SAINDO DALI, ELE CHOROU AMARGAMENTE

(Mt 26, 69-75; Mc 14, 66-72; Lc 22, 55-62; Jo 18, 17. 25-27)

 

Em Mt 26, 69-75 diz: “Pedro estava sentado fora, no pátio. Aproximou- se dele uma criada, dizendo: ‘Também tu estavas com Jesus, o Galileu!’ Ele, porém, negou diante de todos, dizendo: ‘Não sei o que dizes’. Saindo para o pórtico, uma outra viu-o e disse aos que ali estavam: ‘Ele estava com Jesus, o Nazareu’. De novo ele negou, jurando que não conhecia o homem. Pouco depois, os que lá estavam disseram a Pedro: ‘De fato, também tu és um deles; pois o teu dialeto te denuncia’. Então ele começou a praguejar e a jurar, dizendo: ‘Não conheço o homem!’ E imediatamente o galo cantou. E Pedro se lembrou da palavra que Jesus dissera: ‘Antes que o galo cante, três vezes me negarás’. Saindo dali, ele chorou amargamente”.

 

Em Mc 14, 66-72 diz: “Quando Pedro estava embaixo, no pátio, chegou uma das criadas do Sumo Sacerdote. E, vendo a Pedro que se aquecia, fitou-o e disse: ‘Também tu estava com Jesus Nazareno’. Ele, porém, negou, dizendo: ‘Não sei nem compreendo o que dizes’. E foi para fora, para o pátio anterior. E o galo cantou. E a criada, vendo-o, começou de novo a dizer aos presentes: ‘Esse é um deles!’ Ele negou de novo! Pouco depois, os presentes novamente disseram a Pedro: ‘De fato, és um deles; pois és galileu’. Ele, porém, começou a maldizer e a jurar: ‘Não conheço esse homem de quem falais!’ E, imediatamente, pela segunda vez, o galo cantou. E Pedro se lembrou da palavra que Jesus lhe havia dito: ‘Antes que o galo cante duas vezes, me negarás três vezes’. E começou a chorar”.

 

Em Lc 22, 55-62diz: “Tendo eles acendido uma fogueira no meio do pátio, sentaram-se ao redor, e Pedro sentou-se no meio deles. Ora, uma criada viu-o sentado perto do fogo e, encarando-o, disse: ‘Este também estava em companhia dele!’ Ele, porém, negou: ‘Mulher, eu não o conheço’. Pouco depois, um outro, tendo-o visto, afirmou: ‘Tu também és um deles!’ Mas Pedro declarou: ‘Homem, não sou’. Decorrida mais ou menos uma hora, outro insistia: ‘Certamente, este também estava com ele, pois é galileu!’ Pedro disse: ‘Homem, não sei o que dizes’. Imediatamente, enquanto ele ainda falava, o galo cantou, e o Senhor, voltando-se, fixou o olhar em Pedro. Pedro então lembrou-se da palavra que o Senhor lhe dissera: ‘Antes que o galo cante hoje, tu me terás negado três vezes’. E saindo para fora, chorou amargamente”.

 

Em Jo 18, 17. 25-27diz: “A criada que guardava a porta diz então a Pedro: ‘Não és, tu também, um dos discípulos deste homem?’ Respondeu ele: ‘Não sou’. Simão Pedro continuava lá, de pé, aquecendo-se. Disseram-lhe então: ‘Não és tu também um dos seus discípulos?’ Ele negou e respondeu: ‘Não sou’. Um dos servos do Sumo Sacerdote, parente daquele a quem Pedro decepara a orelha, disse: ‘Não te vi no jardim com ele?’ Pedro negou novamente. E logo o galo cantou”.

 

 

COMENTÁRIOS

 

Pe. Luis de la Palma

 

O Pe. Luis de la Palma comenta: A cada momento aumentava a dor do Senhor. Agora, Pedro, um dos apóstolos mais querido, jurava não conhecê-lo; ele que tinha avisado, o negaria, não uma vez, mas três vezes.

A primeira vez foi pouco depois da meia-noite. Os servos e os guardas ascenderam um fogo, porque fazia frio, e se aqueciam. Com eles estava também Pedro, de pé, aquecendo-se (Jo, 18, 18). Ele que tinha entrado, porque João conhecia a porteira, estava no átrio fugindo do frio, quando a porteira o interrogou; Pedro negou e saiu, o galo cantou pela primeira vez.

A terceira negação deve ter sido por volta das quatro da manhã. Os evangelistas narram que na terceira negação, o galo cantou. São Marcos diz que era a segunda vez que o galo cantava; este segundo canto costumava ser por volta deste horário.

São Lucas narra: “Passada quase uma hora” (Lc 22, 59). Então a segunda negação foi provavelmente às três da manhã. O Senhor tinha alertado a Pedro: “Antes que o galo cante duas vezes, três vezes me negarás” (Mc 14, 72). Referia-se a dois momentos que o galo canta: um por volta da meia-noite, e outro antes de amanhecer. Da primeira negação à segunda, São Lucas diz: “Pouco depois” (Lc 22, 58), para se referir à terceira negação, São Marcos diz o mesmo: “Pouco depois” (Mc 14, 70). Tudo aconteceu muito rápido para Pedro naquela noite.

Tudo aconteceu no átrio, que é o pátio das casas; como não há telhado, o céu fica aberto. Por isso os soldados e os criados tiveram que acender uma fogueira, assim protegendo-se da fria madrugada.

Não se deve estranhar que uns narrem que Pedro estava fora, outros que estava dentro: estava fora da sala de julgamento, mas dentro da casa. São Mateus completa: “estava sentado no pátio” (Mt 26, 69). Também deduzimos que a sala de julgamento ficava no andar de cima: “Estando Pedro embaixo, no pátio” (Mc 14, 66).

Voltando-se o Senhor, olhou para Pedro (Lc 22, 61). Como pôde olhar, se Pedro estava no pátio e Ele em cima? Provavelmente, após o conselho, quando já tinha acontecido a terceira negação e levaram-no para outra sala ou mesmo Pedro foi ver como tinha acabado o julgamento, e o Senhor olhou para ele.

