Disse Jesus Cristo:
“Se alguém quer vir após mim, renuncie a
si mesmo, tome a sua cruz cada dia e siga-me”
(Lc 9, 23).
Nosso Salvador, Deus Bendito e Santo, sofreu
desde o ventre materno... e a nossa vida não pode ser diferente.
De si mesmo Ele havia dito: “É
necessário que o Filho do homem padeça muitas coisas, seja
rejeitado... levado à morte e ressuscite no terceiro dia”
(Lc 9, 22). Assim, pela
primeira vez, o Senhor havia revelado o mistério de sua Páscoa,
de sua passagem do sofrimento e da morte à ressurreição, à
glória eterna.
Eis a obrigação de todos os seus fiéis: tomar
a própria cruz e seguir a Cristo até morrer com Ele e, portanto,
com Ele e n’Ele ressuscitar. Eis o único modo de celebrar o
mistério pascal, não somente como espectadores, mas como atores
que dele participam pessoal e vitalmente. A cruz e as
tribulações que sempre acompanham a vida do homem recordam ao
cristão o único itinerário da salvação e, portanto, da
verdadeira vida.
Quem se revolta contra a cruz, recusa a
mortificação, alimenta as paixões e quer, a todo custo, garantir
para si uma vida cômoda, feliz, este vai ao encontro do pecado
e, portanto, da morte do espírito. Quem, ao contrário, está
disposto a renegar a si mesmo até sacrificar a própria vida,
entregando-a com generosidade ao serviço de Deus e dos irmãos,
mesmo se houvesse, por isso, de perdê-la no tempo, salvá-la-á
para a eternidade: “Pois, que
aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se vem a perder-se a
si mesmo?”
(Lc 9, 25).
Escolher a vida é seguir a Jesus, renegando a
si mesmo e levando a cruz. Mas não é tanto a mortificação, a
renúncia de si que valem, e sim, o abraçá-las “por mim”, disse o
Senhor, ou seja, por seu amor, no desejo de conformar-se com sua
Paixão, Morte e, portanto, com sua Ressurreição. E isto não
só pela própria salvação eterna, mas, sobretudo, por aquela
exigência íntima do amor que impele a participar, em tudo, da
vida da pessoa amada. Como Jesus sofreu, morreu e ressuscitou
pela salvação de todos os homens, assim quer o cristão
participar do seu mistério para cooperar com Ele na salvação dos
irmãos (Pe. Gabriel de Santa Maria Madalena).
O Pe. Alexandrino Monteiro escreve:
“As dores são semelhantes a um véu
negro, que parece enlutar a nossa existência e convertê-la em
uma noite tenebrosa. Porém, nas trevas dessa noite, com que
brilho nos aparecem as estrelas da eternidade! Como se aumenta
nessa escuridão o desejo de ver raiar o Sol divino da glória e
de chegar ao fim a suspirada manhã do eterno dia! Na cruz
dá-nos Deus um penhor da futura glória: ‘Vós chorareis, o mundo,
porém, alegrar-se-á; vós vos entristecereis mas a vossa tristeza
há de ser convertida em prazer” (Jo 16,20). Se vives no meio de
tormentos, não diga que Deus te abandonou. Pelo contrário; agora
o tens mais perto. É a sua mão paterna que descansa sobre tua
cabeça, para premiar a tua paciência com uma coroa de diamantes.
A cruz é precisa ao cristão; pois, ser cristão é ser discípulo
de Cristo, e o nosso Cristo é, como diz São Paulo, Cristo posto
na Cruz. Na cruz, para nos lembrar que também nela hão de ter
parte os seus discípulos. Na cruz, para que em nossas
tribulações tenhamos onde por os olhos para suportá-las com
resignação. Jesus entrou neste mundo rodeado de cruzes, subiu ao
céu com sinais que a cruz deixou em seus pés, mãos e lado, e com
a cruz há de vir a julgar o mundo. Ao vê-la cobrir-se-ão de
vergonha os que na terra não a souberam levar resignados. A cruz
dá lições da mais sã filosofia: ensina ver no pecado o maior mal
que trouxe ao mundo todas as misérias que nele tanto lamentamos.
Ensina que não é na terra, mas no céu, que nos está reservada a
verdadeira felicidade. Ensina que neste mundo tudo é
transitório; que o tempo é de provas, que a terra é um desterro,
e que alegrias só as pode haver temperadas com muitas lágrimas.
Ensina que só em Deus devemos colocar a nossa esperança e n’Ele
procurar o único consolo da nossa dor”.
Pe. Divino Antônio Lopes FP(C)
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