EU SOU A SERVA DO SENHOR (Lc 1, 26-38)
“26 No sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galiléia, chamada Nazaré, 27a uma virgem desposada com um varão chamado José, da casa de Davi; e o nome da virgem era Maria. 28 Entrando onde ela estava, disse-lhe: ‘Alegra-te, cheia de graça, o Senhor está contigo!’ 29 Ela ficou intrigada com essa palavra e pôs-se a pensar qual seria o significado da saudação. 30 O Anjo, porém, acrescentou: ‘Não temas, Maria! Encontraste graça junto de Deus. 31 Eis que conceberás no teu seio e darás à luz um filho, e tu o chamarás com o nome de Jesus. 32 Ele será grande, será chamado Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de Davi, seu pai; 33 ele reinará na casa de Jacó para sempre, e o seu reinado não terá fim’. 34 Maria, porém, disse ao Anjo: ‘Como é que vai ser isso, se eu não conheço homem algum?’ 35 O anjo lhe respondeu: ‘O Espírito Santo virá sobre ti e o poder do Altíssimo vai te cobrir com a sua sombra; por isso o Santo que nascer será chamado Filho de Deus. 36 Também Isabel, tua parenta, concebeu um filho na velhice, e este é o sexto mês para aquela que chamavam de estéril. 37 Para Deus, com efeito, nada é impossível’. 38 Disse, então, Maria: ‘Eu sou a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra!’ E o Anjo a deixou”.
O anjo Gabriel foi enviado por vontade de Deus, e não por vontade de uma criatura: “... o anjo Gabriel foi enviado por Deus” (Lc 1, 26). O anjo chamado Gabriel não tomou a iniciativa... mas foi enviado da parte de Deus, não em seu nome ou de outro (comentam: Santo Irineu, Santo Agostinho, São Gregório Magno, São João Damasceno e São Bernardo de Claraval).
Os espíritos celestiais, escreve São Basílio Magno, não vêm a nós por si mesmos, mas sim, quando convém para nossa utilidade, porque atendem a ordem da divina sabedoria: “... o anjo Gabriel foi enviado por Deus” (Lc 1, 26). Devemos imitar os anjos e não fazer a nossa vontade própria, mas somente a vontade do Criador: “Desapareça a vontade própria e não haverá mais inferno” (São Bernardo do Claraval).
À Virgem Maria, escreve São Gregório Magno, não foi enviado um anjo qualquer, mas o arcanjo São Gabriel. Quis que viesse um anjo dos primeiros para anunciar os mistérios. É chamado pelo próprio nome, o qual mostra o que vale em suas obras, pois o nome de Gabriel significa fortaleza de Deus. Por que “qualquer?” O mesmo santo explica: “Aqueles que anunciam fatos menores são ditos anjos; os que levam as maiores notícias, arcanjos”. São Gabriel Arcanjo trouxe uma grande notícia. Sejamos devotos dos Santos Anjos, principalmente do nosso Anjo da Guarda: “Sejamos-lhes fiéis, sejamos gratos a tão grandes protetores; paguemos-lhes com amor; honremo-los tanto quanto pudermos, quanto devemos” (São Bernardo de Claraval).
A Virgem Maria morava em Nazaré, sendo uma cidadezinha de pouca importância: “... o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galiléia, chamada Nazaré”(Lc 1, 26). Busquemos agradar a Deus vivendo longe dos aplausos e elogios das criaturas: “Pois todo aquele que se exalta será humilhado, e quem se humilha será exaltado” (Lc 14, 11).
Nazaré era uma cidade de pouca importância, mas silenciosa e cercada de belezas naturais. A alma transfigurada de Maria Santíssima, aberta assim a toda a espécie de belezas, rejubilava-se em ver um panorama tão belo, assim como se alegra toda criatura de Deus no admirar as obras grandiosas do Pai celeste: “... o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galiléia, chamada Nazaré” (Lc 1, 26). Busquemos o silêncio... quem vive no barulho não consegue encontrar a Deus. O silêncio é uma necessidade para o homem. Quem se dá sem nunca se encher, acaba por se esvaziar: “Minha alma adora Deus no centro de mim mesma” (Santa Teresa de Jesus).