Provavelmente tenha acontecido desta maneira: terminado o julgamento, os sacerdotes se recolheram e ficaram apenas os guardas e criados. Conduziram Jesus para outra sala, onde vigiariam até amanhecer. Todos estavam no pátio, aquecendo-se na fogueira, uns sentados e outros de pé. Cansados de tanto escarnecerem, com frio e sono, revezavam-se na guarda do Senhor. Pedro afirmava não conhecê-lo e como estava frio no amor de Jesus, aquecia-se junto ao fogo do inimigo. Tendo traído Deus, estava precisando urgente de uma consolação.

A porteira que tinha deixado entrar viu-o sentado junto ao fogo, encarou-o de perto e disse: “Também este homem estava com ele” (Lc 22, 56). Continuou: “Porventura não é um dos discípulos?” Antes que Pedro respondesse, acrescentou: “Sim, com certeza é um dos que andavam com o Nazareno!”

Pedro sentindo-se acuado no meio de toda aquela gente, cheio de medo de uma simples criada, negou diante de todos ser um discípulo e disse: “Não o sou” (Jo 18, 17); “Mulher, não o conheço” (Lc 22, 57); “Não sei o que dizes” (Mt 26, 70).

Pedro, Pedro! Há pouquíssimo tempo dizia: “Mesmo que sejas para todos uma ocasião de queda, para mim jamais o serás. Mesmo que seja necessário morrer contigo, jamais te negarei” (Mt 26, 33.35). Não está em perigo de morte; não é o procurador romano ou o sumo sacerdote que te pergunta; os soldados não te ameaçam; como então, não pode responder com coragem a uma simples porteira? Pedro é um homem fraco, e sem a ajuda da graça é vencido diante de uma situação insignificante.

Levantaram-se todos, Pedro aproveitando para disfarçar, ficou de pé e aproximou-se mais da fogueira. Estava inquieto e com muito medo, afastou-se e saiu do pátio em direção à porta. O galo cantou pela primeira vez.

Aquela noite estava tumultuada: entrava e saia gente, muitas perguntas e opiniões, o barulho era enorme. Pedro tentava ficar oculto, para não ser reconhecido, ao mesmo tempo procurava saber como estava o seu Mestre. Depois de mentir, que não era discípulo e nem o conhecia, ficou perturbado, não sabia onde ficar e como se comportar; levantava e sentava, aproximava-se do grupo para escutar algo, depois se afastava; andava e voltava do átrio à portaria; estava completamente perdido.

Pouco depois foi em direção da porta do pátio, outra criada olhou-o fixamente e disse aos outros: Este é um dos que estavam com Jesus de Nazaré! Pedro voltou a sentar-se junto ao fogo com os demais, e perguntaram-lhe: É verdade que és um discípulo deste homem? Pedro respondeu: Não, não sou. Um servo que o olhava atentamente disse: Tenho certeza de que és um deles. Pedro respondeu aborrecido: Deixa-me em paz, homem, já disse que não sou! E jurou não conhecer Jesus.

Pedro quando negou pela primeira vez, deveria ter abandonado aquela conversa, e saído do lado daquelas pessoas que tanto lhe aborreciam. Porém, como ficou, sua culpa e o seu pecado foram maiores. Na primeira vez mentiu, mas na segunda, jurou. Grande exemplo para nossa debilidade: devemos fugir das ocasiões perigosas para não cairmos em pecado, Pedro ficou junto ao fogo e a terceira negação seria ainda pior.

Passada quase uma hora (Lc 22, 59). Um dos criados insistiu: “Certamente tu és daqueles, pois é Galileu; teu modo de falar te dá a conhecer” (Mt 26, 73). Diziam isto porque os galileus falam com sotaque diferente dos outros judeus. Pedro continuava negando, mas um dos criados do sumo sacerdote, parente daquele que teve a orelha cortada, desmascarou-o: Não podes negar, pois eu mesmo te vi, quando estava com ele no horto. Pedro acuado disse: Que dizes homem? Não te entendo! Mas, como não acreditavam nele, começou a jurar e praguejar: Eu não conheço esse homem! Imediatamente o galo cantou. Era perto das quatro horas da madrugada.

A promessa de Pedro não aconteceu: Darei a minha vida por ti. Mas sim, o que o Senhor profetizou: Três vezes me negará! Todos os evangelistas narram as três negações.

Pedro tinha se esquecido do Senhor, mas Jesus lembrou-se dele, voltando-se o Senhor, olhou para Pedro (Lc 22, 61) para que se levantasse de sua queda. Este momento pode ter sido quando acabou o processo e desciam Jesus para outra sala. Apesar do grande sofrimento, o Senhor olhou para Pedro, confortando-o. Ele entendeu e lembrou-se daquelas palavras que não tinha acreditado: Nesta noite, antes que o galo cante duas vezes, terás me negado três vezes.

Saiu dali e chorou amargamente (Lc 22, 62). Entendeu a gravidade de sua culpa, contraposta à bondade do Senhor. Seu choro amargo, suas lágrimas nasciam do afetuoso amor de seu Mestre. Recordava-se que tinha reconhecido Jesus, como o Filho de Deus, e agora, mesmo avisado antecipadamente, jurava não conhecê-lo, mesmo com todos os benefícios que tinha recebido e os privilégios que tinha perante os outros companheiros. Este juramento que proclamou diante de todos queimava suas entranhas. Foi tanta dor, que por muito tempo, toda manhã quando o galo cantava, chorava amargamente, lembrando-se deste momento. São Marcos escreveu que começou a chorar, como se fosse apenas o começo de um longo pranto, durante muito tempo.

O olhar de Jesus tocou-lhe no fundo de sua alma. Como não pode retratar-se publicamente de sua covardia, desatou a chorar de arrependimento. Com esta queda ficou mais humilde e menos confiante em si, não colocou mais em risco sua debilidade. Experiente, ensinou aos outros como evitar ocasiões de pecar e que a fortaleza vem de Deus.

