A CRUCIFIXÃO

(Mt 27, 32-38)

 

32 Ao saírem, encontraram um homem de Cirene, de nome Simão. E o requisitaram para que carregasse a cruz. 33 Chegando a um lugar chamado Gólgota, isto é, lugar que chamavam de Caveira, 34 deram-lhe de beber vinho misturado com fel. Ele provou, mas não quis beber. 35 E após crucificá-lo, repartiram entre si as suas vestes, lançando a sorte. 36 E, sentando-se, ali montavam-lhe guarda. 37 E colocaram acima da sua cabeça, por escrito, o motivo da sua condenação: ‘Este é Jesus, o Rei dos judeus’. 38 Com ele foram crucificados dois ladrões, um à direita, outro à esquerda” (conferir também: Mc 15, 21-27; Lc 23, 26-34.38 e Jo 19, 17-24).

 

 

Depois de sofrer a dolorosa coroação de espinhos, de ser cuspido e esbofeteado, agora, o Manso Cordeiro carrega uma pesadíssima cruz para o Calvário: “Ao saírem, encontraram um homem de Cirene, de nome Simão. E o requisitaram para que carregasse a cruz” (Mt 27, 32).

Em Jo 19, 16-17 diz: “Então eles tomaram a Jesus. E ele saiu, carregando a sua cruz...”

Depois de passar uma noite sem dormir, sem se alimentar, de sofrer a flagelação e a coroação de espinhos, o Servo Sofredor está exausto; mesmo assim, Ele não recusa levar a cruz, pelo contrário, abraça-a com amor: “Jesus abraça a cruz com amor e encaminha-se para o Calvário” (Santo Afonso Maria de Ligório).

Católico, o Inocente Senhor que nunca cometera um pecado abraçou a cruz com amor. Ele não adiou nem ficou sentado à beira do caminho analisando se valeria a pena carregar a cruz.

Imite o exemplo de Nosso Senhor, abraçando por amor as cruzes de cada dia. Não olhe para a cruz como se a mesma fosse uma desgraça, pelo contrário, carregue-a com serenidade e paciência: “Nosso Senhor é o nosso modelo: tomemos nossa cruz e sigamo-lo... Quando amamos as cruzes, não as sentimos, mas, quando as rejeitamos, elas nos esmagam... A cruz é um presente que o bom Deus dá aos seus amigos” (São João Maria Vianney), e: “As cruzes, os desprezos, as dores, as aflições são os verdadeiros tesouros dos que amam a Jesus crucificado” (Santa Margarida Maria Alacoque, Carta 10).

Católico, não olhe para a cruz com desânimo e pessimismo, mas toma-a em seus ombros decididamente, a exemplo de Nosso Senhor: “É necessário que te decidas a carregar com a cruz voluntariamente. Senão, dirás com a língua que imitas Cristo, mas os teus atos desmenti-lo-ão; assim não conseguirás tratar com intimidade o Mestre nem O amarás verdadeiramente. É urgente que nós, os cristãos, nos convençamos bem desta realidade: não andamos perto do Senhor, quando não sabemos privar-nos espontaneamente de tantas coisas que o capricho, a vaidade, o prazer, o interesse... reclamam” (São Josemaría Escrivá, Amigos de Deus, 129).

O Servo Sofredor “...saiu, carregando a sua cruz...” Não deixemos para amanhã as cruzes que podemos carregar hoje: “Não há árvore mais apropriada para produzir e conservar o amor a Deus do que a árvore da cruz” (Santo Inácio de Loyola, Bartoli, Vita 4, c. 37: Detti di S. Ignazio).

O Doce Amigo “...saiu, carregando a sua cruz...” Abracemos esse precioso tesouro e não o deixemos jamais: “A cruz é o maior bem que podemos ter nesta vida...” (Santa Margarida Maria Alacoque, Carta 13).

O Imaculado Cordeiro “...saiu, carregando a sua cruz...” Coloquemos decididamente esse madeiro em nossos ombros, e não tenhamos medo de carregá-lo: “No caminho da cruz, só o primeiro passo é difícil. O medo das cruzes é a nossa grande cruz. Tudo vai bem se carregamos bem a nossa cruz” (São João Maria Vianney).

Cristo Jesus “...saiu, carregando a sua cruz...” Beijemos a cruz com alegria, e assim, teremos certeza de que o nosso amor a Deus é verdadeiro: “Quanto satisfaz a Deus quem, com paciência e humildade, abraça as cruzes que ele lhe manda!” (Santo Afonso Maria de Ligório, A Prática do Amor a Jesus Cristo, capítulo V).