Deus escolheu uma virgem judia de quinze anos, chamada Maria, descendente do grande rei Davi, que vivia obscuramente com seus pais na aldeia de Nazaré. Sob o impulso da graça, Maria tinha oferecido a Deus a sua virgindade, coisa que fazia parte do desígnio divino sobre ela: “... a uma virgem desposada com um varão chamado José, da casa de Davi; e o nome da virgem era Maria” (Lc 1, 27). Deus é Onipotente, Eterno... Onisciente! Ele sabe de tudo e conhece a todos... chama quem Ele quer para o seu serviço. Estejamos sempre com o coração aberto para o chamado do Senhor! “Não tenhais medo de acolher Cristo e de aceitar o seu poder!” (São João Paulo II).
Querida e amada por Deus desde toda a eternidade como Mãe do seu Unigênito, ocupa Maria o primeiro lugar entre os que o Pai “escolheu em Cristo, antes da criação do mundo, para serem santos e imaculados diante dele” (Ef 1, 4). Em primeiro lugar, pela singular plenitude da graça e santidade com que Deus a adornou desde sua imaculada conceição. Em segundo lugar, porque previsto pelo Altíssimo juntamente com a Encarnação do Verbo, antes de qualquer outra criatura: “... a uma virgem desposada com um varão chamado José, da casa de Davi; e o nome da virgem era Maria” (Lc 1, 27). Deus também nos amou desde toda a eternidade. Sejamos fiéis ao Senhor e vivamos com amor e alegria na sua santa presença: “Jesus amou-me desde toda a eternidade, pois desde sempre eu estava presente aos seus olhos. Via-me, amava-me e preparou-me os seus dons e as suas graças” (São Pedro Julião Eymard).
A Santíssima Virgem foi escolhida para ser Mãe de Deus, e, para tanto, o Altíssimo capacitou-a com a sua graça. Antes de ser Mãe, foi Maria adornada de uma santidade tão perfeita que a pôs à altura dessa grande dignidade: “... a uma virgem desposada com um varão chamado José, da casa de Davi; e o nome da virgem era Maria” (Lc 1, 27). É vontade do Criador que sejamos santos! Devemos percorrer o caminho da luz vivendo os Mandamentos da Lei de Deus e da Igreja... eliminando da nossa vida tudo o que desagrada ao Senhor: “Porquanto, é esta a vontade de Deus: a vossa santificação” (1 Ts 4, 3).
A virgindade de Maria foi confiada a São José, e a de São José, confiada a Maria. Disse bem ambas as coisas a Sagrada Escritura, escreve Santo Ambrósio, que seria desposada e Virgem. Prossegue, pois, dizendo “desposada”. Virgem, para que constasse que desconhecia a união marital. Desposada, para que ficasse ilesa da infâmia de uma virgindade manchada: “... a uma virgem desposada com um varão chamado José” (Lc 1, 27). Sejamos apóstolos da pureza! Falemos a todos sobre a grandeza da virgindade e o horror da impureza: “Pela impureza é que o maior número das almas vai para o inferno” (Santo Afonso Maria de Ligório).
Escolhido pelo Espírito Santo, São José foi o guarda da pureza virginal da rainha dos anjos, a pureza mais perfeita que jamais houve sobre a terra: “... a uma virgem desposada com um varão chamado José” (Lc 1, 27). Feliz da pessoa que ajuda o próximo, através do exemplo e do bom conselho, a viver a castidade... essa pessoa agrada a Deus: “A alma a que não se pegou a mais leve nódoa de impureza, é o que há de mais belo na terra. Nela vive Deus como num templo. Nela descansa e se compraz no suavíssimo aroma que exala o fragrante lírio da pureza” (Pe. Alexandrino Monteiro).
Deus não enviou um anjo “qualquer” para anunciar a Maria... mas sim, o Arcanjo São Gabriel. O Espírito Santo não escolheu um José qualquer para ser o esposo da Virgem Maria; mas sim, escolheu São José, o justo (Mt 1, 19): “... a uma virgem desposada com um varão chamado José” (Lc 1, 27). Vivamos unidos à Virgem Maria, realizando todas as ações para agradá-la. A Virgem merece o melhor: “Fazer todas as ações por Maria... com Maria... em Maria e para Maria” (São Luís Maria Grignion de Montfort).
Honório dizia que o nome de Maria é cheio de divina doçura. Santo Antônio de Pádua nele achava tanta doçura como São Boaventura no nome de Jesus: “... e o nome da virgem era Maria” (Lc 1, 27). Pronunciemos com respeito o nome de Maria! O nome de Maria é alegria para o coração, mel para a boca e melodia para o ouvido de seus devotos.