Não pediu perdão imediatamente. Pensou em lançar-se aos pés do Senhor, suplicando perdão. Mas, pareceu-lhe muito atrevimento conseguir um perdão tão rápido, talvez conseguisse com lágrimas e mortificações. Ficou calado e não apresentou nenhuma desculpa. Somente chorou, lavando com lágrimas sua culpa. Foi para fora do palácio para chorar em paz, buscando consolação na Virgem Maria, refúgio dos pecadores. Onde mais poderia buscar consolo? Ela confortou-o com firme esperança de alcançar o perdão de seu Filho.

O Senhor permitiu que a pedra fundamental de sua Igreja pecasse e fraquejasse, para ensinar que ninguém deve ter a presunção de confiar em si mesmo, pois mesmo um apóstolo cheio de privilégio e amor, caiu.

Tomemos como aviso o que diz São Paulo: “Portanto, quem pensa estar de pé veja que não caia” (1 Cor 10,12). Devemos aprender com o que aconteceu a Pedro, nunca duvidar de Deus, mesmo quando estamos perdidos, pois apesar do pecado ser enorme, graças às suas lágrimas e a sua penitência, voltou à amizade com Cristo. Foi confirmado como príncipe dos apóstolos, cabeça da Igreja, Pastor do rebanho de Cristo e depositário das chaves do reino dos céus. Comenta Santo Agostinho: “Atrevo-me a dizer que é proveitoso para os soberbos cair num pecado claro e evidente, pelo qual se vejam como são, pecadores, pois já tinham pecado com a sua soberba. Pedro se viu mais pecador quando chorou a sua culpa, do que quando presumia sua fidelidade”. Outra razão nos dá São Gregório Magno: “A misericórdia que o Senhor usou para aquele que seria Pastor da Igreja, que aprendesse por si mesmo como devia compreender as fraquezas alheias e compadecer-se delas, foi grande e digna de ser sempre recordada: O Senhor olha para seu amigo que o negou para salvá-lo, e para dar-lhe a mão para que não se perca. Assim o Senhor foi piedoso com ele, para que ele o fosse com as ovelhas do rebanho que lhe confiaria, para que não desamparasse ninguém por muito enfermo, revoltado ou perdido que possa estar”.

 

Pe. Francisco Fernández Carvajal

 

O Pe. Francisco Fernández Carvajal comenta: Enquanto se desenrolava o processo contra Jesus diante do Sinédrio, tinha lugar a cena mais triste da vida de Pedro. Ele, que deixara tudo para seguir o Senhor, que vira tantos prodígios e recebera tantas provas de afeto, agora nega-o rotundamente. Sente-se encurralado e, sob juramento, nega conhecer Jesus.

Pedro negou conhecer o seu Senhor, e com isso negou também o sentido profundo da sua existência: o de ser Apóstolo, testemunha da vida de Cristo, o de confessar que Jesus é o Filho do Deus vivo. A sua vida honrada, a sua vocação de Apóstolo, as esperanças que Jesus depositara nele, o seu passado, o seu futuro – tudo começa a ruir. Como foi possível que dissesse: Não conheço esse homem?

Uns anos antes, um milagre realizado por Jesus tivera para ele um significado especial e profundo. Ao presenciar a pesca milagrosa (a primeira delas). Pedro compreendera tudo: Caiu aos pés de Jesus e disse-lhe: Afasta-te de mim, Senhor, porque sou um homem pecador. Tanto ele como os seus companheiros estavam assombrados (Lc 5, 8-9). Foi como se num instante tivesse visto tudo claramente: a santidade de Cristo e a sua condição de homem pecador. O preto percebe-se em contraste com o branco, a escuridão em contraste com a luz e o pecado em contraste com a santidade. E então, enquanto os seus lábios diziam que pelos seus pecados se sentia indigno de estar ao lado do Senhor, os seus olhos e toda a sua atitude pediam a Jesus que jamais o deixasse separar-se d’Ele. Foi um dia muito feliz. Ali começou realmente tudo: Então Jesus disse a Simão: Não temas; doravante serás pescador de homens. E trazendo as barcas para terra, deixaram tudo e o seguiram (Lc 5, 10-11). A vida de Pedro teria desde então um objetivo maravilhoso: amar a Cristo e ser pescador de homens. O resto seria meio de instrumento para esse fim. E agora, por fragilidade, por se ter deixado dominar pelo medo e pelos respeitos humanos, Pedro desaba.

O pecado, a infidelidade em maior ou menor grau, é sempre uma negação de Cristo e do que há de mais nobre em nós, dos melhores ideais que o Senhor semeou no nosso íntimo. O pecado é a grande ruína do homem. Por isso, temos de lutar com afinco, com a ajuda da graça, para evitar todo o pecado grave – os que resultam da malícia, da fragilidade ou da ignorância culposa – e todo o pecado venial deliberado.

Mas, se tivermos a desgraça de cometê-lo, temos de tirar proveito do próprio pecado, pois a contrição fortalece a amizade com o Senhor. Os nossos erros não devem desanimar-nos nunca, se reagirmos com humildade. Um arrependimento sincero é sempre ocasião de um encontro novo com o Senhor, e dele podem derivar consequências inesperadas para a nossa vida interior: “Pedro levou uma hora para cair, mas levanta-se num minuto e sobe mais alto do que estava antes da sua queda” (G. Chevrot, Simão Pedro).

O Céu está cheio de grandes pecadores que souberam arrepender-se. Jesus recebe-nos sempre e alegra-se quando recomeçamos o caminho que havíamos abandonado.

