misturando as nossas lágrimas com as Suas. Ofereçamos a Deus as lágrimas de seu Filho, e roguemos-Lhe que pelos merecimentos delas nos perdoe.

Ó meu Amado Menino Jesus, quando estáveis chorando na Gruta de Belém, pensáveis em mim, porquanto, o que Vos fazia chorar era a previsão dos meus pecados. É verdade, pois, ó meu Jesus, que, em vez de Vos consolar com o meu amor e a minha gratidão ao ver quanto tendes padecido pela minha salvação, agravei a Vossa dor e a causa das Vossas lágrimas. Se eu tivesse cometido menos pecados, teríeis chorado menos. Chorai, ó Jesus, chorai; reconheço que tendes motivo para chorar prevendo a grande ingratidão dos homens, depois do tão grande amor Vosso. Mas, já que chorais, chorai também por mim; as Vossas lágrimas são a minha esperança. Eu também choro os desgostos que Vos tenho dado, ó Redentor meu; abomino-os, detesto-os e deles me arrependo de todo o meu coração.

Deploro todos os dias e todas as noites infelizes que passei em Vossa inimizade e privado da Vossa graça; porém, ó meu Jesus, para que serviriam as minhas lágrimas sem as Vossas?

Pai Eterno, ofereço-Vos as lágrimas do Menino Jesus; perdoai-me por amor delas. E Vós, ó meu amado Salvador, oferecei a Vosso Pai todas as lágrimas que em Vossa vida derramastes por mim, e fazei com que me seja propício. Peço-Vos também, Amor meu, que enterneçais com as Vossas lágrimas o meu coração e o abraseis no vosso santo amor. Quem me dera que de hoje em diante Vos consolasse tanto com o meu amor, quanto Vos fiz sofrer com os meus pecados! Concedei-me, ó Senhor, que os dias de vida que ainda me restam, não sirvam mais para Vos dar novos desgostos, senão parar chorar todos os que Vos tenho dado e para amar-Vos com todo o afeto da minha alma.

 

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP.

Anápolis, 01 de janeiro de 2009

 

 

Bibliografia

 

Bíblia Sagrada

Santa Teresa dos Andes, Cartas

Santa Catarina de Sena, Cartas

São Francisco de Sales, Tratado do amor de Deus

São João Maria Vianney, Escritos

Santo Afonso Maria de Ligório, Meditações

São Pedro Julião Eymard, Escritos e Sermões

 

 

 

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