ABRIRAM-SE OS TÚMULOS

(Mt 27, 52-53)

 

“Abriram-se os túmulos e muitos corpos dos santos falecidos ressuscitaram. E, saindo dos túmulos após a ressurreição de Jesus, entraram na Cidade Santa e foram vistos por muitos”.

 

Dom Duarte Leopoldo ensina: A morte é verdadeiramente um SONO do qual acordamos para a eternidade; por isso, diz o Evangelho que ressuscitaram os corpos dos santos que tinham adormecidos. Os mortos ressuscitam, porque a morte de Jesus Cristo é a nossa vida.

Santo Afonso Maria de Ligório comenta: São Mateus continua a descrever os prodígios ocorridos na morte de Cristo e diz: E os monumentos se abriram e muitos corpos dos santos, que tinham falecido, ressurgiram e, saindo de suas sepulturas depois de sua ressurreição, vieram à cidade santa e apareceram a muitos (Mt 27,52). Santo Ambrósio pergunta: A abertura das sepulturas que outra coisa significa senão a ressurreição dos mortos, quebradas as portas da morte? (Liv. 10 in Lc). São Jerônimo, São Beda , o venerável, e Santo Tomás de Aquino afirmam que apesar de se abrirem os sepulcros na morte de Jesus, contudo os mortos não ressurgiram senão depois da ressurreição do Senhor, e isto segundo o dito Apóstolo (Cl 1,18): Ele é o princípio e o primogênito dentre os mortos, de maneira que tem a primazia em todas as coisas. Não era de fato conveniente que outro homem ressuscitasse antes dele, que tinha triunfado da morte.

O Pe. Juan Leal escreve: Claramente indica São Mateus que a ressurreição destes mortos e a aparição dos mesmos na cidade de Jerusalém não aconteceram senão depois da ressurreição de Jesus Cristo. Antecipa, pois, a narração do fato porque a abertura dos túmulos as relaciona com o tremor de terra, que, assim como quebrou as rochas, removeu as grandes pedras que fechavam a entrada de alguns sepulcros que ficaram abertos. É inútil tratar de resolver os problemas que nos conta esse episódio livre. Quem foram os que ressuscitaram? Foi uma ressurreição temporal, como a de Lázaro, ou uma ressurreição definitiva? E nesse último caso, acompanharam a Jesus Cristo ao céu no dia de sua ascensão? Se assim foi, onde estiveram desde o dia que ressuscitaram até o dia da ascensão do Senhor?

Alguns autores modernos (Schegg, Bisping e Fillion), dizem que não se trata de uma ressurreição propriamente dita, mas sim, de uma simples aparição, como aquela de Moisés e Elias no monte Tabor. Porém, semelhante interpretação não pode admitir-se sem violar as palavras do texto Sagrado. O Pe. Durand comenta que é PRUDENTE, neste caso, NÃO QUERER SABER MAIS QUE O TEXTO SAGRADO.

O Pe. Manuel de Tuya explica: O sentido doutrinal desse trecho é claro: sua interpretação é difícil, e, por isso, possui várias opiniões... O indubitável é que essa ressurreição, qualquer e como queira que seja, é sinal da vitória de Jesus sobre a morte (citando: Nácar-Colunga, Sagrada Bíblia (1949); Loisy, Les Évangiles Sinoptiques (1908); Plummer, An exegetical Commentary on the Gospel according to Sto. Matthew (1911); Taylor, The Gospel according to St. Marc (1952) e Lagrange, Évang. s. St. Matth. (1927).