São Bernardo de Claraval diz que os demônios tremem só em ouvir pronunciar o nome de Maria: “... e o nome da virgem era Maria” (Lc 1, 27). Durante as tentações, pronunciemos com devoção o nome de Maria, e a fera nefasta se afastará.
O nome de Maria é como um bálsamo que corre agradavelmente sobre os membros dos enfermos e os penetra com eficácia. Ele é semelhante a este óleo que, por suas unções, reanima e suaviza, dá força, flexibilidade e saúde: “... e o nome da virgem era Maria” (Lc 1, 27). Diante das dificuldades que surgem todos os dias pelo caminho, busquemos força no nome de Maria e venceremos todos os obstáculos com valentia e ousadia.
O nome de Maria cura todos os nossos males, ilumina nossa cegueira, comove nosso endurecimento e nos encoraja em nossos desânimos: “... e o nome da virgem era Maria” (Lc 1, 27). Para caminhar com segurança por esse mundo mergulhado nas trevas, o nome de Maria é luz que ilumina por onde devemos passar sem tropeçar.
Não há doença, por desastrosa que seja, que não ceda imediatamente à voz desse bendito nome: “... e o nome da virgem era Maria” (Lc 1, 27). Não há pecador, por mais criminoso, que pronuncie em vão esse nome. Embora merecesse, por suas faltas, todas as cóleras do céu, ele se vê protegido como por inviolável para-raios, logo que articule o nome de Maria.
Quantas tentações por ele foram vencidas, quantos pecados evitados, quantos imundos corações purificados, quantas penosas confissões extraídas de almas que se cria para sempre fechadas! “... e o nome da virgem era Maria” (Lc 1, 27). O nome de Maria é uma “chave” que abre os corações fechados para uma confissão sincera.
São Boaventura ensina: Feliz o que ama o nome de Maria, porque este santo nome é uma fonte de graça que refresca a alma sedenta e a faz produzir frutos de justiça: “... e o nome da virgem era Maria” (Lc 1, 27). Quem pronuncia com frequência o nome de Maria não necessita das coisas passageiras desse mundo, porque esse nome é fonte que mata a sede espiritual.
São Bernardo de Claraval ensina que o santo nome de Maria não pode passar pela boca sem abrasar o coração: “... e o nome da virgem era Maria” (Lc 1, 27). O nome de Maria aquece os corações gélidos e conserva os corações fervorosos sempre “acesos”. Um coração não pode permanecer indiferente diante do nome de Maria.
São Boaventura diz que o nome de Maria é glorioso e admirável. O que leva esse nome em seu coração se verá livre do medo da morte. Basta pronunciá-lo para fazer tremer a todo inferno e por em fuga a todos os demônios. O que deseja possuir a paz e a alegria do coração, que honre esse santo nome: “... e o nome da virgem era Maria” (Lc 1, 27). Quem pronuncia com devoção e respeito o nome de Maria vive seguro e não teme passar dessa vida para a outra... enfrenta os obstáculos com firmeza e perseverança. Sabe muito bem que a Virgem Maria não o abandonará nas horas difíceis!
A Virgem Maria não estava perambulando pelas ruas de Nazaré... mas estava recolhida: “Conhece aqui a Virgem por seus costumes. Sozinha, em sua casa, a quem nenhum homem podia vê-la, só um anjo podia encontrá-la. Por isso diz: ‘E havendo entrado o anjo onde estava Maria’. E para que não fosse manchada com um diálogo indigno dela, é saudada pelo anjo” (Santo Ambrósio). “Entrando onde ela estava” (Lc 1, 28). Feliz da pessoa que cria um ambiente de calma, recolhimento e silêncio. Evitando gritos, gestos desordenados e palavras inúteis.
Nossa Senhora estava rezando... oração prolongada; o Arcanjo Gabriel não apareceu subitamente numa visão, mas entrou, como se fosse pessoa humana, porém, irradiando luz: “Entrando onde ela estava”(Lc 1, 28). É grande sabedoria rezar sem cessar... dialogar com o Senhor que nos criou. Quem reza permanece com o coração aberto para Deus e recebe muitas graças: “Da oração depende a nossa mudança de vida, o vencer das tentações: dela depende conseguirmos o amor de Deus, a perfeição, a perseverança e a salvação eterna” (Santo Afonso Maria de Ligório).