Maltratado, o Senhor é levado para outro lugar através de um dos átrios. Então, voltando-se, o Senhor olhou para Pedro (Lc 22, 61). “Os seus olhares cruzaram-se. Pedro quereria baixar a cabeça, mas não pôde afastar os seus olhos d’Aquele que acabava de negar. Conhece muito bem os olhares do Salvador: aquele olhar que decidira da sua vocação e a cuja autoridade e encanto não pudera resistir anos atrás; aquele olhar delicado do dia em que Jesus afirmara, ao contemplar os seus discípulos: Eis os meus irmãos, as minhas irmãs e a minha mãe; e o olhar que o fizera estremecer quando ele, Simão, pretendera suprimir a cruz do caminho de Cristo; e o olhar afetuosamente compassivo com que recebera o jovem demasiado rico para segui-lo; e o olhar velado pelas lágrimas diante do sepulcro de Lázaro... Não há dúvida de que Pedro conhecia os olhares do Salvador! No entanto, nunca tinha visto no rosto do Senhor essa expressão que agora descobria n’Ele, esses olhos impregnados de tristeza, mas sem severidade. Olhar de censura, sem dúvida, mas que, ao mesmo tempo, suplicava e parecia repetir: Simão, eu orei por ti! Esse olhar só se deteve nele por um instante fugidio, porque Jesus não demorou a ser violentamente arrastado pelos soldados, mas Pedro nunca o esqueceria” (G. Chevrot, Simão Pedro).

Vê o olhar indulgente sobre a chaga profunda da sua culpa. Compreende então a gravidade do seu pecado e recorda-se da profecia do Senhor sobre a sua traição: Hoje, antes que o galo cante, ter-me-ás negado três vezes. Saiu dali e chorou amargamente. Sair “era confessar a sua culpa. Chorou amargamente porque sabia amar, e bem cedo as doçuras do amor substituíram nele as amarguras da dor” (Santo Agostinho).

Saber que Jesus o olhara impediu o Apóstolo de chegar ao desespero. Foi um olhar alentador e Pedro sentiu-se compreendido e perdoado. Como deve ter recordado então as parábolas do Bom Pastor, do filho pródigo e da ovelha perdida!

Na vida de Pedro, vemos refletida a nossa própria vida. “Dor de Amor. – Porque Ele é bom. – Porque é teu Amigo, que deu a sua Vida por ti. – Porque tudo o que tens de bom é d’Ele. – Porque o tens ofendido tanto... Porque te tem perdoado... Ele!... a ti! – Chora, meu filho, de dor de Amor” (São Josemaría Escrivá).

A contrição dá à alma uma particular fortaleza, devolve-lhe a esperança, faz com que o cristão se esqueça de si mesmo e se aproxime novamente de Deus, num ato de amor mais profundo. A contrição enriquece a qualidade da vida interior e atrai sempre a misericórdia divina. Os meus olhares deixam-se atrair pela humildade, pelo coração contrito que teme a minha palavra (Is 66, 2). Cristo não terá inconveniente em edificar a sua Igreja sobre um homem que podia cair em que caiu. Deus conta também com os instrumentos débeis para realizar – se se arrependem – as suas grandes obras: a salvação dos homens.

Além de nos dar uma grande fortaleza, a verdadeira contrição prepara-nos para ser eficazes entre os outros. “O Mestre passa, uma vez e outra vez, muito perto de nós.  Olha-nos... E se o olhas, se o escutas, se não o repeles, Ele te ensinará o modo de dares sentido sobrenatural a todas as tuas ações... E então também tu semearás, onde quer que te encontres, consolo, paz e alegria” (São Josemaría Escrivá).

O olhar do Senhor recaiu também sobre Judas Iscariotes e incitou-o a mudar quando, no momento da sua traição, ouviu o Mestre chamá-lo amigo. Amigo! Com que propósito vieste? Não se arrependeu naquele momento, mas mais tarde: Vendo-o sentenciado, tomou-se de remorsos e foi devolver as trinta moedas de prata.

Mas que diferença entre Pedro e Judas! Os dois foram infiéis ao Senhor, embora de modo diferente. Os dois se arrependeram. Mas, enquanto Pedro viria a ser a rocha sobre a qual se levantaria a Igreja de Cristo até o fim dos tempos, Judas foi e enforcou-se. O mero arrependimento humano não basta; produz angústia, amargura e desespero.

Junto de Cristo, o arrependimento transforma-se numa dor gozosa, porque se recupera a amizade perdida. Num instante, pela dor em face das suas negações, Pedro uniu-se ao Senhor muito mais fortemente do que jamais o estivera. As suas negações foram o ponto de partida de uma fidelidade que o levaria até o testemunho supremo do martírio. Judas, pelo contrário, ficou só: Que nos importa? Isso é lá contigo!, dizem-lhe os príncipes dos sacerdotes. Judas, no isolamento produzido pelo pecado, não soube ir até Cristo, faltou-lhe a esperança, e por isso o seu arrependimento foi estéril.

 

Daniel-Rops

 

Daniel-Rops ensina: Enquanto se procedia ao interrogatório, alguns discípulos de Jesus, a seguir a um momento de terror, haviam-se refeito. Como soubessem para onde fora levado o Mestre, vieram rondar em volta do Palácio dos Sumos Sacerdotes. No Oriente, os pátios das casas ricas enchem-se muito facilmente de basbaques, clientes e servidores. A noite primaveril estava um pouco áspera, e, por isso,  satélites e fâmulos haviam acendido uma fogueira no meio do pátio. Reunidos em círculo, em torno do braseiro, os circunstantes comentavam as últimas notícias. Um dos apóstolos – João, provavelmente, dado que é ele, só, no Evangelho, a fornecer um tal informe – como conhecesse um pouco Caifás, pôde, sem dificuldades, imiscuir-se no grupo. Pedro, que o seguira, aquecia-se também, no meio dos outros.

Apareceu, então, ali, uma criada do Sumo Sacerdote, uma daquelas moças incumbidas, segundo os usos judaicos, de guardar a porta. Tendo dado por Pedro, aproximou-se dele e fitou-o atentamente: Ora, aqui temos um – exclamou – que acompanhava o Nazareno! Depois, olhando-o cara a cara, confirmou: Sim! Na verdade, tu estavas com Jesus da Galiléia! Toda a gente ficou esperando a resposta de Pedro. Mas ele negou: Não o conheço não mulher. Nem compreendo, ao menos, o que pretendes afirmar!