Católico, não se desespere diante das dificuldades da vida, não saia do caminho da salvação e não abandone o Salvador, mas, com um coração grande e generoso, sofra tudo por amor a Deus e, Ele que é Pai, lhe recompensará: “Pois nossas tribulações momentâneas são leves em relação ao peso eterno de glória que elas nos preparam até o excesso” (2 Cor 4, 17), e: “Penso, com efeito, que os sofrimentos do tempo presente não têm proporção com a glória que deverá revelar-se em nós” (Rm 8, 18).

A viagem do Pretório ao Calvário é a mais célebre, a mais dolorosa, a mais humilhante que se pode imaginar; pois nessa viagem ia carregando o Filho de Deus as nossas iniqüidades para expiá-las sobre a cruz: “Viagem, a mais célebre, por ser a última, em que ia completar os desejos do Seu Coração; porque nesta foi que carregou o instrumento de seu suplício; sentiu todo o peso de nossas iniqüidades.

Viagem, a mais dolorosa, porque ia carregando tão pesado madeiro, caminhava descalço, exausto de forças, tanto pelo sangue que tinha derramado, como pela falta de alimento desde o dia antecedente; dolorosa, por causa dos ombros já tão chagados, e pela coroa de espinhos, que com o balanço encostava na cruz; dolorosa, pelas pancadas e empurrões que recebia, pelas lágrimas e sangue que lhe encobriam a vista, pela túnica que lhe embaraçava o caminhar, e por isso levava repetidas quedas.

Viagem, a mais humilhante, não só porque caminhava no meio de dois ladrões, cercado de vil gentalha, exultando seus inimigos; mas também por ser o tempo Pascal, em que uma imensa multidão enchia Jerusalém, vindo de todas as partes, sendo testemunhas dos insultos, das blasfêmias, das pedradas que contra ele atiravam...” (Sacerdote da Congregação da Missão).

Em Mt 27, 32 diz: “...encontraram um homem de Cirene, de nome Simão. E o requisitaram para que carregasse a cruz”.

Os carrascos exigiram que Simão Cireneu carregasse a cruz, não porque os mesmos estavam com pena do Imaculado Cordeiro, pelo contrário, temiam que Nosso Senhor morresse antes de ser crucificado: “...desejando, por um lado, ver Jesus crucificado,  e, por outro, temendo que expirasse no caminho, visto que caia quase a cada passo, tiraram-lhe a cruz dos ombros e obrigaram certo homem, de nome Simão, a carregá-la” (Santo Afonso Maria de Ligório).

Católico, tome cuidado com certas pessoas, inclusive da própria família, que aproxima de você com uma certa “bondade” e “gentileza”; tudo pode não passar de aparência, a intenção pode ser de te prejudicar terrivelmente.

Os carrascos “requisitaram para que carregasse a cruz”. Está claro que Simão Cireneu carregou a cruz obrigado, eles exigiram que o mesmo a carregasse.

Não carregue a sua cruz resmungando ou contrariado, pelo contrário, carregue-a até o fim, por amor a Nosso Senhor. O Imaculado Cordeiro vai à frente te chamando: “Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me” (Mt 16, 24). Diga-Lhe sim de coração; lembre-se de que não existe outro caminho para o céu senão o da cruz: “Estreita, porém, é a porta e apertado o caminho que conduz à Vida” (Mt 7, 14).

Em Lc 23, 27 diz: “Grande multidão do povo o seguia, como também mulheres que batiam no peito e se lamentavam por causa dele”.

Nem todos na multidão são contra o Servo Sofredor. Acompanhava-O algumas piedosas mulheres, tudo indica, fortes e corajosas: “Se tivermos em conta que as tradições judaicas, segundo recolhe o Talmud, proibiam chorar pelos condenados à morte, aperceber-nos-emos da coragem que demonstraram essas mulheres que desataram em pranto ao contemplar o Senhor carregando a Cruz” (Edições Theologica).

Católico, o mundo está cheio de inimigos de Nosso Senhor. Seja corajoso a exemplo das santas mulheres, mostre com a vida que você O ama e que está decido a segui-lO até o fim, mesmo que tenha que sofrer perseguições, zombarias e desprezos.

Não se intimide com os uivos dos lobos nem com os rosnados dos cães loucos; mas caminhe corajosamente com o Senhor que cuida de ti.