Quando o Arcanjo São Gabriel entrou, tudo indica que a Virgem Maria estava dentro de casa (comenta isso Santo Ambrósio, Eusébio Emiseno, Andrés de Jerusalém, São Beda e São Bernardo de Claraval). Alguns pensam que o Arcanjo entrou estando a porta fechada, pois sendo um espírito não necessitava que se lhe abrisse... e isso combina muito bem com a pureza e santidade da Virgem Maria. Com certeza, a Virgem não estava ociosa: “Entrando onde ela estava” (Lc 1, 28). A ociosidade não pode agradar a Deus e prejudica muito a vida espiritual: “O ócio é pai dos vícios; e o vício da incontinência é o primogênito de todos. Os santos sempre evitaram o ócio e amaram o trabalho, inclusive os que se dedicavam de modo especial à oração. Quando se trabalha, não sobra mais espaço para maus pensamentos” (Bem-aventurado José Allamano).
A aparição do Arcanjo Gabriel foi na casa de Nossa Senhora. Pelos dados arqueológicos da velha Nazaré, devia ser uma espécie de gruta ou escavação, de uma habitação só, e tendo diante um rochedo de pedras, que a fechava, como fachada (Lagrange). “Entrando onde ela estava” (Lc 1, 28). A Santíssima Virgem não estava perdendo tempo nas casas das vizinhas... jogando palavras fora, como fazem muitas mulheres desocupadas e preguiçosas. Ela estava na sua casa, aproveitando bem o tempo.
É claro que se trata de uma alegria totalmente singular pela notícia que lhe vai comunicar a seguir: “Entrando onde ela estava, disse-lhe: ‘Alegra-te’” (Lc 1, 28). O nosso Anjo da Guarda nos ilumina e nos orienta no caminho do bem. Ele nos “diz” com frequência: “Alegra-te”, porque é um Anjo bom. “Diz” que não devemos ter medo, mas sim, bom ânimo. Para mostrar que é nosso amigo e não inimigo nos “diz”: “Alegra-te”: “É muito valiosa a assistência que o Anjo da Guarda nos pode prestar na vida interior, pois facilita a nossa piedade, orienta-nos na oração mental e nas orações vocais, e move-nos particularmente a procurar a presença de Deus por meio de atos frequentes” (Pe. Francisco Fernández Carvajal).
Essa saudação nunca foi usada para saudar a nenhum mortal, comentam Orígenes, Santo Ambrósio e São Beda. Unicamente para a Virgem Maria foi reservada essa saudação; somente ela alcançou essa graça: “Alegra-te, cheia de graça” (Lc 1, 28). O verdadeiro devoto da Virgem Maria deve se esforçar para viver sempre na graça santificante, o maior de todos os tesouros. Ele jamais será cheio de graça, mas se salvará. Quem morre na graça de Deus não se condena.
Os Padres e Doutores da Igreja ensinaram que com esta singular e solene saudação, jamais ouvida, se manifestava que a Mãe de Deus era assento de todas as graças divinas e que estava adornada de todos os carismas do Espírito Santo, pelo que jamais esteve sujeita a maldição: “Alegra-te, cheia de graça” (Lc 1, 28). O filho devoto de Nossa Senhora percorre o caminho da luz e se esforça para evitar todos os pecados, também os pecados vênias. Ele não está imune do pecado, mas luta com força para não ofender ao Criador.
A Virgem Maria foi sempre rica da graça, acima de todos os santos: “Alegra-te, cheia de graça” (Lc 1, 28). Assim como Nossa Senhora está acima de todos os santos, é dever do seu devoto trabalhar com amor e alegria para tornar-se santo e grande santo... jamais se contentar com o pouco ou médio: “... que o santo continua a santificar-se” (Ap 22, 11).
Estas palavras não têm um mero sentido deprecatório (o Senhor esteja contigo), mas afirmativo (o Senhor está contigo), e em relação muito estreita com a Encarnação: “O Senhor está contigo, pondo na boca do arcanjo estas palavras: Mais que comigo, Ele está no teu coração, forma-se no teu ventre, enche a tua alma, está no teu seio” (Santo Agostinho). “... o Senhor está contigo!” (Lc 1, 28). Quem não deseja ardentemente possuir Deus na alma? Somente os incrédulos! Quem possui Deus na alma é rico de todos os bens e vive na luz, preparado para a Eternidade Feliz.