Depois, afastando-se, abandonou o pátio e foi para o vestíbulo. Mas, ao chegar ali, uma outra criada o avistou, gritando aos escudeiros: Ora aí está um que andava, com certeza, com Jesus de Nazaré! Naquele instante, cantou o galo. Sobremodo absorvido por aquela inquietação que lhe devorava as entranhas, o apóstolo não se apercebeu do pormenor. Voltando para a beira da fogueira, como que por bravata, negou uma vez mais pertencer aos prosélitos de Cristo. Não, já disse, não! Não conheço tal homem, de nenhum modo. E acrescentou até um juramento.

Decorreu uma hora, e o incidente parecia que esquecera. Pedro interveio na conversa. Mas os aldeões da Galileia tinham uma entoação de voz provinciana, de tal maneira singular, que em Jerusalém era fácil reconhecê-los desde que abrissem a boca, precisamente como em Paris sucede aos Auvernheses. Confundiam as letras do alfabeto, e eram lendárias as suas locuções: reputava-se impossível distinguir, quando por eles pronunciadas, as palavras ‘immar (cordeiro), camar (lã), hamar (vinho) e hamor (burro). Então, os circunstantes convidaram: Vamos, confessa que és do grupo! Denuncia-te esse teu modo de falar. Bem se vê que és Galileu! E um dos fâmulos do Sumo Sacerdote, parente daquele a quem Pedro cortara a orelha, precisou a acusação: Porventura, não te vi eu, no jardim, junto com ele? Apertado assim, por todos os lados, o discípulo atirou-se de cabeça para o abismo da mentira, e pôs-se a multiplicar as juras e os protestos, e com um grande apoio de imprecações, voltou a repetir: Não! Não! Não conheço tal homem! Nem sei o que quereis dizer com tudo isso!

No, entretanto, não era um covarde, Simão Pedro – conforme o demonstrasse quando Cristo fora preso. Há, porém, temperamentos que, seguros de si, quando o perigo os antolha, não conseguem aguentar-se quando o mesmo perigo, de longe, os ameaça. Na sua Epístola aos Gálatas, há de São Paulo dar notícia de um acidente que teve Antioquia por cenário, e em que São Pedro parece haver cedido a um impulso de alma análogo, ou deslizado mesmo, segundo as cruas palavras de São Paulo, no campo da “hipocrisia”, conformado com viver ao modo do Gentio.

Naquele instante, o galo cantou segunda vez. Segundo testemunhas, como o Pe. Lagrange, que escutaram algum dia o cantar do galo na Judeia, nos começos de abril, o fato deveria ter acontecido entre as duas e meia e as três horas. Teria o grito gutural, ecoando na noite, despertado a consciência do apóstolo? Naquele mesmo instante, aparecia Jesus Cristo, escoltado pelos guardas, saindo da sala do julgamento, e atravessando o pátio. Não há conveniência em presumir que tivesse escutado as últimas negações do seu discípulo. O olhar de Jesus Cristo caíra em Simão Pedro. E, de repente, lhe acudiu a lembrança da profecia que lhe tinha sido feita: Antes do galo cantar segunda vez... Invadiu-o, então, aquela náusea que desperta no homem a aversão contra si próprio. Saiu, e, uma vez no exterior, desfez-se em lágrimas.

Hoje, no mesmo local duma velha basílica do século V, da qual tomou o nome, ergue-se uma nova igreja, dita de São Pedro ao Galicanto. Fica a trezentos metros do Cenáculo, assaz distante do lugar tradicional do Palácio de Caifás, o que dá motivo a discussões. São Pedro ao cantar do galo! É esta, por certo, a única igreja do mundo, edificada em memória dum pecado, - ou do arrependimento resultante! Se outras devessem ser também erguidas, com semelhantes intenções, a superfície da terra estaria eriçada delas... Mas, possivelmente, há menos que evocar a traição do primeiro dos Apóstolos, por muito grata que a tantos ela seja, do que esse olhar de justiça e misericórdia que o Cristo lhe lançou, na mesma noite. – Vês tu, ó Pedro, o que é que vales, presunçoso que falavas em defender-me?! Tu não és senão um homem e, no entanto, é por ti, como por todos, e bem assim por toda a humana fraqueza, que vou oferecer a minha vida e o meu sofrimento! E tu serás igualmente perdoado!

 

 

MENSAGENS PARA A VIDA

 

1.ª mensagem: Cuidado com as más companhias.

 

São Pedro negou seu divino Mestre. Na companhia dos Apóstolos ele confessou que Jesus Cristo era Deus; no meio dos soldados o nega. Eis até onde leva a má companhia: “Também tu estavas com Jesus, o Galileu!’ Ele, porém, negou diante de todos, dizendo: ‘Não sei o que dizes” (Mt 26, 69-70).

Para seguir a Jesus Cristo com fidelidade é preciso fugir das más companhias... elas prejudicam a amizade com o Senhor: “Vivendo com santos, santo serás, no meio dos maus perverter-te-ás” (Sl 18, 27).

 

2.ª mensagem: O que somos sem a graça de Deus.

 

Pedro não está em perigo de morte; não é o procurador romano ou o sumo sacerdote que o interroga; os soldados não o ameaçam; como então, não pode responder com coragem a uma simples porteira? Pedro é um homem fraco, e sem a ajuda da graça é vencido diante de uma situação insignificante: “Também tu estavas com Jesus, o Galileu!’ Ele, porém, negou diante de todos, dizendo: ‘Não sei o que dizes” (Mt 26, 69-70).

É impossível uma pessoa se manter de pé e enfrentar as provações sem a graça de Deus... sem a ajuda do alto ninguém sairá vitorioso: “Convém-nos muito reconhecer humildemente que não confiamos nas nossas próprias forças, mas na graça que Deus prometeu aos que confiam na sua misericórdia” (Edouard Clerc, Monge).

 

3.ª mensagem: Quem nega a Deus fica inquieto.