São Josemaría Escrivá escreve: “Mas o Senhor quer encaminhar esse pranto para um motivo mais sobrenatural, e convida-as a chorar pelos pecados, que são a causa da Paixão e que atrairão o rigor da justiça divina: ‘Filhas de Jerusalém, não choreis por Mim; chorai por vós mesmas e pelos vossos filhos... Pois, se tratam assim a madeira verde, o que acontecerá ao lenho seco’ (Lc 23, 28-31). Os teus pecados, os meus pecados, os de todos os homens põem-se de pé. Todo o mal que fizemos e o bem que deixamos de fazer. O panorama desolador dos delitos e infâmias sem conta, que teríamos cometido, se Ele, Jesus, não nos tivesse confortado com a luz do Seu olhar amabilíssimo”.

A Virgem Maria também foi ao encontro do Divino Cordeiro que carrega a pesada cruz: “A Bem-aventurada Virgem passou a noite que precedia a Paixão de seu Filho, sem se descansar e em dolorosa vigília... Cada um dava a Maria uma nova informação, cada qual mais dolorosa” (São Boaventura).

Santo Afonso Maria de Ligório escreve: “A Mãe aflita entra por uma estrada mais curta e coloca-se na entrada de uma rua para se encontrar com o aflito Filho”, e: “Queria a divina Mãe abraçar a Jesus, mas os insolentes servos a repeliam com injúrias, e empurravam para diante o Senhor aflitíssimo. Maria, porém, segue, muito embora preveja que a vista de seu Jesus moribundo lhe causaria uma dor tão acerba, que a tornaria Rainha dos Mártires” (Santo Anselmo), e também: “O Filho vai adiante, e a Mãe tomando também a sua cruz, vai após ele, para ser crucificada com ele” (São Guilherme).

Católico, para chegar até Jesus, a Virgem Maria passou pela multidão e enfrentou a rudez dos soldados, mas não retrocedeu, caminhou até chegar onde desejava.

Para você encontrar a Cristo Jesus, com certeza aparecerão inúmeros obstáculos pelo caminho; não se desanime nem fique amedrontado, persevere com a cruz às costas, somente assim alcançará a salvação: “Porque nas outras penas Jesus Cristo quis estar só, mas para levar a cruz quis ser ajudado por Cireneu? Não basta para nos salvar só a cruz de Jesus Cristo, se nós não levamos com resignação até à morte também a nossa” (São João Crisóstomo).

Mt 27, 33-37: “Chegando a um lugar chamado Gólgota, isto é, lugar que chamavam de Caveira, deram-lhe de beber vinho misturado com fel. Ele provou, mas não quis beber. E após crucificá-lo, repartiram entre si as suas vestes, lançando a sorte. E, sentando-se, ali montavam-lhe guarda. E colocaram acima da sua cabeça, por escrito, o motivo da sua condenação: ‘Este é Jesus, o Rei dos judeus”.

Depois de carregar a pesada cruz e de sofrer inúmeras humilhações, o Manso Cordeiro chega a um lugar chamado Gólgota. O nome “Gólgota”, deriva da transcrição de um termo aramaico que significa “cabeça”. “Calvário”, por sua vez, provém da denominação latina que traduz a expressão antes indicada.

Oferecem a Nosso Senhor uma mistura de vinho, fel e mirra (cf. Mc 15, 23), como se costuma fazer com os condenados à morte para acalmar as suas fortes dores.

O Senhor não quer tomá-lo com o fim de não mitigar os sofrimentos da Sua Paixão.

Católico, imite o exemplo do Salvador; não procure uma vida fácil e de consolações, mas suporte o sofrimento, lembrando-se de que a felicidade no céu será eterna: “Bebamos até a última gota o cálice da dor na pobre vida presente. – Que importa padecer dez, vinte, cinquenta anos... se depois vem o Céu para sempre, para sempre, para sempre?” (São Josemaría Escrivá, Caminho, 182).

Logo depois, diante da multidão em círculo, crucificaram a Nosso Senhor: “Os soldados arrancaram-lhe as vestes, pegadas ao corpo todo chagado e dilacerado, e com as vestes arrancaram também pedaços de carne. Em seguida deitaram-no sobre a cruz. Jesus estende as sagradas mãos e oferece ao Eterno Pai o grande sacrifício de si mesmo e pede-lhe que o aceite pela nossa salvação” (Santo Afonso Maria de Ligório), e: “Os soldados furiosos tomam os pregos e os martelos, e traspassando as mãos e os pés do Salvador, pregam-no na cruz... os algozes se serviram de pregos sem ponta, para que causassem dor mais violenta. O som das marteladas ressoa pelo monte, e chega aos ouvidos de Maria, que se achava perto, acompanhando o Filho” (São Bernardo de Claraval), e também: “Quando se toca apenas num nervo do corpo humano, é tão aguda a dor, que causa desmaios e convulsões mortais. Quão grande não terá sido, pois, a dor de Jesus, quando lhe traspassaram com cravos as mãos e os pés, partes cheias de ossos e nervos? Eis que levantam a cruz com o Crucificado, e a deixam cair com força no buraco aberto no rochedo. Enchem-no em seguida com pedras e paus, e Jesus fica suspenso na cruz” (Santo Afonso Maria de Ligório).

