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SERMÃO
(Pregado na Igreja Matriz de Nossa Senhora da Penha, Jaraguá-GO, na Missa vespertina da Vigília do Natal, dia 24 de dezembro de 1991, às 23:00 h.)
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo.
Prezados fiéis, com fé, humildade e devoção, aproximemo-nos da Gruta de Belém, e com certeza, ouviremos nessa Escola, todos os conselhos que necessitamos para a nossa santificação. Nessa noite santa, muitos “caóticos” e “catortos”, estão correndo desesperadamente em busca de bailes, bebedeiras, sexo fora do casamento, músicas mundanas, etc., e com certeza passarão a noite na rua, a serviço do maligno. Essa não é a maneira correta de celebrar o Santo Natal de Nosso Senhor; porque, ao invés de transformarem o coração em uma digna manjedoura para o Menino Deus nascer, transformam-no em um chiqueiro para Satanás morar. Caríssimos fiéis, não nos iludamos; jamais o Menino Jesus nascerá em um coração amargado pelo pecado. Nós que escolhemos a melhor parte, aproximemo-nos da Gruta de Belém, e como já foi dito, ouviremos nessa Escola os conselhos necessários para a nossa santificação.
1º PONTO
A GRUTA DE BELÉM E O SILÊNCIO
Essa noite santa nos convida a vivermos o silêncio da Gruta de Belém; nada de barulho ou algazarra, nada de correria ou inquietação, mas sim, silêncio externo e interno, somente assim sentiremos na nossa alma aquela felicidade verdadeira que essa santa noite nos proporciona. O Menino Jesus nasceu à noite: “Na mesma região havia uns pastores que estavam nos campos e que durante as vigílias da noite montavam guarda a seu rebanho” (Lc 2,8), e aos arredores de Belém: “Os pobres viandantes caminham na escuridão, errando e espreitando; afinal depara-se-lhes ao pé dos muros de Belém uma rocha escavada em forma de gruta, que servia de estábulo para os animais” (Santo Afonso Maria de Ligório, Meditações, Tomo I). Nasceu à noite, quando a cidade de Belém estava mergulhada em profundo silêncio, não se ouvia nenhum barulho de vozes pelas ruas da cidade; todos estavam adormecidos, descansando do dia de trabalho. Ele, a Luz Eterna nasceu à noite, num profundo silêncio; por quê? Pe. Alexandrino Monteiro, S.J. escreve: “Nasceu nas trevas, porque vinha ser a luz do mundo, o Sol esplendoroso que vinha dissipar as sombras que pesavam sobre os homens desde que o paraíso se fechou! Nasceu de noite, para mostrar que era bem escura a noite em que vivia todo o gênero humano, e que essa noite ia ter o seu fim com o amanhecer do solene dia de redenção” (Raios de Luz, 73). Passar essa noite em barulho e na correria é uma contradição monstruosa; é preciso sim, mergulhar em profundo silêncio, e unidos à Virgem do silêncio e ao recolhido São José, adoremos o Doce Menino: “Oh, como se está bem no silêncio, ouvindo-o ainda e sempre, alegrar-se com a paz de sua presença, para se dar toda a seu amor” (Bem-aventurada Elisabete da Santíssima Trindade, Poesia 75). Caríssimos fiéis, não adianta querermos tapar o sol com a peneira ou agirmos com duplicidade, dizendo que o barulho e a correria é normal, e que tudo faz parte dessa noite santa. Temos que agir como pessoas verdadeiras e piedosas, e condenar tudo aquilo que possa perturbar o silêncio ensinado pela Gruta de Belém. Prezados fiéis, acolhamos o Menino Jesus em nosso coração, transformemos o mesmo em uma silenciosa gruta, e fechemos a porta dele para o barulho e para a agitação do mundo.