Santo Afonso Maria de Ligório ensina que o Arcanjo disse: “O Senhor está contigo”, por causa da humildade da Virgem Maria. Imitemos a humildade da Virgem Maria! Curvemos a cabeça diante das graças enviadas pelo Criador: “Quem ama a Deus é verdadeiramente humilde. Não se orgulha vendo em si algumas boas qualidades. Sabe que tudo quanto possui é dom de Deus; de seu, só tem o nada e o pecado” (Santo Afonso Maria de Ligório).
A Virgem Maria ficou intrigada pela presença do Arcanjo São Gabriel e pela confusão que produzem nas pessoas verdadeiramente humildes os louvores dirigidos a elas: “Ela ficou intrigada com essa palavra e pôs-se a pensar qual seria o significado da saudação” (Lc 1, 29). Diante da bondade de Nosso Senhor devemos nos humilhar e pedir-lhe perdão pelas ingratidões que cometemos contra o seu amor: “Quando nos vemos mais favorecidos por Deus, mais devemos ser humildes... Quanto mais uma pessoa se acha indigna das graças, mas Deus a enriquece delas” (Santo Afonso Maria de Ligório). Os humildes ficam confusos diante dos favores do Criador!
Santo Ambrósio diz que a Virgem Maria estremeceu-se pela presença de um “homem”, mas o reconheceu ao ouvir pronunciar o seu nome. Para esse santo, a causa da perturbação não foi a palavra, mas a vista do Arcanjo: “Ela ficou intrigada com essa palavra e pôs-se a pensar qual seria o significado da saudação” (Lc 1, 29). Quem vive mergulhado em Deus e confiante no seu poder e consolo, perturba-se com a presença das criaturas que possuem um coração falso e cheio de golpes: “Desisti do homem, que tem o seu fôlego no seu nariz! Com efeito, que pode ele valer?” (Is 2, 22).
Santo Atanásio diz que somente Maria viu nesta vida a essência mesma do anjo, e ficou perturbada com esta visão extraordinária para os simples mortais: “Ela ficou intrigada com essa palavra e pôs-se a pensar qual seria o significado da saudação” (Lc 1, 29). Não devemos desejar ver o nosso Anjo da Guarda nesse mundo. Só no céu nos será dado conhecer a extensão dos seus favores; mas podemos entrevê-lo pela fé, e isto nos basta para lhe exprimirmos o nosso reconhecimento e afeição.
Eutimio diz que Maria duvidou se seria aquela uma saudação divina ou enganosa da parte do demônio: “Ela ficou intrigada com essa palavra e pôs-se a pensar qual seria o significado da saudação” (Lc 1, 29). Nas horas de decisões é preciso a ajuda de um diretor espiritual para seguirmos o que agrada a Deus: “Suplica a Deus um diretor e, quando o achares, agradece à divina Majestade; persevera então em tua escolha, sem ir procurar outros; caminha para Deus com toda a simplicidade, humildade e confiança, e tua viagem será certamente feliz” (São Francisco de Sales). Devemos tomar cuidado: Todo caminho do homem é reto aos seus olhos... aqui “mora” o perigo!
Quando o Arcanjo tranquiliza a Virgem Maria e lhe diz não temas, Maria; está a ajudá-la a superar esse temor inicial que, ordinariamente, se apresenta em toda a vocação divina. O que ela disse é uma reação natural diante da grandeza do sobrenatural: “O Anjo, porém, acrescentou: ‘Não temas, Maria! Encontraste graça junto de Deus” (Lc 1, 30). Diante do chamado de Deus para segui-lo na vida consagrada, pode surgir certo temor inicial; ao invés de desistir, é preciso recorrer à Virgem Maria, aos Anjos... pedir conselhos ao diretor espiritual e confessor.
São Bernardo de Claraval escreve: “A Virgem Santíssima muito se preocupou pela salvação do mundo antes da vinda do anjo, e pedindo em contínuas súplicas, que mereceu a imensa graça de conceber a Cristo em suas entranhas... Não temas, Maria, porque encontraste a graça, isto é, a que andavas buscando”. “O Anjo, porém, acrescentou: ‘Não temas, Maria! Encontraste graça junto de Deus” (Lc 1, 30). Feliz da pessoa que trabalha continuamente para salvar a própria alma sem desprezar a salvação do próximo. Quem ama ajuda o próximo no caminho da salvação: “Nada há de mais precioso que uma alma!” (São João Crisóstomo).
