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					TRANSPASSOU-LHE 
					O LADO 
					
					(Jo 19, 34) 
					  
					
					“... mas um dos 
					soldados transpassou-lhe o lado com a lança”. 
					  
					
					Considera como um 
					dos soldados ABRIU com uma lança 
					o LADO de Jesus Cristo. É preciso saber que a 
					causa desta lançada da parte do soldado, não foi outra coisa 
					que CRUELDADE e FÚRIA, para ter 
					certeza da morte de Jesus Cristo e fazer injúria ao corpo 
					morto do Senhor, já que não lhe puderam quebrar as pernas, 
					estando vivo. Porém, ainda que o corpo do Senhor recebesse a 
					ferida, e por estar morto não sentisse dor, quem sentiu a 
					dor grandemente na alma foi a Virgem Maria, pela grandeza do 
					amor. E assim, Nossa Senhora, na lançada, padeceu e sentiu a 
					dor que Jesus havia de sofrer, se estivesse vivo; e ofereceu 
					a dor ao Pai Eterno pelo corpo místico do seu Filho que é a 
					Igreja, e por todos e cada um dos que a ela pertence. 
					
					Pondera logo com 
					atenção as causas porque Jesus Cristo não se contentou
					que suas costas fossem abertas pelos açoites, sua 
					cabeça com espinhos, suas mãos e pés com cravos... mas 
					quis também que o seu lado fosse aberto por uma lança com 
					maior abertura que penetrasse até seu Coração; 
					tudo isso permitiu em castigo dos pecados que todo o corpo 
					místico da linhagem humana havia cometido com todos os 
					membros e potências exteriores e interiores, e muito mais 
					com o coração, de onde, como diz o Senhor, saem os pecados 
					que mancham o homem e o condenam; e, para purificá-lo deste 
					veneno, quis que o seu Coração fosse aberto, do qual procede 
					a vida. Atrevemo-nos, com esses 
					cruéis soldados, a ferir o Coração de Jesus com os nossos 
					pecados? 
					
					Considera que por 
					essa chaga do lado quis revelar nosso bom Jesus a infinita
					CARIDADE e AMOR que tinha por 
					nós, e como tudo quanto havia feito e padecido por nós, 
					havia sido por puro AMOR e com AMOR, 
					podendo dizer com o Cântico dos Cânticos: Feriste meu 
					coração,  esposa e irmã minha; feriste meu coração. 
					Duas vezes o feriste: uma com a chaga do amor, quando 
					te amei por minha bondade e misericórdia, pondo em você meus 
					dons para que eles me inclinassem a te amar; 
					e outra me feriste com o ferro de uma 
					lança, pois por tua causa fui chagado, para que por essa 
					segunda chaga conhecesse a primeira, e enxergasse o quanto 
					te amei. 
					
					Pondera logo como 
					quis também esse dulcíssimo Senhor que fossem abertos 
					seus pés e mãos com os cravos, e o lado com a lança, 
					para que os furos e aberturas dessa pedra viva fossem morada 
					espiritual de todos os fiéis em qualquer estado e grau de 
					virtude que estivessem. De modo que pecadores e 
					principiantes, os que aproveitam e os perfeitos, com a 
					meditação destas chagas, entrando com o espírito dentro 
					delas, alcançassem seu desejado fim. Elas são lugares de 
					refúgio para os pecadores rebeldes; são proteção para o povo 
					fraco; são como que amparo para os que estão cansados do 
					barulho do mundo e que desejam dialogar com Deus. 
					
					Dom Duarte 
					Leopoldo escreve: 
					Não disse o Evangelista, explica Santo Agostinho – feriu, 
					mas abriu-lhe o lado, para indicar-nos que abria 
					também a porta da vida, donde saíram os Sacramentos da 
					Igreja, sem os quais não se pode entrar na verdadeira vida. 
					Muitos autores, a crença popular, e, sobretudo, o 
					martirológio romano, dão o nome de Longinos (Longuinho) ao 
					soldado que para certificar-se da morte de Jesus, lhe abriu 
					o lado com a lança. Este soldado fez o seu ofício com tanto 
					vigor, que a lança, penetrando pelo lado direito, saiu pela 
					axila do lado oposto. Da ferida correu, como atesta São João 
					que o presenciou, sangue e água, e isto prova que o ferro 
					alcançara o pericárdio, bastando só por si a produzir a 
					morte. Sabe-se que, depois da morte, diz o Pe. Fouard, a 
					fibrina, parte vermelha e pesada do sangue, separa-se da 
					parte aquosa, chamada serum. Todavia, considera-se este 
					sangue e esta água como um símbolo da água batismal e do 
					sangue eucarístico, o que fez dizer os Santos Padres que a 
					Igreja saiu do lado aberto de Jesus, como saiu Eva do lado 
					de Adão. 
					