Católico, veja o quanto padeceu o Senhor para te salvar; e agora você luta continuamente buscando uma vida sem cruz e de refrigério? Você pensa em se salvar levando uma vida de alívio e consolação?

O Senhor Inocente foi crucificado depois de sofrer muito; e você, cheio de pecados, deseja chegar ao céu nessa frieza e indiferença?

Católico, acorde enquanto é tempo! Abandone a vida de comodismo e de “poltronice” e entre pelo caminho da penitência, mortificação e renúncia: “É por demais lastimoso, Senhor, que almas a quem vos chegais tão intimamente vos abandonam para voltar às coisas da terra e a elas se apegarem...” (Santa Teresa de Jesus, Caminho 16, 8-10).

Em Jo 19, 25 diz: “Perto da cruz de Jesus, permaneciam de pé sua mãe, a irmã de sua mãe, Maria, mulher de Clopas, e Maria Madalena”.

O amor da Virgem Dolorosa por Nosso Senhor é sincero. Ela não O abandona, principalmente agora em Sua Sagrada Paixão: “Aqui temos a contemplar uma nova espécie de martírio. Trata-se de uma mãe condenada a ver morrer diante de seus olhos, no meio de bárbaros tormentos, um Filho inocente e diletíssimo” (Santo Afonso Maria de Ligório, Glórias de Maria, Parte II, capítulo II, tratado II, II).

Nossa Senhora é forte, ela permanecia de pé junto à cruz. Nenhum desmaio, nem gritos ou desespero.

Católico, imite o exemplo da Virgem Maria; permaneça sempre ao lado de Nosso Senhor, principalmente quando você estiver sofrendo.

Imite também o exemplo da Rainha dos Mártires, suportando as dificuldades que aparecerem, sem se desesperar ou desanimar.

Em Mt 27, 38 diz: “Com ele foram crucificados dois ladrões, um à direita, outro à esquerda”.

O Cordeiro Inocente morre entre dois ladrões: “Tendo o Redentor tomado sobre si os crimes do gênero humano, tornou-se de certo modo o pecador universal, levando o opróbrio de todos os pecados do mundo. Assumiu, pois, todas as conseqüências. Não só foi crucificado como o último dos escravos, mas morreu entre dois criminosos e dois criminosos crucificados, isto é, suspensos no patíbulo, entre a maldição do céu e da terra” (Pe. Luis Bronchain).

O Humilde Senhor é colocado entre dois sentenciados: “...parece fazer a separação dos justos e dos pecadores. Dirige-se ao bom ladrão como aos eleitos no fim dos séculos: ‘Vem, bendito do meu Pai, possui o reino que te está preparado desde o princípio do mundo, pois que hoje mesmo estarás comigo no paraíso’. Ao outro, colocado à sua esquerda, dá a sentença reservada aos réprobos: ‘Retira-te, maldito, para o fogo eterno’. A humildade arrependida é, pois, o caráter dos eleitos, e o  orgulho obstinado é o dos escravos de Satanás. Se queres pertencer ao Salvador e partilhar a sorte do ladrão penitente, humilha-te como ele. Jesus prefere a humildade dum pecador ao orgulho dum inocente” (Pe. Luis Bronchain).

 

 

Oração: Jesus Querido, Tu carregaste a cruz com paciência e serenidade; ajude-nos, Servo Sofredor, a suportar o peso da cruz sem jamais murmurarmos.

Tu não rejeitaste a cruz, pelo contrário, a abraçaste com amor; fortalecei-nos para que a aceitemos com generosidade e fé.

Senhor, infeliz daquele que foge da cruz para levar uma vida cômodo; esse enveredará pelo caminho da perdição.

Feliz do fiel que abraça as cruzes de cada dia; esse está construindo a escada que o levará ao paraíso.

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP.

Anápolis, 19 de março de 2007

 

 

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Pe. Divino Antônio Lopes FP. “A crucifixão”

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