O Arcanjo São Gabriel comunica à Santíssima Virgem a sua maternidade divina, recordando as palavras de Isaías que anunciavam o nascimento virginal do Messias e que agora se cumprem em Maria (Mt 1, 22-23; Is 7, 14). “Eis que conceberás no teu seio e darás à luz um filho, e tu o chamarás com o nome de Jesus. Ele será grande, será chamado Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de Davi, seu pai; ele reinará na casa de Jacó para sempre, e o seu reinado não terá fim” (Lc 1, 31-33). Nossa Senhora não é uma deusa, mas é Mãe de Deus. Devemos respeitar e venerar a Virgem Maria com muita devoção: “Confesso com toda a Igreja que Maria é uma pura criatura saída das mãos do Altíssimo. Comparada, portanto, à Majestade infinita, ela é menos que um átomo” (São Luís Maria Grignion de Montfort).
O Arcanjo revela que o Menino será grande: a grandeza vem-lhe da sua natureza divina, porque é Deus, e depois da Encarnação não deixa de sê-lo, mas assume a pequenez da humanidade: “Eis que conceberás no teu seio e darás à luz um filho, e tu o chamarás com o nome de Jesus. Ele será grande, será chamado Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de Davi, seu pai; ele reinará na casa de Jacó para sempre, e o seu reinado não terá fim” (Lc 1, 31-33). Adoremos a Jesus Cristo e o sirvamos com dedicação, fé, alegria e amor, porque Ele é Deus, Senhor do céu e da terra: “No princípio era o Verbo e o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus” (Jo 1, 1), e: “Respondeu-lhe Tomé: ‘Meu Senhor e meu Deus’” (Jo 20, 28).
O Arcanjo revela também que Jesus será o Rei da dinastia de Davi, enviado por Deus segundo as promessas de salvação; que o seu Reino não terá fim: porque a sua humanidade permanecerá para sempre indissoluvelmente unida à sua divindade; que chamar-se-á Filho do Altíssimo: indica ser realmente Filho do Altíssimo e ser reconhecido publicamente como tal, isto é, o Menino será o Filho de Deus: “Eis que conceberás no teu seio e darás à luz um filho, e tu o chamarás com o nome de Jesus. Ele será grande, será chamado Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de Davi, seu pai; ele reinará na casa de Jacó para sempre, e o seu reinado não terá fim” (Lc 1, 31-33). Jesus Cristo, não só enquanto Deus, mas também enquanto homem é, por natureza, e não por adoção, Filho de Deus Pai. O mesmo Jesus disse que Ele é o Filho de Deus: Ele mesmo chamava-se “O Filho” (Mt 11, 27); e afirmou: “Eu e o Pai somos um” (Jo 10, 30). Ele é o Unigênito (isto é, o único) Filho de Deus.
A fé de Maria nas palavras do Arcanjo foi absoluta. A pergunta da Santíssima Virgem como será isso exprime a sua prontidão para cumprir a vontade divina diante de uma situação que parece à primeira vista contraditória: por um lado ela tinha a certeza de que Deus lhe pedia para conservar a virgindade; por outro lado, também da parte de Deus, é lhe anunciado que vai ser mãe: “Maria, porém, disse ao Anjo: ‘Como é que vai ser isso, se eu não conheço homem algum?’” (Lc 1, 34). Sabemos que “sem a fé é impossível agradar a Deus” (Hb 11, 6). Todos os seguidores de Jesus Cristo necessitam da fé para se salvar.
A Virgem Maria não duvidou de Deus quando disse: como será isso? São palavras de admiração e do desejo de conhecer o modo como se devia fazer (Santo Ambrósio e São Beda). “Maria, porém, disse ao Anjo: ‘Como é que vai ser isso, se eu não conheço homem algum?’” (Lc 1, 34). Para Deus que é Todo-Poderoso, tudo é possível! Não podemos duvidar de Deus, porque o Senhor não pode nos enganar: “A dúvida é um espírito terrestre que provém do diabo” (Hermas), e: “Infelizes daqueles que têm uma alma dupla, que duvidam em seu coração” (Clemente).
São Cirilo de Jerusalém diz que a Virgem Maria não duvidou; mas sim, admirou: como será isso? “Maria, porém, disse ao Anjo: ‘Como é que vai ser isso, se eu não conheço homem algum?’” (Lc 1, 34). Podemos sim, admirar com respeito tudo o que acontece na nossa vida... porque é vontade de Deus ou permitido por Ele.