 

Depois de mentir, que não era discípulo e nem conhecia Jesus, Pedro ficou perturbado, não sabia onde ficar e como se comportar; levantava e sentava, aproximava-se do grupo para escutar algo, depois se afastava; andava e voltava do átrio à portaria; estava completamente perdido: “Também tu estavas com Jesus, o Galileu!’ Ele, porém, negou diante de todos, dizendo: ‘Não sei o que dizes” (Mt 26, 69-70).

Quem abandona a Deus fica desorientado e inseguro, não possui força nem coragem para seguir em frente... a inquietação reina no coração e torna a sua vida amarga e cheia de insegurança: “Se apartares de ti a Jesus e o perderes, aonde irás? A quem buscarás por amigo?” (Tomás de Kempis).

 

4.ª mensagem: Fugir das más ocasiões.

 

São Pedro podia ter fugido da ocasião próxima, mas julgara que devia aquecer-se ao fogo, descuidando de si e da sua alma, enquanto Jesus era esbofeteado pelos servos do pontífice: “Quando Pedro estava embaixo, no pátio, chegou uma das criadas do Sumo Sacerdote. E, vendo a Pedro que se aquecia” (Mc 14, 66-67).

Feliz da pessoa que foge da ocasião de pecar, mortificando o corpo e fugindo de certos ambientes perigosos: “Tal é a astúcia do demônio: persuade que as tentações estão mortas e quando os homens condescendem com as ocasiões perigosas, apresenta-lhes de súbito a tentação que os faz sucumbir” (Santo Afonso Maria de Ligório).

 

5.ª mensagem: Mortificar o corpo.

 

Estava frio... e São Pedro ao invés de sofrer o frio por amor a Jesus Cristo, preferiu aquecer-se: “E, vendo a Pedro que se aquecia” (Mc 14, 67).

Quem agrada o corpo é derrotado por ele... enfraquece espiritualmente e nega a Jesus Cristo: “Pois pensa o mesmo do indivíduo de maus hábitos e costumes, que deve cruzar o mar tempestuoso da vida, em que tantos naufragam, num barco frágil e avariado, como é nosso corpo no qual viaja a alma” (Santo Afonso Maria de Ligório).

 

6.ª mensagem: Quem despreza a Jesus busca consolo nas coisas que passam.

 

Pedro afirmava não conhecê-lo e como estava frio no amor de Jesus, aquecia-se junto ao fogo do inimigo. Tendo traído Deus, estava precisando urgente de uma consolação: “E, vendo a Pedro que se aquecia” (Mc 14, 67).

Quem despreza a amizade de Jesus Cristo se esfria espiritualmente e busca consolo nas coisas passageiras e caducas desse mundo... e a vida torna-se insuportável: “Estar sem Jesus é terrível inferno” (Tomás de Kempis).

 

7.ª mensagem: Não ouvir a voz da carne.

 

São Pedro caiu por causa da pergunta de uma criada: “Pedro estava sentado fora, no pátio. Aproximou-se dele uma criada, dizendo: ‘Também tu estavas com Jesus, o Galileu!” (Mt 26, 69).

Milhares de pessoas caem todos os dias porque não fogem à voz da “criada” chamada carne: “Consideremos o terceiro inimigo, a carne, que é o pior de todos, e vejamos como deveremos combatê-lo” (Santo Afonso Maria de Ligório).

 

8.ª mensagem: Não confiar nas próprias forças.

 

São Pedro negou Jesus Cristo por três vezes: “Antes que o galo cante duas vezes, me negarás três vezes” (Mc 14, 72).

Infeliz da pessoa que confia nas próprias forças; cairá desgraçadamente: “Tanto cai quem teve tamanha confiança em si!” (Frei Pedro Sinzig).

 

9.ª mensagem: Tomar cuidado com os três inimigos da nossa alma: o mundo, o Demônio e a carne.

 

São Pedro, que fora chamado por Jesus Cristo para ser Apóstolo, o negou por três vezes: “... me negarás três vezes” (Mc 14, 72).

O Apóstolo Pedro negou o Senhor por três vezes. Quem não se fortalecer espiritualmente será vencido pelos três inimigos da alma: o mundo, o Demônio e a carne: “Atende que, então, mais que nunca, deves estar prevenido para o combate, porque nossos inimigos, o mundo, o demônio e a carne, agora mais que nunca, se armarão para te atacar e fazer-te perder tudo o que tiveres conquistado” (Santo Afonso Maria de Ligório).

 

10.ª mensagem: Deus não faz maldade, mas permite.

 

Nosso Senhor permitiu que Pedro caísse para que não ficasse orgulhoso, e para que se mostrasse misericordioso com os demais pecadores: “Antes que o galo cante duas vezes, me negarás três vezes” (Mc 14, 72).

Feliz da pessoa que “usa” das próprias quedas para ter compaixão dos pecadores... não aprovando os seus erros, mas ajudando-os, com paciência, a se levantarem: “A compaixão é o sentimento de tristeza que surge em nós quando temos notícia do sofrimento de alguém. Sentimo-nos como que arrastados a sofrer juntamente com essa pessoa” (Pe. Luiz Fernando Cintra).

 

11.ª mensagem: Medo do sofrimento.

 

São Pedro negou a Jesus Cristo também por medo do sofrimento: “Antes que o galo cante duas vezes, me negarás três vezes” (Mc 14, 72).

Milhares de pessoas negam a Jesus Cristo por causa do sofrimento... querem seguir o Senhor por um caminho largo e sem cruz: “Muitos seguem a Jesus até ao partir do pão, poucos, porém, até ao beber do Cálice da sua paixão” (Tomás de Kempis).

 

12.ª mensagem: Consolar Jesus com o nosso arrependimento.

 

O sofrimento de Jesus foi ainda aumentando pelo pecado de Pedro, que o nega e jura que nunca o conheceu: “Então ele começou a praguejar e a jurar, dizendo: ‘Não conheço o homem!” (Mt 26, 74).