O Pe. Juan de Madonado ensina: Não consta claramente no Evangelho o momento em que se abriram os túmulos. São João Crisóstomo disse que se abriram antes de Jesus morrer e que os ressuscitados lhe acompanharam ao limbo (seio) de Abraão. Não parece que os ensinamentos desse santo estão de acordo com os ensinamentos do Evangelho, que não diz se esse milagre ocorreu imediatamente depois da morte de Jesus Cristo, entretanto, indica com bastante claridade que foi por causa desta morte. Teofilacto disse que a abertura dos túmulos e a ressurreição dos mortos ocorreram logo após a morte de Jesus Cristo, quando se rasgou o véu do templo, tremeu a terra e as pedras se partiram. Parece ser esse o sentido da frase; porém, não deve ser assim, porque, quando os sepulcros se abriram, ressuscitaram os mortos para testemunhar a ressurreição de Cristo; e, como o fariam antes que o Salvador ressuscitasse?É provável que os que ressuscitaram estivessem no limbo (seio) de Abraão, foram visitados pela alma santa de Jesus Cristo e trazidos para ressuscitarem com Ele. Finalmente, em Mt 27, 53 diz: E, saindo dos túmulos após a ressurreição de Jesus, entraram na Cidade Santa e foram vistos por muitos. Está claro, pela colocação das palavras, que ressuscitaram depois de Jesus. Movidos por esses argumentos, Orígenes, São Jerônimo e São Beda afirmam que ressuscitaram depois do Salvador; somente São Jerônimo e São Beda advertem que os sepulcros se abriram no momento em que Jesus morreu, mas que os mortos não saíram deles. Mas admitir a abertura dos sepulcros e a permanência neles dos cadáveres... é melhor acreditar que os sepulcros não se abriram nem ressuscitaram os mortos até que Jesus Cristo ressuscitasse.

Por que ressuscitaram aqueles mortos? A razão é clara: quis Jesus Cristo tê-los como companheiros e testemunhas de sua ressurreição. Se houvesse ressuscitado somente Ele, poderia dizer que era um fantasma; porém, levando outros consigo, provou com facilidade que bem pode ressuscitar a si o que havia ressuscitado aos demais. Diz o Evangelista que os ressuscitados apareceram a muitos. Argumento, por certo, de singular caridade em Cristo. Quis morrer só, porém, não quis ressuscitar só, já que os ladrões crucificados com Ele não foram mortos por sua causa, mas por seus próprios crimes. Por outro lado, os que com Ele ressuscitaram, foram-no por Ele. A morte do Senhor é a causa da nossa ressurreição; porém, da nossa morte, somos nós os causadores. E aqueles que ressuscitaram com Jesus Cristo morreram outra vez? Teofilacto diz que sim; mas eu (Pe. Juan de Maldonado) prefiro seguir a opinião dos escritores modernos e dizer que subiram com Jesus para o céu. O que iam fazer entre os vivos os que haviam já saboreado a vida divina? Melhor seria para eles nunca ressuscitar (seio de Abraão), onde estavam em repouso, do que voltar ao mundo turbulento para morrer novamente. No (seio de Abraão) onde acreditamos que eles estavam (pois o evangelista chama-os de santos), estavam seguros de sua salvação; e nessa vida não podiam estar seguros da salvação, já que podiam voltar a pecar. E se tivessem ressuscitados para voltar a morrer, não teriam aparecido, como disse o Evangelista, para muitas pessoas. O Evangelista diz que aparecem para muitos; está claro que não apareceram para todos, mas para alguns a que convinha confirmarem na fé sobre a ressurreição de Jesus Cristo.

Chama Jerusalém de Cidade Santa, não porque era santa, pois já estava manchada com o deicídio (Deicídio significa literalmente “matar Deus” (do Latim Deus, “Deus” + cida, “matar”) e geralmente refere-se à execução de Jesus pela crucificação), mas porque até então tinha sido santa pelo templo e o sanctasanctórum que nela havia (ensina São Jerônimo e São Beda).

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP (C)

Anápolis, 9 de março de 2015

 

 

Bibliografia

 

Sagrada Escritura

Dom Duarte Leopoldo, Concordância dos Santos Evangelhos

Santo Afonso Maria de Ligório, A Paixão do Senhor

Pe. Juan Leal, A Sagrada Escritura

Pe. Manuel de Tuya, Bíblia Comentada

Pe. Juan de Maldonado, Comentário de São Mateus

 

 

 

 

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Pe. Divino Antônio Lopes FP. “Abriram-se os túmulos”.

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