O Espírito de Deus – que, segundo o relato do Gênesis 1, 2, pairava sobre as águas dando vida às coisas – desce agora sobre Maria. E o fruto do seu ventre será obra do Espírito Santo: “O anjo lhe respondeu: ‘O Espírito Santo virá sobre ti e o poder do Altíssimo vai te cobrir com a sua sombra; por isso o Santo que nascer será chamado Filho de Deus. Também Isabel, tua parenta, concebeu um filho na velhice, e este é o sexto mês para aquela que chamavam de estéril. Para Deus, com efeito, nada é impossível’” (Lc 1, 35-37). Por que se diz: por obra do Espírito Santo? Porque a Encarnação do Filho de Deus é obra de bondade e de amor, e as obras de bondade e de amor se atribuem ao Espírito Santo. O Pai e o Filho concorreram também para formar aquele corpo e para criar aquela alma no seio da Virgem Maria.
São Beda diz: “Não conceberás por obra de um homem que não conheces, mas por obra do Espírito Santo que serás cheia. Se dará em ti a concepção, porém, não o prazer carnal”. “O anjo lhe respondeu: ‘O Espírito Santo virá sobre ti e o poder do Altíssimo vai te cobrir com a sua sombra; por isso o Santo que nascer será chamado Filho de Deus. Também Isabel, tua parenta, concebeu um filho na velhice, e este é o sexto mês para aquela que chamavam de estéril. Para Deus, com efeito, nada é impossível’” (Lc 1, 35-37). A Virgem Maria amava São José, sobretudo, por ser ele o pai nutrício de Jesus Cristo, pois era em Jesus que essas duas almas virginais se uniam pela graça sem nenhuma sombra de amor sensual, nem mesmo imperfeito.
Alguns entendem que o poder do Altíssimo é Cristo, o qual, oferecendo seu corpo, como que cobriu com certa sombra a Virgem Maria (comentam: São Gregório Magno, São João Crisóstomo, Mário Víctor, São João Damasceno, São Beda e Teofilacto). Outros entendem que, havendo falado antes do Espírito Santo, o chama agora o poder do Altíssimo (Comentam Eutimio e outros). “O anjo lhe respondeu: ‘O Espírito Santo virá sobre ti e o poder do Altíssimo vai te cobrir com a sua sombra; por isso o Santo que nascer será chamado Filho de Deus. Também Isabel, tua parenta, concebeu um filho na velhice, e este é o sexto mês para aquela que chamavam de estéril. Para Deus, com efeito, nada é impossível’” (Lc 1, 35-37).
Alguns entendem “Cobrir com a sua sombra” no sentido de suavizar o ardor da sensualidade, como se a virtude do Altíssimo, como uma sombra refrescante, permanecesse sobre a carne puríssima da Virgem para que concebesse sem o menor movimento libidinoso (Comentam: Santo Agostinho, São Gregório Magno e São Beda). São Bernardo de Claraval diz: “Posto que a sombra não se projeta senão pela luz e um corpo, lhe fez sombra a virtude do Altíssimo porque em seu seio tomou corpo a Luz incorpórea, e deste cobrir-se recebeu em si toda refrigeração sua mente”. “O anjo lhe respondeu: ‘O Espírito Santo virá sobre ti e o poder do Altíssimo vai te cobrir com a sua sombra; por isso o Santo que nascer será chamado Filho de Deus. Também Isabel, tua parenta, concebeu um filho na velhice, e este é o sexto mês para aquela que chamavam de estéril. Para Deus, com efeito, nada é impossível’” (Lc 1, 35-37).
Não a Trindade Santíssima, mas a segunda Pessoa d’Ela, o Filho, o Verbo: “Disse, então, Maria: ‘Eu sou a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra!’ E o Anjo a deixou” (Lc 1, 38). O Pai e o Espírito Santo não encarnaram; encarnou somente o Filho. Uma virgem, Maria, concebeu um filho. Naquela altura estava desposada – e mais tarde casada – com um carpinteiro, José. A criatura concebida era Deus Filho. A segunda Pessoa da Santíssima Trindade, que pela sua natureza divina já existia, pela sua natureza divina encarnou – tomou a natureza humana – no ventre de Maria.