Devemos consolar o nosso Salvador que é tão ofendido pelos homens ingratos: “Dize-lhe que quiseras morrer de dor, lembrando-te que no passado lhe amarguraste tanto o doce Coração que tanto te amou” (Santo Afonso Maria de Ligório).

 

13.ª mensagem: Muitos que foram chamados pelo nome também traem o Mestre.

 

Pedro, que deixara tudo para seguir o Senhor, que vira tantos prodígios e recebera tantas provas de afeto, agora nega-o rotundamente. Sente-se encurralado e, sob juramento, nega conhecer Jesus: “Então ele começou a praguejar e a jurar, dizendo: ‘Não conheço o homem!” (Mt 26, 74).

Não são somente as pessoas que vivem às margens da religião que negam o Salvador, também os que foram chamados pelo nome caem na desgraça de negá-lo: “Até meu amigo, em quem eu confiava, que comia do meu pão, levantou o calcanhar contra mim” (Sl 41, 10).

 

14.ª mensagem: Apostasia completa.

 

A apostasia de São Pedro foi completa: “Não conheço o homem!” (Mt 26, 74). E esse homem era aquele mesmo a quem tinha ele dito um dia: Tu és o Cristo, Filho do Deus vivo.

A apostasia é um pecado gravíssimo. Apostasia é o pecado de quem, tendo profissão da Fé católica, a rejeita completamente, passando para a infidelidade: o judaísmo, Islamismo, protestantismo e outros: “A palavra apóstata soa de modo parecido a apóstolo, mas significa quase o contrário. Apóstolo é aquele que propaga a fé. Apóstata é aquele que a abandona completamente” (Pe. Leo J. Trese).

 

15.ª mensagem: Não desprezar os bons conselhos.

 

São Pedro fora prevenido a tempo, o canto do galo devia recordar-lhe as palavras do Mestre: “E o galo cantou” (Mc 14, 68).

Infeliz da pessoa que despreza os bons conselhos dos verdadeiros amigos para agir com prudência em certas ocasiões: “Não faça coisa alguma sem conselho, e não te arrependerás de teus atos” (Eclo 32, 24).

 

16.ª mensagem: Miséria humana.

 

Pedro nega simplesmente ao seu Divino Mestre, uma primeira vez. Depois, nega uma segunda vez com juramento, o que era mais grave. Finalmente, perseverando na ocasião do pecado, rola no abismo: nega uma terceira vez com blasfêmias e imprecações! “Então ele começou a praguejar e a jurar, dizendo: ‘Não conheço o homem!” (Mt 26, 74).

Quem abandona a Jesus Cristo, Deus Luz... Deus Amor... Deus Bom... para viver no pecado mortal, maior de todas as desgraças, nega-o continuamente. Se não o nega com os lábios, nega-o pelas atitudes: “O pecado é uma insubordinação! Quem peca diz a Deus que não o quer servir, e põe-se ao lado de Lúcifer, que soltou contra Deus o primeiro grito de revolta” (Pe. Alexandrino Monteiro).

 

17.ª mensagem: Respeito humano.

 

São Pedro, que foi chamado para seguir a Jesus Cristo, na hora da provação o negou: “Então ele começou a praguejar e a jurar, dizendo: ‘Não conheço o homem!” (Mt 26, 74).

Milhares de pessoas dizem ser seguidoras de Jesus Cristo enquanto está tudo bem, mas o negam nas horas das provações e das dificuldades... dizendo não ser suas seguidoras: “Pois, tendo conhecido a Deus, não o honraram como Deus nem lhe renderam graças” (Rm 1, 21).

 

18.ª mensagem: Confiar somente em Deus.

 

Se, pois, um homem da têmpera de São Pedro pôde assim pecar tão gravemente; quem poderá confiar em si mesmo e não fugir à menor suspeita, à menor sombra do pecado? “Então ele começou a praguejar e a jurar, dizendo: ‘Não conheço o homem!” (Mt 26, 74).

Tenhamos só em Deus a nossa confiança, não nos arrisquemos ao perigo e Deus nos guardará: “O nosso fim é Deus, fonte de todos os bens, e devemos, como repetimos em nossa oração, confiar unicamente nele e em mais ninguém” (São Jerônimo Emiliani).

 

19.ª mensagem: Bondade inesgotável de Jesus Cristo.

 

Jesus Cristo saiu e olhou para São Pedro: “Imediatamente, enquanto ele ainda falava, o galo cantou, e o Senhor, voltando-se, fixou o olhar em Pedro” (Lc 22, 60-61).

Jesus Cristo, cheio de bondade, olha para o pecador convidando-o a se levantar do pecado e da indiferença: “A suprema Misericórdia não nos abandona nem mesmo quando nós a abandonamos” (São Gregório Magno).

 

20.ª mensagem: Ouvir os pregadores.

 

São Pedro negou o Senhor e o galo cantou: “... o galo cantou” (Lc 22, 60). Ele não tapou os ouvidos para o canto do galo.

O cantar do galo para nós é quando um pregador incita nossos corações ao arrependimento; começamos a chorar com o coração quando suas palavras nos abrasam interiormente.

 

21.ª mensagem: Amor verdadeiro.

 

Jesus Cristo não olhou com indiferença para São Pedro; mas sim, fixou nele o olhar: “... e o Senhor, voltando-se, fixou o olhar em Pedro” (Lc 22, 61).

Jesus Cristo quer que o pecador mude de vida e percorra o caminho da luz e do bem; por isso, fixa o olhar nele para não “perdê-lo” de vista, convidando-o à santidade de vida: “Não nos esqueçamos de que Cristo veio ao mundo para nos salvar do pecado” (Pe. Luiz Fernando Cintra).

 

22.ª mensagem: Podemos até nos esquecer de Jesus Cristo, mas Ele sempre nos acompanha com os “olhos”.

 

Pedro tinha se esquecido do Senhor, mas Jesus lembrou-se dele, voltando-se o Senhor, olhou para Pedro para que se levantasse de sua queda: “... e o Senhor, voltando-se, fixou o olhar em Pedro” (Lc 22, 61).