2º PONTO
A GRUTA DE BELÉM E A PAZ
Contemplemos o Menino Jesus deitado na manjedoura, e sintamos em nossa alma a paz que envolve o interior da Gruta. O Doce Menino é a nossa paz; o profeta Isaías O chama de: “... Príncipe-da-paz...” (9,5), e os anjos cantam na noite do seu nascimento: “Glória a Deus no mais alto dos céus e paz na terra aos homens que ele ama!” (Lc 2,14). Prezados fiéis, só é possível sentirmos essa paz, se a nossa alma estiver na graça de Deus, por isso; Santo Natal e pecado mortal não podem dar as mãos, não podem caminhar juntos. Quantos passaram o Advento preocupados somente com o externo, isto é, com o material, e esqueceram, ou melhor, desprezaram o Sacramento da Confissão; e hoje, estão angustiados e com o interior inquieto dizendo: “...extraviamo-nos do caminho da verdade; a luz da justiça não brilhou para nós, para nós não nasceu o sol” (Sb 5,6). Como seria agradável ao Menino Jesus, se todos estivessem nesse momento diante da Gruta, inundados de paz e com a alma na graça santificante. Somente Ele é capaz de encher a nossa alma da verdadeira paz; porque então correr para aquilo que é vazio e passageiro? Contemplemos a Gruta cheia de paz e digamos ao Doce Menino: “Ó Eterna Divindade! Confesso e não nego que sois um mar pacífico, onde se delicia e se alimenta a alma que descansa em vós afetuosamente, por amor e em união de amor, conformando sua vontade com a vossa altíssima e eterna vontade, que só deseja a nossa santificação” (Santa Catarina de Sena, Preghiere ed elevazioni, pp. 17. 21).
3º PONTO
A GRUTA DE BELÉM E A ALEGRIA
Prezados fiéis, na noite do nascimento de Nosso Senhor, o Anjo do Senhor disse aos pastores: “Eis que eu vos anuncio uma grande alegria, que será para todo o povo: Nasceu-vos hoje um Salvador, que é o Cristo-Senhor, na cidade de Davi” (Lc 2, 10-11). Aproximemo-nos da Gruta de Belém, e então sentiremos na nossa alma a verdadeira alegria, porque nela está Jesus Menino, Alegria Infinita: “Procurem conhecer Jesus, o amigo íntimo de nossas almas. Nele encontrarão em grau infinito e ternura de uma mãe, consolo no sofrimento, força para cumprir os deveres. Olhem Jesus aniquilado no presépio, na cruz, no sacrário. Ali nos diz o quanto nos amou” (Bem-aventurada Teresa dos Andes, Carta 151). O Anjo não disse, uma simples alegria, mas sim, uma grande alegria. Nesta noite santa, só encontraremos a verdadeira alegria em Nosso Senhor, Ele é a grande alegria que satisfaz a nossa alma imortal. Muitos católicos nesta noite, buscam a alegria nos botecos e nos bailes, e só encontram tristeza e angústia; correm desesperadamente atrás da alegria, mas a buscam no lugar errado: “A felicidade, vendida nas esquinas ou oferecida como sedução de um prazer fugaz, deixa o gosto amargo e a ressaca de uma estúpida embriaguez” (Frei Patrício Sciadini, O.C.D). Não imitemos os mundanos, corramos sim, ao encontro do Doce Menino, e passemos a noite em oração, e depois, com a nossa consciência tranqüila diremos: “Ó gruta ditosa, que tiveste a ventura de ver o Verbo divino nascido de ti! Ó presépio ditoso, que tiveste a honra de receber em ti o Senhor do céu! Ó palha ditosa, que serviste de leito àquele cujo trono é sustentado pelos Serafins! Sim, fostes ditosos, ó gruta, ó presépio, ó palha; mais ditosos, porém, são os corações que tenra e fervorosamente amam esse amabilíssimo Senhor, e que abrasados em amor o recebem na Santa Comunhão” (Santo Afonso Maria de Ligório, Meditações, Tomo I).
Caríssimos fiéis, que o Menino Jesus esteja em vossos corações.
Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Amém.
Pe. Divino Antônio Lopes FP.
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