					Santo Afonso 
					Maria de Ligório comenta: 
					Vieram depois os soldados e quebraram as pernas dos dois 
					ladrões. Chegando-se, porém, a Jesus e vendo que estava 
					morto, abstiveram-se de fazer-lhe o mesmo, mas um deles com 
					a lança abriu-lhe o peito. São Cipriano escreve que a lança 
					atingiu diretamente o coração de Jesus Cristo. O mesmo foi 
					revelado à Santa Brígida, e isso se deduz de ter saído 
					juntamente com o sangue também água do lado do Senhor, pois 
					a lança, para atingir o coração de Cristo, teve primeiro de 
					romper o pericárdio, que envolve o coração todo. Santo 
					Agostinho nota que São João escreveu abriu, porque então se 
					abriu no coração do Senhor a porta da vida da qual brotaram 
					os Sacramentos que dão entrada à vida eterna. Por isso é que 
					se diz que o sangue e água saídos do lado de Jesus Cristo 
					foram a figura dos Sacramentos, pois a água é o símbolo do 
					batismo, o primeiro dos Sacramentos, e o sangue se encontra 
					na Eucaristia, o maior dos sacramentos. São Bernardo diz que 
					Jesus com essa chaga visível queria patentear a chaga 
					invisível do amor, de que seu Coração estava ferido por nós: 
					Por isso foi vulnerado para que, pela chaga visível, 
					enxerguemos a chaga invisível do amor: a chaga carnal, 
					portanto, demonstra a chaga espiritual. E conclui: Quem, 
					pois, deixará de amar esse coração tão chagado? Santo 
					Agostinho, falando da Eucaristia, diz que o Santo Sacrifício 
					da missa não é hoje menos eficaz perante Deus que o sangue e 
					água saídos então do lado ferido de Jesus Cristo. 
					
					O Pe. Luis 
					de La Palma explica:
					Um dos soldados abriu-lhe o 
					lado com uma lança, para ter certeza que estava morto. De 
					igual modo, os nossos pecados atravessaram seu coração, 
					quando estava vivo. Abrindo-lhe o lado, feriu seu coração, 
					fonte da vida e da água eterna. A Igreja canta em seus 
					hinos: doce madeiro, doces cravos que sustentaram tão 
					preciosa carga. No entanto, a lança é chamada de ferro 
					cruel. Ao abrir o seu lado, foi aberta a porta do amor, e o 
					Senhor nos quer assim, com o seu Coração ferido. Santo 
					Agostinho comenta que o evangelista não diz: feriram seu 
					corpo, mas abriram, indicando que se abria a porta da vida, 
					de onde jorram os Sacramentos da Igreja, sem os quais não se 
					alcança a vida eterna. Eva tinha nascido do lado do homem 
					velho, Adão. Quando foi aberto seu lado, Adão dormia; Eva 
					foi chamada: mãe dos viventes. O novo Adão, Jesus, o homem 
					novo; também dormia, mas o sono da morte; e de seu lado 
					aberto fez nascer a Igreja viva, mãe dos santos, mãe de 
					todos os viventes. 
					
					O Pe. Juan Leal ensina: 
					São João Evangelista não determina qual lado foi aberto: 
					esquerdo ou direito. Ele que presenciou tudo não diz se o 
					Coração de Nosso Senhor foi atingido pela lança. Isso pode 
					ter acontecido pela intenção do soldado, de assegurar a 
					morte de Jesus Cristo. São João Crisóstomo diz que a lança 
					entrou no lado direito de Jesus. O mesmo diz a versão 
					etiópica. 
					  
					
					ORAÇÃO: Ó 
					meu Salvador! Pela abertura do vosso precioso lado, pedimos 
					que perdoe os nossos muitos pecados que saem do nosso 
					coração. Feche-o, Senhor, de tal maneira, que nunca saiam 
					dele obras que manchem nossa alma, e abre-o somente para que 
					dele procedam obras com que ganhe a Vida Eterna. Amém! 
					  
					
					Pe. Divino Antônio 
					Lopes FP (C) 
					
					Anápolis, 16 de 
					março de 2015 
					  
					  
					
					Bibliografia 
					  
					
					Sagrada Escritura 
					
					Pe. Ramón Genover, 
					Meditações Espirituais para todo o ano 
					
					Dom Duarte 
					Leopoldo, Concordância dos Santos Evangelhos 
					
					Santo Afonso Maria 
					de Ligório, A Paixão do Senhor 
					
					Pe. Luis de La 
					Palma, A Paixão do Senhor 
					
					Pe. Juan Leal, A 
					Sagrada Escritura 
                      
					  
                      
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