Ele teve uma mulher por mãe, mas nenhum homem foi seu pai. A parte da concepção que normalmente pertence ao pai foi realizada nesse instante por um milagre do poder de Deus: “Disse, então, Maria: ‘Eu sou a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra!’ E o Anjo a deixou” (Lc 1, 38). Quando recebida a mensagem angélica, Nossa Senhora inclinou a cabeça e disse: Faça-se em mim segundo a tua palavra; Deus Espírito Santo (a quem se atribuem as obras de amor) engendrou no seio de Maria o corpo e a alma de uma criança, a quem Deus Filho se uniu no mesmo instante.
Por ter aceitado ser Mãe do Redentor, e por ter participado livremente (e de um modo tão íntimo!) na sua Paixão, Maria é aclamada pela Igreja como corredentora do gênero humano. É este momento transcendental da aceitação de Maria e do começo da nossa salvação o que nós comemoramos sempre que recitamos o Angelus. “Disse, então, Maria: ‘Eu sou a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra!’ E o Anjo a deixou” (Lc 1, 38). Santo Afonso Maria de Ligório escreve: “Ó resposta poderosa que alegraste o céu e trouxeste à terra um mar imenso de graças e de bens! Resposta que, apenas saída do humilde coração de Maria, atraíste do seio do Eterno Pai o Unigênito Filho, para fazê-lo homem no seio puríssimo da Virgem”. Aprendamos com a Virgem Maria a dizer sempre sim a Deus... dizer sim com alegria, amor e fé... dizer sim, principalmente quando sabemos que existem muitos obstáculos e dificuldades pelo caminho: “O sim a Jesus leva-nos a não pensar em nós mesmos e a estar atentos, com o coração vigilante, ao lugar de onde vem a voz do Senhor que nos vai detalhando o caminho que nos traça. E nesta correspondência amorosa vão-se entrelaçando, a cada momento e em perfeita harmonia, a nossa liberdade e a vontade divina” (Pe. Francisco Fernández Carvajal).
“Disse, então, Maria: ‘Eu sou a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra!’ E o Anjo a deixou” (Lc 1, 38). E o Anjo a deixou. Segundo Eutimio, para indicar o evangelista que se havia realizado a concepção logo após a Virgem ter dado a sua resposta e consentimento. E assim, cumprida a missão para a qual havia sido enviado, se retirou. Deus quer que cumpramos os nossos deveres até o fim... sejam pequenos ou grandes, devemos perseverar até o fim; somente assim seremos premiados na hora do Julgamento: “Muitos começam bem, mas poucos sãos os que perseveram... Nos cristãos, não se procura o princípio, mas o fim... O Senhor não exige somente o começo da boa vida, quer também seu bom termo; o fim é que alcançará a recompensa” (São Jerônimo).
OBS: Essa pregação não está concluída; assim que “surgirem” novas mensagens as acrescentaremos.
Pe. Divino Antônio Lopes FP (C) Anápolis, 05 de outubro de 2016
Bibliografia
Sagrada Escritura Santo Irineu, Escritos Teofilacto, Escritos Mário Víctor, Escritos Santo Agostinho, Escritos São Gregório Magno, Homiliae in Evangelia, 34 São João Damasceno, Escritos Santo Ambrósio, Escritos Santo Atanásio, Escritos São Basílio Magno, Escritos São Jerônimo, Escritos São João Crisóstomo, Homilias sobre o Evangelho de São Mateus São Bernardo de Claraval, In temp. resur., sermo III; Sermo 12 in psalmum Qui habitat, 3.6-8: Opera omnia, Edit. Cisterc. 4 (1966) 458-462 Edições Theologica Pe. Juan de Maldonado, Comentários sobre os Evangelhos Santa Teresa de Jesus, Obras Completas São João Paulo II, Homilia São Pedro Julião Eymard, A Divina Eucaristia, Vol. 3 Santo Afonso Maria de Ligório, Escritos Pe. Alexandrino Monteiro, Raios de luz São Luís Maria Grignion de Montfort, Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem São Boaventura, Escritos Bem-aventurado José Allamano, A Vida Espiritual, Capítulo 21 Lagrange, L’Évangile de J. – Ch. (1930) p. 16 Pe. Francisco Fernández Carvajal, Falar com Deus Adolfo Tanquerey, Compêndio de Teologia Ascética e Mística Eutimio, Escritos São Francisco de Sales, Filotéia Hermas, Prec. IX, 2 Clemente, Epístola XXIII, 3 São Cirilo de Jerusalém, Escritos Pe. Leo J. Trese, A fé explicada
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