Jesus Cristo é o Bom Pastor... o Senhor não quer a morte do pecador, mas a sua salvação: “Porventura tenho eu prazer na morte do ímpio? Porventura não alcançará ele a vida se se converter de seus maus caminhos?” (Ez 18, 23).

 

23.ª mensagem: Chorar pelos pecados cometidos.

 

Diz-se que São Pedro chorou toda a vida o seu pecado, e chorou tanto  que se lhe cavaram no rosto duas profundas marcas: “E saindo para fora, chorou amargamente” (Lc 22, 62).

Se, porventura, tivermos a desgraça de imitar a São Pedro na sua fraqueza, imitemo-lo também na sua penitência: “Quem poderá resistir ao olhar tão doce de Jesus! E Jesus nos chama ao arrependimento e ao perdão” (Dom Duarte Leopoldo). Devemos chorar com o coração.

 

24.ª mensagem: Para enxergar os pecados é preciso abandonar as más companhias.

 

São Pedro estava na companhia dos criados aquecendo-se; só chorou amargamente depois que saiu para fora: “E saindo para fora, chorou amargamente” (Lc 22, 62).

Quem vive na companhia dos maus não consegue enxergar as próprias misérias, porque vive nas trevas; para enxergá-las é preciso sair para fora, isto é, para a luz... abandonar os maus: “Deixa a companhia do insensato” (Pr 14, 7).

 

25.ª mensagem: Não nos desesperar diante das quedas.

 

O Apóstolo São Pedro não se desesperou diante da queda que foi gravíssima, mas se arrependeu: “E saindo para fora, chorou amargamente” (Lc 22, 62).

O desespero não agrada a Deus... o arrependimento sim. No plano da nossa vida pessoal, pensemos que por mais funda que tenha sido a nossa queda, maior é a misericórdia divina disposta sempre a perdoar-nos, porque o Senhor não despreza um coração contrito e humilhado: “Se nos arrependermos sinceramente Deus fará, de nós pecadores, seus instrumentos fiéis” (Edições Theologica).

 

26.ª mensagem:  Dor de amor.

 

São Pedro não se vangloriou de ter negado o Mestre e Filho de Deus, mas chorou amargamente: “E saindo para fora, chorou amargamente” (Lc 22, 62). Ele cometeu um pecado gravíssimo.

Diante dos pecados graves é preciso pedir perdão a Deus e chorar amargamente com o coração... assim o Senhor nos perdoará: “Saindo para fora, Pedro chorou amargamente. Estas lágrimas são a reação lógica dos corações nobres, movidos pela graça de Deus. É a dor de amor, a contrição do coração, que, quando é sincera, leva consigo o firme propósito de pôr por obra quanto é necessário para apagar o pecado” (Edições Theologica).

 

27.ª mensagem: Não ter vergonha de chorar por muito tempo os pecados cometidos.

 

São Pedro chorou amargamente o pecado cometido. São Marcos disse que ele começou a chorar... como se fosse apenas o começo de um longo pranto, durante muito tempo: “E começou a chorar” (Mc 14, 72).

Feliz da pessoa que pede perdão a Jesus, todos os dias, de todos os pecados. O pecado não ofende uma simples criaturas, mas sim, o Deus Infinito.

 

28.ª mensagem: Pedir, imediatamente, o perdão a Jesus Cristo após a queda.

 

São Pedro não pediu perdão imediatamente com os lábios. Pensou em lançar-se aos pés do Senhor, suplicando perdão. Mas, pareceu-lhe muito atrevimento conseguir um perdão tão rápido, talvez conseguisse com lágrimas e mortificações: “E saindo para fora, chorou amargamente” (Lc 22, 62).

Nós, pobres miseráveis, devemos implorar imediatamente o perdão do Senhor com os lábios e com o coração... é muito perigoso deixar para depois, porque a morte não avisa o dia nem a hora: “Atenção, e vigiai, pois não sabeis quando será o momento” (Mc 13, 33).

 

29.ª mensagem: Não se desculpar diante das quedas.

 

São Pedro ficou calado e não apresentou nenhuma desculpa. Somente chorou, lavando com lágrimas sua culpa: “E saindo para fora, chorou amargamente” (Lc 22, 62).

Não podemos arranjar desculpas para as nossas quedas; mas sim, confiantes na bondade de Deus que não falha, devemos pedir-lhe que nos perdoe. Quem arranja desculpas não busca com sinceridade a misericórdia de Deus.

 

OBS: Essa pregação não está concluída; assim que “surgirem” novas mensagens as acrescentaremos.

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP (C)

Anápolis, 30 de agosto de 2016

 

 

Bibliografia

 

Sagrada Escritura

Pe. Luís de la Palma, A Paixão do Senhor

Daniel-Rops, Jesus no seu tempo

Pe. Francisco Fernández Carvajal, Falar com Deus

Santo Afonso Maria de Ligório, O tempo e a eternidade, Meditações e Preparação para a Morte

Frei Pedro Sinzig, Breves meditações

São Gregório Magno, Homilia 34 sobre os Evangelhos,

Pe. Luiz Fernando Cintra, A misericórdia divina

Monsenhor Cauly, Curso de Instrução Religiosa

Dom Duarte Leopoldo, Concordância dos Santos Evangelhos

Pe. Alexandrino Monteiro, Raio de luz

São Jerônimo Emiliani, Carta aos seus confrades

Tomás de Kempis, Imitação de Cristo

Edições Theologica

Edouard Clerc, Monge, O que há para além da morte

 

 

 

 

 

Este texto não pode ser reproduzido sob nenhuma forma; por fotocópia ou outro meio qualquer sem autorização por escrito do autor Pe. Divino Antônio Lopes FP.

Depois de autorizado, é preciso citar:

Pe. Divino Antônio Lopes FP(C). “Saindo dali, ele chorou amargamente”
www.filhosdapaixao.org.br/escritos/comentarios/paixao/paixao_cristo_028.htm